13.04.2013 Views

criatividade como constitutivo da educação popular - Centro Paulo ...

criatividade como constitutivo da educação popular - Centro Paulo ...

criatividade como constitutivo da educação popular - Centro Paulo ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

CRIATIVIDADE COMO CONSTITUTIVO DA EDUCAÇÃO<br />

POPULAR: UMA ABORDAGEM ACERCA DA DIVERSIDADE<br />

CULTURAL A PARTIR DE PAULO FREIRE<br />

RESUMO<br />

Agostinho <strong>da</strong> Silva Rosas 1<br />

O presente ensaio encontra-se inserido nas discussões desenvolvi<strong>da</strong>s no curso de<br />

doutoramento em <strong>educação</strong> <strong>popular</strong> 2, tomando para si o propósito de identificar argumentos<br />

explicativos de <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> <strong>como</strong> <strong>constitutivo</strong> <strong>da</strong> <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>. Metodologicamente, as<br />

reflexões giram em torno dos termos criar e recriar aplicados por <strong>Paulo</strong> Freire quando<br />

expressa sua compreensão de homem. Pelo momento, verifica-se que o debate expressa<br />

uni<strong>da</strong>de indissociável à transformação social orienta<strong>da</strong> pelo respeito à vocação ontológica<br />

humana. Criar e recriar são atitudes assumi<strong>da</strong>s e valoriza<strong>da</strong>s pelo homem em libertação.<br />

Criativi<strong>da</strong>de e cultura fazem parte de um mesmo contínuo que se articulam, <strong>como</strong><br />

condições humanas, expressão dinâmica <strong>da</strong>s ações que o homem capta do mundo e com ele<br />

responde aos desafios de sua reali<strong>da</strong>de situacional.<br />

Palavras-chave: Criativi<strong>da</strong>de – Educação Popular – Diversi<strong>da</strong>de Cultural.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Vários têm sido os estudos que apontam um olhar explicativo sobre processo criativo e<br />

ações pe<strong>da</strong>gógicas no cenário <strong>da</strong> <strong>educação</strong> formal e informal. No Brasil, nos anos 80 e<br />

com maior intensi<strong>da</strong>de na última déca<strong>da</strong> do século XX, Alencar e Virgolim (1994)<br />

publicam estudo reunindo onze experiências bem sucedi<strong>da</strong>s sobre expressão e<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>, fazendo referência à escola. Nesta época, outros<br />

trabalhos são desenvolvidos envolvendo arte, propagan<strong>da</strong>, ciência. Mais recentes são<br />

aqueles que se direcionam às novas tecnologias e a indústria do entretenimento com<br />

jogos informatizados e <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>. Contudo, desde o início dos tempos, o homem<br />

deparou-se com a diversi<strong>da</strong>de de problemas e a necessi<strong>da</strong>de de envolver-se elaborando<br />

soluções.<br />

Vários têm sido os estudos que apontam um olhar explicativo sobre processo criativo e<br />

ações pe<strong>da</strong>gógicas no cenário <strong>da</strong> <strong>educação</strong> formal e informal. No Brasil, nos anos 80 e<br />

com maior intensi<strong>da</strong>de na última déca<strong>da</strong> do século XX, Alencar e Virgolim (1994)<br />

publicam estudo reunindo onze experiências bem sucedi<strong>da</strong>s sobre expressão e<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>, fazendo referência à escola. Nesta época, outros<br />

trabalhos são desenvolvidos envolvendo arte, propagan<strong>da</strong>, ciência. Mais recentes são<br />

aqueles que se direcionam às novas tecnologias e à indústria do entretenimento com<br />

jogos informatizados e <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>. Contudo, desde o início dos tempos, o homem<br />

deparou-se com a diversi<strong>da</strong>de de problemas e a necessi<strong>da</strong>de de envolver-se elaborando<br />

soluções.<br />

1<br />

Prof. <strong>da</strong> UPE/ESEF; Assessor de Pesquisa <strong>da</strong> FACHO; Integrante do <strong>Centro</strong> <strong>Paulo</strong> Freire-Estudos e Pesquisas,<br />

Doutorando do PPGE/UFPB em Educação Popular.<br />

2<br />

Programa de Pós-Graduação em Educação promovido pela UFPB, com área de concentração em Educação Popular<br />

(PPGE-UFPB/turma 2004).


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

O conceito de <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>, assim, vai tomando significados durante os tempos,<br />

aproximando processo e produto criativos <strong>como</strong> expressão <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de humana. Aos<br />

poucos, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> passa a ser conheci<strong>da</strong> <strong>como</strong> condição humana que adquire<br />

visibili<strong>da</strong>de através <strong>da</strong>s relações que o homem estabelece consigo, com outros homens e<br />

com o mundo.<br />

De início, contudo, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> foi termo associado ao sobrenatural, ao domínio <strong>da</strong> fé<br />

em Deus. Era Deus que, através dos homens, era criativo. O homem, neste sentido, seria<br />

dotado de um “dom” que o diferenciaria dos demais homens, na medi<strong>da</strong> em que se<br />

encontrava entre os escolhidos por Deus para desempenhar o papel divino<br />

CONCEITUANDO EDUCAÇÃO POPULAR: UM PROJETO ESCRITO POR VÁRIAS MÃOS<br />

Favorecidos pela abor<strong>da</strong>gem metodológica assumi<strong>da</strong> na disciplina Teoria <strong>da</strong> Educação<br />

Popular/PPGE/UFPB (2004), as discussões em torno do conceito de <strong>educação</strong> <strong>popular</strong><br />

tomou forma a partir <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de histórias de vi<strong>da</strong> enuncia<strong>da</strong> por ca<strong>da</strong> um dos<br />

protagonistas 3 que a constituiu. Em sua continui<strong>da</strong>de, foram postos em debate conceitos<br />

identificados por ca<strong>da</strong> um dos protagonistas e enriquecidos por leitura especializa<strong>da</strong>,<br />

resultando na construção coletiva de um conceito que passa a ser utilizado <strong>como</strong> ponto<br />

de parti<strong>da</strong> para a reflexão sobre a pertinência de <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> <strong>como</strong> um dos <strong>constitutivo</strong>s<br />

à <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>.<br />

A estrutura desta definição, contudo, teve <strong>como</strong> intenção coletiva responder ao<br />

problema proposto: o que é <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>?<br />

Deste problema foram extraídos vários enunciados (Quadro 1) e em segui<strong>da</strong> sintetizados<br />

<strong>como</strong>: fenômeno de apropriação e produção dos bens culturais (empoderamento); teoria<br />

de conhecimento que tem <strong>como</strong> ponto de parti<strong>da</strong> a reali<strong>da</strong>de, o cotidiano; metodologias<br />

que instrumentalizam o processo de democratização; campo pe<strong>da</strong>gógico que detém um<br />

conteúdo, uma avaliação; teoria política que seja pela democracia, liber<strong>da</strong>de, ação<br />

transformadora e emancipadora, práxis.<br />

3 O termo protagonista é utilizado neste ensaio para identificar ca<strong>da</strong> um dos doutorandos que constituem a segun<strong>da</strong><br />

turma do Curso de doutorado em Educação Popular promovido pelo PPGE/UFPB.<br />

2


Educação<br />

<strong>popular</strong> é aquela:<br />

que se volta para<br />

os setores<br />

/cama<strong>da</strong>s<br />

<strong>popular</strong>es;<br />

que se manifesta<br />

em diferentes<br />

lócus de atuação;<br />

que não tem ação<br />

exclusiva na<br />

escolarização,<br />

mas na<br />

compreensão do<br />

processo social e<br />

político que o<br />

sujeito se<br />

encontra.<br />

V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

Quadro 1: Síntese dos conceitos atribuídos à <strong>educação</strong> <strong>popular</strong><br />

