08.05.2013 Views

leitura de mundo e multiculturalismo na escola - Centro Paulo Freire ...

leitura de mundo e multiculturalismo na escola - Centro Paulo Freire ...

leitura de mundo e multiculturalismo na escola - Centro Paulo Freire ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

RESUMO<br />

V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

LEITURA DE MUNDO E MULTICULTURALISMO NA ESCOLA<br />

SOBRE A ÓTICA FREIRIANA<br />

Lucia<strong>na</strong> Ferreira dos Santos 1<br />

O texto é uma reflexão baseada no pensamento <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>, sobre a <strong>leitura</strong> <strong>de</strong> <strong>mundo</strong> e o<br />

<strong>multiculturalismo</strong>, <strong>na</strong> qual busco a<strong>na</strong>lisar a interatuação entre o ato <strong>de</strong> ler o <strong>mundo</strong> e as múltiplas<br />

culturas. A partir <strong>de</strong> então procuro perceber como a palavra geradora “Leitura <strong>de</strong> <strong>mundo</strong>” se<br />

encontra <strong>na</strong> obra freiria<strong>na</strong> com o conceito <strong>de</strong> <strong>multiculturalismo</strong>. Uma vez que <strong>Freire</strong> é consi<strong>de</strong>rado<br />

um “intelectual limítrofe”, por sua <strong>de</strong>dicação não ter se circunscrito a uma cultura específica como<br />

a noção <strong>de</strong> intelectual orgânico <strong>de</strong> Gramsci, mas por buscar a constituição <strong>de</strong> sujeitos a partir <strong>de</strong><br />

movimentos culturais diversos engajados <strong>na</strong> luta pela igualda<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong> e justiça social.<br />

Palavras-chave: Leitura– realida<strong>de</strong> – <strong>multiculturalismo</strong>.<br />

LEITURA E RELEITURA DE MUNDO<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> aponta <strong>leitura</strong> <strong>de</strong> <strong>mundo</strong> como um <strong>de</strong>svelamento da realida<strong>de</strong>, <strong>na</strong> qual se retira o<br />

véu que cobre os nossos olhos e não nos <strong>de</strong>ixa ver as coisas, com o fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r conhecê-las.<br />

Ele acrescenta que não basta ape<strong>na</strong>s <strong>de</strong>svelar a realida<strong>de</strong> é necessário realizar um<br />

<strong>de</strong>svelamento crítico, ou seja, uma ação que homens e as mulheres <strong>de</strong>vem exercer para retirar<br />

o véu (o que oculta) que não os <strong>de</strong>ixa ver e a<strong>na</strong>lisar a veracida<strong>de</strong> das coisas, chegar ao<br />

profundo das coisas, conhecê-las, encontrar o que há em seu interior, operar sobre o que se<br />

conhece para transformá-lo. Sendo assim para <strong>Freire</strong> um conhecimento crítico (<strong>de</strong>svelamento<br />

crítico) exige a ação transformadora. A realida<strong>de</strong> "não é só dado objetivo, o fato concreto,<br />

senão, também, a percepção que o homem tem <strong>de</strong>la" (ACL, 32). A realida<strong>de</strong> objetiva é a<br />

forma como as coisas são sem véus nem superficialida<strong>de</strong>s.<br />

Conhecer o <strong>mundo</strong> real é o primeiro passo para obtermos a cidadania ativa tão vislumbrada<br />

por <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> que nos tem sido subtraída. Segundo Antunes (2005) “Para exercer a<br />

cidadania ativa, é preciso reconhecer o seu papel <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong>, inserir-se criticamente <strong>na</strong><br />

realida<strong>de</strong>. Portanto, <strong>na</strong> perspectiva <strong>de</strong> uma “outra globalização” faz-se necessário ler o <strong>mundo</strong><br />

para <strong>de</strong>s<strong>na</strong>turalizar a “malva<strong>de</strong>z” da globalização capitalista”.<br />

Milton Santos (2000) afirma que atualmente vivenciamos três <strong>mundo</strong>s, mas mostra-se ape<strong>na</strong>s<br />

em um: o <strong>mundo</strong> como “fábula”, o <strong>mundo</strong> como “perversida<strong>de</strong>” e o <strong>mundo</strong> como uma “outra<br />

globalização”. A fábula apresenta um discurso hegemônico que tenta convencer-nos que o<br />

<strong>mundo</strong> é um arraial global, que tem à sua disposição recursos necessários para o crescimento<br />

econômico que proporcio<strong>na</strong> uma harmonia mundial.<br />

Entretanto este <strong>mundo</strong> fabuloso, escon<strong>de</strong> segundo Souza (2001) “Um mo<strong>de</strong>lo econômico<br />

1 Graduanda do Curso <strong>de</strong> Pedagogia da UFPE (felufak@yahoo.com.br) Professor da UFPE. (uyt<strong>de</strong>nbroek@superig.com.br).


