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a utilização do Planejamento Estratégico Situacional – PES

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RESUMO<br />

V Colóquio Internacional Paulo Freire <strong>–</strong> Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

A UTILIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO<br />

SITUACIONAL (<strong>PES</strong>) E DA PEDAGOGIA LIBERTADORA NA<br />

ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DO<br />

MUNICÍPIO DE PACOTI <strong>–</strong> CEARÁ<br />

Casemiro de Medeiros Campos 1<br />

Este trabalho busca analisar a <strong>utilização</strong> <strong>do</strong> <strong>Planejamento</strong> <strong>Estratégico</strong> <strong>Situacional</strong> <strong>–</strong> <strong>PES</strong> na<br />

elaboração <strong>do</strong> Plano Municipal de Educação da Cidade de Pacoti<strong>–</strong>Ce. O <strong>Planejamento</strong> <strong>Estratégico</strong><br />

<strong>Situacional</strong> é uma ferramenta meto<strong>do</strong>lógica desenvolvida por Carlos Matus. Para elaborar o Plano<br />

Municipal de Educação <strong>do</strong> Município de Pacoti-Ce, utilizan<strong>do</strong>-se o <strong>PES</strong>, fez-se um diagnóstico a<br />

partir das várias interpretações <strong>do</strong>s professores sobre os problemas de educação no município.<br />

Aflora<strong>do</strong> os problemas exigiu-se por que estes existiam e quais as suas causas, ou seja, buscou-se a<br />

luz da pedagogia liberta<strong>do</strong>ra, compreender as situações gera<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s problemas. Sistematizada<br />

esta fase, passou-se a trabalhar com situações-problemas, como temas gera<strong>do</strong>res, na perspectiva da<br />

meto<strong>do</strong>logia de Paulo Freire, onde cada escola transformou-se num círculo de cultura.<br />

Palavras Chave: <strong>Planejamento</strong>, Educação, Pacoti.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho. Educar é um ato de comunhão<br />

entre os homens. (PAULO FREIRE).<br />

Alguns de nós somos cegos senta<strong>do</strong>s, anestesia<strong>do</strong>s navegantes <strong>do</strong> rio <strong>do</strong>s fatos que<br />

nos levam a qualquer parte; outros, igualmente cegos, hiperkinéticos <strong>do</strong> movimento<br />

social, remam contra a corrente ilumina<strong>do</strong>s por um farol que nos dá fé. Porém,<br />

depois de tu<strong>do</strong>, somos cegos e a realidade joga conosco sem que possamos entender<br />

seu jogo. (CARLOS MATUS).<br />

O planejamento estratégico tem se constituí<strong>do</strong> como um instrumento de grande utilidade para<br />

a gestão, seja na administração privada seja na administração pública.<br />

O conceito de planejamento estratégico surge a partir de estu<strong>do</strong>s na Universidade de Harvard.<br />

A idéia central <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> planejamento estratégico é definir com clareza a visão, a<br />

missão, os objetivos e as metas. A visão bem articulada permite apontar onde a instituição<br />

pretende chegar, focan<strong>do</strong> a sua missão, ou seja, a sua identidade. Os objetivos caracterizam os<br />

fins da instituição e as metas permitem produzir resulta<strong>do</strong>s quantifica<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que foi ou não<br />

atingi<strong>do</strong>.<br />

O que melhor possibilita a estratégia é a meto<strong>do</strong>logia, através da qual se elabora o diagnóstico<br />

da instituição avalian<strong>do</strong>-se as variáveis externas e internas. O modelo meto<strong>do</strong>lógico que<br />

melhor se delineia no planejamento estratégico é denomina<strong>do</strong> de swot ou fofa, que traduzin<strong>do</strong><br />

para o português tem as seguintes variáveis: forças, oportunidades, fraquezas e ameaças. O<br />

quadro abaixo permite a visualização da leitura das categorias anteriormente citadas.<br />

Essa abordagem meto<strong>do</strong>lógica vem superar o modelo tradicional de planejamento, que<br />

1 Mestre em Educação, Professor <strong>do</strong> Curso de Pedagogia e Chefe da Divisão de Assuntos Pedagógicos da Vice-Reitoria de<br />