Educação<br />

<strong>popular</strong> é difusa<br />

porque é um<br />

processo de<br />

construção<br />

permanente,<br />

buscando uma<br />

ação sóciotransformadora<br />

através do acesso<br />

aos saberes<br />

plurais. A<br />

transformação do<br />

indivíduo em<br />

sujeito requer<br />

uma<br />

aprendizagem<br />

cotidiana do<br />

pensar, do agir e<br />

do sentir.<br />

Educação,<br />

mobilização,<br />

organização <strong>da</strong>s<br />

classes <strong>popular</strong>es.<br />

Instrumento do<br />

processo de<br />

democratização,<br />

a partir <strong>da</strong> criação<br />

e robustecimento<br />

de um poder<br />

<strong>popular</strong> e pode<br />

ocorrer em<br />

diferentes<br />

espaços formais e<br />

não-formais.<br />

É um processo e uma<br />

práxis político-educativa,<br />

dimensiona<strong>da</strong> na<br />

perspectiva <strong>da</strong><br />

apreensão/produção/<br />

reformulação, expressão e<br />

socialização do<br />

conhecimento <strong>da</strong>s classes<br />

<strong>popular</strong>es, visando o<br />

desvelamento e<br />

interpretação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de,<br />

para a construção de uma<br />

ação coletiva organiza<strong>da</strong><br />

de intervenção,<br />

transformação <strong>da</strong>s<br />

condições de exploração e<br />

dominação de<br />

trabalhadores(as).<br />

Educação <strong>popular</strong><br />

comporta dimensões tais:<br />

cultura <strong>popular</strong>, diálogo,<br />

ética, autonomia,<br />

liber<strong>da</strong>de, libertação,<br />

felici<strong>da</strong>de e emancipação<br />

humana.<br />

As reflexões elabora<strong>da</strong>s neste ambiente multifacetado de experiências e histórias de<br />

vi<strong>da</strong> tomaram rumo de aproximação à resolução do problema (‘o que é <strong>educação</strong><br />

<strong>popular</strong>’) na medi<strong>da</strong> em que se sabia precisar o que não atendia ao conceito de uma<br />

<strong>educação</strong> que se fizesse <strong>popular</strong>. Neste sentido, o processo metodológico vivido na<br />

construção coletiva <strong>da</strong>s soluções ao problema, em si, expressa uma dimensão didática<br />

favorável ao agir criativo, ao tempo em que representa uma investi<strong>da</strong> diversifica<strong>da</strong> de<br />

abor<strong>da</strong>r o fenômeno (<strong>educação</strong> <strong>popular</strong>) enquanto instância de ensino e aprendizagem e<br />

diversi<strong>da</strong>de cultural.<br />

A partir deste procedimento didático algumas inquietações puderam ser levanta<strong>da</strong>s:<br />

Seria este procedimento uma <strong>da</strong>s características <strong>da</strong> <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>? Que <strong>constitutivo</strong>s<br />

poderiam ser listados de maneira que exalte a essência de uma <strong>educação</strong> <strong>popular</strong> a partir<br />

do conceito desenvolvido? Que argumentos poderiam ser elaborados para<br />

consubstanciar ca<strong>da</strong> um dos <strong>constitutivo</strong>s listados <strong>como</strong> expressão articula<strong>da</strong> a <strong>educação</strong><br />

<strong>popular</strong>?<br />

Diante destas inquietações o passo seguinte foi o de montar um conceito extraindo<br />

<strong>constitutivo</strong>s consistentes à argumentação coletiva, <strong>como</strong> explicação do fenômeno<br />

<strong>educação</strong> <strong>popular</strong> (atentos à singulari<strong>da</strong>de dos protagonistas). Conceito este que tomou a<br />

seguinte forma:<br />

3


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

Educação <strong>popular</strong> é um fenômeno de produção e apropriação dos produtos<br />

culturais, expresso por um sistema aberto de ensino e aprendizagem,<br />

constituí<strong>da</strong> de uma teoria de conhecimento referencia<strong>da</strong> na reali<strong>da</strong>de, com<br />

metodologias incentivadoras à participação e ao empoderamento <strong>da</strong>s pessoas,<br />

com conteúdos e técnicas de avaliação processual, permea<strong>da</strong> de uma base<br />

política e cultural estimuladora <strong>da</strong>s transformações sociais e, orienta<strong>da</strong> por<br />

anseios humanos de liber<strong>da</strong>de, justiça, igual<strong>da</strong>de e felici<strong>da</strong>de (Doutorandos<br />

do PPGE/UFPB, 2004).<br />

Dentre os <strong>constitutivo</strong>s propostos, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> (Quadro 2) vai emergir tardiamente,<br />

durante as reflexões de outros <strong>constitutivo</strong>s que já se encontravam em debate. Este,<br />

assim <strong>como</strong> o processo pelo qual se deu a construção coletiva do conceito para<br />

<strong>educação</strong> <strong>popular</strong>, deve ser compreendido <strong>como</strong> ação flexível à produção de<br />

conhecimentos em que se faz pela reflexão autêntica dos protagonistas e que preserva a<br />

condição do agir criativo.<br />

Quadro 2: temas levantados a partir do conceito construído<br />

Apropriação do<br />

produto <strong>da</strong> <strong>educação</strong><br />

<strong>popular</strong><br />

Autentici<strong>da</strong>de<br />

Autonomia<br />

Ação transformadora<br />

Aprendizagem<br />

(sentir, pensar e<br />

agir)<br />

Compromisso<br />

político<br />

Construção do<br />

sujeito<br />

Crítica<br />

Cultura<br />

Democracia<br />

Diálogo<br />

Empoderamento<br />

Experiência<br />

Emancipação<br />

Saberes<br />

Trabalho<br />

Transitorie<strong>da</strong>de<br />

Totali<strong>da</strong>de<br />

Felici<strong>da</strong>de<br />

Igual<strong>da</strong>de<br />

Ideologia<br />

Identi<strong>da</strong>de<br />

Incentivo ao desejo de<br />

saber<br />

Liber<strong>da</strong>de<br />

Organização/sistema<br />

Pe<strong>da</strong>gogia<br />

Pe<strong>da</strong>gogia (metodologia<br />

própria)<br />

Práxis<br />

Prática<br />

Popular<br />

Poder <strong>popular</strong><br />

Processo<br />

Produção do<br />

conhecimento<br />

(metodologia própria)<br />

Reali<strong>da</strong>de<br />

Lócus<br />

Para o debate em causa, ‘<strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>’, trata-se de tema pertinente,<br />

uma vez que a expressão <strong>da</strong> <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> dá-se, <strong>como</strong> sugere a literatura contemporânea,<br />

a partir do sujeito e de um contexto favorável para que o processo criativo seja<br />

desencadeado. Caso contrário, que<strong>da</strong>ria num ambiente de fragmentação e<br />

obstacularização <strong>da</strong>s idéias e iniciativas, tal <strong>como</strong> afirma Von Oech (1988) em ‘Um toc<br />

na cuca’, referindo-se às barreiras mentais contra a <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>.<br />

Com isto, pelo momento, fica a intenção de verificar se o conceito construído<br />

coletivamente pelos doutorandos do PPGE/UFPB, 2004, permite afirmar <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong><br />

enquanto um dos <strong>constitutivo</strong>s à <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>.<br />

4


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

CONCEITUANDO CRIATIVIDADE: BREVE RETROSPECTIVA<br />

Historicamente, o termo <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> assumiu diversas faces. Na Antigüi<strong>da</strong>de,<br />

acreditava-se que os Deuses atribuíam poderes aos humanos tornando-os criativos.<br />

Desta maneira, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>, não sendo uma característica humana, encontrava-se<br />

associa<strong>da</strong> a uma dádiva divina, a um Dom lançado por Deus (ALENCAR, 1986;<br />

KNELLER, 1978). Platão, de acordo com Wechsler (1993), através <strong>da</strong> sua teoria <strong>da</strong><br />

imortali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s idéias, identificava o homem através de sua aproximação com a<br />

razão divina. Nesta direção, Kneller (1978) comenta que o artista, no momento <strong>da</strong><br />

criação, perde o controle de si e age guiado por um poder superior, divino.<br />

Em outras épocas, a exemplo <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> esteve associa<strong>da</strong> aos<br />

conceitos de bruxaria ou <strong>como</strong> sinal de desajustamento e loucura. Neste sentido,<br />

Alencar (1986) refere-se aos trabalhos desenvolvidos por Witty e Lehman (1965), em<br />

que sugerem “a relação entre <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> e doença mental ou entre […] instabili<strong>da</strong>de<br />

nervosa” (Ob.cit., p.12). No entanto, estas idéias já se encontravam na Antigüi<strong>da</strong>de.<br />

Naquele tempo, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> também esteve associa<strong>da</strong> <strong>como</strong> estado de loucura: “Sua<br />

aparente espontanei<strong>da</strong>de e sua irracionali<strong>da</strong>de são explica<strong>da</strong>s <strong>como</strong> fruto de um acesso<br />

de loucura” (KNELLER, 1978, p. 33). Com isto, muitos artistas e cientistas foram<br />

interpretados <strong>como</strong> loucos, <strong>como</strong> lunáticos na medi<strong>da</strong> em que, pela busca de sua<br />

superação, tendiam a “forçar ao extremo a própria natureza” (Ob.cit., 34), colocando-se<br />

numa nuance de limiar entre insani<strong>da</strong>de e “a resolução crucial de um conflito”<br />