V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

<strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>do neoliberal, cada vez mais concentrador e centralizador <strong>de</strong> riquezas e gerador <strong>de</strong><br />

misérias, busca se impor sobera<strong>na</strong>mente por todos os meios, em todos os cantos da terra”.<br />

(Wallesstein, 1998, Ianni 2000, Foram Social Mundial). Esta fábula gera uma perversida<strong>de</strong>,<br />

uma vez que produz o <strong>de</strong>semprego, a pobreza, a concentração <strong>de</strong> renda e a imposição <strong>de</strong> uma<br />

cultural única, <strong>na</strong> qual ouvimos as mesmas músicas, vemos os mesmos filmes, vestimos as<br />

mesmas roupas, comemos as mesmas comidas, e temos os mesmos valores morais, em<br />

diversas partes do planeta, esta fábula suscita uma <strong>de</strong>sesperança. Conforme <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong><br />

(1997) “A <strong>de</strong>sesperança é a negação da esperança. A esperança é uma espécie <strong>de</strong> ímpeto<br />

<strong>na</strong>tural possível e necessário, a <strong>de</strong>sesperança é o aborto <strong>de</strong>ste ímpeto. A esperança é um<br />

condimento indispensável à experiência histórica. Sem ela, não haveria tempo problematizado<br />

e não pré-dado. A inexorabilida<strong>de</strong> do futuro é a negação da história”. (p.81)<br />

Por isto, ele chama a atenção para palavras “malva<strong>de</strong>z” da globalização capitalista que tenta<br />

subtrair do ser humano o que o impulsio<strong>na</strong> para a vida que é a esperança e a utopia. Ele sendo<br />

o proclamador <strong>de</strong> a utopia <strong>de</strong>nunciar essa i<strong>de</strong>ologia que nos mostra o <strong>mundo</strong> como “mito” que<br />

nos coloca <strong>na</strong> condição <strong>de</strong> simples espectadores. Para mudar esta condição <strong>Freire</strong> propõe uma<br />

“ação cultural para liberda<strong>de</strong> se caracteriza pelo diálogo e seu fim principal é conscientizar as<br />

massas [...] A ação cultural para liberda<strong>de</strong> está comprometida com esclarecimento científico<br />

da realida<strong>de</strong>, ou melhor, <strong>na</strong> exposição dos mitos e das i<strong>de</strong>ologias, tem <strong>de</strong> separar a i<strong>de</strong>ologia<br />

da ciência” (p.91).<br />

Desta forma <strong>na</strong> medida que se expõe os mitos nos homens e mulheres, somos convidados a<br />

captar em nosso espírito a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa realida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>scobrir as razões escondidas por<br />

traz dos mitos, uma vez que conscientes nos homens e mulheres buscamos instrumentos para<br />

enfrentá-los. <strong>Freire</strong> (1980): “a readmiração <strong>de</strong> sua anterior admiração é necessária para<br />

provocar esta mudança. Os educadores adquirem uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento crítico –<br />

muito além da simples opinião – ao “<strong>de</strong>s-velar” suas relações com <strong>mundo</strong> histórico-cultural<br />

no qual e com qual existem”. (p.89).<br />

É <strong>na</strong> ação cultural que acontece a interatuação entre <strong>leitura</strong> <strong>de</strong> <strong>mundo</strong> e o <strong>multiculturalismo</strong>,<br />

uma vez que o sujeito lendo a realida<strong>de</strong>, superando a própria cultura e tendo acesso a outros<br />

contextos histórico-culturais (das diferenças culturais) encontra instrumentos para superação<br />

do <strong>mundo</strong> da fábula que ofusca os seus olhos não <strong>de</strong>ixando ver a verda<strong>de</strong> das coisas, não nos<br />

permitindo ler e reler o <strong>mundo</strong> com realmente se apresenta.<br />

LER E RELER O MUNDO, LER E REESCREVER A HISTÓRIA.<br />

A prática <strong>de</strong> ler e reler o <strong>mundo</strong> para reescrever a própria história parte <strong>de</strong> alguns princípios<br />

como totalida<strong>de</strong>, historicida<strong>de</strong>, temporalida<strong>de</strong>, ludicida<strong>de</strong>, corporaneida<strong>de</strong> e dialogicida<strong>de</strong>.<br />

Totalida<strong>de</strong> é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> si e do <strong>mundo</strong> a partir das múltiplas<br />

dimensões; historicida<strong>de</strong> o sujeito se contextualizar está intimamente relacio<strong>na</strong>do com a<br />

temporalida<strong>de</strong>, pois homens e mulheres percebem-se como ser histórico, atinge o ontem,<br />

reconhece o hoje e <strong>de</strong>scobre o amanhã, acima <strong>de</strong> tudo <strong>de</strong>scobre-se como dirigente da própria<br />

história e <strong>de</strong> sua cultura; ludicida<strong>de</strong> diz respeito à capacida<strong>de</strong> do ser humano abstrair a<br />

realida<strong>de</strong> concreta transitar entre a realida<strong>de</strong> e a ficção, imagi<strong>na</strong>r, inventar, criar e recriar ,<br />

