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APRESENTAÇÃO
A Título de Memória Descritiva e Analítica sobre a natureza
do Projeto Experimental à Banca Examinadora
Passei anos da minha vida sem saber se tinha ainda um pai ou não. Lembro-me até
que, um dia, já morando em Santos, pensei ter ouvido minha irmã gritar “papai”.
Saí correndo feito um louco, rodei pela casa toda, fui pra rua,
procurei por todos os cantos, mas não o achei.
Ainda com uma tremedeira no corpo fui perguntar pra minha irmã.
Era engano meu. Ninguém tinha gritado. Sonhei centenas de vezes
com meu pai chegando um dia. Mas foram sonhos 1 .
O relato acima pertence às memórias de um garoto que, ainda adolescente, descobriu-se
órfão de um desaparecido político. Aos 11 anos, Marcelo Rubens Paiva teve que aprender a
conviver com a incerteza de não saber onde estava o seu pai. Vivo ou morto, onde estaria? No
dia 20 de janeiro de 1971, Rubens Beirodt Paiva, deputado federal cassado pelo Ato
Institucional nº 1 em 1964, teve a sua residência, um apartamento de classe média em
Ipanema, invadida e vasculhada por um grupo de seis homens, e ele levado, em seu próprio
carro, para o Quartel da 3ª Zona Aérea no Rio de Janeiro. Depois seria conduzido para o
Destacamento de Operações de Informações-Comando Operacional de Defesa Interna (DOI-
Codi/RJ). Trinta anos depois, a família já sabe que sua morte ocorreu nas dependências do
1 PAIVA, Marcelo Rubens. In: Feliz Ano Velho. 44 a . São Paulo: Brasiliense.1985, p.64
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