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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - Facom - Universidade ...

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guerrilheiro. A primeira atitude de Didi foi procurar o senador baiano Heitor Dias, anticomunista<br />

ferrenho mas amigo da família, para que ele pudesse ver qual era a situação do filho. O senador<br />

prometeu verificar. Sem saber quando o filho seria colocado em liberdade, resolveu ela mesma<br />

visitá-lo. Em 8 de dezembro de 1972, sozinha e sem ser acompanhada por nenhum advogado,<br />

chegava a III Brigada de Infantaria do Exército em Brasília. É Didi quem relata:<br />

“Resolvi eu mesma visitá-lo, as pessoas pensavam que eu estava maluca. Mas já que<br />

ninguém me dizia quando Eduardo iria sair, pelo menos vou poder vê-lo. Cheguei a Brasília e<br />

peguei um táxi para a III Brigada de infantaria. Chegando lá, tinha que ter autorização para entrar<br />

na área militar. Fiquei 8 dias, sem que eles me autorizassem a entrar. Estou sentada na recepção e<br />

um homem chamado major Isaac, me perguntou o que estava fazendo:<br />

- Eu quero visitar meu filho que está preso aqui. E não querem me dar a autorização.<br />

- Tudo bem, hoje a Srª vai ver, disse o major.<br />

Não sei com quem esse homem falou, mas depois dessa conversa, três soldados com<br />

metralhadoras em punho me levaram para ver Eduardo. Lembro-me que o local onde ele estava<br />

preso, era bastante longe. Nós passamos por muitos corredores. Então, me deixaram em uma sala.<br />

Depois, ouvi portas abrindo e apareceu Eduardo. Ele vinha com a cabeça coberta por um capuz<br />

verde. Tiraram e notei que ele não tinha cabelo nenhum. Não me deixaram chegar perto dele. Nós<br />

ficamos conversando de longe. Eu deixei uma sacola com escova de dente, creme, desodorante e<br />

roupa. Tinha levado também doces, chocolates, queijo, mas isso eles mandaram tirar da sacola.<br />

Depois disso, fui embora. Pelo menos, pude ver que ele estava vivo”.<br />

A história parece surreal até mesmo inverossímil. Mas era assim que as Forças Armadas<br />

atuavam quando se tratava do combate à Guerrilha do Araguaia. Nunca foram reconhecidos,<br />

oficialmente, prisioneiros da guerrilha do Araguaia. José Genoíno Neto e Dower Cavalcante,<br />

foram os únicos sobreviventes a denunciarem publicamente na Auditoria Militar a existência de<br />

um movimento armado no Araguaia, e as torturas sofridas. Luzia Ribeiro, presa em maio de<br />

1972, esteve presa cerca de seis meses em Brasília, mas nunca respondeu a inquérito militar.<br />

Eduardo Monteiro também não. Oficialmente, eles nunca estiveram presos.<br />

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