<strong>de</strong>scobrir e re<strong>de</strong>scobrir, conhecer e reconhecer-se sujeito; corporaneida<strong>de</strong> tem a ver com<br />

2


V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

existência <strong>de</strong> um corpo que compreen<strong>de</strong> as dimensões físicas, psiquicas, emocio<strong>na</strong>is,<br />

cognitivas, culturais e sociais e por fim o princípio da dialogicida<strong>de</strong> que diz respeito à<br />

interação dos seres humanos consigo e com os outros.<br />

Nos escritos <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> foi mostrado o compromisso com a construção <strong>de</strong> um<br />

conhecimento autêntico (que partisse da realida<strong>de</strong> brasileira, que <strong>de</strong>sse respostas aos<br />

problemas vividos pelo povo) e orgânico (em estreita relação com a realida<strong>de</strong> vivida,<br />

buscando transformá-la), por isto, a palavra mudança está intimamente ligada à compreensão<br />

crítica da realida<strong>de</strong> vivida, ou seja, a <strong>leitura</strong> do <strong>mundo</strong>. É apontado por <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> é a<br />

consciência <strong>de</strong> nosso “i<strong>na</strong>cabamento”, da nossa condição <strong>de</strong> “sujeito histórico”. Ele afirma<br />

que [...] o i<strong>na</strong>cabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital. On<strong>de</strong> há<br />

vida, há i<strong>na</strong>cabamento. Mas só entre homens e mulheres o i<strong>na</strong>cabamento tornou-se<br />

consciente. (1997, p. 57).<br />

Em outro momento, <strong>Freire</strong> <strong>de</strong>fine que o que diferencia o ser humano dos outros seres é sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar respostas aos diversos <strong>de</strong>safios que a realida<strong>de</strong> impõe. Porém, essa<br />

apreensão da realida<strong>de</strong> e esse agir no <strong>mundo</strong> não se dão <strong>de</strong> maneira isolada. É <strong>na</strong> relação entre<br />

homens e mulheres – e entre estes e estas com o <strong>mundo</strong> – que se constrói uma nova realida<strong>de</strong><br />

e que se fazem novos homens e mulheres, criando cultura e fazendo história. (1997, p. 51):<br />

A perspectiva Freiria<strong>na</strong> parte das interações do homem com a realida<strong>de</strong> resultantes <strong>de</strong> estar<br />

com ela e <strong>de</strong> estar nela, pela ação <strong>de</strong> criação, recriação e <strong>de</strong>liberar, homens e mulheres<br />

di<strong>na</strong>mizando o seu <strong>mundo</strong>, domi<strong>na</strong>m a realida<strong>de</strong>, se humanizam, temporizam os espaços<br />

geográficos e assim produz cultura. A consciência do i<strong>na</strong>cabamento é também importante<br />

porque nos alimenta a esperança, leva-nos à utopia, ao projeto futuro, à crença <strong>na</strong><br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança para <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> (1997) “Só <strong>na</strong> convicção permanente do<br />

i<strong>na</strong>cabado po<strong>de</strong> encontrar o homem e as socieda<strong>de</strong>s o sentido da esperança. Quem se julga<br />

acabado está morto”. (p. 61).<br />

Neste sentido homens e mulheres, <strong>na</strong> sua incompletu<strong>de</strong> e <strong>na</strong> sua afinida<strong>de</strong> com o <strong>mundo</strong> e<br />

com outros seres, buscando dar réplica aos <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> seu contexto, edificam o seu<br />

conhecimento. Para <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> (1981), o conhecimento é resultado <strong>de</strong>sse processo, <strong>de</strong>ssa<br />

construção coletiva. Por isso, afirma que “Ninguém educa ninguém. Os homens se educam<br />

em comunhão” (p. 79). Nessa visão, o conhecimento <strong>na</strong>sce do ato, da inclusão entre os seres<br />

humanos e <strong>de</strong>stes com o <strong>mundo</strong>. È da nossa interferência no <strong>mundo</strong>, novos conhecimentos<br />

vão sendo construídos.<br />

O diálogo tor<strong>na</strong>-se condição para o conhecimento. O ato <strong>de</strong> conhecer ocorre em um processo<br />

social e o diálogo é o mediador <strong>de</strong>sse processo. Transmitir ou receber informações não<br />

caracterizam o ato <strong>de</strong> conhecer. Conhecer é apreen<strong>de</strong>r o <strong>mundo</strong> e essa não é uma tarefa<br />

solitária. Ninguém conhece sozinho. O processo educativo <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>safiar o educando a<br />

penetrar em níveis cada vez mais profundos e abrangentes do saber.<br />

Nisso se constitui uma das principais funções do diálogo. Este se inicia quando o educador<br />

busca a temática significativa dos educandos, procurando conhecer o nível <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong>les<br />

em relação ao <strong>mundo</strong> vivido. <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> (1999) aponta que “mulheres e homens, somos<br />

