a experiência do gaae na subprefeitura de vila prudente e sapopemba
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RESUMO<br />
V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l Paulo Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />
FORMAÇÃO, DIVERSIDADE E MOVIMENTOS SOCIAIS – A<br />
EXPERIÊNCIA DO GAAE NA SUBPREFEITURA DE VILA<br />
PRUDENTE E SAPOPEMBA<br />
Edson Fasano 1<br />
Jeane <strong>de</strong> Jesus Zanetti Garcia 2<br />
[...] Em lugar da <strong>de</strong>cretação <strong>de</strong> uma nova História, sem classes sociais, sem<br />
i<strong>de</strong>ologia, sem luta, sem utopia, e sem sonho, o que a cotidianida<strong>de</strong> mundial nega<br />
contun<strong>de</strong>ntemente, o que temos que fazer é repor o ser humano que atua, que pensa,<br />
que fala, que sonha, que ama, que o<strong>de</strong>ia, que cria e recria, que sabe e ignora, que se<br />
afirma e que se nega, que constrói e <strong>de</strong>strói, que é tanto o que herda quanto o que<br />
adquire, no centro <strong>de</strong> nossas preocupações. (FREIRE).<br />
O presente texto propõe a socialização <strong>de</strong> uma <strong>experiência</strong> <strong>de</strong> prática pedagógica, enquanto<br />
processo <strong>de</strong> educação e humanização permanente <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong> por Paulo Freire, fundada numa<br />
concepção política <strong>de</strong> formação voltada para a vivência <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong>s seus protagonistas. A<br />
<strong>experiência</strong> foi realizada <strong>na</strong> região da Subprefeitura <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte (distritos <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte /<br />
Parque São Lucas e Sapopemba) em setenta e quatro Unida<strong>de</strong>s Educacio<strong>na</strong>is. A centralida<strong>de</strong> da<br />
<strong>experiência</strong> será em torno <strong>do</strong>s Grupos <strong>de</strong> Acompanhamento da Ação Educativa – GAAE,<br />
objetivan<strong>do</strong> a ressignificação da escola como espaço institucio<strong>na</strong>l on<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser colocadas em<br />
relevo as questões da Diversida<strong>de</strong>, da Gestão Democrática, Ciclo, Humanização, Protagonismo e<br />
Letramento <strong>de</strong>ntre outras. Ao fi<strong>na</strong>l, apresentamos os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s: conquistas,<br />
dificulda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios.<br />
Palavras chaves: Protagonismo – Diversida<strong>de</strong> - Humanização.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O presente texto procura socializar a <strong>experiência</strong> <strong>de</strong> prática pedagógica, fundada numa<br />
concepção política <strong>de</strong> formação voltada para a vivência <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong>s seus protagonistas.<br />
Paulo Freire chamava-nos a atenção sobre o processo <strong>de</strong> educação permanente enquanto<br />
necessida<strong>de</strong> huma<strong>na</strong>. A condição histórica <strong>do</strong> ser humano coloca-nos diante <strong>de</strong> nossas<br />
possibilida<strong>de</strong>s, mas também <strong>do</strong>s nossos limites, da consciência da nossa inconclusão e da<br />
busca <strong>de</strong> constante formação. 2<br />
O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sumanização imposto pela socieda<strong>de</strong> neoliberal, tem procura<strong>do</strong> separar o ser<br />
humano <strong>de</strong> sua historicida<strong>de</strong> e conseqüentemente forma<strong>do</strong> uma i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> um futuro pré-<br />
1 É Professor <strong>de</strong> História, Diretor Escolar da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação/ São Paulo, foi Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>r Regio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />
Educação da Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte / Sapopemba no biênio 2003/2004, participante <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong><br />
Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Paulo Freire da UMESP, membro da Associação Paulo Freire <strong>do</strong> Parque São Lucas e mestran<strong>do</strong> da UMESP.<br />
2 É mestre em Educação pela PUC/SP, Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ra Pedagógica da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação/ São<br />
Paulo, foi Diretora <strong>de</strong> Orientação Técnica da Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte / Sapopemba no<br />
biênio 2003/2004, participante <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Paulo Freire da UMESP, membro da Associação Paulo<br />
Freire <strong>do</strong> Parque São Lucas – Pq. São Lucas e professora no Curso <strong>de</strong> Pedagogia da Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Gran<strong>de</strong><br />
ABC.