(KNELLER, 1978, p. 34).<br />

Com a Moderni<strong>da</strong>de, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> passa a ser identifica<strong>da</strong> <strong>como</strong> conseqüência <strong>da</strong><br />

produção humana. Estudiosos intrigados com questões ain<strong>da</strong> não esclareci<strong>da</strong>s, a<br />

exemplo dos “lampejos de inspiração” existentes em alguns “indivíduos privilegiados”<br />

(gifted ou talentosos 4 ), ou dos estudos sobre características individuais, “traços” de<br />

personali<strong>da</strong>de, passam a valorizar respostas provenientes <strong>da</strong>s práticas científicas, na<br />

tentativa de explicar o processo criativo <strong>como</strong> conseqüência <strong>da</strong> inteligência superdota<strong>da</strong><br />

de alguns humanos (os gênios). Hoje, no entanto, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> <strong>como</strong> conseqüência <strong>da</strong><br />

inteligência humana supera a dimensão de gênio e espalha-se <strong>como</strong> característica<br />

humana. Como conseqüência <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de inteligência, própria à espécie humana.<br />

De acordo com Brown (1989), pelo menos quatro abor<strong>da</strong>gens foram dirigi<strong>da</strong>s à<br />

identificação de aspectos relativos à <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> e inteligência. Algumas <strong>da</strong>s teorias<br />

mais antigas são despreza<strong>da</strong>s tendo em vista as novas descobertas. Dom, lampejo de<br />

idéias, loucura, bruxaria são termos superados pelo entendimento de que “todo ser<br />

humano apresenta certo grau de habili<strong>da</strong>des criativas e que estas habili<strong>da</strong>des podem ser<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s e aprimora<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> prática e do treino” (ALENCAR, 1986, 12).<br />

Nesta direção, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> deve ser compreendi<strong>da</strong> <strong>como</strong> fenômeno humano mediado<br />

pela inteligência e influencia<strong>da</strong> pela aprendizagem. Este aspecto nos remete a Álvaro<br />

Vieira Pinto (1969), quando se refere à Teoria <strong>da</strong> cultura <strong>como</strong> produto <strong>da</strong> produção<br />

humana. Para ele, “cultura é, [...], o processo pelo qual o homem acumula as<br />

4 Estes termos estiveram comumente atrelados aos estudos que relacionam <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>, produção criativa,<br />

características de personali<strong>da</strong>de com indivíduos classificados <strong>como</strong> gênios ou superdotados.<br />

5


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

experiências que vai sendo capaz de realizar, discerne entre elas, fixa as de efeito<br />

favorável e, <strong>como</strong> resultado <strong>da</strong> ação exerci<strong>da</strong>, converte em idéias as imagens e<br />

lembranças [...] desse contato inventivo com o mundo natural” (PINTO, 1965, 123).<br />

Portanto, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> <strong>como</strong> cultura deriva <strong>da</strong>s ações que o homem exerce no ambiente,<br />

deriva <strong>da</strong>s idéias que os homens constroem, media<strong>da</strong>s pelas “respostas originais aos<br />

desafios do ambiente” (Ob.cit., 122). Tal <strong>como</strong> sugere Vieira Pinto, criar implica, de<br />

alguma maneira, em produção de cultura.<br />

Retomando Brown (1989) e a relação <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>-inteligência, é no início do século<br />

XX que se verifica maior ênfase nos trabalhos que procuram explicar <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>: a)<br />

<strong>como</strong> “um aspecto <strong>da</strong> inteligência”, a exemplo dos testes de Quociente de inteligência<br />

(QI) de Binet e o Modelo de Estrutura <strong>da</strong> Inteligência de Guilford; b) <strong>como</strong> “uma<br />

grande parte do processo inconsciente” - Brown (1989) menciona o trabalho de Henri<br />

Poincaré (1913) ao concluir que: “a consciência de fracasso na resolução de um<br />

problema, coloca em ação o processo inconsciente que leva a uma combinação<br />

randômica de idéias, algo que pode emergir <strong>como</strong> uma apropria<strong>da</strong> solução criativa”<br />

(Ob.cit., 5) -. Kneller (1978), também comentando Poincaré, atribui a esta relação entre<br />

consciência e inconsciência o conceito “novi<strong>da</strong>de”. Neste sentido, expressa que “a<br />

novi<strong>da</strong>de criadora emerge em grande parte do remanejamento de conhecimento<br />

existente – remanejo que é, no fundo, acréscimo ao conhecimento” (Ob.cit., 16-17); c)<br />

<strong>como</strong> “um elemento <strong>da</strong> solução de problema” – refere-se aos estudos que procuram<br />

identificar os passos desenvolvidos durante o processo de resolução de problemas. Para<br />

Brown (1989), são exemplos os estudos de Dewey (Problem solving em 1910); Wallas<br />

(Createve production em 1926); Rossman (Invention em 1931) e, d) <strong>como</strong> “um processo<br />

associativo” que está relacionado com os estudos que pretendem articular processo<br />

criativo à associação de idéias, experiências, fatos <strong>como</strong> conseqüência <strong>da</strong> cognição<br />

humana. Como expoente desta categoria de estudos, Brown vai identificar os princípios<br />

de <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> desenvolvidos por Spearman em 1931 5 .<br />

Assim <strong>como</strong> Brown (1989), Guilford e Hoepfner (1971 1 ), vão afirmar que poucos foram<br />

os estudos envolvendo produção criativa e inteligência. Com isto, o desenvolvimento de<br />

pesquisa articulando inteligência e produção criativa, avançou lentamente. De acordo<br />

com estes autores destacam-se os trabalhos realizados a partir <strong>da</strong> análise fatorial<br />

elaborados por Garnett (1919), identificando a categoria “talento”; Hargreaves (1927),<br />

“fluência” e “originali<strong>da</strong>de”; Thurstone (1938), “fluência <strong>da</strong> palavra” e Fruchter (1948),<br />

que adicionou um fator de análise denominando-o “fluência associativa”. Além destes<br />

trabalhos, identificaram pesquisas que tomaram a direção de verificar o processo<br />

criativo de gênios.<br />

Semelhantemente, Wechsler (1993) vai referir-se à diversi<strong>da</strong>de de significados<br />

associados à <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>. Este aspecto, de acordo com a autora, aproximando-se de<br />

Brown (1989) trata de um “fenômeno complexo, [...], com múltiplas facetas”, o que tem<br />

5 “O modelo básico de Spearman implica em um processo ativo em que associações com uma idéia inicial pode ser<br />

libera<strong>da</strong> de sua própria relação e, assim, conduzir a alguma coisa completamente nova” Brown (1989, 5).<br />

6


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

motivado pesquisadores a compreenderem os “processos de pensamento criativo,<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des <strong>da</strong> produção criativa, características <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de criativa, tipos de<br />

ambientes facilitadores <strong>da</strong> <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> e combinações entre quaisquer dessas formas”<br />

(Ob.cit., 1). Assim, explicar o processo pelo qual o homem expressa seu potencial<br />

criativo, inovador, parece ser tema de interesse atual. Contudo, nenhuma destas<br />

abor<strong>da</strong>gens vai explicar <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> <strong>como</strong> um dos <strong>constitutivo</strong>s <strong>da</strong> Educação Popular.<br />

Muito provavelmente por deterem-se na busca de argumentos que comprovem a<br />

articulação entre inteligência e produção/produto criativo.<br />

De certa maneira, as pesquisas têm se dividido em dois grandes grupos. Um que discute<br />

aspectos relacionados aos processos criativos, estes procuram analisar os tipos de<br />

pensamentos que predominam na descoberta criativa, bem <strong>como</strong> os passos utilizados<br />

pelo indivíduo para se atingir a produção criativa. Outros li<strong>da</strong>m com o produto criativo,<br />

priorizam a originali<strong>da</strong>de, seja sob a perspectiva do produto frente ao próprio indivíduo,<br />

seja pela relevância que o produto exalta para o social. Este aspecto é fun<strong>da</strong>mentalmente<br />

relevante na medi<strong>da</strong> em que disponibiliza argumentos explicativos sobre a dimensão<br />

natureza e cultura, atribuindo reflexões acerca do significado do processo e do produto<br />

criativo no e com o social. Este último grupo, possivelmente, será o que mais irá se<br />

aproximar do debate acerca <strong>da</strong> <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> e Educação Popular. Embora os resultados<br />

<strong>da</strong>s pesquisas estejam ain<strong>da</strong> atrelados à identificação de características que apontem a<br />

direção do processo ou produto criativo.<br />

To<strong>da</strong>via, frente ao propósito deste estudo, duas abor<strong>da</strong>gens vão chamar a atenção: a<br />

educacional e a sociológica acerca de <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>.<br />