Ensino de Graduação da UNIFOR. (casemiro@unifor.br).<br />

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V Colóquio Internacional Paulo Freire <strong>–</strong> Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

tomava a realidade como imutável. Neste senti<strong>do</strong>, o conhecimento positivista fundamentava o<br />

conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> planejamento tradicional em planos. Essa tendência de administrar com planos<br />

cai por terra, quan<strong>do</strong> os planos são impotentes diante da realidade. Os planos previam o<br />

posicionamento das instituições sem considerar os obstáculos pela sua frente, demarcan<strong>do</strong> um<br />

horizonte de possibilidades que não realizam a complexidade da realidade. Isso impede que<br />

um plano feito por poucos, fecha<strong>do</strong>s em gabinetes não consiga sistematizar um conjunto de<br />

ações que permita conduzir aos fins pretendi<strong>do</strong>s. A realidade e as circunstâncias que a<br />

determinam não são fáceis de se gerenciar. Desse mo<strong>do</strong>, os planos simplificam as ferramentas<br />

que permitem diagnosticar a ambiência <strong>do</strong> entorno da vida real das instituições. Muitas<br />

situações são imprevisíveis e um plano comum não consegue captar os senti<strong>do</strong>s da realidade.<br />

Com a crítica da pragmentação da ciência o planejamento passou a uma visão mais integrada.<br />

Assim, a abordagem sistêmica é base para o planejamento estratégico.<br />

O QUE SE COMPREENDE POR PLANEJAR?<br />

Planejar significa projetar-se. Planejar é elaborar um plano, consideran<strong>do</strong> as mudanças e o seu<br />

contexto, levan<strong>do</strong>-se em conta as dimensões teóricas e práticas para compreender a realidade,<br />

crian<strong>do</strong> estratégias, para implementar ações para se atingir metas e objetivos traça<strong>do</strong>s<br />

previamente. Precisa-se estabelecer o acompanhamento contínuo, avalian<strong>do</strong>-se<br />

permanentemente as ações implantadas, de mo<strong>do</strong> a efetivar o monitoramento <strong>do</strong> sistema.<br />

Segun<strong>do</strong> Carlos Matus:<br />

Se falo em enfrentar as surpresas com rapidez e eficácia, devo ser capaz de aprender<br />

com meus erros e pagar, por eles, apenas o custo necessário. Por conseguinte, devo<br />

prever a forma de aprender, oportunamente, com o passa<strong>do</strong> recente e pôr este<br />

conhecimento a serviço <strong>do</strong>s outros argumentos deste discurso. O quarto argumento<br />

baseia-se, portanto, na necessidade da aprendizagem da prática como mediação entre<br />

o passa<strong>do</strong> e o futuro (MATUS, 1989 p.28).<br />

Portanto, planejar é uma atitude que se internaliza na prática da gestão, experiencian<strong>do</strong><br />

ferramentas ou técnicas de gerenciamento para determinadas situações. Planejar, em síntese, é<br />

uma visão de administração que requer planejamento (programação / roteiro / planificação) e<br />

organização.<br />

O PLANEJAMENTO<br />

O planejamento não deve ser limita<strong>do</strong> a um plano. O plano pode ser uma peça que não deve<br />

ser confundida com o planejamento. O planejamento não é tarefa apenas <strong>do</strong>s planeja<strong>do</strong>res.<br />

Como ação deve elaborar integran<strong>do</strong> sujeitos que participaram <strong>do</strong> processo a que se destina o<br />

planejamento. O plano tem vida efêmera: deve ser um <strong>do</strong>s instrumentos para o segmento <strong>do</strong><br />

planejamento de uma instituição.<br />

O planejamento é um conjunto de elementos para se dirigir ao futuro pretendi<strong>do</strong>. Daí o que se<br />

quer e como se deseja atingir é o que se constitui a substância <strong>do</strong> planejamento. Na verdade, o<br />

planejamento é um processo em movimento contínuo de articulação de ações e o<br />

envolvimento de pessoas.<br />

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V Colóquio Internacional Paulo Freire <strong>–</strong> Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

Quan<strong>do</strong> se fala em organizações aprendentes, o planejamento contribui para fortalecer a<br />

cultura organizacional, bem como para educar as pessoas envolvidas no exercício de planejar.<br />