V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l Paulo Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />
<strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>do</strong>, on<strong>de</strong> as forças hegemônicas <strong>do</strong> capital apresentam-se como a única realida<strong>de</strong><br />
possível.<br />
As ciências mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>s procuram <strong>de</strong>cretar uma única verda<strong>de</strong>, através <strong>de</strong> méto<strong>do</strong>s e fórmulas ,<br />
que acreditam ser suficientes para a “explicação” da realida<strong>de</strong>. Realida<strong>de</strong> concebida<br />
linearmente, através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> causa e efeito que tem leva<strong>do</strong> ao silenciamento e<br />
opressão sobre aqueles e aquelas margi<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s (as) <strong>do</strong> processo <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte.<br />
A <strong>experiência</strong> que estaremos relatan<strong>do</strong>, procurou vivenciar a educação permanente, on<strong>de</strong><br />
oprimi<strong>do</strong>s e silencia<strong>do</strong>s, através da busca da recuperação da sua humanida<strong>de</strong>, propuseram-se a<br />
construir um currículo para a prática da liberda<strong>de</strong>.<br />
JUSTIFICATIVA<br />
As relações econômicas e sociais no Brasil, em especial <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, vêm<br />
passan<strong>do</strong> <strong>na</strong> última década por uma <strong>de</strong>generação, marcada pelo aumento consi<strong>de</strong>rável <strong>do</strong><br />
mapa <strong>do</strong>s excluí<strong>do</strong>s, que segun<strong>do</strong> pesquisa da FAPESP publicada em janeiro <strong>de</strong> 2003, chega a<br />
um milhão <strong>de</strong> excluí<strong>do</strong>s.<br />
Atualmente, <strong>do</strong>s mais <strong>de</strong> 10 milhões <strong>de</strong> habitantes da capital, quase nove milhões vivem<br />
abaixo <strong>de</strong> um padrão <strong>de</strong>sejável <strong>de</strong> vida: além da baixa renda, têm dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso à<br />
educação, saneamento básico, habitação, entre outros serviços, somada a um altíssimo<br />
crescimento da violência, sen<strong>do</strong> que jovens e crianças são suas principais vítimas.<br />
O Mapa da Exclusão/ Inclusão Social da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (FAPESP/PUC-SP), faz uma<br />
radiografia <strong>de</strong>talhada da topografia social <strong>de</strong> São Paulo e foi uma importante ferramenta <strong>de</strong><br />
planejamento urbano <strong>do</strong> qual lançamos mão para construir políticas públicas, <strong>de</strong>ntre ela a <strong>de</strong><br />
Educação, que transformasse a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exclusão.<br />
Quan<strong>do</strong> organizamos a proposta <strong>do</strong> Projeto Político Pedagógico da Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong><br />
Educação <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte / Sapopemba, ao compreen<strong>de</strong>rmos seus significa<strong>do</strong>s, propomos<br />
ações <strong>de</strong> transformação, que evi<strong>de</strong>nciavam o compromisso com a transformação da Escola, e<br />
exigia, <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s, práticas <strong>de</strong>mocráticas, fundamentadas no diálogo, respeitan<strong>do</strong>se<br />
diferenças e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s culturais construídas historicamente.<br />
Na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo a região <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte/ Sapopemba está situada <strong>na</strong> Zo<strong>na</strong> Leste da<br />
Capital, com uma área <strong>de</strong> 33,3 KM 2 , fazen<strong>do</strong> divisa com a região da Moóca ao norte, com<br />
Ipiranga a oeste, São Mateus a leste e com os municípios <strong>de</strong> Santo André e São Caetano <strong>do</strong><br />
Sul ao sul. A região da Subprefeitura <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte conta com uma população <strong>de</strong> 523.134<br />
habitantes (censo <strong>de</strong> 2000), o que correspon<strong>de</strong> a 5% da população total <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> São<br />
Paulo.<br />
A Subprefeitura <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte / Sapopemba é composta por três Distritos: Vila Pru<strong>de</strong>nte,<br />
Parque São Lucas e Sapopemba. O Distrito <strong>de</strong> Sapopemba concentra a maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
populacio<strong>na</strong>l (53,9%) apresentan<strong>do</strong> uma evolução populacio<strong>na</strong>l <strong>na</strong>s duas últimas décadas,<br />
provocada pela construção <strong>de</strong> diversos conjuntos habitacio<strong>na</strong>is, enquanto que nos Distritos <strong>do</strong><br />
Parque São Lucas e Vila Pru<strong>de</strong>nte houve leve <strong>de</strong>clínio da população.
