RELATOS DO EVANGELHO - GE Fabiano de Cristo
RELATOS DO EVANGELHO - GE Fabiano de Cristo
RELATOS DO EVANGELHO - GE Fabiano de Cristo
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
6 - NO LAR<br />
Sócrates, embora a noite fria, ficara um longo tempo entregue à meditação,<br />
repassando em sua memória tudo o que fizera em Atenas, nos seus contatos com<br />
os jovens e com alguns <strong>de</strong> seus discípulos.<br />
Sentia que, com o transcorrer dos anos, conseguiria fazer florescer em muitos<br />
corações o amor pela verda<strong>de</strong> e pela sabedoria, tão necessários para a maturação<br />
da Humanida<strong>de</strong>.<br />
Algo o ligava às alturas.<br />
Como que possuído por intraduzível sauda<strong>de</strong>, buscava, quase em vão, divisar no<br />
céu recoberto <strong>de</strong> nuvens o Verbo do Criador e, nesses momentos, seu coração se<br />
transferia da Terra para os paramos espirituais, pressentindo que algo transcendia<br />
a sua compreensão.<br />
Suspirou profundamente, qual ave que sonha com seu ninho.<br />
Assim, nesse estado d'alma, alcançou seu lar.<br />
Xantipa, sua esposa, mal ele a<strong>de</strong>ntrou, veio a seu encontro com um ar<br />
indisfarçável <strong>de</strong> apreensão.<br />
— Sócrates! Finalmente você chegou, são e salvo!<br />
— E por que esse espanto, mulher?<br />
— É que ouvi rumores, pela vizinhança, sobre juízes que querem prendê-lo! E,<br />
no fundo <strong>de</strong> minha alma, temi pelo pior!<br />
— Acalme-se, mulher — aconselhou-a o filósofo a sorrir. — Também sei dos<br />
que tramam contra mim. Contudo, que me po<strong>de</strong>riam fazer, além <strong>de</strong> aprisionar-me<br />
o corpo físico, se ninguém consegue sufocar os pensamentos que nos revelam os<br />
sinais <strong>de</strong> vida?!<br />
— Mas... Aprisioná-lo... Por que, Sócrates? Será que é por você estar criando<br />
uma vida mais nobre, entre os jovens da Grécia?<br />
O filósofo acalentou Xantipa.<br />
— Sabe, querida companheira! Tenho sonhado que algo que se encontra muito<br />
acima <strong>de</strong> nossas limitações vem ocorrendo nesta nossa terra. E como se<br />
estivéssemos a fazer uma sementeira <strong>de</strong> sabedoria, a fim <strong>de</strong> levedar a alma da<br />
Grécia com o fermento do Bem.<br />
Sentaram-se os dois, lado a lado.<br />
— Apesar <strong>de</strong> meus esforços, Xantipa, tenho visto sombras espirituais a rondar<br />
pelos monumentos <strong>de</strong> Atenas, qual se um exército macabro estivesse sendo<br />
mobilizado contra a Luz.<br />
— E... Você é o alvo <strong>de</strong>ssas sombras? Sócrates procurou tranquilizá-la.<br />
— Toda semeadura, Xantipa, tem o seu preço. E, se falo a linguagem da<br />
humilda<strong>de</strong> e do amor, o mundo em que estamos e que nos ouve po<strong>de</strong>rá estar se<br />
sentindo violentado.<br />
— Mas... Você nunca fez mal a ninguém!