Exige pensar a organização estrategicamente, analisan<strong>do</strong> os rumos e o caminho a serem<br />

segui<strong>do</strong>s.<br />

Faz-se necessário no planejamento discutir com as pessoas, permitin<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s<br />

na instituição contribuírem na execução das tarefas para o cumprimento de ações, a fim de se<br />

atingir os objetivos e as metas pretendidas.<br />

O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL (<strong>PES</strong>)<br />

O modelo de <strong>Planejamento</strong> <strong>Estratégico</strong> <strong>Situacional</strong> (<strong>PES</strong>) foi sistematiza<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> prof. Carlos Matus, economista chileno, ex-ministro <strong>do</strong> governo de Salva<strong>do</strong>r<br />

Alende no Chile em 1973 e consultor <strong>do</strong> IL<strong>PES</strong> / CEPAL, faleci<strong>do</strong> em 1998. Para Matus, o<br />

<strong>Planejamento</strong> <strong>Estratégico</strong> <strong>Situacional</strong> representa a possibilidade de construir na gestão pública<br />

a governabilidade. Na sua compreensão, o planejamento tradicional não é flexível e não trata<br />

<strong>do</strong>s problemas na sua raiz. Limita-se ao componente técnico. O grande risco para Matus é este<br />

tipo de planejamento se limitar a um “Plano de Gaveta”, ou o livro-plano, que aponta como o<br />

futuro deve ser. O planejamento tradicional se faz para o exercício da burocracia. Cumpre-se<br />

apenas uma formalidade.<br />

O <strong>Planejamento</strong> <strong>Estratégico</strong> <strong>Situacional</strong> busca modernizar a gestão pública responden<strong>do</strong> as<br />

interrogações a seguir:<br />

Estamos aproveitan<strong>do</strong> nosso tempo nos preparan<strong>do</strong> melhor para conduzir e<br />

participar em processos de mudança, desde os mais modestos até os mais<br />

transcendentes? Os parti<strong>do</strong>s políticos progressistas da América Latina estão<br />

conscientes de que necessitam de algo mais complexo <strong>do</strong> que suas escolas de<br />

quadros para preparar as novas gerações dirigentes? Temos si<strong>do</strong> capazes de<br />

compreender que manejamos mal a economia, fazemos mal uso <strong>do</strong>s recursos de<br />

poder e <strong>do</strong>s recursos naturais, a par de que desperdiçamos tempo e recursos ociosos,<br />

em vez de culpar o destino, o governo anterior, o mun<strong>do</strong> exterior, a crise econômica<br />

internacional ou as falhas nas mensagens que entregamos aos meios de<br />

comunicações social? Temos compreendi<strong>do</strong> que, para modernizar o esta<strong>do</strong>,<br />

necessita-se primeiro modernizar os moderniza<strong>do</strong>res? Sabemos, agora, pela<br />

experiência de nosso fracasso, que as estruturas mais primitivas e ineficientes de<br />

nossas instituições são suas estruturas diretivas, que governar não é apenas uma arte<br />

e que governar sob o signo <strong>do</strong> progresso e da democracia requer, ainda, uma maior<br />

<strong>do</strong>se de ciência e técnica? (MATUS, 1989 p.173).<br />

A concepção <strong>do</strong> <strong>Planejamento</strong> <strong>Estratégico</strong> <strong>Situacional</strong>, busca na sua essência construir uma<br />

interpretação estratégica da situação, levan<strong>do</strong>-se em consideração as resistências, os conflitos,<br />

as incertezas e as mudanças. O processo decisório é defini<strong>do</strong> a partir da escolha da dimensão<br />

estratégica. O planejamento situacional é caracteriza<strong>do</strong> pela articulação entre o planejamento<br />

e o ato de governar:<br />

Governar é, cada vez, um problema mais complexo. E mais complexo ainda é<br />

governar com democracia. O líder que governa na direção <strong>do</strong> progresso social<br />

enfrenta exigências maiores <strong>do</strong> que aquele que só aspira, no governo, manter sob<br />

controle a magnitude <strong>do</strong>s problemas. De maneira que, ante objetivos menores, tem<br />

ele, além <strong>do</strong> mais, menores restrições. (MATUS, 1989 p.172).<br />