V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l Paulo Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />
Nos indica<strong>do</strong>res sócio-econômicos o distrito <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte é que possui o maior índice <strong>de</strong><br />
renda sen<strong>do</strong> que 40,9% possui rendimentos <strong>de</strong> 10 a 30 salários mínimos, 27,5 % possui<br />
rendimentos <strong>de</strong> 4 a 10 salários mínimos e 31,6% da população com até 3 salários mínimos.<br />
O Distrito <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte, segun<strong>do</strong> os índices <strong>do</strong> Mapa Exclusão/Inclusão Social versão<br />
2002, <strong>na</strong> categoria Chefes <strong>de</strong> Família renda até 03 salários mínimos possui 31.187 chefes <strong>de</strong><br />
família (35,42%) sen<strong>do</strong> que <strong>de</strong>stes 2.413 não possuem rendimentos (7,74%), 2.927 recebem<br />
até um salário mínimo e meio (9,39%), 5.707 recebem <strong>de</strong> um até três salários mínimos<br />
(18,30%).<br />
No Distrito <strong>do</strong> Parque São Lucas, que territorialmente encontra-se entre o <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte e<br />
Sapopemba, temos 48,7% da população com rendimentos entre 10 e 30 salários mínimos,<br />
37,7% da população com renda entre 4 e 10 salários mínimos e 9,7% com renda até 4 salários<br />
mínimos.<br />
Segun<strong>do</strong> o Mapa da Exclusão/ Inclusão em referência, <strong>na</strong> categoria Chefes <strong>de</strong> Família com<br />
renda até 03 salários mínimos temos 40.861 (36,95%) sen<strong>do</strong> que 3.534 (8,65%) encontram-se<br />
sem rendimentos. Temos 3.992 famílias com renda até um salário mínimo e meio (9,77%),<br />
7574 chefes <strong>de</strong> família com renda <strong>de</strong> um e meio salários a três salários mínimos.<br />
Por fim, o Distrito <strong>de</strong> Sapopemba é o mais populoso com 281.974 habitantes (Censo <strong>de</strong><br />
2000), e o também <strong>de</strong> menor renda 64,4% com renda <strong>de</strong> 0 a 10 salários mínimos e, portanto,<br />
com os maiores índices <strong>de</strong> exclusão.<br />
No Distrito <strong>de</strong> Sapopemba o Mapa da Exclusão / Inclusão Social <strong>na</strong> categoria Chefes <strong>de</strong><br />
Família com renda até três salários mínimos é aponta<strong>do</strong> 76.110 chefes <strong>de</strong> família (49,81%)<br />
<strong>de</strong>sta população, sen<strong>do</strong> que <strong>de</strong>ntre eles temos 9.781 (12,85%) que não possuem nenhum<br />
rendimento, e 9285 - 12,20% percebem até um e meio salários mínimos como renda mensal e<br />
ape<strong>na</strong>s 18.846 (24,76%) <strong>do</strong>s chefes <strong>de</strong> família possuem uma renda mensal <strong>de</strong> um e meio a três<br />
salários mínimos.<br />
Destacamos que no Distrito <strong>do</strong> Sapopemba, no Jardim Elba, temos 37 famílias indíge<strong>na</strong>s –<br />
Pankararu urbaniza<strong>do</strong>s – que vivem em situação <strong>de</strong> exclusão social.<br />
Como educa<strong>do</strong>res que somos, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> nos indig<strong>na</strong>r, quan<strong>do</strong> olhamos para<br />
estes da<strong>do</strong>s que são revela<strong>do</strong>res <strong>de</strong> si<strong>na</strong>is <strong>de</strong> morte e opressão presentes em nossa socieda<strong>de</strong>.<br />
Percebemos que crianças, jovens, e mulheres são os segmentos que apresentam maior<br />
vulnerabilida<strong>de</strong> e, portanto são os que <strong>de</strong>vem ser fortaleci<strong>do</strong>s e atendi<strong>do</strong>s por políticas<br />
públicas para minimização da exclusão por renda, pelo trabalho e pelo gênero.<br />
Estes da<strong>do</strong>s revelam que a população da Subprefeitura <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte / Sapopemba durante<br />
anos vinha carecen<strong>do</strong> <strong>de</strong> Políticas Públicas <strong>de</strong> Inclusão, <strong>de</strong> ações que pu<strong>de</strong>ssem gerar renda e<br />
<strong>de</strong> ações redistributivas <strong>de</strong> renda para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> seus habitantes.<br />
Diante da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exclusão e opressão vivenciada pela população propusemos um<br />
caminho possível para ressignificar à escola e orientá-la no senti<strong>do</strong> da humanização para que<br />
pudéssemos, como sugere Paulo Freire, tomar consciência <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong> problematizá-lo,<br />
compreendê-lo e reconstruí- lo a partir da práxis huma<strong>na</strong> e humaniza<strong>do</strong>ra .
V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l Paulo Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />
O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO<br />
O projeto foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> em todas as unida<strong>de</strong>s educacio<strong>na</strong>is da re<strong>de</strong> direta, vinculadas à<br />
Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação da Subprefeitura <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte e Sapopemba. Composta por<br />
trinta e uma Escolas <strong>de</strong> Ensino Fundamental, vinte e oito Escolas <strong>de</strong> Educação Infantil, treze<br />
Centros <strong>de</strong> Educação Infantil, um Centro Integra<strong>do</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos e um<br />
Centro Educacio<strong>na</strong>l Unifica<strong>do</strong> (CEU), a Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte e<br />
Sapopemba era consi<strong>de</strong>rada, em número <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s educacio<strong>na</strong>is, a maior da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />
