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AS HISTÓRIAS INFANTIS COMO MEDIADORAS NO PROCESSO DE<br />

APRENDIZAGEM<br />

1<br />

Thaís Garcia Bolzan 1<br />

Marigeli Polidoro Dias 2<br />

Camila de Souza Dri 3<br />

Paula Lucion 4<br />

Iriana Marciana Salles Alves 5<br />

Resumo: As histórias se constituem como instrumento de mediação, na medida em que são<br />

capazes de produzir uma ponte de significação de mundo exterior para um mundo interior.<br />

Assim, utilizamos as histórias infantis como aporte pedagógico para trabalhar com dois<br />

alunos que apresentavam dificuldade de aprendizagem na leitura e escrita. Nossa prática<br />

pedagógica foi desenvolvida na sala de recursos de uma Escola Municipal de Santa<br />

Maria/RS e teve por objetivo proporcionar vivências lúdicas no processo de ensinoaprendizagem,<br />

focando a mediação da Zona de Desenvolvimento Proximal e sempre<br />

respeitando o interesse e faixa etária de cada aluno. O que corporifica teoricamente nossa<br />

proposta pedagógica são os estudos de Lev Semenovich Vygotsky. Diante das atividades<br />

propostas, observamos que ambos alunos tiveram avanços na leitura e na escrita.<br />

Palavras-chave: Histórias Infantis; Mediação; Aprendizagem.<br />

Eixo Temático: Relatório de experiências.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O artigo se refere à prática de intervenção ocorrida na sala de recursos multifuncional<br />

de uma Escola Municipal de Santa Maria, nas segundas e quartas-feiras pelo turno da<br />

manhã. O atendimento na sala de recursos com os alunos C., 11 anos, e N., 9 anos, que<br />

apresentavam dificuldades de aprendizagem, teve duração de 7 horas semanais, no período<br />

de agosto a dezembro de 2010.<br />

O aluno C. estava matriculado no 5º ano e cometia muitos erros ortográficos,<br />

especialmente os ligados às irregularidades da língua, pois apresentava várias trocas e<br />

omissões fonêmicas. Escrevia ora separando as sílabas e ora escrevendo sem o espaço<br />

1 Acadêmica do curso de Educação Especial da UFSM – thaisgb@msn.com<br />

2 Acadêmica do curso de Educação Especial da UFSM – marigelidias@yahoo.com.br<br />

3 Acadêmica do curso de Educação Especial da UFSM – camila_dri@hotmail.com<br />

4 Acadêmica do curso de Educação Especial da UFSM – paula-seforamosdias@hotmail.com<br />

4 Acadêmica do curso de Educação Especial da UFSM – irianasalles@yahoo.com.br


entre as palavras, dificultando a compreensão e interpretação da leitura. O aluno N. que se<br />

encontrava no 2º ano do ensino fundamental, apenas copiava do quadro, não lendo nem<br />

compreendendo e/ou interpretando o que estava escrevendo.<br />

O tema escolhido para a intervenção foi “A Mediação por meio de Histórias Infantis”,<br />

pois ao trabalhar diversos gêneros literários infantis, as crianças constroem e reconstroem<br />

significados para as histórias e desenvolvem prazer pela leitura. Com o aluno N.,<br />

trabalhamos as Histórias Infantis a partir dos Contos de Fadas, pois percebemos que o<br />

aluno ficava motivado quando em contato com atividades que estimulassem o seu<br />

imaginário.<br />

Com o aluno C., trabalhamos as Histórias Infantis por meio das “Lendas Brasileiras”. A<br />

escolha desta temática partiu do próprio aluno, o qual nos relatou interessar-se muito sobre<br />

as questões que envolvem as lendas. Dessa forma, buscamos que o aluno produzisse suas<br />

próprias representações acerca das Lendas trabalhadas.<br />

Nosso objetivo foi proporcionar vivências lúdicas no processo de ensino-aprendizagem<br />

por meio das histórias infantis, as quais deveriam promover a imaginação e a criatividade,<br />

desenvolvendo a expressão e a linguagem dos alunos, a fim de favorecer o processo de<br />

construção do conhecimento.<br />

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

O que corporifica teoricamente nossa proposta pedagógica são os estudos de Lev<br />