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V Colóquio Internacional Paulo Freire <strong>–</strong> Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

Logo, o processo <strong>do</strong> planejamento não pode engessar a realidade, mas pressupõe-se que é<br />

elabora<strong>do</strong> por sujeitos que pensam, refletem e assumem escolhas, possuem uma visão de<br />

mun<strong>do</strong>, uma concepção de esta<strong>do</strong>, sociedade, homem e no campo da educação, pressupõe um<br />

pensamento sobre educação. Neste senti<strong>do</strong>, o planejamento não deve predizer o futuro, mas é<br />

útil na medida em que aponta para o futuro, como instrumento de liberdade.<br />

O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL E A PEDAGOGIA LIBERTADORA: UM<br />

DIÁLOGO POSSÍVEL?<br />

Aqui, aproxima-se a concepção <strong>do</strong> planejamento estratégico situacional em Carlos Matus, da<br />

Pedagogia Liberta<strong>do</strong>ra de Paulo Freire. Freire enfatiza na pedagogia <strong>do</strong> oprimi<strong>do</strong> o anúncio e<br />

a denúncia da opressão e da exploração, que negam a afirmação <strong>do</strong> ser humano como<br />

humano, radicaliza pela capacidade cria<strong>do</strong>ra a possibilidade de transformação ou alienação. A<br />

ação prática <strong>do</strong> diálogo permite pela conscientização a reinvenção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s homens e<br />

da vida.<br />

Para Paulo Freire, ninguém nasce feito, e como sujeito que faz história na prática social o<br />

diálogo é uma referência fundamental para o entendimento sobre a transformação política da<br />

sociedade.<br />

Portanto:<br />

Enquanto prática social a prática educativa, em sua riqueza, em sua complexidade, é<br />

fenômeno típico da existência, por isso mesmo fenômeno exclusivamente humano.<br />

Daí, também, que a prática educativa seja histórica e tenha historicidade. A<br />

existência humana não tem o ponto determinante de sua caminhada fixada na<br />

espécie. Ao inventar a existência, com os “materiais” que a vida lhes ofereceu, os<br />

homens e as mulheres inventaram ou descobriram a possibilidade que implica<br />

necessariamente a liberdade que não receberam mas que tiveram de criar na briga<br />

por ela. Seres indiscutivelmente programa<strong>do</strong>s, mas, como salienta François Jacob,<br />

“programa<strong>do</strong>s para aprender”, portanto seres curiosos, sem o que não poderiam<br />

saber, mulheres e homens se arriscam, se aventuram, se educam no jogo da<br />

liberdade. (FREIRE, 1993 p.66).<br />

A leitura da realidade possibilita a análise das relações e das ações sociais. Como<br />

planejamento estratégico situacional central da politicidade. O ato da educação, em Freire,<br />

permite-nos compreender pela pedagogia <strong>do</strong> diálogo.<br />

A educação como prática de liberdade nos ensina como o <strong>Planejamento</strong> <strong>Estratégico</strong><br />

<strong>Situacional</strong> (<strong>PES</strong>) exige uma aproximação crítica da realidade. Em ambos autores, a realidade<br />

se efetiva pela construção de uma análise que se faz da realização de uma utopia,<br />

compreendida como possível de efetivação. O conhecimento crítico da realidade é inseparável<br />

da compreensão política <strong>do</strong> planejamento.<br />

Portanto, a mudança é parte de um conjunto de ações em que se tem no respeito as crenças,<br />

representações e as idéias, as situações que demarcam o jogo de forças, as vivências práticas,<br />

as relações sociais, o mun<strong>do</strong> cultural e o reconhecimento <strong>do</strong>s sujeitos como atores sociais <strong>do</strong><br />

processo de organização social.<br />

O MUNICÍPIO DE PACOTI<br />

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V Colóquio Internacional Paulo Freire <strong>–</strong> Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

Situa<strong>do</strong> no planalto <strong>do</strong> Maciço de Baturité, em região serrana, Pacoti é parte da mesorregião<br />

norte <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará, localiza<strong>do</strong> na microrregião <strong>do</strong> município de Baturité.<br />

É parte da macrorregião metropolitana da cidade de Fortaleza, no Ceará <strong>–</strong> 68 km distante de<br />