Os estudos de Torrance vieram contribuir, em muito, com a relação entre <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> e<br />

<strong>educação</strong>. Permitiram análises acerca de estratégias que proporcionam incentivos,<br />

desafios ao pensar e agir divergente. A escola convencional, segundo Torrance, “premia<br />

e reforça o raciocínio lógico e convergente, onde os alunos devem sempre encontrar a<br />

melhor e única resposta para o problema ao invés de possíveis soluções” (WECHSLER,<br />

1993, p. 18). A <strong>educação</strong> posta desta forma distancia-se do incentivo à expressão de<br />

comportamentos criativos. Faz uso de modelos punitivos e de reforço de<br />

condicionamentos que conduzem à resposta certa, <strong>como</strong> maneira de melhorar a<br />

aprendizagem. Na opinião de Wechsler (1993), trata-se de modelos que causam efeitos<br />

temporários e que exigem contínuas repetições. O conteúdo <strong>da</strong> aprendizagem ao perder<br />

seu significado para o indivíduo que aprende, vai exigir constante reforço no sentido de<br />

preservar a memorização <strong>da</strong>quilo que seja o objeto <strong>da</strong> aprendizagem. De acordo com<br />

Von Oech (1988), este modo de agir provoca “bloqueios mentais”, não exige<br />

comportamento criativo, diferentemente, se faz através do incentivo à rotina, à<br />

pratici<strong>da</strong>de.<br />

Contrário a esta perspectiva de <strong>educação</strong>, Torrance propõe que a aprendizagem seja<br />

estimula<strong>da</strong> através dos referenciais <strong>da</strong> <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>, em que considera os interesses<br />

individuais e <strong>da</strong> motivação interna, com efeito, duradouro. Assim, Torrance avança<br />

propondo uma <strong>educação</strong> centra<strong>da</strong> no exercício de pensar divergente, no entanto não<br />

avança na discussão acerca dos significados <strong>da</strong>s ações dos homens e mulheres que<br />

pensam divergentemente. Centra sua discussão na condução de estratégias que venham<br />

favorecer o agir criativamente.<br />

7


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

A contribuição de Torrance ao debate que envolve <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> e <strong>educação</strong> é, sem<br />

dúvi<strong>da</strong>, de grande relevância quando se pensa o cenário <strong>da</strong> <strong>educação</strong> formal. No<br />

entanto, referente ao debate acerca <strong>da</strong> Educação Popular, pode-se assumir que a<br />

indicação de estratégias favoráveis ao agir criativo seja um dos indicadores<br />

fun<strong>da</strong>mentais à práxis pe<strong>da</strong>gógica, contudo ain<strong>da</strong> não responde aos problemas que<br />

emergem quando nos colocamos frente à Educação Popular.<br />

Próxima a esta abor<strong>da</strong>gem, a perspectiva sociológica e <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> discute,<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente, os efeitos do ambiente no processo criativo. Para Wechsler (1993),<br />

“a questão que se coloca é a de <strong>como</strong> a socie<strong>da</strong>de, com suas regras e imposições, pode<br />

permitir o desabrochar <strong>da</strong> <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>” (Ob.cit., 20). Deve-se considerar que as regras<br />

sociais vão se constituir em critérios de avaliação <strong>da</strong>s produções, definindo sua<br />

legitimi<strong>da</strong>de criativa. Ou seja, um produto criativo expressa seu significado através do<br />

reconhecimento social, quanto à sua utili<strong>da</strong>de. Este panorama pode ser reforçado através<br />

de Amabile (apud WECHSLER, 1993) quando propõe que o estudo acerca <strong>da</strong><br />

<strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> leve em consideração as referências “amplas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de na qual o<br />

indivíduo está inserido” (Ob.cit., 21). Em seus estudos demonstra que as pessoas podem<br />

sofrer diversos efeitos <strong>da</strong> relação no e com o ambiente, o qual pode ser estimulador,<br />

recompensador, assim <strong>como</strong> pode ser repressor, punitivo. Nesta mesma direção, Cuéllar<br />

(1997), fazendo crítica às prerrogativas desenvolvi<strong>da</strong>s nas pesquisas sobre <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>,<br />

comenta: “a humani<strong>da</strong>de tem obtido muito mais êxito em escrever sua imaginação nas<br />

artes, na ciência e na tecnologia do que na elaboração e na inovação em matéria de<br />

novos esquemas sociais” (Ob.cit., 102).<br />

Este aspecto coloca-nos diante <strong>da</strong> reflexão sobre o modo de ser e estar de homens e<br />

mulheres na e com a socie<strong>da</strong>de. Ao mesmo tempo em que nos coloca frente ao debate<br />

acerca dos elementos sócio-culturais responsáveis pela exclusão de direitos de grande<br />

parte <strong>da</strong> população. Indica, ain<strong>da</strong>, a necessi<strong>da</strong>de de construir argumentos que venham<br />

denunciar as dispari<strong>da</strong>des sociais, anunciando proposições favoráveis à expressão <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Portanto, pensar <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> sob o olhar do viver em coletivi<strong>da</strong>de, converge<br />

na direção <strong>da</strong> dimensão ética e política de atitudes humanas, frente aos novos desafios<br />

de enfrentamento <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des e formas de exclusão sociais.<br />

A <strong>educação</strong>, <strong>como</strong> meio de resistência, apresenta-se <strong>como</strong> instrumento impulsionador<br />

de reflexões que poderão conduzir a um processo de transformação social,<br />

nomea<strong>da</strong>mente rumo a uma cultura humana em contexto de humanização.<br />

Por conseguinte, não será qualquer forma de produção ou produto criativo que atenderá<br />

ao contexto <strong>da</strong> <strong>educação</strong> quando desenha<strong>da</strong> sob as características <strong>da</strong> <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>.<br />

Aspecto este que conduz à reflexão acerca <strong>da</strong> relação <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>.<br />

Criativi<strong>da</strong>de e <strong>educação</strong>, assim posto, sugerem novas reflexões na busca de argumentos<br />

explicativos acerca <strong>da</strong>s prováveis transformações no modo de ser e estar <strong>da</strong>s pessoas na<br />

socie<strong>da</strong>de frente à diversi<strong>da</strong>de cultural. Este aspecto, aqui, será abor<strong>da</strong>do a partir <strong>da</strong>s<br />

idéias freireanas sobre <strong>educação</strong>.<br />

CRIATIVIDADE E AS PRIMEIRAS IDÉIAS DE PAULO FREIRE EM EDUCAÇÃO<br />

<strong>Paulo</strong> Freire (1967), nas primeiras linhas de ‘Educação <strong>como</strong> prática <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de’<br />

8


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

aponta as conotações de plurali<strong>da</strong>de, de transcendência, de critici<strong>da</strong>de, de conseqüência<br />

e de temporali<strong>da</strong>de <strong>como</strong> fonte de explicação argumentativa acerca do processo de<br />

libertação humana. Por extensão, o processo de descoberta, que revela a ação de criar e<br />

recriar, pode ser explicado através destas mesmas conotações.<br />

Antes mesmo de adentrar na reflexão que indica <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> <strong>como</strong> <strong>constitutivo</strong> <strong>da</strong><br />

Educação <strong>popular</strong>, e mais especificamente o debate referente ao termo descoberta <strong>como</strong><br />

expressão do agir criativo, Wechsler (1993), fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> na teoria do intelecto de<br />

Jean P. Guilford, vai afirmar que dentre as operações cognitivas, o pensamento<br />

divergente é o que proporcionará descobertas criativas. Em sua opinião, a produção<br />

divergente leva à “formulação de alternativas varia<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> informação <strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

procura diferentes soluções para o problema” (WECHSLER, 1993, p.12). Com isto,<br />

associa <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> à solução de problemas <strong>como</strong> respostas diferentes e alternativas<br />

para um mesmo problema. Gardner (1996), também se referindo à produção divergente,<br />

a identifica <strong>como</strong> estrutura mental favorável ao processo criativo. Contrariamente, a esta<br />

perspectiva, a produção convergente permite a descoberta de respostas pré-defini<strong>da</strong>s.<br />

Certamente que, para <strong>Paulo</strong> Freire, os propósitos de uma <strong>educação</strong> regi<strong>da</strong> pela<br />

intensi<strong>da</strong>de do pensar convergente, mesmo que estimulando práticas de aprendizagem<br />

pela resolução de problemas, trata-se de uma prerrogativa de modelos educacionais<br />

orientados pela prática pe<strong>da</strong>gógica conservadora. Uma <strong>educação</strong> que se distancia <strong>da</strong><br />

práxis libertadora e democrática; uma forma de <strong>educação</strong> que traduz a expressão <strong>da</strong><br />