Paulo.<br />
O governo da Reconstrução <strong>de</strong> São Paulo (2001 a 2004) propôs a construção <strong>de</strong> uma Política<br />
Educacio<strong>na</strong>l que permitisse tor<strong>na</strong>r as Unida<strong>de</strong>s Educacio<strong>na</strong>is capazes <strong>de</strong> promover:<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento humano em suas inúmeras possibilida<strong>de</strong>s;<br />
o diálogo com a diversida<strong>de</strong> cultural , étnica e <strong>de</strong> gênero, através <strong>de</strong> uma educação<br />
inclusiva;<br />
a constituição das unida<strong>de</strong>s educacio<strong>na</strong>is como espaço <strong>de</strong> criação e difusão cultural ;<br />
a apropriação , por parte da comunida<strong>de</strong>, <strong>do</strong>s espaços públicos e <strong>do</strong>s conhecimentos neles<br />
produzi<strong>do</strong>s;<br />
a construção <strong>de</strong> um currículo humaniza<strong>do</strong>r no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> construção histórico.<br />
As diretrizes da política educacio<strong>na</strong>l possuíam fortes elementos da pedagogia freirea<strong>na</strong> que<br />
nos remeteram a olhar para a escola como um espaço <strong>de</strong> aprendizagens, <strong>de</strong> inclusão e<br />
emancipação social, reconhecen<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações que ultrapassassem os muros da<br />
escola e estabelecessem ações que buscassem vincular a escola e a comunida<strong>de</strong> com as<br />
culturas e a cida<strong>de</strong>. Para a implementação <strong>do</strong> Projeto fomos buscar aporte teórico <strong>na</strong> literatura<br />
freirea<strong>na</strong>, que respon<strong>de</strong>ssem às <strong>de</strong>mandas da construção <strong>de</strong> uma escola pública e cidadã. Para<br />
a formação <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Acompanhamento da Ação Educativa nos inspiramos <strong>na</strong> obra <strong>de</strong><br />
Paulo Freire.<br />
Não <strong>de</strong>vemos chamar o povo à escola para receber instruções, postula<strong>do</strong>s,<br />
receitas, ameaças, repreensões, punições, mas para participar coletivamente<br />
da construção <strong>de</strong> um saber que vai além <strong>do</strong> saber da pura <strong>experiência</strong> feito,<br />
que leve em conta suas necessida<strong>de</strong>s e o torne instrumento <strong>de</strong> luta,<br />
possibilitan<strong>do</strong>-lhe transformar-se em sujeito <strong>de</strong> sua própria história. A<br />
participação popular <strong>na</strong> criação da cultura e da educação rompe com a<br />
tradição que só a elite é competente e sabe quais são as necessida<strong>de</strong> e<br />
interesses <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong>. A escola <strong>de</strong>ve ser também um centro<br />
irradia<strong>do</strong>r <strong>de</strong> cultura popular, à disposição da comunida<strong>de</strong>, não para<br />
consumi-la, mas para recriá-la. A escola é também um espaço <strong>de</strong><br />
organização política das classes populares. A escola como um espaço <strong>de</strong><br />
ensino-aprendizagem será então um centro <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates, idéias, soluções,<br />
reflexões, on<strong>de</strong> a organização popular vai sistematizan<strong>do</strong> sua própria<br />
<strong>experiência</strong>. O filho <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ve encontrar nesta escola os meios <strong>de</strong><br />
auto emancipação intelectual in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong>s valores da classe<br />
<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte. A escola não é só um espaço físico. É um clima <strong>de</strong> trabalho, uma<br />
postura, um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser. (FREIRE, 1991: 16).
V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l Paulo Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />
Para consolidação <strong>de</strong>sse processo e o fortalecimento da Escola Cidadã, instituímos o Grupo<br />
<strong>de</strong> Acompanhamento da Ação Educativa – GAAE, cujo principal <strong>de</strong>safio foi romper com a<br />
concepção <strong>de</strong> que somente os profissio<strong>na</strong>is da educação (professores e especialistas), estão<br />
qualifica<strong>do</strong>s para discutir o currículo escolar. Buscamos envolver alunos, pais e comunida<strong>de</strong>,<br />
para que além da participação no GAAE, estivessem fortalecen<strong>do</strong> outras ações e instâncias <strong>de</strong><br />
participação <strong>na</strong> escola e <strong>na</strong> comunida<strong>de</strong>.<br />
O Grupo <strong>de</strong> Acompanhamento da Ação Educativa (GAAE) foi forma<strong>do</strong> por representantes da<br />
Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação (supervisor escolar e membro da Diretoria <strong>de</strong> Orientação<br />
Técnica), da Unida<strong>de</strong> Educacio<strong>na</strong>l (diretor <strong>de</strong> escola, coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>r pedagógico, assistente <strong>de</strong><br />
diretor <strong>de</strong> escola, e representantes <strong>de</strong> professores, funcionários e alunos), e Comunida<strong>de</strong> (pais,<br />
mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> bairro, Instituições e membros <strong>do</strong>s movimentos sociais).<br />
A intencio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> ao propor esta forma <strong>de</strong> organização foi <strong>de</strong> que o GAAE, enquanto espaço<br />
<strong>de</strong> formação, não ficasse fecha<strong>do</strong> nele mesmo, mas que as discussões realizadas ali pu<strong>de</strong>ssem<br />