Fortaleza em linha reta -, Pacoti possui, segun<strong>do</strong> o senso de 1999, uma população de 11.592<br />

habitantes, numa área de aproximadamente 120km 2 , perfazen<strong>do</strong> uma densidade demográfica<br />

de 84,09 habilitantes por km 2 .<br />

A história <strong>do</strong> município de Pacoti, data da metade <strong>do</strong> século XIX, mais precisamente quan<strong>do</strong><br />

como lugarejo hospe<strong>do</strong>u, em 1859, membros de uma comissão científica dirigida pelo Dr.<br />

Francisco Freire Alemão. Naquele momento, denominava-se de povoa<strong>do</strong> Lagoas das Cotias.<br />

Em 1863, oficialmente, é designada por Distrito de Paz, por meio <strong>do</strong> ato normativo de 14 de<br />

fevereiro daquele ano. A sua elevação a vila deu-se por ato normativo pelo decreto n. 56, de 2<br />

de dezembro de 1890, dada a sua criação quan<strong>do</strong> desmembra<strong>do</strong> de Baturité. Designada<br />

dependência, consta a sua inauguração em 25 de outubro de 1890. A situação de município de<br />

Pacoti deu-se através <strong>do</strong> Decreto -Lei No. 448, de 20 de dezembro de 1938.<br />

Ten<strong>do</strong> a suas características geográficas de relevo eleva<strong>do</strong>, serrano, o município de Pacoti é<br />

privilegia<strong>do</strong> no Ceará pelo clima ameno, seco e frio, principalmente, nos meses de junho,<br />

julho e agosto, com temperaturas médias entre 15 o C e 20 o C, com chuvas durante quase seis<br />

meses. Assim, constitui-se potencialmente vocaciona<strong>do</strong> para o turismo. Sua economia é<br />

fortemente limitada a agropecuária. Prevalecen<strong>do</strong> a produção de produtos hortifrutogranjeiro<br />

oriunda de sítios e propriedades de pequeno e médio porte. As lavouras são formadas por<br />

plantio permanente entre as matas por café e em terras desmatadas, o cultivo da banana e da<br />

cana-de-açúcar para a produção em pequenos engenhos <strong>do</strong> fabrico de rapadura. O município<br />

destaca-se pela reserva de parte das suas matas constituírem um manancial da mata atlântica<br />

natural, em torno de 29,38% das suas terras fazem parte da área de preservação ambiental <strong>–</strong><br />

APA <strong>–</strong> <strong>do</strong> maciço de Baturité.<br />

No quadro a seguir tem-se a localização geográfica, para visualização <strong>do</strong> município de Pacoti-<br />

CE.<br />

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V Colóquio Internacional Paulo Freire <strong>–</strong> Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

QUADRO COM VISUALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO MUNICÍPIO DE PACOTI-CE<br />

BRASIL CEARÁ<br />

A ESCOLA EM PACOTI-CE<br />

PACOTI<br />

Na educação escolar municipal, possuem, com a nucleação recém concluída, oito escolas<br />

localizadas nos seguintes distritos, conforme quadro abaixo:<br />

QUADRO DE ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE PACOTI-CE POR LOCALIDADE<br />

1. Oiticica<br />

2. Bonfim<br />

3. Volta <strong>do</strong> Rio<br />

4. Rala<strong>do</strong>r<br />

5. Boa hora<br />

6. Sant’ana<br />

7. Sede (Pacoti) São Luis<br />

8. Sede (Pacoti) Instituto N.S. Imaculada<br />

Conceição.<br />

O PLANEJAMENTO DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE PACOTI-CE<br />

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V Colóquio Internacional Paulo Freire <strong>–</strong> Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

A partir da nova gestão municipal, eleita para o perío<strong>do</strong> 2005-2009, verificou-se a<br />

problemática da educação no município e a necessidade em organizar um vigoroso<br />

diagnóstico <strong>do</strong>s problemas e as suas causas. Daí optou-se por uma ação estratégica em que o<br />

planejamento constituiu-se elemento central para a superação das situações problemáticas.<br />