‘<strong>educação</strong> bancária’ 6 .<br />

Aprendizagem, neste sentido, sob o incentivo <strong>da</strong> descoberta de respostas universalmente<br />

certas decorre <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de humana de inteligência e, de certa maneira, encerra-se nela<br />

mesma. Distancia-se do contexto e <strong>da</strong>s relações que homens e mulheres, em libertação,<br />

captam e são protagonistas. Torna homens e mulheres em “coisa adestra<strong>da</strong>”. Visto que,<br />

preservando a intenção <strong>da</strong> resposta certa, única possível, caminha na direção do que<br />

Freire (1967) chamou de “domesticação” do ser humano. Diferentemente de uma práxis<br />

libertadora, a <strong>educação</strong> bancária provoca a estagnação social. Diante do anunciado pela<br />

história política-econômica mundial, que acena na direção de alternativas para a solução<br />

de problemas emergentes, a <strong>educação</strong> bancária, fixa o tempo <strong>da</strong> aprendizagem ao tempo<br />

previsto para a resolução do problema, identificando as velhas soluções, <strong>como</strong> extrato<br />

<strong>da</strong> nova aprendizagem. Impede o desenrolar <strong>da</strong> transformação social, em seu lugar<br />

massifica as soluções convergindo para a manutenção do contexto social.<br />

Noutra direção, homens e mulheres envolvem-se num processo criativo pela leitura <strong>da</strong><br />

“palavramundo” e <strong>da</strong> “palavra-ação” <strong>como</strong> expressões de seu próprio “quefazer” social,<br />

ético, estético, político, cultural 7. Tomam consciência de que ao aprender produzem<br />

cultura, estruturam valores políticos, educacionais, psicológicos, sociais ao mesmo<br />

6 Educação bancária é termo utilizado por <strong>Paulo</strong> Freire (1970) para referir-se aos modelos de <strong>educação</strong><br />

conservadores, tradicionais em sua estrutura e estética.<br />

7 Apesar do termo ‘cultura’ ser indicado por <strong>Paulo</strong> Freire a partir de Erich Kahler (Historia Universal del Hombre),<br />

Álvaro Vieira Pinto (1969) vai delimitar ‘cultura’ com significado que pode expressar as idéias que <strong>Paulo</strong> Freire<br />

efetivou ain<strong>da</strong> quando nos Círculos de Cultura, no MCP. Diz-nos Álvaro Vieira: “A cultura, criação humana<br />

resultante <strong>da</strong> resolução <strong>da</strong> contradição principal do homem, aquela existente entre ele e a natureza. [...] A cultura<br />

<strong>como</strong> produto do processo produtivo” (Ob.cit., 119).<br />

9


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

tempo em que sofrem influência desta mesma produção. De um lado, convivendo numa<br />

e com uma socie<strong>da</strong>de que estimule o pensar divergente, supõe-se estimular, também, o<br />

desempenho criativo. De outra maneira, sendo esta socie<strong>da</strong>de repressora, a expressão do<br />

agir criativo, mesmo que estimulado sob a lógica do pensar divergente, tende a<br />

distanciar-se <strong>da</strong> práxis libertadora em que homens e mulheres se associam numa ação<br />

revolucionária pela transformação social.<br />

Na medi<strong>da</strong> em que se relaciona, homens e mulheres estabelecem contatos com desafios<br />

que captam do mundo 8 e que orientam seu agir. Nesta direção, <strong>Paulo</strong> Freire vai referirse<br />

à plurali<strong>da</strong>de <strong>como</strong> conotação que exige, dos homens e mulheres, o respeito à<br />

diversi<strong>da</strong>de histórica, cultural dos sujeitos em relação. Os desafios captados nas relações<br />

expressam uma plurali<strong>da</strong>de na sua singulari<strong>da</strong>de. Portanto, os desafios tanto consagram<br />

elementos comuns aos homens e mulheres, <strong>como</strong> expressam uma singulari<strong>da</strong>de que<br />

caracteriza a especifici<strong>da</strong>de histórica de ca<strong>da</strong> um e uma. O processo que conduz estes<br />

mesmos homens e mulheres, sob a dimensão <strong>da</strong> sua plurali<strong>da</strong>de, registra a diversi<strong>da</strong>de<br />

cultural e histórica de ca<strong>da</strong> um e uma. O agir criativo forçosamente remeterá todos e<br />

to<strong>da</strong>s que se percebam protagonistas a uma ação respal<strong>da</strong><strong>da</strong> na multiplici<strong>da</strong>de de<br />

respostas ao problema. A questão que se coloca <strong>como</strong> diferenciadora está posta no que<br />

<strong>Paulo</strong> Freire chamou de ‘vocação ontológica humana’: a condição de ser coletivamente<br />

mais.<br />

O processo criativo orientado pelo reconhecimento <strong>da</strong> plurali<strong>da</strong>de humana e dos<br />

desafios que os homens e mulheres captam e criam/recriam, estão condicionados pelo<br />

“jogo constante de suas respostas, altera-se no próprio ato de responder. Organiza-se”<br />

(FREIRE, 1967, p. 40) na trajetória de seu agir e pensar.<br />

Semelhantemente ao proposto por Jean P. Guilford, <strong>Paulo</strong> Freire entende que criar e<br />

recriar são condições humanas e têm influência <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de inteligência. Neste<br />

sentido, os homens e mulheres agindo através <strong>da</strong> expressão do pensar divergente,<br />

investem sua ação escolhendo a melhor resposta (que não é negação <strong>da</strong>s demais<br />

respostas). Testa sua aplicabili<strong>da</strong>de. Age com consciência diante do desafio. Decide. No<br />

entanto, <strong>Paulo</strong> Freire adentra, além dos condicionantes <strong>da</strong> inteligência humana, noutros<br />

que estão alicerçados no interior <strong>da</strong>s relações que homens e mulheres desenvolvem.<br />

Plurali<strong>da</strong>de, <strong>como</strong> uma <strong>da</strong>s cinco conotações <strong>da</strong> esfera humana, permite-nos refletir<br />

sobre a relação entre <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> e privilégios, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Este aspecto vai<br />

nos conduzir ao entendimento que <strong>Paulo</strong> Freire faz acerca do que é <strong>da</strong> natureza e o que<br />

é <strong>da</strong> cultura. Assim, a inteligência <strong>como</strong> capaci<strong>da</strong>de humana apresenta-se no campo dos<br />

elementos <strong>da</strong> natureza, enquanto que os desafios que homens e mulheres captam <strong>da</strong> sua<br />

reali<strong>da</strong>de, as idéias que formulam elaborando dinamici<strong>da</strong>de em seu agir criativo, são<br />

expressões <strong>da</strong> sua produção inteligente, portanto estão na esfera cultural. Como tal, o<br />

agir criativo denota a condição histórica pelas quais os homens e as mulheres são<br />

protagonistas.<br />

8 De acordo com <strong>Paulo</strong> Freire (1967, 39), “para o homem, o mundo é uma reali<strong>da</strong>de objetiva, independente dele,<br />

possível de ser conheci<strong>da</strong>”.<br />

10


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

Não há privilégio em <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>. Contudo, sob o olhar <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de cultural entre<br />

homens e mulheres, sob a maneira <strong>como</strong> homens e mulheres se posicionam em suas<br />

relações, o agir criativo pode sofrer opressão, decorrendo <strong>da</strong>í inibição de ações criativas.<br />

Na negação ou opressão <strong>da</strong> plurali<strong>da</strong>de humana o agir criativo é inibido, provoca a<br />

sectarização que massifica desapropriando homens e mulheres de sua ‘vocação<br />

ontológica de ser mais’, de ser coletivamente mais. Para Freire (1967), o homem na<br />

condição de “sectário na<strong>da</strong> cria porque não ama. Não respeita a opção dos outros.<br />

Pretende a todos impor a sua, que não é opção, mas fanatismo. Daí a inclinação do<br />

sectário ao ativismo, que é ação sem vigilância <strong>da</strong> reflexão” (Ob.cit., 51).<br />

O agir criativo, em sintonia com a perspectiva educacional libertadora, diferentemente<br />

<strong>da</strong> sectarização, tem delimita<strong>da</strong> sua amplitude na expressão mais profun<strong>da</strong> do que <strong>Paulo</strong><br />

Freire chamou de ‘radicalização’ 9 . Se expressa na medi<strong>da</strong> em que homens e mulheres<br />

assumem-se política e criticamente, centrados no reconhecimento que fazem <strong>como</strong><br />

sujeitos revolucionários no exercício de sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, de sua cultura.<br />

