13.04.2013 Views

Introdução à Lingüística - Sabine Mendes Moura

Introdução à Lingüística - Sabine Mendes Moura

Introdução à Lingüística - Sabine Mendes Moura

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

(25) a. Meu irmão perdeu o amigo.<br />

a'. *0 amigo foi perdido pelo meu irmão.<br />

Novamente, estamos diante de um verbo que <strong>à</strong>s vezes aceita ser posto na voz<br />

passiva, <strong>à</strong>s vezes não. Se tentarmos fazer a passiva de uma sentença como (26),<br />

vamos ver que também não dá certo:<br />

(26) O João perdeu a carona.<br />

Será que nós também temos dois verbos perder no léxico do português? Nossa lista<br />

de exceções está aumentando e isso não é desejável pois não explica como a<br />

língua é adquirida. Se aprender uma língua fosse memorizar listas de palavras e de<br />

comportamentos sintáticos peculiares associados a cada uma delas, a aquisição<br />

seria um processo mais longo do que o observado nos estudos de aquisição, talvez<br />

até inatingível, e fortemente dependente de estimulação adequada, ao contrário do<br />

que tem sido demonstrado. Mas é possível contra-argumentarmos dizendo que duas<br />

exceções são facilmente memorizáveis. Vamos investigar um pouco mais para ver<br />

se as exceções param por aí. Vejamos o que acontece com o verbo romper:<br />

A competência <strong>Lingüística</strong><br />

101<br />

(27) a. O Pedro rompeu o casamento dois dias depois da lua-de-mel.<br />

a'. O casamento foi rompido pelo Pedro dois dias depois da lua-de-mel.<br />

De novo, estamos diante de um verbo transitivo direto, e, pela sentença (27a'),<br />

vemos que se trata de um verbo que pode ser passivizado. Mas observe-se o que<br />

acontece no par em (28):<br />

(28) a. O Pedro rompeu o ligamento durante o jogo.<br />

a'. *0 ligamento foi rompido pelo Pedro durante o jogo.<br />

Ao que parece, o número de verbos transitivos diretos que <strong>à</strong>s vezes podem ser<br />

passivizados, <strong>à</strong>s vezes não, não é tão limitado a ponto de podermos tratá-los como<br />

exceções. Deve haver algum princípio que regula a possibilidade de um verbo<br />

transitivo direto aparecer na voz passiva e ao qual a tradição gramatical escolar não<br />

faz sequer menção. Além disso esse princípio deve ser bem conhecido por nós,<br />

porque, afinal de contas, sabemos quando a passiva funciona bem e quando não.<br />

Se fizermos experiências com alguns outros verbos, vamos ver que a história se<br />

repete em pares como A Ana queimou as cartas versus A Ana queimou o dedo. Ou<br />

132

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!