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Introdução à Lingüística - Sabine Mendes Moura

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construção do sentido na dimensão do texto, abordamos a letra de Com açúcar,<br />

com afeto como se fosse um texto em prosa. Deixamos de lado não apenas a<br />

melodia mas também os arranjos rítmicos e sonoros (rimas, aliterações etc.)<br />

praticados no plano da expressão (ou significante), que assinalam a intenção<br />

estética da canção como um todo. Tal conduta seria inaceitável se estivesse entre<br />

nossos propósitos neste capítulo a constituição de uma semiótica poética. Nesse<br />

caso, a descrição do plano do conteúdo deveria ser confrontada com a descrição do<br />

plano da expressão e só então teríamos um modelo mais adequado ao que foi<br />

proposto pelo artista. 14<br />

Diferentemente da poesia, entretanto, a prosa dispensa a elaboração fonética em<br />

nome de uma estruturação fonológica cuja eficácia está justamente em permitir ao<br />

leitor, ou ao ouvinte, a imediata transposição do plano da expressão ao plano do<br />

conteúdo. Podemos observar que a sonoridade de nossa linguagem cotidiana,<br />

embora seja necessária <strong>à</strong>comunicação, se desfaz assim que compreendemos a<br />

mensagem veiculada.15 São os sentidos abstratos construídos nos textos e retidos<br />

em nossa mente os objetos privilegiados de uma semiótica geral que deseje dar<br />

conta do que Saussure denominou significado e que Hjelmslev precisou como plano<br />

do conteúdo.<br />

Essa é a razão pela qual não se pode mais conceber que a serniótica tenha como<br />

objeto um sistema de signos. Isso determinaria a existência de signos antes mesmo<br />

dos processos de significação. E se considerarmos, com Hjelmslev, que há signos-<br />

palavras, signosenunciados e signos-textos, o objeto da semiótica é justamente a<br />

geração dessas grandezas numa fase aquém do signo ou, se preferirmos, "anterior"<br />

<strong>à</strong> constituição da função semiótica. Nesses termos, podemos dizer que a semiótica<br />

dissocia o plano do conteúdo do plano da expressão e estuda-os separadamente<br />

até reunir condições conceituais para relacionar categorias de ambos os planos e<br />

então compreender melhor o mecanismo geral da semiose. 16<br />

Neste capítulo, por exemplo, separamos o plano da expressão do plano do<br />

conteúdo e nos ativemos <strong>à</strong> descrição deste último em virtude dos objetivos<br />

lingüísticos deste volume. A <strong>Lingüística</strong>, como se sabe, trata dos textos em prosa,<br />

ou seja, dos que se servem do plano da expressão apenas como porta de acesso<br />

ao plano do conteúdo.17 Quando ultrapassa o nível das frases, entretanto, a<br />

construção do sentido nos sistemas verbais toma uma configuração que foge<br />

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