Como homens e mulheres radicais vivem os seus tempos, não apenas estando neles, mas<br />

com eles. Transcendem <strong>como</strong> sujeitos revolucionários, conscientes de sua finitude<br />

terrena, ao mesmo tempo em que se reconhecem através de sua condição de estar sendo,<br />

e de sendo estar. Percebem-se em seu ‘inacabamento’ espiritual, que para Freire (1967)<br />

expressa a ligação entre o plano humano e o religioso, “cuja plenitude se acha na<br />

ligação com o Criador. Ligação que, pela própria essência, jamais será de dominação ou<br />

de domestificação, mas sempre de libertação” (FREIRE, 1967, p. 40).<br />

Daí pode-se especular sobre o motivo pelo qual <strong>Paulo</strong> Freire comumente associa a ação<br />

de criar à de recriar. O agir criativo/recriativo guar<strong>da</strong> íntima relação com a existência<br />

humana de quem cria/recria, de tal maneira que, homens e mulheres ao viverem seu<br />

tempo, vivendo discernem sobre seu tempo e suas atitudes. Criam, criando, na medi<strong>da</strong><br />

em que transitam conscientemente pela sua historici<strong>da</strong>de e cultura. O agir<br />

criativo/recriativo, assim, decorre de seu estar no e com o mundo. Transcendem,<br />

transcendendo, legitimados pelo reconhecimento social de suas ações.<br />

Por conseguinte, o agir criativo/recriativo exige dinamici<strong>da</strong>de, autentici<strong>da</strong>de e ação<br />

radical de todos e to<strong>da</strong>s que se posicionam criativamente frente aos desafios que<br />

captam. As relações construí<strong>da</strong>s, entre homens e mulheres que estando no mundo se<br />

fazem com ele, são relações que não se esgotam na passivi<strong>da</strong>de dos sectários. São<br />

relações forçosamente em movimento traduzindo a amorosi<strong>da</strong>de entre os sujeitos e<br />

sujeitas em libertação. Não há privilégios entre os homens e mulheres que, em<br />

transcendência, comungam suas experiências criando/recriando soluções aos desafios<br />

que captam de sua reali<strong>da</strong>de. Não se massificam <strong>como</strong> sectários, diferentemente agem<br />

<strong>como</strong> protagonistas que não se ajustam aos desafios, mas que os confrontam critica e<br />

sensívelmente às diversi<strong>da</strong>des de seu tempo:<br />

9 “A radicalização, que implica no enraizamento que o homem faz na opção que fez, é positiva, porque<br />

preponderantemente crítica. Porque crítica e amorosa, humilde e comunicativa. O homem radical na sua opção, não<br />

nega o direito ao outro de optar. Não pretende impor a sua opção. Dialoga sobre ela” (FREIRE, 1967, p. 50).<br />

11


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

A partir <strong>da</strong>s relações do homem com a reali<strong>da</strong>de, resultantes de estar com ela<br />

e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando<br />

o seu mundo. Vai dominando a reali<strong>da</strong>de. Vai humanizando-a. Vai<br />

acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando<br />

os espaços geográficos. Faz cultura. E é ain<strong>da</strong> o jogo destas relações do<br />

homem com o mundo e do homem com os homens, desafiado e respondendo<br />

ao desafio, alterando, criando, que não permite a imobili<strong>da</strong>de, a não ser em<br />

relativa preponderância, nem <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des nem <strong>da</strong>s culturas. E, na medi<strong>da</strong><br />

em que cria, recria e decide, vão se conformando as épocas históricas. É<br />

também criando, recriando e decidindo que o homem deve participar destas<br />

épocas (FREIRE, 1967, p. 43).<br />

A capaci<strong>da</strong>de criadora, defini<strong>da</strong> por <strong>Paulo</strong> Freire, encontra-se diretamente associa<strong>da</strong> ao<br />

significado que os homens e mulheres atribuem a sua integração ao mundo. E isso<br />

denota a compreensão de que sua radicali<strong>da</strong>de decorre de seu reconhecimento <strong>como</strong><br />

sujeitos enraizados, autênticos e amorosamente críticos. A critici<strong>da</strong>de 10, <strong>como</strong> conotação<br />

que explica a condição humana de estar no e com o mundo e com outros homens e<br />

mulheres (‘homem <strong>como</strong> ser de relações’), expressa a posição contrária à a<strong>como</strong><strong>da</strong>ção e<br />

ajustamento dos homens e mulheres há um tempo unidimensional e a uma cultura <strong>da</strong><br />

qual não se fazem protagonistas. Critici<strong>da</strong>de é, assim, instância fun<strong>da</strong>mental do agir<br />

criativo, visto que não há expressão de <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> quando há exploração que nega o<br />

homem ou mulher em detrimento de outro ou outra. Agir criativamente exige<br />

integração, autentici<strong>da</strong>de nas ações, amorosi<strong>da</strong>de. Opõe-se a qualquer forma de<br />

opressão ou ação desumanizadora que ‘coisificam’ e ‘domesticam’ o homem. Por isso,<br />

afirma Freire (1967), “salienta-se a necessi<strong>da</strong>de de uma permanente atitude crítica,<br />

único modo pelo qual o homem realizará sua vocação natural de integrar-se, superando<br />

a atitude do simples ajustamento ou a<strong>como</strong><strong>da</strong>ção, apreendendo temas e tarefas de sua<br />

época” (Ob.cit., p. 44).<br />

A importância <strong>da</strong> captação destes temas extraídos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de histórica e cultural pelo<br />

homem está na delimitação de sua afirmação enquanto sujeito ou objeto; enquanto ação<br />

humanizadora ou desumanizadora; enquanto sujeito radical ou indivíduo sectário.<br />

Deman<strong>da</strong> conseqüência tanto sob atitudes orienta<strong>da</strong>s por ideologias conservadoras, de<br />

dominação e opressão, portanto antidemocráticas, <strong>como</strong>, em condição antagônica,<br />

atitudes de integração cujas relações humanas são construí<strong>da</strong>s a partir do<br />

reconhecimento que homens e mulheres fazem quanto aos valores, aspirações,<br />

inquietações que captam dos desafios de sua época e cultura. De um lado, a atitude<br />

descrita transcorre sob influência de uma consciência que transita aliena<strong>da</strong> e alienante<br />

entre homens e mulheres que se apresentam “incapazes de projetos autônomos de vi<strong>da</strong>,<br />

buscam nos transplantes inadequados a solução para os problemas do seu contexto”<br />

(Ob.cit., 53). Neste caso, as relações entre os homens, emergindo <strong>como</strong> estruturas de<br />

controle e dominação, transformam as ações humanas em puro ativismo assistenciais.<br />

Conseqüentemente, as relações toma<strong>da</strong>s pela imposição à força de uns sobre outros<br />

convergem na direção <strong>da</strong> exaltação de privilégios, rupturas na ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. O processo<br />

criativo tende a ser inibido e transformado em mito ou fantasia proveniente do<br />

imaginário que uns fazem dos privilégios de outros. Por conseguinte, mesmo motivado<br />

10 Critici<strong>da</strong>de para Freire (1967, p. 61) “implica na apropriação crescente pelo homem de sua posição no contexto.<br />

Implica na sua inserção, na sua integração, na representação objetiva <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de”.<br />

12


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

pela expressão do pesar divergente, a ação, que é conseqüência <strong>da</strong> atitude, perde sua<br />

articulação com o contexto de humanização do humano entre e com os humanos. Por<br />

isto mesmo afasta-se <strong>da</strong> vocação ontológica humana e em seu lugar tende a massificar, a<br />

domesticar todos e to<strong>da</strong>s que não detêm o privilégio <strong>da</strong> decisão. Não há ação<br />

criativa/recriativa ou de descoberta criativa que não esteja insufla<strong>da</strong> pelos ares <strong>da</strong><br />

historici<strong>da</strong>de e cultura dos sujeitos e sujeitas que se fazem protagonistas amorosamente<br />

radicais.<br />

Nesta direção, as conseqüências transitam sob a consciência crítica que homens e<br />

mulheres elaboram dos desafios que captam de sua reali<strong>da</strong>de. Em reflexão, homens e<br />

mulheres envolvem-se numa busca permanente de ser mais, transformando os desafios<br />

que captam em ‘quefazeres’ autênticos, em ‘inéditos viáveis’ construídos <strong>da</strong>s ‘situações<br />

limites’ de ca<strong>da</strong> um e uma. Este aspecto deman<strong>da</strong> do entendimento que <strong>Paulo</strong> Freire faz<br />

quando se refere ao processo de libertação nas relações humanas - “ninguém liberta<br />

ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão” (FREIRE,<br />

1987, p. 52). Este processo que se faz ao fazer em comunhão, de modo incisivo, nos<br />

adverte quanto ao contexto <strong>da</strong> <strong>educação</strong> que se faz ao fazer libertação. Coloca-nos<br />

diante <strong>da</strong> vocação humana de ser, sendo e de estar, estando em libertação.<br />

O agir criativo, <strong>como</strong> conseqüência <strong>da</strong>s relações que homens e mulheres constroem em<br />

sua existência, neste contexto, expressa atitude revolucionária de todos e to<strong>da</strong>s que<br />

ousam, amorosa e criticamente, reconhecer-se em libertação. De tal forma que:<br />

Somente quando os oprimidos descobrem, niti<strong>da</strong>mente, o opressor, e se<br />

engaja na luta organiza<strong>da</strong> por sua libertação, começam a crer em si mesmos,<br />

superando, assim, sua ‘convivência’ com o regime opressor. Se esta<br />

descoberta não pode ser feita ao nível puramente intelectual, mas <strong>da</strong> ação, o<br />

que nos parece fun<strong>da</strong>mental é que esta não se cinja a mero ativismo, mas<br />

esteja associa<strong>da</strong> a sério empenho de reflexão, para que seja práxis” (FREIRE,<br />

1987, p. 52).<br />

Por conseguinte, o agir criativo é conseqüência do ‘engajamento’ que homens e<br />

mulheres optam, negando ‘pseudoparticipações’ nas ações que decide. Engajamento,<br />

este, que se faz captando os desafios e agindo através <strong>da</strong> práxis libertadora. Neste<br />

sentido, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> não fin<strong>da</strong> em si mesma <strong>como</strong> operação <strong>da</strong> inteligência humana.<br />

Mas a transcende pelo reconhecimento que homens e mulheres elaboram acerca <strong>da</strong><br />

diversi<strong>da</strong>de histórica e cultural de ca<strong>da</strong> um e uma; a transcende na medi<strong>da</strong> em que se<br />

posicionam dialeticamente através <strong>da</strong> ‘ação-reflexão-nova ação’.<br />

Sob a conotação de temporali<strong>da</strong>de, o agir criativo pode ser explicado a partir do<br />

contexto situacional em que homens e mulheres agem. Diferente dos outros animais, o<br />

homem vive um tempo multidimensional. Produzem cultura ao existir num tempo que<br />

se faz passado, presente e futuro. Atribuem significado aos desafios captados de suas<br />

reali<strong>da</strong>des, refletindo sobre e a partir delas de maneira a estabelecerem sua autonomia e<br />

autentici<strong>da</strong>de no agir criativo.<br />

Criativi<strong>da</strong>de explica<strong>da</strong> sob a perspectiva expressa por <strong>Paulo</strong> Freire, superando os<br />

conceitos constituídos historicamente, ca<strong>da</strong> um em seu próprio tempo, incrementa<br />

significados outros que vão além <strong>da</strong>s iniciativas que a relacionaram <strong>como</strong> ‘dom’,<br />

13


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

loucura, bruxaria ou, noutra dimensão, <strong>como</strong> conseqüência <strong>da</strong> inteligência. Para <strong>Paulo</strong><br />

Freire, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> associa-se ao processo de emancipação democrática dos homens e<br />

mulheres que se reconhecem <strong>como</strong> ser de relações. Por conseguinte, o agir criativo toma<br />

corpo na medi<strong>da</strong> em que as relações humanas sejam orienta<strong>da</strong>s pelo engajamento<br />

amoroso, autêntico de ca<strong>da</strong> um e uma. O agir criativo expressa, em si, argumentos <strong>da</strong><br />

plurali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> transcendência, <strong>da</strong> critici<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> conseqüência e <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

relações humanas, entre sujeitos em libertação.<br />

Criativi<strong>da</strong>de e <strong>educação</strong>, assim posta, orienta<strong>da</strong>s sob o olhar de <strong>Paulo</strong> Freire, coloca-nos<br />

diante <strong>da</strong> inquietação de que não será qualquer expressão de <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> que irá<br />

converter a ação humana em práxis emancipatória. Antes se torna fun<strong>da</strong>mental<br />

esclarecer o contexto <strong>da</strong> <strong>educação</strong> em que o agir criativo tomará expressão.<br />

CRIATIVIDADE COMO UM DOS CONSTITUTIVOS DA EDUCAÇÃO POPULAR<br />

Este tópico que poderia ser chamado de considerações finais toma, aqui, outro formato<br />

na medi<strong>da</strong> em que se pretende exaltar a sua condição temporal frente ao conjunto de<br />

uma obra que se faz fazendo. Torna-se ousadia por se compreender em seu<br />

inacabamento, cuja estrutura expressa uma produção construí<strong>da</strong> por várias mãos. Desta<br />

maneira, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>, tema proposta para esta reflexão, ganha<br />

espaço argumentativo quando localizado no interior <strong>da</strong> produção (conceito de <strong>educação</strong><br />

<strong>popular</strong>) desenvolvi<strong>da</strong> pelos doutorandos do PPGE/UFPB (2004). Interage a partir <strong>da</strong><br />

reflexão orienta<strong>da</strong> pelo pensamento freireano sobre criar e recriar, indicando a esfera em<br />

que o conceito construído pode ou não expressar aproximação com o <strong>constitutivo</strong><br />

<strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>.<br />

Para tanto, o conceito construído fora subdividido (sem perder sua dimensão de<br />

totali<strong>da</strong>de) em partes que expressam, em si, um conjunto de conteúdos significativos à<br />

reflexão sobre <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> <strong>como</strong> um dos elementos que constituem <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>.<br />

Tomando as idéias de <strong>Paulo</strong> Freire <strong>como</strong> referência para a reflexão acerca de<br />

<strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> <strong>como</strong> um dos <strong>constitutivo</strong>s <strong>da</strong> Educação Popular, <strong>como</strong> expressão <strong>da</strong> práxis<br />

educativa, meio de intervenção política de homens e mulheres em relação, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong><br />

foi identifica<strong>da</strong> sob a condição que a faz transcender a esfera <strong>da</strong> inteligência humana.<br />

Implica em ação inteligente individual, pela sua condição natural, no entanto encontrase,<br />

absolutamente engaja<strong>da</strong>, num contexto histórico e cultural com o qual homens e<br />

mulheres interagem respeitando sua diversi<strong>da</strong>de.<br />

Neste sentido, o conceito construído possibilita fazer uma inferência na direção do<br />

reconhecimento <strong>da</strong> Educação Popular <strong>como</strong> um fenômeno de produção e apropriação<br />

dos produtos culturais, expresso por um sistema aberto de ensino e aprendizagem. Tal<br />

<strong>como</strong> <strong>Paulo</strong> Freire, entender <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>, associando-a à produção e apropriação<br />

dos produtos culturais, indica abertura nas relações entre os sujeitos com o mundo e<br />

com outros sujeitos; indica cultura <strong>como</strong> conseqüência <strong>da</strong> produção humana, ao mesmo<br />

tempo em que afirma o reconhecimento de que produzir cultura exige, dos homens e<br />

mulheres, conhecimento e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia para tornar a produção uma ação de criação ou<br />

recriação centra<strong>da</strong> no que <strong>Paulo</strong> Freire definiu <strong>como</strong> ‘vocação ontológica do homem’, a<br />

busca de ser mais em comunhão. Implica em autonomia e consciência crítica,<br />

14


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

comprometi<strong>da</strong> com o social para decidir a partir dos desafios que escapam de suas<br />

reali<strong>da</strong>des.<br />

A <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>, assim, é constituí<strong>da</strong> de uma teoria de conhecimento referencia<strong>da</strong><br />

na reali<strong>da</strong>de, com metodologias incentivadoras à participação e ao empoderamento <strong>da</strong>s<br />

pessoas. Como tal, o agir criativo deve responder aos princípios de uma teoria de<br />

conhecimento que explique o humano na sua condição humanizadora, frente aos<br />

aspectos <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong>de. A <strong>educação</strong>, orienta<strong>da</strong> por esta perspectiva teórica, torna-se<br />