ser promovidas nos diferentes segmentos e espaços, potencializan<strong>do</strong> a mudança.<br />
Neste percurso, o <strong>de</strong>safio <strong>do</strong> GAAE, foi criar um espaço <strong>de</strong> reflexão permanente, que olhan<strong>do</strong><br />
para o interior da escola, não ficasse restrito a ela, mas refletisse e propusesse alter<strong>na</strong>tivas <strong>de</strong><br />
superação <strong>de</strong> um currículo gra<strong>de</strong>a<strong>do</strong>, bancário, estático e <strong>de</strong>sumaniza<strong>do</strong>r.<br />
Os encontros <strong>do</strong> GAAE foram realiza<strong>do</strong>s quinze<strong>na</strong>lmente, em todas as Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacio<strong>na</strong>is, tematizan<strong>do</strong> o currículo vivencia<strong>do</strong> nos diferentes espaços da escola,<br />
problematizan<strong>do</strong>-o no senti<strong>do</strong> da superação da alie<strong>na</strong>ção, <strong>do</strong> espontaneísmo e explicitan<strong>do</strong> a<br />
concepção que dá sustentação à prática refletida: a Escola Cidadã.<br />
Nossa proposição fundamentou-se <strong>na</strong> idéia <strong>de</strong> que à medida que a escola refletisse e<br />
teorizasse sobre ação-reflexão-ação, se tor<strong>na</strong>ria um espaço <strong>de</strong> formação permanente para to<strong>do</strong><br />
o coletivo que vivenciasse este processo.<br />
O papel <strong>do</strong>s forma<strong>do</strong>res da Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação junto a esse grupo foi <strong>de</strong> ajudar a<br />
problematizar a leitura <strong>do</strong> currículo vivencia<strong>do</strong> cotidia<strong>na</strong>mente pelos sujeitos ali<br />
representa<strong>do</strong>s. Assim, nos momentos contraditórios, diante da proposição <strong>de</strong> uma educação<br />
popular, os forma<strong>do</strong>res ajudavam o grupo a buscar novos patamares <strong>de</strong> compreensão da<br />
realida<strong>de</strong>.<br />
Questões fundamentais foram amplamente <strong>de</strong>batidas e implementadas <strong>na</strong>s Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacio<strong>na</strong>is, através <strong>do</strong>s GAAE(s):<br />
Qual a situação real da escola?<br />
Quais os <strong>de</strong>safios que se apresentam para esta escola se tor<strong>na</strong>r uma Escola Cidadã?<br />
Quem são os alunos <strong>de</strong>sta escola? Que dificulda<strong>de</strong>s apresentam com a leitura, o cálculo e a<br />
escrita?<br />
Como as Unida<strong>de</strong>s Educacio<strong>na</strong>is têm trabalha<strong>do</strong> o letramento e a cultura popular?<br />
Quais são as propostas <strong>de</strong> superação discutidas com o Grupo <strong>de</strong> Acompanhamento da<br />
Ação Educativa?
V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l Paulo Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />
Quais as ações que a escola po<strong>de</strong> assumir <strong>de</strong> imediato? E a médio e longo prazo?<br />
Quais foram os Projetos implementa<strong>do</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> Escola?<br />
Como estes Projetos se articulam com o movimento <strong>de</strong> reorientação curricular?<br />
Quais são as contribuições percebidas para o protagonismo das crianças, jovens e adultos?<br />
Como é <strong>de</strong>senvolvida a gestão escolar?<br />
Há efetiva participação da comunida<strong>de</strong> no Projeto da Escola?<br />
Como o currículo escolar tem contempla<strong>do</strong> o diálogo sobre a diversida<strong>de</strong> (questões étnicas,<br />
raciais, culturais, <strong>de</strong> gênero, opção sexual, etc)?<br />
As ações <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas <strong>na</strong> Escola respon<strong>de</strong>m aos princípios da Secretaria Municipal <strong>de</strong><br />
Educação?<br />
As ações <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas são referências <strong>de</strong> uma política pública <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> educação?<br />
Estas foram algumas das questões, que permitiram uma reflexão mais aprofundada sobre o<br />
papel <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> pelo GAAE para percebermos se, efetivamente, estávamos ajudan<strong>do</strong> a<br />
escola <strong>na</strong> superação das dificulda<strong>de</strong>s.<br />
Neste movimento, o GAAE, sobre a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção da equipe técnica da escola (diretor escolar,<br />
assistente <strong>de</strong> diretor e coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>res pedagógicos) potencializava as reflexões e as propostas<br />
<strong>de</strong> mudanças para os <strong>de</strong>safios discuti<strong>do</strong>s nos encontros quinze<strong>na</strong>is. As discussões, iniciadas<br />
no GAAE, chegaram aos segmentos através da sinergia coletiva em torno da implementação<br />
<strong>do</strong> Projeto da Escola Cidadã.<br />
Destacamos como relevante a, forma que o GAAE foi estrutura<strong>do</strong> e o papel da ação<br />
supervisora, que outrora era exclusiva <strong>do</strong> Supervisor Escolar, e pô<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>senvolvida por<br />
to<strong>do</strong>s os participantes, firman<strong>do</strong>-se como ação <strong>de</strong> formação permanente, não só <strong>do</strong>s<br />
educa<strong>do</strong>res, mas <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os atores envolvi<strong>do</strong>s.<br />
Atentos aos princípios <strong>de</strong> uma educação freirea<strong>na</strong>, concebemos o papel social da educação<br />
como o <strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r as condições para a construção <strong>do</strong> conhecimento como instrumento<br />