Semenovich Vygotsky (1984), o qual propôs os conceitos de mediação e de Zona de<br />

Desenvolvimento Proximal.<br />

O conceito de mediação refere-se à presença e colaboração de um parceiro mais<br />

experiente no processo educacional. Este parceiro poderá ser o professor, os pais, ou até<br />

mesmo um colega de classe. Vygotsky (1984) afirma que<br />

(...) o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento,<br />

que são capazes de operar somente quando a criança interage com<br />

pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus<br />

companheiros. Uma vez internalizados esses processos tornam-se parte<br />

das aquisições do desenvolvimento independente das crianças.<br />

(VYGOTSKY, 1984, p. 101)<br />

Para o autor, o professor mediador faz-se necessário em um ambiente escolar, pois<br />

lança mão de recursos didáticos, permitindo e estimulando o aluno para uma transcendência<br />

de conhecimentos, favorecendo a sua aprendizagem. Nessa concepção, a aprendizagem<br />

2


acontece por meio de processos que envolvem os que ensinam, os que aprendem e,<br />

sobretudo a relação entre pessoas com um determinado meio cultural, o qual irá despertar<br />

situações que favorecem o desenvolvimento interno dos indivíduos.<br />

A partir destes estudos, Vygotsky (1984) elaborou o conceito de Zona de<br />

Desenvolvimento Proximal, que vem a ser o caminho entre o que a criança consegue fazer<br />

sozinha e o que está perto de conseguir fazer sozinha. Para Ferrari (2008)<br />

A Zona de Desenvolvimento Proximal seria a distância entre o<br />

desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela tem o potencial de<br />

aprender – potencial que é demonstrado pela capacidade de desenvolver<br />

uma competência com ajuda de um adulto. (FERRARI, 2008, s/p.)<br />

De acordo com as ideias de Rego (2000, p. 73), a Zona de Desenvolvimento Proximal<br />

refere-se ao “caminho que o indivíduo vai percorrer para desenvolver funções que estão em<br />

processos de amadurecimento e que se tornarão funções consolidadas, estabelecidas ao<br />

seu nível de desenvolvimento real”.<br />

Ao realizar a mediação nessa zona, o professor irá colaborar com a estimulação de<br />

processos de desenvolvimento de funções mentais mais complexas. Para desempenhar<br />

este papel, o educador deve conhecer os processos consolidados pela criança (nível de<br />

desenvolvimento real). Porém, de posse destas informações, deve-se direcionar a proposta<br />

pedagógica não no que a criança já sabe, mas sim para o que ela não sabe e precisa<br />

aprender. Com o auxílio do professor, os processos de desenvolvimento das habilidades se<br />

desencadearão. Conforme Ribeiro (1999),<br />

O educador e a escola devem dirigir o ensino não mais para etapas<br />

intelectuais já consolidadas, mas sim para estágios de desenvolvimento<br />

ainda não alcançados pelos alunos, mas já iniciados no seu processo de<br />

desenvolvimento. Assim, o professor será o construtor da ponte entre o que<br />

o aluno já sabe e o que ele pode e deve aprender. (RIBEIRO, 1999, p. 44)<br />

Para Vygotsky (1993), a brincadeira de “faz de conta” é um domínio que tem claras<br />

relações com o desenvolvimento da criança. A partir do imaginário é possível uma transição<br />

entre a ação da criança com objetos concretos e as suas ações significativas. Para muitos, o<br />

trabalho com o imaginário deve ser feito somente com a educação infantil, mas este tema<br />

perpassa as idades, pois desenvolve a criatividade nos educandos.<br />

3


Uma forma de desenvolver o imaginário das crianças é por meio do trabalho com a<br />

literatura. A mediação por meio de histórias infantis permite o resgate do sonho, fornece<br />

suporte emocional as crianças e permite relações com a sociedade. A importância de<br />

trabalhar com histórias infantis está presente no Referencial Curricular Nacional (1998),<br />