Parte das tomadas de decisões <strong>do</strong> poder executivo culminou logo no início de 2005, com a<br />

mudança <strong>do</strong> secretário de educação.<br />

Ao assumir a gestão em 2005, a nomeação de um novo secretário municipal de educação<br />

representava mais uma mudança, consideran<strong>do</strong> que, para cada ano das últimas duas gestões,<br />

teve-se a indicação de um novo gestor em substituição a outro por longos oito anos.<br />

Isso significava a gravidade <strong>do</strong>s problemas da pasta da educação básica municipal. Portanto,<br />

um problema administrativo, de gestão, mas com fortes características políticas. A<br />

determinação <strong>do</strong> novo secretário, com apoio incondicional <strong>do</strong> chefe <strong>do</strong> executivo, ao analisar<br />

com o grupo gestor as demandas e os desafios <strong>do</strong> setor da educação, percebe a necessidade de<br />

uma ação estratégica e planejada para superar os desafios. Assim, orienta<strong>do</strong> pelo<br />

planejamento elabora<strong>do</strong> pela secretaria municipal de educação, constatou que algumas<br />

unidades escolares necessitavam de reforma para manutenção ou mesmo ampliação,<br />

permitin<strong>do</strong> a otimização da sua <strong>utilização</strong> diante das carências das comunidades. Outra ação<br />

implementada foi a criação da escola Colméia Artes para crianças matriculadas na rede<br />

pública. A escola de artes é freqüentada pelas crianças no contra-turno da sua matrícula na<br />

escola regular. Foi necessário, também, equipar as creches para permitir o funcionamento<br />

ideal.<br />

Apesar de todas as medidas a<strong>do</strong>tadas anteriormente, não foram suficientes para assegurar a<br />

qualidade <strong>do</strong> processo de aprendizagem <strong>do</strong>s alunos. No Ceará, em recente pesquisa, o comitê<br />

para eliminação <strong>do</strong> analfabetismo escolar, com apoio das universidades locais <strong>–</strong> Universidade<br />

de Fortaleza <strong>–</strong> UNIFOR <strong>–</strong> e Universidade Federal <strong>do</strong> Ceará <strong>–</strong> UFC <strong>–</strong> e as Universidades<br />

Estaduais <strong>–</strong> UECe -, UVA e URCA, UNICEF, UNDIME e Assembléia Legislativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Ceará, concluiu que a escola pública mantinha um permanente baixo desempenho: crianças<br />

terminam a 2 a série sem <strong>do</strong>minarem os processos básicos de aquisição da leitura, escrita e<br />

interpretação; concluem a 4 a série sem saber ler, nem escrever e com nível de 2 a série. O mais<br />

agravante é que chegam a concluir a 8 a série com nível de 4 a série. Esse processo de baixo<br />

desempenho exige uma tomada de posição para mudança completa deste quadro negro da<br />

educação no Ceará. Esse panorama de fun<strong>do</strong> é parte <strong>do</strong> cenário provoca<strong>do</strong>r para uma gestão<br />

comprometida com os reais desejos pela qualidade da educação escolar.<br />

Para efetivar o compromisso da gestão municipal escolar, definiu-se pela opção no<br />

investimento da qualidade <strong>do</strong> ensino, para vencer o baixo desempenho escolar. Buscou-se<br />

diagnosticar os reais problemas de educação <strong>do</strong> município de Pacoti-Ce, a partir das suas<br />

causas sobre o baixo desempenho escolar, junto aos professores coletan<strong>do</strong> as suas<br />

interpretações diante das questões colocadas sobre o fracasso escolar.<br />

Aflora<strong>do</strong> os problemas, questionou-se o porque da existência destes e quais seriam as suas<br />

possíveis causas. A luz da pedagogia liberta<strong>do</strong>ra elaborou-se essas questões como situações<br />

gera<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s problemas. Sistematizada essa fase, passou-se a trabalhar com situaçõesproblemas,<br />

como tema gera<strong>do</strong>res na perspectiva da meto<strong>do</strong>logia de Paulo Freire.<br />

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V Colóquio Internacional Paulo Freire <strong>–</strong> Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