<strong>de</strong> transformação social da realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto mais amplo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida,<br />
<strong>de</strong> justiça social e <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> seus habitantes.<br />
No senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> tor<strong>na</strong>r a educação <strong>de</strong>mocrática e popular, num sonho possível, procuramos<br />
através <strong>do</strong> GAAE, refletir constantemente sobre a prática real, vivenciada <strong>na</strong>s Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacio<strong>na</strong>is e sua relação com a concepção política a ela vinculada, procuran<strong>do</strong> proposições<br />
para a transformação como sugeriu Paulo Freire:<br />
[...] exige pensar diariamente minha prática, exige <strong>de</strong> mim a <strong>de</strong>scoberta constante<br />
<strong>do</strong>s limites da minha própria prática, que significa perceber e <strong>de</strong>marcar a existência<br />
<strong>do</strong> que chamo <strong>de</strong> espaços livres a serem preenchi<strong>do</strong>s. O sonho possível tem a ver<br />
com os limites <strong>de</strong>stes espaços e estes espaços são históricos. (FREIRE, 1983, p.100).<br />
Reconhecen<strong>do</strong> que o GAAE foi um espaço privilegia<strong>do</strong> <strong>de</strong> Formação Permanente <strong>do</strong>s<br />
Educa<strong>do</strong>res, mas não suficiente para respon<strong>de</strong>r a todas as <strong>de</strong>mandas nele suscitadas,<br />
simultaneamente <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amos <strong>na</strong> Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte /<br />
Sapopemba um amplo e consistente projeto <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> educa<strong>do</strong>res (que em alguns
V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l Paulo Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />
momentos incluíram to<strong>do</strong> o público participante <strong>do</strong> GAAE) com cursos, seminários, palestras<br />
e com diferentes temáticas privilegian<strong>do</strong>: Currículo (gênero, raça, etnia, orientação sexual e<br />
<strong>de</strong>ficiências), Protagonismo Infanto Juvenil, Alfabetização e Letramento, Educom.rádio,<br />
Educação Infantil, Ensino Fundamental, Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos e MOVA.<br />
A síntese <strong>de</strong>ste processo encontra-se registrada em quatro publicações da Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong><br />
Educação <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte / Sapopemba: Do Olhar da Educação Inclusiva a um Olhar Maior:<br />
Educação para a Cidadania; Dialogan<strong>do</strong> com Educa<strong>do</strong>res; Projeto Político Pedagógico e<br />
Protagonizan<strong>do</strong> Sonhos.<br />
RESULTADOS ALCANÇADOS<br />
Durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2003/2004 a avaliação <strong>do</strong> processo foi contínua <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> próprio<br />
GAAE e <strong>na</strong> Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação com os Supervisores Escolares e Equipe <strong>de</strong><br />
Orientação Técnica. Continuamente fazíamos uma espécie <strong>de</strong> mapeamento on<strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntificávamos as conquistas, os problemas e o redirecio<strong>na</strong>mento, quan<strong>do</strong> necessários.<br />
A partir <strong>de</strong> questio<strong>na</strong>mentos fomos construin<strong>do</strong> a sistematização das informações através <strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong>cumentos que publicamos para que todas as Unida<strong>de</strong>s Educacio<strong>na</strong>is tivessem acesso. Neste<br />
percurso apontamos como avanço:<br />
a política educacio<strong>na</strong>l implantada <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u o compromisso <strong>de</strong> oportunizar situações,<br />
mecanismos e instrumentos para que as diversas unida<strong>de</strong>s educacio<strong>na</strong>is construíssem seu<br />
Projeto Político Pedagógico, com a explicitação das Diretrizes da Secretaria Municipal <strong>de</strong><br />
Educação por uma educação pública, cidadã e com qualida<strong>de</strong> social;<br />
a possibilida<strong>de</strong> da construção <strong>de</strong> um processo dialógico entre a escola, o órgão<br />
intermediário (Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria) e a comunida<strong>de</strong>, fundada no reconhecimento <strong>do</strong>s saberes<br />
<strong>do</strong>s diversos sujeitos participantes <strong>do</strong> GAAE, rompen<strong>do</strong> com a história <strong>de</strong>ste país, que há<br />
séculos impõem um silenciamento aos sujeitos da ação educativa não os legitiman<strong>do</strong><br />
como produtores <strong>de</strong> conhecimento;<br />
as ações <strong>de</strong> formação foram consolidan<strong>do</strong> a reorientação curricular <strong>na</strong>s Unida<strong>de</strong>s<br />
Educacio<strong>na</strong>is e avançaram no percurso <strong>de</strong> atribuir senti<strong>do</strong> à sua ação.<br />
os participantes <strong>de</strong> alguns grupos <strong>do</strong> GAAE se constituíram como sujeitos produtores <strong>de</strong><br />
cultura e, portanto, produtores <strong>de</strong> um currículo;<br />
o rompimento <strong>do</strong> tradicio<strong>na</strong>l isolamento das salas <strong>de</strong> aula e a dicotomia que opõe teoria e<br />
prática, sala <strong>de</strong> aula / aca<strong>de</strong>mia, trazen<strong>do</strong> para o <strong>de</strong>bate, como protagonistas professores,<br />