A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a<br />

forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e<br />

comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares<br />

que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua forma<br />

de pensar, e o modo de ser do grupo social ao qual pertence. Essas<br />

histórias se constituem em rica fonte de informação sobre as diversas<br />

formas culturais de lidar com as emoções e com as questões éticas,<br />

contribuindo na construção da subjetividade das crianças. (BRASIL, vol. 3,<br />

1998, p.143)<br />

As histórias se constituem como instrumento de mediação, a medida em que forem<br />

capazes de produzir uma ponte de significação de mundo exterior para um mundo interior.<br />

Assim sendo, ao desenvolver esse tema, buscamos favorecer aos alunos a reflexão sobre<br />

suas ações, desenvolvendo seu senso crítico, sua criatividade, sua expressão e linguagem.<br />

METODOLOGIA<br />

Em relação às questões metodológicas da nossa proposta de intervenção, a<br />

elaboração de nossos planejamentos foi voltada para atividades lúdicas, mas respeitando o<br />

interesse e faixa-etária de cada aluno. Trabalhamos com o lúdico em busca de uma<br />

aprendizagem significativa para as crianças, sendo que uma das maneiras de motivar os<br />

educandos para isso foram as Histórias Infantis.<br />

Com o aluno Com o aluno N., trabalhamos as Histórias Infantis a partir dos Contos de<br />

Fadas, e em cada planejamento trabalhamos um conto, o qual serviu de suporte para as<br />

demais atividades do atendimento (levávamos os livros com os contos, e após explorarmos<br />

a história, desenvolvíamos atividades para trabalhar a fonetização da escrita).<br />

Para trabalharmos a linguagem oral e escrita do aluno N., elaboramos atividades que<br />

envolvessem a consciência fonológica, que é caracterizada por Moojen (2003), como a<br />

possibilidade de nos distanciarmos em ralação à língua para analisá-la, manipulá-la. A<br />

consciência fonológica está inserida dentro da consciência metalinguística, esta por sua vez<br />

é citada por Santos (1996),<br />

4


(...) como um conjunto de habilidades que permitem à criança focalizar a<br />

atenção sobre a linguagem e refletir sobre a sua natureza, suas estruturas e<br />

funções – ou seja – a habilidade de ver a linguagem como um objeto. A<br />

consciência metalinguística pode envolver vários níveis linguísticos, tais<br />

como: fonemas, morfemas, palavras, sentenças, gramática, sintaxe,<br />

pragmática e semântica. (SANTOS, 1996, p. 213)<br />

Diante disso, desenvolvemos nossa proposta pedagógica visando trabalhar a<br />

linguagem por meio de seus usos sociais, associada a atividades que estimulassem a<br />

consciência fonológica. Tais atividades tiveram por objetivo estimular no aluno o<br />

desenvolvimento da aquisição da leitura e escrita, de forma que este possa compreender e<br />

interpretar o que está escrevendo.<br />

Com o aluno C., trabalhamos as Histórias Infantis por meio das “Lendas Brasileiras”.<br />

Elaborávamos nossos planejamentos com atividades que envolvessem o folclore, dando<br />

ênfase no trabalho com as Lendas. Dessa forma, buscamos que o aluno produzisse suas<br />

próprias representações acerca das Lendas trabalhadas, confeccionando um livro com<br />

ilustrações e resumos das mesmas.<br />

Dedicamos atenção especial ao trabalho de produção e interpretação de textos como<br />

parte da nossa proposta pedagógica do ensino de Língua Portuguesa para o aluno C. Em<br />

nosso trabalho, consideramos texto toda situação na qual um sujeito exerce uma ação<br />

interpretativa sobre um objeto, envolvendo necessariamente quem o produz.<br />

A análise e a reflexão sobre a língua por meio de textos favorecem o<br />

aprofundamento e a ampliação dos conhecimentos que os alunos possuem. Portanto, para<br />

que o aluno construa conhecimentos sobre o funcionamento da língua, é necessário que<br />

tenha inúmeras oportunidades de ler e escrever.<br />

Encaminhamos as propostas de interpretação e produção textual a partir de<br />

situações efetivas de interlocução, onde o aluno teve momentos de reflexão, planejamentos<br />

e questionamentos. Desta forma, teve subsídios suficientes para que os textos pudessem<br />

ser elaborados.<br />

RESULTADOS<br />

Realizamos o atendimento educacional especializado com os alunos focando a<br />

mediação da Zona de Desenvolvimento Proximal. Com este trabalho, os alunos<br />

conseguiram realizar, por meio de nossa mediação, atividades que no início dos<br />

atendimentos eram consideradas difíceis.<br />

Porém, percebemos que o aluno N. estava inseguro de suas respostas, escrevia<br />

somente quando estávamos ao seu lado, dizendo que estava correto. Diante dessa<br />