únicos seres que, social e historicamente, nos tor<strong>na</strong>mos capazes <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r. Por isso, somos<br />

3


V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

os únicos em quem apren<strong>de</strong>r é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico<br />

do que meramente repetir a lição dada. Apren<strong>de</strong>r para nós é constituir, reconstruir, contatar<br />

para mudar, o que se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito” (p.77).<br />

Esta concepção <strong>de</strong> educação libertadora e exige a dialogicida<strong>de</strong>, ou seja, a <strong>leitura</strong> do <strong>mundo</strong><br />

coletiva. É a partir <strong>de</strong>la, que o nível <strong>de</strong> percepção dos educandos, e as suas visões <strong>de</strong> <strong>mundo</strong><br />

são organizadas. A realida<strong>de</strong> imediata vai sendo inserida em totalida<strong>de</strong>s mais abrangentes,<br />

revelando ao educando que a realida<strong>de</strong> local, existencial, possui relações com outras<br />

dimensões: regio<strong>na</strong>is, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, continentais, planetária e em diversas perspectivas: social,<br />

política, econômica que se interpenetram.<br />

Isto faz o sujeito ter uma postura diante da realida<strong>de</strong> e do ato <strong>de</strong> conhecer fundamenta a vida,<br />

a sua curiosida<strong>de</strong>. Esta que se fez epistemológica visto que assumida como compromisso <strong>de</strong><br />

tor<strong>na</strong>r a <strong>leitura</strong> <strong>mundo</strong>, cada vez mais, i<strong>de</strong>ntificada e sofisticada face os fenômenos que<br />

integram e condicio<strong>na</strong>m nossa existência.<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> é consi<strong>de</strong>rado um “intelectual limítrofe”, por sua <strong>de</strong>dicação não ter se<br />

circunscrito a uma cultura específica como a noção <strong>de</strong> intelectual orgânico <strong>de</strong> Gramsci, mas<br />

por buscar a constituição <strong>de</strong> sujeitos a partir <strong>de</strong> movimentos culturais diversos engajados <strong>na</strong><br />

luta pela igualda<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong> e justiça social.<br />

Para ele somos sujeitos e não objeto, somos capazes <strong>de</strong> a<strong>na</strong>lisar a nossa realida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>la<br />

arrancar respostas para o não revelado. Isto é fruto da integração do sujeito ao seu cotidiano<br />

com a relação com outros sujeitos, visto que estes se fazem ao mesmo tempo sujeitos e<br />

objetos do ato <strong>de</strong> pesquisar e conhecer, do ato <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> ensi<strong>na</strong>r. Para <strong>Freire</strong> (1999):<br />

É o saber da história como possibilida<strong>de</strong> e não como <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ção. O <strong>mundo</strong> não é.<br />

O <strong>mundo</strong> está sendo. Como subjetivida<strong>de</strong> curiosa, inteligente, interferidora <strong>na</strong><br />

objetivida<strong>de</strong> com dialeticamente me relaciono, meu papel no <strong>mundo</strong> não é só o <strong>de</strong><br />

quem constata o que ocorre, mas também o <strong>de</strong> quem intervem como sujeito <strong>de</strong><br />

ocorrências. Não sou ape<strong>na</strong>s objeto da história, mas seu sujeito igualmente. No<br />

<strong>mundo</strong> da história, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para<br />

mudar. (p.85-86).<br />

É <strong>na</strong> interculturalida<strong>de</strong> que o sujeito constrói sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> se percebe enquanto sujeitos que<br />

sente, pensa e age, compreen<strong>de</strong> que é possível transformar o <strong>mundo</strong> que os mediatiza, estes<br />

apreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong>, mas não se acomodam diante <strong>de</strong>la, ao contrário busca instrumentos<br />

para superar os estereótipos, e a prolixida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preconceitos estabelecida pela cultura<br />

alie<strong>na</strong>nte e alie<strong>na</strong>da.<br />

DICOTOMIA ENTRE LEITURA DE MUNDO E LEITURA DA PALAVRA<br />

Para <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> a <strong>leitura</strong> <strong>de</strong> <strong>mundo</strong> prece<strong>de</strong> a <strong>leitura</strong> da palavra, por isto ele afirma (1994)<br />