pais, alunos, coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>res pedagógicos, diretores, assistentes <strong>de</strong> diretor representantes da<br />
Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação e da Universida<strong>de</strong>;<br />
a superação <strong>de</strong> um olhar homogêneo sobre a cultura e seus reflexos no currículo escolar,<br />
caminhan<strong>do</strong> para um trabalho multicultural;<br />
o rompimento <strong>do</strong> discurso i<strong>de</strong>ológico <strong>do</strong> fracasso da escola pública e como conseqüência,<br />
o discurso da incompetência <strong>do</strong> professor, explicitan<strong>do</strong> que a escola pública é sujeito <strong>de</strong><br />
sua formação histórica e é capaz <strong>de</strong> realizar escolhas e produzir o seu fazer, comprometi<strong>do</strong>
V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l Paulo Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />
com a emancipação das pessoas e com uma socieda<strong>de</strong> mais igualitária, justa e <strong>de</strong>mocrática;<br />
o registro e a sistematização <strong>do</strong> Processo pela Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação em quatro<br />
revistas que foram amplamente divulgadas para to<strong>do</strong>s os funcionários, entida<strong>de</strong>s e<br />
participantes <strong>do</strong> GAAE.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos muito significativos os avanços aponta<strong>do</strong>s, no entanto, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>stacar as dificulda<strong>de</strong>s e os <strong>de</strong>safios que evi<strong>de</strong>nciam a necessida<strong>de</strong> da continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
processo como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superação <strong>do</strong> que ainda não foi possível e <strong>de</strong>stacamos:<br />
a Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte / Sapopemba era formada por 74 unida<strong>de</strong>s<br />
educacio<strong>na</strong>is. Cada uma <strong>de</strong>las com características diferenciadas: a comunida<strong>de</strong>, o tempo <strong>de</strong><br />
existência, os educa<strong>do</strong>res, o Projeto Político Pedagógico, as relações escola-comunida<strong>de</strong>,<br />
as necessida<strong>de</strong>s, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, etc. Tais características exigiram<br />
intervenções diferenciadas e acompanhamento individualiza<strong>do</strong>;<br />
a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o GAAE como espaço <strong>de</strong> formação permanente. Muitos<br />
educa<strong>do</strong>res, <strong>de</strong> maneira especial os forma<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res, não reconheceram e não<br />
valorizaram a práxis como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação. Desse movimento resultou a<br />
valorização da formação a partir <strong>de</strong> cursos, palestras, etc., que não colocavam em relevo o<br />
sujeito e seu fazer cotidiano e como conseqüência não produziam conflito que favorecesse<br />
e potencializasse a mudança. Alia<strong>do</strong> a este fator o não reconhecimento <strong>do</strong>s atores <strong>do</strong><br />
GAAE como produtores <strong>de</strong> conhecimento;<br />
a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> romper com o paradigma merca<strong>do</strong>lógico. O espaço da GAAE como<br />
espaço <strong>de</strong> reflexão sobre a ação, muitas vezes foi <strong>de</strong>svaloriza<strong>do</strong> por atores que <strong>de</strong>le<br />
participavam sob a alegação <strong>de</strong> ociosida<strong>de</strong> ou improdutivida<strong>de</strong>. Alguns participantes <strong>do</strong>s<br />
GAAEs reclamavam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um produto concreto, mesmo produzi<strong>do</strong> por alguém<br />
alheio ao processo para validar o processo <strong>de</strong> reflexão;<br />
a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> superação da fragmentação <strong>do</strong> currículo alia<strong>do</strong> à técnica. O GAAE<br />
favoreceu a introdução da discussão sobre a necessida<strong>de</strong> da rearticulação <strong>do</strong> currículo<br />
escolar como forma <strong>de</strong> superação da fragmentação em discipli<strong>na</strong>s e da racio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong><br />
técnica. A reorganização proposta implicou em reconhecer a transitorieda<strong>de</strong> e<br />
provisorieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s conhecimentos, numa visão sistêmica que evi<strong>de</strong>ncia complexida<strong>de</strong>,<br />
diversida<strong>de</strong> e mudança <strong>de</strong> paradigma. No entanto, estas questões não foram<br />
suficientemente <strong>de</strong>batidas, compreendidas e incorporadas ao cotidiano das unida<strong>de</strong>s<br />
educacio<strong>na</strong>is;<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>na</strong> implementação <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong>linear metas comuns respeitan<strong>do</strong> as<br />
singularida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s espaços educacio<strong>na</strong>is e construir uma produção sistematizada <strong>do</strong><br />
percurso por seus protagonistas , bem como, a criação <strong>de</strong> instrumentais <strong>de</strong> avaliação e<br />
acompanhamento que permitam perceber o movimento dialético da ação- reflexão-ação;<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> restaurar a politização <strong>do</strong> horário <strong>de</strong> trabalho coletivo <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res . O<br />
horário <strong>de</strong> trabalho coletivo <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res no espaço educacio<strong>na</strong>l, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da<br />