5


situação, percebemos que deveríamos criar uma estratégia metodológica, onde o aluno não<br />

ficasse inseguro e nós pudéssemos continuar o trabalho com a mediação. Inicialmente,<br />

conversamos com N. sobre o fato de não estarmos com ele na sala de aula regular, e que<br />

ele não deveria realizar as atividades não pensando se estão certas ou erradas, mas sim<br />

dando ênfase a sua produção.<br />

O aluno compreendeu o que queríamos lhe passar, então criamos uma estratégia<br />

para que ele se tornasse mais autônomo. Criamos uma brincadeira, onde deveríamos ficar<br />

de olhos fechados até que a criança terminasse sua tarefa de escrita. Esta estratégia<br />

aparentemente tão simples auxiliou o aluno N. na independência com a sua produção<br />

escrita. A partir desse dia tornou-se mais autônomo nas tarefas que lhe eram solicitadas.<br />

Diante a mediação, a motivação e autoconfiança de N., podemos afirmar que nossos<br />

objetivos com o aluno foram alcançados. Dentre os objetivos traçados, o mais pontuado por<br />

nós na intervenção, foi a produção, leitura e interpretação da escrita. Este objetivo foi<br />

alcançado com sucesso.<br />

O trabalho com a Consciência Fonológica (MOOJEN, 2003) aliado às histórias infantis<br />

e ao interesse do educando, contribuíram muito para que N. evoluísse em relação aos níveis<br />

de escrita (FERREIRO, 1990), pois evoluiu da hipótese silábica para a hipótese alfabética. A<br />

criança está produzindo palavras e frases, e quando solicitada, conta com detalhes o que<br />

acabou de ler, mostrando que não apenas decodifica sons, mas também interpreta o que<br />

está lendo.<br />

Acreditamos que as maiores dificuldades de N. foram supridas, o qual obteve uma<br />

evolução significativa desde o início dos atendimentos na sala de recursos multifuncional. O<br />

educando possui potencial, apenas precisa ser incentivado para que seja aflorado.<br />

Ao realizarmos uma análise da intervenção com C., percebemos que nossos objetivos<br />

com este aluno foram atingidos em parte, pois ao iniciarmos o estágio com o aluno Cláudio,<br />

suas dificuldades nos pareciam ser poucas, víamos também que ele estava se dedicando e<br />

que era muito interessado. Acreditamos que o aluno iria progredir muito e de fato isto<br />

começou a acontecer.<br />

Um dos objetivos propostos para o aluno, voltava-se para a produção e interpretação<br />

de textos. Esta meta foi alcançada, pois o aluno produziu textos e os interpretou de forma<br />

correta, apresentando criatividade no decorrer dos atendimentos, construindo um livro com<br />

suas próprias percepções a cerca das lendas trabalhadas.<br />

Para trabalharmos com Cláudio as suas dificuldades ortográficas, elaboramos um<br />

perfil individual para ele a partir do Ditado Balanceado (MOOJEN, 2009). Por meio deste<br />

recurso, percebemos que as dificuldades do aluno neste aspecto são evidentes. Assim,<br />

utilizamos atividades que proporcionassem ao aluno a compreensão de regras contextuais e<br />

irregularidades da língua. No início dos atendimentos, Cláudio demonstrava interesse em<br />