“toda <strong>leitura</strong> da palavra pressupõe uma <strong>leitura</strong> anterior do <strong>mundo</strong>, e toda <strong>leitura</strong> da palavra<br />

implica a volta sobre a <strong>leitura</strong> no <strong>mundo</strong>, <strong>de</strong> tal maneira que ler <strong>mundo</strong> e ler palavra se<br />

constituíam um movimento em que não há ruptura, em que você vai e volta”. (p.15).<br />

4


V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

Entretanto <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> aponta que a <strong>escola</strong> não tem oportunizado este movimento sem<br />

ruptura entre o ato <strong>de</strong> ler o <strong>mundo</strong> e o ato <strong>de</strong> ler a palavra causando assim uma dicotomia que<br />

segundo <strong>Freire</strong> (1990):<br />

O que é que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o <strong>mundo</strong>?<br />

Minha impressão é que a <strong>escola</strong> está aumentando a distância entre as palavras que<br />

lemos e o <strong>mundo</strong> em que vivemos. Nessa dicotomia, o <strong>mundo</strong> da <strong>leitura</strong> é só o<br />

<strong>mundo</strong> do processo <strong>de</strong> <strong>escola</strong>rização, um <strong>mundo</strong> fechado, isolado do <strong>mundo</strong> on<strong>de</strong><br />

vivemos experiências sobre as quais não lemos. Ao ler palavras, a <strong>escola</strong> se tor<strong>na</strong><br />

um lugar especial que nos ensi<strong>na</strong> a ler ape<strong>na</strong>s as 'palavras da <strong>escola</strong>', e não as<br />

'palavras da realida<strong>de</strong>'. O outro <strong>mundo</strong>, o <strong>mundo</strong> dos fatos, o <strong>mundo</strong> da vida, o<br />

<strong>mundo</strong> no quais os eventos estão muito vivos, o <strong>mundo</strong> das lutas, o <strong>mundo</strong> da<br />

discrimi<strong>na</strong>ção e da crise econômica (todas essas coisas estão aí), não tem contato<br />

algum com os alunos <strong>na</strong> <strong>escola</strong> através das palavras que a <strong>escola</strong> exige que eles<br />

leiam. Você po<strong>de</strong> pensar nessa dicotomia como uma espécie <strong>de</strong> 'cultura do silêncio'<br />

imposta aos estudantes. A <strong>leitura</strong> da <strong>escola</strong> mantém silêncio a respeito do <strong>mundo</strong> da<br />

experiência, e o <strong>mundo</strong> da experiência é silenciado sem seus textos críticos próprios.<br />

(p. 164).<br />

Para o nosso educador maior o aprendizado <strong>de</strong>ve ser significativo, ou seja, textos que só<br />

existem <strong>na</strong>s cartilhas, cuja, a fi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> é apren<strong>de</strong>r a ler através <strong>de</strong>codificação pela<br />

<strong>de</strong>codificação não faz sentido, não alimenta, o cognitivo, nem a alma. <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> propõe<br />

trazer para <strong>de</strong>ntro da <strong>escola</strong> o <strong>mundo</strong> para que o ato <strong>de</strong> ler torne-se “grávido” <strong>de</strong> significados<br />

reais.<br />

A <strong>leitura</strong> tem como fi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> essencial a formação <strong>de</strong> sujeitos produtores <strong>de</strong> história e<br />

cultura. Para que isto aconteça, a <strong>leitura</strong> <strong>de</strong>ve ser viva e presente no cotidiano do leitor, on<strong>de</strong><br />

seja possível refletir sobre a realida<strong>de</strong> e tentar recriá-la. Por isto o ato <strong>de</strong> ler é antes <strong>de</strong> mais<br />

um ato <strong>de</strong> conhecimento, um ato criador, no qual o leitor é um sujeito com criativida<strong>de</strong> e<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>na</strong> construção <strong>de</strong> seu conhecimento.<br />

Portanto, volto a enfatizar que cartilha cheia <strong>de</strong> textos que só existem <strong>na</strong> <strong>escola</strong> não faz<br />

sentido para os educandos é preciso uma aprendizagem cheia <strong>de</strong> vivências concretas,<br />

conforme Verdini:<br />

Des<strong>de</strong> que <strong>na</strong>scemos, diferentes situações nos põem em contato com as palavras.<br />

Elas vão sendo ensi<strong>na</strong>das para que possamos nomear reconhecer, dar sentido ao<br />

<strong>mundo</strong> on<strong>de</strong> vivemos e que temos necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>svendar. Num<br />

sentido amplo, a <strong>leitura</strong> <strong>de</strong>sponta junto com a própria existência, já que implica<br />

palavras em conexão com o universo que habitamos significações, experiências,<br />

conhecimentos, relação com o outro, com a vida. Por isso, <strong>leitura</strong> tem a ver com a<br />

mobilização <strong>de</strong> nossa curiosida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> nossos sentidos, <strong>de</strong> nosso ser por completo.<br />

