UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - Facom - Universidade ...

Amores no Araguaia
O que é o amor? Quem compreende os desatinos do coração? “Se tudo cura o tempo, tudo
faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore,
quanto mais a corações de cera! O mesmo amar é causa de não amar e ter amado muito, de amar
a menos”, afirma o padre Antônio Vieira, sábia e barrocamente, no sermão Amor Menino.
Antônio Carlos foi o primeiro namorado de Dinalva. O jornalista Vítor Hugo, colega de
militância dos dois, afirma que o relacionamento afetivo era um exemplo de carinho e afeto
extremados. Eles conseguiam a façanha de estarem o tempo todo juntos de mãos dadas e
demonstravam publicamente o quanto se gostavam. O deputado federal pelo PSDB, João
Almeida, à época militante do PCB e colega, tem a lembrança dos dois sempre juntos. “Nós
brincavámos com os dois, porque eles não ficavam separados um minuto sequer. Eles almoçavam
juntos no restaurante universitário e iam de mãos dadas o percurso todo, do bairro do Canela à
Vitória”.
À amiga confidente Teodora Rocha, Dinalva comentou que considerava interessante só
possuir um namorado. “Eu tenho uma mente tão aberta às coisas, e só namorei com Antônio
Carlos”, dizia, em comparação a outras garotas que começavam a romper com as normas de
namorada fiel e questionar o comportamento social e as questões afetivas. No ano de 1969,
quando são aceitos para trabalhar no Departamento Nacional de Produção Mineral, no Rio de
Janeiro, resolvem casar. Foi uma cerimônia civil no cartório do Fórum Ruy Barbosa. Não houve
festas, e os amigos não estranharam o fato. No ano de 1968, os amigos Paulo Henrique e Cila,
levados pela contestação juvenil, já tinham renuciado o convencionalismo de cerimônias e
casamento tradicional.
Ao seguir o rumo das águas do Araguaia, Dinalva descobre um novo amor. Terá um
relacionamento afetivo com Gilberto Olímpio, também guerrilheiro, casado oficialmente com
Vitória Grabois. Gilberto pertencia à Comissão Militar. Luzia Ribeiro conviveu com Dinalva na
região de Caiano, pertencente ao Destacamento C. Num dia de muita chuva, quando enfrentavam
a primeira campanha do Exército, em abril de 72, a rede de Dinalva ficou molhada. À noite, ela
pediu a Luzia para ficar na mesma rede, postada a cem metros do solo entre as árvores da
44