6


compreender as regras ortográficas, porém, aos poucos foi se distanciando, não prestando<br />

atenção nas explicações, e consequentemente não conseguindo realizar as atividades<br />

propostas.<br />

O educando ainda apresenta muitas trocas fonêmicas, mesmo realizando novamente<br />

a leitura do que escreveu, ele não percebe suas trocas, as percebendo somente quando lhe<br />

perguntávamos o que estava escrito e se é realmente assim a forma correta de escrevermos<br />

aquela palavra. Percebemos que C. apresenta dificuldades em relação a identificação das<br />

sílabas tônicas das palavras, pois realizamos um planejamento totalmente voltado para este<br />

tema, com atividades lúdicas, de seu interesse, mas o aluno não conseguiu identificar as<br />

sílabas tônicas das palavras do jogo.<br />

CONCLUSÕES<br />

Nossa prática de intervenção com os alunos C. e N. foi baseada em uma relação de<br />

ensino-aprendizagem, onde não foram somente os alunos que aprenderam algo, mas nós<br />

também. Conforme Freire (1996, p. 23) “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende<br />

ensina ao aprender”.<br />

Ao realizarmos a análise de nossa intervenção, buscamos fazer uma retomada de<br />

nossa proposta, avaliando nossos objetivos e descrevendo aspectos relacionados ao<br />

desenvolvimento e a aprendizagem de nossos alunos. Faz-se necessário ainda que<br />

reflitamos sobre aspectos referentes à nossa teoria e a nossa prática. Temos que analisar<br />

se houve coerência entre ambas, afinal, segundo Freire (1996, p. 39) “é pensando<br />

criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O<br />

próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que<br />

quase se confunda com a prática”.<br />

Diante deste pressuposto, acreditamos que a escolha pelo tema “Histórias Infantis”,<br />

contextualizou a teoria com a nossa prática, sendo válida, pois despertou interesse e<br />

motivação nos alunos. Eles sempre realizavam as atividades com entusiasmo,<br />

principalmente quando estas eram relacionadas diretamente com as histórias trabalhadas.<br />

Afinal, o educando motiva-se quando conseguimos interligar atividade inicial com as que<br />

serão trabalhadas posteriormente.<br />

Essa experiência nos fez compreender que toda a aprendizagem é mais satisfatória e<br />

eficaz quando partilhada, apoiada e vivida com o outro. Devemos estimular o aluno,<br />

encorajá-lo, e ter o bom senso de perceber quando a criança já é capaz de realizar a tarefa<br />

sozinha. Um trabalho partindo desta base possibilita a interiorização de conceitos variados<br />

pelo aluno, mas, sobretudo promove a cooperação e a autoconfiança.<br />

7


Quando mediamos e promovemos a autoconfiança, trabalhamos com conceitos de<br />

Feuerestein e Randy (1993). De acordo com seus estudos, a mediação que ocorre quando o<br />

aluno desenvolve a autoconfiança necessária para se engajar numa dada atividade com<br />

uma percepção de que está sendo bem sucedido ou obtendo sucesso, chama-se mediação<br />

da competência. Para Skuy (2002),<br />

A autoconfiança fortalece, facilita o pensamento independente, encoraja a<br />

ação motivada e contribuí para a realização dos objetivos. Assim sendo, a<br />

mediação da competência é uma componente valorosa de toda experiência<br />

de aprendizagem mediada (...). A mediação da competência envolve<br />

instigar no mediado uma boa postura mental; uma crença positiva em sua<br />

capacidade; a motivação para tentar; a determinação para perseverar.<br />

(SKUY, et al., 2002, p. 44).<br />

Diante de nossa prática, percebemos que, para que alunos com dificuldades de<br />

aprendizagem possam progredir, é necessário encorajá-los, estimulá-los a trabalhar por<br />

meio de seu estilo cognitivo, assim as estratégias de aprendizagem tornam-se facilitadoras<br />

para o aprendizado de alguns conceitos. Desta maneira, a aprendizagem sendo significativa<br />

para o aluno, o docente pode se tornar menos rígido, mais flexível, e perceberá seus<br />

sentimentos, interesses, limitações e potencialidades.<br />

Deve-se ter coerência que as atividades necessitam enquadra-se nos interesses dos<br />

alunos, e foi isso que buscamos fazer em nossos planejamentos, afinal, as práticas<br />

pedagógicas devem ser adequadas as suas necessidades, pois como afirma Souza (1996),<br />

