13.04.2013 Views

baixar artigo completo em pdf

baixar artigo completo em pdf

baixar artigo completo em pdf

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esta estrutura sintagmática, como também outras duas que começam <strong>em</strong> “O<br />

desafio não é dos mais simples” (BRAS, 2010, p.61) e <strong>em</strong> “No fundo do meu cerebelo<br />

começa a piscar um aviso luminoso” (BRAS, 2010, p.62), se repete ao longo do conto<br />

s<strong>em</strong>pre que a caça, a cópia que controla as d<strong>em</strong>ais, consegue fugir para outra hiperrealidade<br />

do planisfério. Mas é apenas a estrutura sintagmática que se repete, pois a<br />

estrutura paradigmática é totalmente alterada, dependendo da hiper-realidade <strong>em</strong> que as<br />

cópias se encontram: uma catedral, um transatlântico, uma mina de carvão, etc. Este<br />

recurso parece ficcionalizar o conceito jakobsoniano de função poética: a projeção do<br />

eixo paradigmático sobre o eixo sintagmático (JAKOBSON, 2003, p.129). Entretanto, o<br />

que se nota é a relação de crítica que o autor estabelece entre este conceito e o de hiperrealidade,<br />

pois a função poética, enquanto “o enfoque da mensag<strong>em</strong> por ela mesma”<br />

(JAKOBSON, 2003, p.126-127), ass<strong>em</strong>elha-se ao “circuito ininterrupto” de simulacros<br />

trocando-se entre si.<br />

As precauções de Jakobson não impediram sua função poética de tornar-se<br />

determinante para a concepção, usual desde então, da mensag<strong>em</strong> poética como<br />

subtraída à referencialidade, ou da mensag<strong>em</strong> poética como sendo para si mesma<br />

sua própria referência: os clichês de autotelismo e auto-referencialidade estão,<br />

assim, no horizonte da função poética jakobsoniana (COMPAGNON, 2003, p.100).<br />

Como ocorre na hiper-realidade, o referencial também é escamoteado na função<br />

poética. Se a função poética é o que determina a literariedade de um texto, então a<br />

crítica do autor se direciona justamente contra este tipo de literatura autotélica que<br />

Sartre denomina acertadamente de “literatura abstrata”: “Digo que uma literatura é<br />

abstrata quando ainda não adquiriu a visão plena da sua essência, quando estabeleceu<br />

apenas o princípio da sua autonomia formal e considera indiferente o t<strong>em</strong>a da obra”<br />

(SARTRE, 2004, p.115). Este é o caso da ficção mainstream, mas não da ficção<br />

científica e dos gêneros de mercado que valorizam o t<strong>em</strong>a da obra. Entretanto,<br />

paradoxalmente, Bras realiza sua crítica principalmente por meio da forma, ainda que o<br />

t<strong>em</strong>a trate de cópias. Sendo assim, o alvo da crítica também é “essa violenta lógica<br />

binária, terrorista, maniqueísta, tão ao gosto dos literatos” (COMPAGNON, 2003,<br />

p.138) que separa forma e t<strong>em</strong>a, mainstream e gêneros de mercado. Ao resgatar este<br />

debate, a ficção borderline se apresenta não apenas como mais uma tendência da ficção<br />

científica brasileira cont<strong>em</strong>porânea, mas como uma alternativa para os impasses da<br />

acad<strong>em</strong>ia e do fandom. Se esta é a única ou a melhor alternativa, somente as próximas<br />

ondas dirão.<br />

Referências<br />

BARBER, H. A. Prefácio. In: DIEGUES, R. Cyber Brasiliana. São Paulo: Draco,<br />

2010.<br />

BAUDRILLARD, J. Simulacros e simulações. Trad. Maria João da Costa Pereira.<br />

Lisboa: Relógio d’Água, 1991.<br />

BRAS, L. Paraíso líquido. São Paulo: Terracota, 2010.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!