(http://www.pedagogiaemfoco.pro.br).<br />

Para o gran<strong>de</strong> pensador brasileiro como a <strong>leitura</strong> do <strong>mundo</strong> prece<strong>de</strong> a <strong>leitura</strong> da palavra.<br />

Assim sendo, nos textos que lemos <strong>de</strong>ve está o <strong>mundo</strong> que nos ro<strong>de</strong>ia. Através da "<strong>leitura</strong> do<br />

<strong>mundo</strong>" perceber as relações espaciais existentes, as relações <strong>de</strong> afeto, observam que cada<br />

coisa ocupa um lugar e tem um nome, manifestam preferência e rejeições... É no contato com<br />

"outro" e com o "<strong>mundo</strong>" que construímos símbolos, inicialmente muito singulares e próprios<br />

até chegarem a se construir em significados compartilhados socialmente.<br />

5


V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

Fica mais fácil, trabalhar textos, palavras ou frases que estão próximos da realida<strong>de</strong> dos<br />

sujeitos seja este criança ou adulto; como <strong>Freire</strong> trabalhava, por exemplo, com palavras<br />

geradoras colhidas da realida<strong>de</strong> dos educandos nelas estava o autêntico saber popular. Estas<br />

palavras eram obtidas através <strong>de</strong> uma pesquisa da realida<strong>de</strong> realizada por uma equipe <strong>de</strong><br />

profissio<strong>na</strong>is e elementos da comunida<strong>de</strong> que se ia alfabetizar, para preparação do material era<br />

obe<strong>de</strong>cido os seguintes passos: levantamento o pensamento-linguagem a partir da realida<strong>de</strong><br />

concreta; elaboração <strong>de</strong> codificações específicas para cada comunida<strong>de</strong>, a fim <strong>de</strong> perceber<br />

aquela realida<strong>de</strong> e, <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>staca-se e escolhe as palavras geradoras.<br />

Todo material trabalhado é síntese das visões <strong>de</strong> <strong>mundo</strong> educadores/educando. Palavra<br />

geradora era subtraída do universo vivencial do educando e está ligada a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste.<br />

Assim, para o camponês, as palavras geradoras po<strong>de</strong>riam ser enxadas, terra, colheita, etc.;<br />

para o operário po<strong>de</strong>ria ser tijolo, cimento, obra, etc.; para o mecânico po<strong>de</strong>riam ser outras e<br />

assim por diante.<br />

Concluímos que para acabar com a dicotomia entre ler a palavra e ler o <strong>mundo</strong> é fundamental<br />

trazer o <strong>mundo</strong> para <strong>escola</strong>, pois <strong>de</strong> acordo com <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> (1994) “ler <strong>mundo</strong>” e “ler<br />

palavra”, no fundo implicam “reescrever o <strong>mundo</strong>. Reescrever com aspas quer dizer,<br />

transformá-lo. (p.15). E se quiser formar pessoas capazes <strong>de</strong> transformar o <strong>mundo</strong> temos<br />

quem oportunizar a <strong>leitura</strong> <strong>de</strong> texto que faça sentido.<br />

MULTICULTURALISMO UMA PRÁTICA POSSÍVEL NA SOCIEDADE ATUAL<br />

Para que o <strong>multiculturalismo</strong> torne-se uma prática possível é que a cultura da <strong>de</strong>mocracia seja<br />

incorporada em todos os lugares <strong>de</strong>vemos nos propor a fazer uma aliança com a nossa<br />

potência <strong>de</strong> vida, com nossa autonomia, com nossa criativida<strong>de</strong> e nos encantamos pela vida,<br />

não nos cansamos <strong>de</strong> ler o <strong>mundo</strong>, as palavras e ações que possam nos valer e nos<br />

possibilitam apren<strong>de</strong>r a trabalhar, numa perspectiva multicultural crítica, criativa e inclusiva,<br />

num <strong>mundo</strong> marcado por <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e injustiças sociais, étnicas e culturais.<br />

É importante ressaltar que qualquer caminho trilhado no sentido <strong>de</strong> lidar com a coexistência<br />

enriquecedora <strong>de</strong> diversos pontos <strong>de</strong> vista, interpretações, visões, atitu<strong>de</strong>s, provenientes <strong>de</strong><br />

diferentes bagagens culturais. Não será fácil, pois todas nós estamos marcadas por nossas<br />

visões <strong>de</strong> <strong>mundo</strong>, por valores adquiridos em nossa trajetória <strong>de</strong> vida, por idéias e i<strong>de</strong>ais<br />

construídos ou apreendidos, por concepções a respeito da vida e do <strong>mundo</strong>. É bom lembrar<br />

que a vida, no singular e no plural, é muito mais abrangente do que nossa condição huma<strong>na</strong><br />

po<strong>de</strong> captar e compreen<strong>de</strong>r.<br />

Quando nos incli<strong>na</strong>mos ao <strong>de</strong>sconhecido somos fisgadas pela percepção da existência da<br />