<strong>popular</strong> na medi<strong>da</strong> em que tem delimitado seu campo de intervenção numa ação que não<br />

se divorcia de sua dimensão teórica, portanto, uma ação que se faz em processo<br />

reflexivo, resultando numa nova ação, cuja sua expressão esteja fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> pelos<br />

argumentos <strong>da</strong> práxis em diálogo. Como <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>, o agir criativo é expressão<br />

de homens e mulheres que se encontram protagonistas de suas decisões. De homens e<br />

mulheres que têm clareza de que suas ações iniciam com relações que elaboram e<br />

retornam sob a condição de respostas aos desafios que captou.<br />

Por conseguinte, deman<strong>da</strong> conteúdos e técnicas de avaliação processual recorrentes às<br />

conotações de plurali<strong>da</strong>de, de transcendência, de critici<strong>da</strong>de, de conseqüência e de<br />

temporali<strong>da</strong>de, com as quais os sujeitos e sujeitas engajam-se produzindo cultura.<br />

Aprendem a tomar decisões mediante relações que constituem em seu universo<br />

comunicativo, dialogando com outros homens e mulheres, assim <strong>como</strong> dialogando com<br />

o mundo, com sua reali<strong>da</strong>de. Os conteúdos, assim entendidos, são dotados de<br />

significado e geradores de novos conteúdos. A avaliação, em sua condição processual,<br />

responde, qualitativamente, aos desafios captados, os quais, para <strong>Paulo</strong> Freire,<br />

consagram-se sob a condição de ‘situações limites’ media<strong>da</strong>s pelo ‘inédito viável’ de<br />

ca<strong>da</strong> um e uma.<br />

Conteúdo e técnica de avaliação, articulados ao cenário <strong>da</strong> <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> <strong>como</strong> um dos<br />

<strong>constitutivo</strong>s <strong>da</strong> <strong>educação</strong> <strong>popular</strong>, aqui identifica<strong>da</strong>, expressam maneiras de agir sob<br />

orientação do pensar divergente, amoroso, dialógico, conscientemente crítico.<br />

Encontram-se, o pensar e agir criativo de homens e mulheres, protagonistas de seu<br />

tempo, permeados de uma base política e cultural estimuladora <strong>da</strong>s transformações<br />

sociais e, orienta<strong>da</strong> por anseios humanos de liber<strong>da</strong>de, justiça, igual<strong>da</strong>de e felici<strong>da</strong>de.<br />

Diferentemente, que<strong>da</strong>ria numa <strong>educação</strong>, outra, que não a <strong>popular</strong>.<br />

Por fim, entendendo a <strong>educação</strong> <strong>popular</strong> a partir do conceito analisado, pode-se deduzir<br />

que há uma relação implícita em seus conteúdos, os quais apontam o agir criativo na<br />

direção <strong>da</strong> práxis libertadora. Conseqüentemente, para que a <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> seja explica<strong>da</strong><br />

sob a condição de constituinte <strong>da</strong> Educação Popular, há de se pensar sob os aspectos que<br />

a condicionam a esta particulari<strong>da</strong>de, tais <strong>como</strong> sua aproximação com diversi<strong>da</strong>de<br />

cultural que permeia as relações humanas; <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> implica na capaci<strong>da</strong>de humana<br />

de inteligência para pensar e tomar decisões, a partir <strong>da</strong> dinamici<strong>da</strong>de posta ao agir<br />

dialético frente à diversi<strong>da</strong>de dos desafios captados.<br />

Agir criativamente implica num ato de amor ao homem, à mulher e ao mundo. A<br />

criação e recriação, produtos <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> criação humana, expressam em si, <strong>como</strong><br />

afirma Álvaro Vieira Pinto (1969) “duas faces de um só e mesmo processo, que passa<br />

de principalmente orgânico na primeira fase a principalmente social na segun<strong>da</strong>, sem,<br />

15


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

contudo em qualquer momento deixarem de estar presentes os dois aspectos e de se<br />

condicionarem reciprocamente” (Ob.cit., 122). Guar<strong>da</strong>m estreita relação com a<br />

condição em que homens e mulheres se posicionam no e com o mundo.<br />

Há de se pensar, <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>, sob a complexi<strong>da</strong>de que constitui o universo <strong>da</strong>s relações<br />

humanas, sem, no entanto, afastar-se do humano no processo de humanização <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ALENCAR, E.M.L.S. Psicologia <strong>da</strong> Criativi<strong>da</strong>de. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.<br />

ALENCAR, Eunice M. L. S. de e VIRGULIM, M. R. Ângela. Criativi<strong>da</strong>de: expressão<br />

e desenvolvimento. Organizadoras; Petrópolis/RJ: Vozes, 1994.<br />

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A <strong>educação</strong> <strong>popular</strong> na escola ci<strong>da</strong>dã. Petrópolis RJ:<br />

Vozes, 2002.<br />

BROWN, Robert T. Creativity: What are we to measure? In: Handboock of Creativity;<br />

GLOVER, J. A ; RONNING, R. R. and Reynolds, C.R. Edited by.; ROYCE R.. Chapter<br />

1; 3-32. New York: Plenum Press, 1989.<br />

CUÉLLAR, Javier P. de (Org.). Nossa diversi<strong>da</strong>de criadora: Relatório <strong>da</strong> Comissão<br />

Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Tradução de Alessandro Warley Candeas;<br />

revisão técnica de Lúcia Helena L. Morelli. Campinas, SP: Papirus; Brasília: UNESCO,<br />

1997.<br />

FLEITH, Denise de S. Treinamento e estimulação <strong>da</strong> <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> no contexto. In:<br />

VIRGULIM, A. e ALENCAR, E. (Org.) Educacional: Desenvolvimento e Expressão <strong>da</strong><br />

Criativi<strong>da</strong>de; (Org. Ângela Virgulim e Eunice Alencar), Cap. 7 (pp 113-141).<br />

Petrópolis/RJ: Vozes, 1994.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Educação <strong>como</strong> prática <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de. Rio de Janeiro: Paz e Terra,<br />

1967.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Pe<strong>da</strong>gogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.<br />

GARDNER, Howard. Estrutura <strong>da</strong> mente, a teoria <strong>da</strong> inteligências múltiplas. Trad. Por<br />

Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Mentes que criam: uma anatomia <strong>da</strong> <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong> observa<strong>da</strong> através<br />

<strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>s de Freud, Einstein, Picasso, Stravinsky, Eliot, Graham e Gandhi. Trad. Por<br />

Maria Adriana Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.<br />

GUILFORD, J. P. The nature of human intelligence. New York: MacGraw-Hill,<br />

1967.<br />

GUILFORD, J. P. Way beyond the IQ: guide for improving intelligence and<br />

creativity. Buffalo, New York: Creative Education Foun<strong>da</strong>tion, 1977.<br />

GUILFORD, J. P. e HOEPFNER, Ralph. The analysis of Intelligence. New York:<br />

MacGraw-Hill, 1971.<br />

HENNESSEY, Beth A. e AMABILE, Teresa M. The conditions of creativity. In:<br />

STERNBERG (Org.), R.J. The nature of creativity: Contemporary psychological<br />

perspectives, New York: Cambridge University Press, 1988.<br />

16


V Colóquio Internacional <strong>Paulo</strong> Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

KNELLER, George F. Arte e ciência <strong>da</strong> <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong>. Tradução de J. Reis. 5 edi. São<br />

<strong>Paulo</strong>: IBRASA, 1978.<br />

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à <strong>educação</strong> do futuro. Tradução de<br />

Catarina Eleonora de Assis de Carvalho. 3 ed. São <strong>Paulo</strong>: Cortez; Brasília: UNESCO,<br />

2001.<br />

MAY, Rollo. A coragem de criar. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976.<br />

PINTO, Álvaro V. Ciência e Existência: problemas filosóficos <strong>da</strong> pesquisa científica.<br />

Série Rumo <strong>da</strong> Cultura Moderna; vol. 20. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969.<br />

TAYLOR, Calin W. Various approaches to and definitions of creativity. In: The<br />

nature of creativity: Contemporary psychological perspectives, STERNBER, R. J. (Org)<br />

New York: Cambridge University Press, 1988.<br />

VERNON, P. E. The Nature-Nature Problem in Creativity. In:GLOVER, J. A.;<br />

Ronning R. R. and Reynolds C. R. (Org.). Handbook of Creativity. Perspectives on<br />

Individual Differences. Chapter 5; 93-110. New York: Plenum, 1989.<br />

VON OECH, Roger. Um “Toc” na cuca: técnicas para quem quer ter mais <strong>criativi<strong>da</strong>de</strong><br />

na vi<strong>da</strong>. Tradução de Virgílio Freire. São <strong>Paulo</strong>: Livraria Cultura Edi, (1988).<br />

WECHSLER, S/M. Criativi<strong>da</strong>de: descobrindo e encorajando. Campinas/SP: Editorial<br />

Psy. 1993.<br />

17

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!