década <strong>de</strong> 90 vem carecen<strong>do</strong> <strong>de</strong> transformação, seja pela resistência <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res em<br />
torná-lo efetivamente um espaço <strong>de</strong> formação <strong>do</strong> professor que pesquisa e reflete sua ação;<br />
seja pelo paradigma <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> educa<strong>do</strong>res implanta<strong>do</strong> em nosso país, à partir da<br />
importação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los europeus, com ênfase no “saber fazer” on<strong>de</strong> há supremacia da<br />
técnica sobre pensar, ou ainda, pela ausência <strong>de</strong> uma política pública <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />
educa<strong>do</strong>res que <strong>de</strong> fato explicitasse a educação como um ato político que po<strong>de</strong> perpetuar a<br />
opressão ou potencializar a liberda<strong>de</strong> huma<strong>na</strong>;
V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l Paulo Freire – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />
enfim a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> da Política Educacio<strong>na</strong>l e a fragilida<strong>de</strong> política <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />
da educação e da população. Com a mudança <strong>do</strong> governo <strong>na</strong> Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo à partir<br />
<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2005 houve a supressão da Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte /<br />
Sapopemba, suas Unida<strong>de</strong>s Educacio<strong>na</strong>is redistribuídas para outras Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong><br />
forma autoritária. Os educa<strong>do</strong>res, pais, alunos e comunida<strong>de</strong>s, mesmo ten<strong>do</strong> vivencia<strong>do</strong> e<br />
protagoniza<strong>do</strong> o GAAE não se encontravam suficientemente fortaleci<strong>do</strong>s politicamente<br />
para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a escola pública, popular e cidadã.<br />
Para nós, apontarmos os avanços, dificulda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios produzi<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong><br />
Acompanhamento da Ação Educativa – GAAE, faz senti<strong>do</strong> por que o fazemos <strong>na</strong> direção da<br />
consolidação das Unida<strong>de</strong>s Educacio<strong>na</strong>is, como sonho possível, como espaços privilegia<strong>do</strong>s,<br />
organiza<strong>do</strong>s intencio<strong>na</strong>lmente, como lugares educativos mais que meramente instrutivos.<br />
On<strong>de</strong> é possível garantir o acesso aos conhecimentos socialmente sistematiza<strong>do</strong>s, como<br />
instrumentos <strong>de</strong> compreensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, das relações com a <strong>na</strong>tureza, com a cultura e com a<br />
socieda<strong>de</strong>. A escola que queremos <strong>de</strong>ve estar comprometida com a emancipação individual e<br />
coletiva, <strong>na</strong> perspectiva <strong>de</strong> construir uma socieda<strong>de</strong> justa e igualitária, rompen<strong>do</strong>, assim, com<br />
as relações <strong>de</strong> exclusão e <strong>de</strong> alie<strong>na</strong>ção <strong>do</strong>s sujeitos. Por isso continuamos a sonhar, como<br />
propõe Paulo Freire:<br />
REFERÊNCIAS<br />
Eu agora diria a nós, como educa<strong>do</strong>res e educa<strong>do</strong>ras: ai daqueles e daquelas, entre<br />
nós, que pararem com a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sonhar, <strong>de</strong> inventar a sua coragem <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>nunciar e <strong>de</strong> anunciar. Ai daqueles e daquelas que, em lugar <strong>de</strong> visitar <strong>de</strong> vez em<br />
quan<strong>do</strong> o amanhã, o futuro, pelo profun<strong>do</strong> engajamento com o hoje, com o aqui e<br />
com o agora, ai daqueles que em lugar <strong>de</strong>sta viagem constante ao amanhã, se<br />
atrelem a um espaço <strong>de</strong> exploração e <strong>de</strong> roti<strong>na</strong>. (FREIRE, 1983, p.101).<br />
BRANDÃO, Carlos R. (Org.) Educação: o Sonho Possível. In O Educa<strong>do</strong>r Vida e Morte.<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Graal, 1983. Págs. 91 -101.<br />
COORDENADORIA DE EDUCACAÇÃO VP/SB. Do olhar da Educação Inclusiva a um<br />
Olhar maior, Educação da Cidadania. São Paulo, maio / 2003.<br />
COORDENADORIA DE EDUCACAÇÃO VP/SB. Dialogan<strong>do</strong> com Educa<strong>do</strong>res. São<br />
Paulo, set. 2003.<br />
COORDENADORIA DE EDUCACAÇÃO VP/SB. Projeto Político Pedagógico da<br />
Coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Vila Pru<strong>de</strong>nte/ Sapopemba. São Paulo, maio/2004.<br />
COORDENADORIA DE EDUCACAÇÃO VP/SB. Protagonizan<strong>do</strong> Sonhos. São Paulo,<br />
<strong>de</strong>z./ 2004. Versão em CD rom.<br />
FREIRE. Paulo. Pedagogia <strong>do</strong> Oprimi<strong>do</strong>. 17 Ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Paz e Terra, 1987.<br />
FREIRE, Paulo. A Educação <strong>na</strong> Cida<strong>de</strong>. São Paulo: Editora Cortez, 1991.<br />
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança – Um Reencontro com a Pedagogia <strong>do</strong> Oprimi<strong>do</strong>,<br />
9 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Paz e Terra, 2002.<br />
FREIRE, Paulo. Política e Educação, 6 ed. São Paulo: Editora Cortez, 2001.<br />
SPOSATI, Aldaíza e KOGA, Dirce. Mapa da Exclusão/ Inclusão Social. São Paulo: Revista<br />
da FAPESP. São Paulo, jan./2003.