diferença é inegável a riqueza huma<strong>na</strong> contraída por este contato, percebemos que as<br />

verda<strong>de</strong>s, as razão, certezas fechadas e absolutizadas são colocadas no campo da dúvida, da<br />

pergunta, da inquietação, da errante busca, da incerteza.<br />

Entretanto, voltamos a admitir que viver <strong>na</strong> perspectiva das diferenças não é fácil, pois mudar<br />

não é fácil, temos que antes <strong>de</strong>scontruir uma cultura <strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong> cultivada em nossa<br />

socieda<strong>de</strong> há séculos, <strong>na</strong> qual o diferente é feio, é errado, e as regras são manter tudo <strong>de</strong><br />

forma estável e igual, pois <strong>de</strong>sta forma tudo se tor<strong>na</strong> bonito, perfeito, mas o que vemos é uma<br />

6


V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

vida on<strong>de</strong> tudo é insólito, como uma metamorfose constante da própria Vida, afi<strong>na</strong>l, "nenhum<br />

rio passa duas vezes no mesmo lugar", tudo vai e volta , se tudo é oscilação, é ativo, o<br />

problema é que a <strong>escola</strong> não estimula a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver, perceber, conhecer, interagir com o<br />

diferente <strong>de</strong> nós.<br />

É bom <strong>de</strong>stacar que somos diferentes, inclusive, <strong>de</strong> nós mesmos [...] Tor<strong>na</strong>mo-nos diferentes<br />

<strong>de</strong> nós mesmos a cada instante que lemos, assistimos um filme, quando vivenciamos algo<br />

novo, uma injustiça que presenciamos, praticamos ou sofremos, o tempo passado, o amor ou<br />

<strong>de</strong>samor, o nosso dia-a-dia... Tudo isto nos ”biografa”.<br />

O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio é sermos mais humanos, menos conceituais, mais práticos e mais vivenciais<br />

que nos colocamos diante dos próprios preconceitos, do racismo, do machismo, do elitismo<br />

incorporado neles. Talvez o maior <strong>de</strong>safio, seja enfrentarmos o que está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós, o<br />

nosso coração, nosso sangue, nossa mente, para po<strong>de</strong>r se enten<strong>de</strong>r e enten<strong>de</strong>r o <strong>mundo</strong>.<br />

Portanto é fundamental em todas as instáncias (<strong>escola</strong>s, igrejas, mídia) trabalhar <strong>na</strong><br />

perspectiva da existência da diferença que nos obriga a rever valores, posições, preconceitos.<br />

As palavras chaves como inclusão – criativida<strong>de</strong> - criticida<strong>de</strong> – respeito sejam os que eficaz<br />

<strong>na</strong> numa socieda<strong>de</strong> multicultural, porque incluir as diferenças, usar da criativida<strong>de</strong>, da<br />

criticida<strong>de</strong>, do respeito, do contato, do diálogo e da interação com o outro. Colocando-nos<br />

num lugar <strong>de</strong> questio<strong>na</strong>mento quanto ao nosso papel, nosso sentido e significado.<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> almejava uma socieda<strong>de</strong> multicultural que fosse política, não racista, não elitista,<br />

não machista, não etnocêntrica [...] Uma socieda<strong>de</strong> que se proponha a formar gente pensante,<br />

ativa, política, crítica e ética. Que seja capaz <strong>de</strong> ouvir o outro mesmo este outro sendo e<br />

pensando diferente mais que acima <strong>de</strong> tudo corra risco. Para <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> (1997): É próprio do<br />

pensar certo a disponibilida<strong>de</strong> ao risco, a aceitação do novo que não po<strong>de</strong> ser negado ou<br />

acolhido só porque é novo assim como o critério <strong>de</strong> recusa ao velho não é ape<strong>na</strong>s o<br />

cronológico. O velho que preserva sua valida<strong>de</strong> ou que encar<strong>na</strong> uma tradição ou marca uma<br />

presença no tempo continua novo (p.39).<br />

Portanto, <strong>Freire</strong> nos convida a “cruzar as fronteiras” do medo do <strong>de</strong>sconhecido, da opressão,<br />

cruzar fronteiras significa reinventar as tradições não <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um discurso <strong>de</strong> submissão,<br />

reverência e repetição, mas como transformação e análise crítica. Uma socieda<strong>de</strong><br />

multicultural <strong>de</strong>ve formar construtores <strong>de</strong> si e do <strong>mundo</strong> que o mediatiza.<br />