A idéia central desta mobilização <strong>do</strong>s professores, era transformar a escola num grande<br />

círculo de cultura, e a partir das respostas às situações-problema gerar uma “árvore de<br />

prioridades” montan<strong>do</strong> um quadro das causas e como estas produzem os problemas,<br />

articulan<strong>do</strong> numa seqüência lógica as possibilidades de respostas apontadas pelos grupos para<br />

construção de planos-propostas.<br />

Diante da incerteza presente <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> da vida, atualmente tenta-se construir estratégias<br />

viabilizan<strong>do</strong> as ações junto a comunidade, ten<strong>do</strong> em vista as causas <strong>do</strong>s problemas<br />

anteriormente levanta<strong>do</strong>s.<br />

CONCLUSÕES PRELIMINARES<br />

Os resulta<strong>do</strong>s consistem em ter-se um diagnóstico vigoroso da educação no município de<br />

Pacoti-Ce, ten<strong>do</strong> os professores interagi<strong>do</strong>s com a comunidade, assumin<strong>do</strong> a sua posição<br />

pedagógica como sujeitos sociais e o seu compromisso de engajamento na superação da<br />

realidade problematizada diante <strong>do</strong> quadro onde se coloca o baixo desempenho escolar.<br />

Desse mo<strong>do</strong>, tem-se maior rigor na compreensão da realidade e das ações para transformá-la.<br />

Verificou-se a pertinência da reflexão <strong>do</strong>s professores na mediação crítica entre a realidade e<br />

as ações implementadas em cada escola a partir <strong>do</strong> seu projeto pedagógico.<br />

A construção <strong>do</strong> plano municipal de educação se delineia como um “<strong>do</strong>cumento guia”<br />

elabora<strong>do</strong> coletivamente a partir da reflexão <strong>do</strong>s grupos envolvi<strong>do</strong>s. O planejamento<br />

estratégico situacional e a pedagogia liberta<strong>do</strong>ra contribuíram como indicação de caminhos<br />

para ampliar e consolidar a participação <strong>do</strong> maior número <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s no processo:<br />

Por isso é que é importante afirmar que não basta reconhecer que a Cidade é<br />

educativa, independentemente de nosso querer ou de nosso desejo. A Cidade se faz<br />

educativa pela necessidade de educar, de aprender, de ensinar, de criar, de sonhar,<br />

de imaginar de que to<strong>do</strong>s nós, mulheres e homens, impregnamos seus campos, suas<br />

montanhas, seus vales, seus rios, impregnamos suas ruas, suas praças, suas fontes,<br />

suas casas, seus edifícios, deixan<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong> o selo de certo tempo, o estilo, o gosto<br />

de certa época. A Cidade é cultura, é criação, não só pelo que fazemos nela e com<br />

ela, mas também é cultura pela própria mirada estética ou de espanto, gratuita, que<br />

lhe damos. (FREIRE, 1993 p.22-23).<br />

Freire continua os chaman<strong>do</strong> atenção sobre a dimensão <strong>do</strong> sonho e da utopia na construção de<br />

uma Cidade educativa:<br />

A Cidade somos nós e nós somos a Cidade [...] Enquanto educa<strong>do</strong>ra a Cidade é<br />

também educanda. Muito de sua tarefa educativa implica a nossa posição política e,<br />

obviamente, a maneira como exercemos o poder na Cidade e o sonho ou a utopia em<br />

que embebamos a política, a serviço e de que e de quem a fazemos. A política <strong>do</strong>s<br />

gastos públicos, a política cultura e educacional, a política de saúde, a <strong>do</strong>s<br />

transportes, a <strong>do</strong> lazer. (FREIRE, 1997 p.23).<br />

A idéia central de democratizar a feitura <strong>do</strong> plano municipal de educação por meio <strong>do</strong><br />

planejamento estratégico situacional e da pedagogia liberta<strong>do</strong>ra é firmar o compromisso e<br />

engajamento <strong>do</strong>s gestores <strong>–</strong> diretores, coordena<strong>do</strong>res, professores, pais e alunos -, numa<br />

escola que tenha como testemunho e significa<strong>do</strong> a plena formação de crianças e jovens para<br />

uma sociedade justa e democrática.<br />

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REFERÊNCIAS<br />

V Colóquio Internacional Paulo Freire <strong>–</strong> Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

MATUS, Carlos. Adeus, senhor presidente. Recife: Letteris Editora, 1989.<br />

FREIRE, Paulo. Política e educação. São Paulo: Cortez Editora, 1993.<br />

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