as dificuldades de aprendizagem aparecem quando a prática pedagógica diverge das<br />

necessidades dos alunos.<br />

Nesse sentido, a partir do contato que tivemos com a prática educativa, percebemos<br />

que a mediação é algo essencial para que os alunos possam aprender, principalmente<br />

quando o aluno apresenta alguma dificuldade na aprendizagem. Diante disso deve-se<br />

enfatizar o valor da interação e das relações sociais no processo de desenvolvimento do<br />

sujeito. Vygotsky (1989) afirma que o auxílio prestado à criança em suas atividades de<br />

aprendizagem é válido, pois, aquilo que a criança faz hoje com o auxílio de um adulto ou de<br />

outra criança maior, amanhã estará realizando sozinha.<br />

A prática nos proporcionou ainda a compreensão de que devemos ser coerentes com<br />

os alunos e termos atitudes corretas frente a nossa vida. As crianças têm seus professores<br />

como exemplo, elas se espelham em suas atitudes, afinal, seu comportamento é<br />

influenciado pelo meio, o qual convive. Para Aquino (1998, p. 48) “o papel do professor<br />

8


mediador é fundamental, como é fundamental a busca de uma coerência entre a sua<br />

conduta e a que se espera do aluno. O aluno aprende pelos modelos que têm diante de si”.<br />

Também observamos que a família desempenha um papel fundamental no<br />

desenvolvimento da criança, pois propicia experiências que irão influenciar no âmbito<br />

educacional. Sua participação de forma efetiva faz com que a criança sinta-se mais segura,<br />

assim encontrando modos de contornar as dificuldades. Strick e Smith (2001) ressaltam que<br />

o ambiente doméstico é muito importante, pois as crianças que recebem um incentivo<br />

carinhoso durante toda a vida tendem a ter atitudes positivas, tanto sobre a aprendizagem<br />

quanto sobre si mesmas.<br />

Tais afirmações foram comprovadas quando realizamos as entrevistas com as mães<br />

para sabermos a história de vida dos alunos. Familiares que se preocupam com o<br />

desenvolvimento social, cognitivo e psicológico das crianças são de extrema importância<br />

para que o ensino especializado realmente ocorra. Afinal, se a família não colabora com a<br />

escola e não leva a criança para ser atendida, está na contramão da aprendizagem de seus<br />

próprios filhos.<br />

Enfim, pensamos que conhecer a realidade de um aluno com dificuldade de<br />

aprendizagem nos ajuda a refletir sobre nossa prática, pois queremos que nossos<br />

educandos possam experimentar do sabor do sucesso, que nossos atendimentos sejam<br />

eficazes, e que permitam maximizar suas potencialidades.<br />

Depois de vivenciar a prática, concluímos que os educadores devem rever sua<br />

educação emocional. Devemos cativar o aluno e fazê-lo criar, demonstrar afeição quando as<br />

coisas não vão bem, demonstrar carinho que se multiplicará e terá retorno, demonstrar<br />

amizade, enfatizar progresso, chamar atenção para as contribuições, demonstrar fé nos<br />

alunos, reconhecer a dificuldade de uma tarefa, aplaudir, estimular o uso de frases de<br />

apreço e afirmação. Somente se educarmos desta forma, estaremos educando corações e<br />

mentes, estimulando para um aprendizado não somente cognitivo, mas também social e<br />

emocional.<br />

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Escrita. In: Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF,<br />

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FERREIRO, E. A escrita antes das letras. São Paulo: Cortez, 1990.<br />

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9


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MOOJEN, S. M. P. A escrita ortográfica na escola e na clínica: Teoria, avaliação e<br />

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Campo Grande-MS. Dissertação de Mestrado. Campo Grande: UCDB, 1999.<br />

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SKUY, M. Et al. Aprendizagem mediada dentro e fora da sala de aula . 3ª ed. São Paulo:<br />

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pais e educadores. Porto Alegre: ARTMED, 2001.<br />

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.<br />

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo, Martins Fontes, 1993.<br />

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente o desenvolvimento dos processos<br />

psicológicos superiores. São Paulo: M. Fontes, 1984.<br />

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