Esta é uma prática possível, cujas palavras e ações básicas como: autonomia que é a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um tomar suas próprias <strong>de</strong>cisões, mas a partir do intercâmbio e diálogo<br />

com pontos <strong>de</strong> vistas diferentes e diversos dos nossos; o diálogo que nos provocar a ouvir o<br />

outro, escutar e se <strong>de</strong>ixar rechear com a palavra, com a idéia, com a expectativa do outro; a<br />

oscilação que concretiza a ação, que realiza a mudança, a criação e a relação não há socieda<strong>de</strong><br />

multicultural sem o contato com o outro, sem voz ou vozes, cheiro ou cheiros, sabores,<br />

expressões corporais, isto só é possível com o contato, com o encontro e reencontro.<br />

Antes <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>ve-se discrimi<strong>na</strong>r qualquer forma <strong>de</strong> discrimi<strong>na</strong>ção para <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> (1997)<br />

“faz parte do pensar. Certo a rejeição mais <strong>de</strong>cidida a qualquer forma <strong>de</strong> discrimi<strong>na</strong>ção. A<br />

prática preconceituosa <strong>de</strong> raça, <strong>de</strong> classe, <strong>de</strong> gênero ofen<strong>de</strong> a substantivida<strong>de</strong> o ser humano e<br />

7


V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

nega radicalmente a <strong>de</strong>mocracia”. (p.39-40).<br />

É preciso termos uma posição intelectual aberta e flexível, baseada no respeito <strong>de</strong>sta<br />

diversida<strong>de</strong> e <strong>na</strong> rejeição <strong>de</strong> todo preconceito ou hierarquia. As várias óticas <strong>de</strong>vem ser<br />

consi<strong>de</strong>radas em pé <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>; afirmações ou construções teóricas só po<strong>de</strong>m ser julgadas<br />

em relação ao ponto <strong>de</strong> vista cultural. Não tem sentido falar <strong>de</strong> contradição ou só <strong>de</strong> diferença.<br />

O <strong>multiculturalismo</strong> expressa uma visão criativa da vida e da fertilida<strong>de</strong> do espírito humano,<br />

<strong>na</strong> qual cada indivíduo transcen<strong>de</strong> o marco estreito da sua própria formação cultural e é capaz<br />

<strong>de</strong> ver, sentir e interpretar por meio <strong>de</strong> outras apreciações culturais. O resultado será uma<br />

socieda<strong>de</strong> com seres humanos tolerantes, compreensivos, amplos, sensíveis e<br />

fundamentalmente ricos <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> interpretativa, <strong>de</strong> observação e até emotiva e se<br />

multiplica.<br />

ALGUNS COMENTÁRIOS, A TÍTULO DE CONCLUSÃO<br />

Concluímos que a <strong>leitura</strong> e re<strong>leitura</strong> <strong>de</strong> <strong>mundo</strong> possibilitam <strong>de</strong>svelar própria realida<strong>de</strong> como<br />

também reescrever a própria história. Reescrever como foi dito anteriormente significa<br />

transformar, ou seja, <strong>de</strong>scontruir a organização social em vigor, para construção <strong>de</strong> outra<br />

socieda<strong>de</strong> multicultural, <strong>na</strong> qual diversas tribos se encontram. Para isto temos que<br />

reconquistar a nossa humanida<strong>de</strong> roubada, pela injustiça, exploração e opressão. O resultado<br />

da nossa conquista irá consubstanciar a criação <strong>de</strong> um outro <strong>mundo</strong> mais justo, um <strong>mundo</strong> das<br />

diversas cores, povos, comidas, músicas e danças formando um arraial global. Portanto é<br />

válido sonharmos e lutarmos para construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> multicultural.<br />

REFERÊNCIAS<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Cartas a Guiné-Bissau: registros <strong>de</strong> uma experiência em processo. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Paz e Terra, 1978.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. e BETTO,Frei. Essa <strong>escola</strong> chamada vida. 8 ed. São <strong>Paulo</strong> :Ática, 1994.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Educação e mudança. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1979.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Conscientização: teoria e prática da libertação, uma introdução ao<br />

pensamento <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong>. 4.ed. São <strong>Paulo</strong>: Editora Moraes, 1980.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Ação cultural para a liberda<strong>de</strong>. 5.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1981.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1987.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Pedagogia da esperança. 3.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1994.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São<br />

<strong>Paulo</strong>: Paz e Terra, 1997.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Educação como prática da liberda<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1999.<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Educação e atualida<strong>de</strong> brasileira. São <strong>Paulo</strong>: Cortez, 2001.<br />

SANTOS, Milton. A <strong>na</strong>tureza do espaço: técnica e tempo - razão e emoção. São <strong>Paulo</strong>:<br />

Editora Hucitec, 1997.<br />

8


V Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> – Recife, 19 a 22-setembro 2005<br />

FREIRE, <strong>Paulo</strong>. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.<br />

São <strong>Paulo</strong>: Record, 2000. www.tvebrasil.com.br, www.rio.rj.gov.br, www.revistapátio.com.br<br />

http://www.pedagogiaemfoco.pro.br<br />

9

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!