Documento Sobre as Questos de VCM e Ligacao ... - UN Women
Documento Sobre as Questos de VCM e Ligacao ... - UN Women
Documento Sobre as Questos de VCM e Ligacao ... - UN Women
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Apesar <strong>de</strong>ste reconhecimento explícito da relação causal entre a <strong>VCM</strong> e os valores patriarcais que<br />
permeia a socieda<strong>de</strong>, a violência perpetrada contra <strong>as</strong> mulheres é predominantemente vista como um<br />
<strong>as</strong>sunto privado e isto impe<strong>de</strong> que muit<strong>as</strong> mulheres reportem actos <strong>de</strong> violência e <strong>as</strong> impe<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
procurar a ajuda externa. A pesquisa da <strong>VCM</strong> <strong>de</strong>scobriu que somente 10% <strong>de</strong> todos os c<strong>as</strong>os <strong>de</strong><br />
violência reportados no estudo foram reportados junto à polícia e entre aqueles que não foram<br />
reportados à polícia, mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> procuraram ajuda <strong>de</strong> parentes (57%). Apen<strong>as</strong> 36% procuraram<br />
ajuda <strong>de</strong> uma agência profissional (36%) 9<br />
.<br />
O facto <strong>de</strong> que a violência doméstica é ainda tratada principalmente como um <strong>as</strong>sunto privado que<br />
está, em parte, relacionado ao facto <strong>de</strong> que frequentemente o perpetrador é alguém que é conhecido<br />
10<br />
pela vítima, tal como um parente, amigo íntimo ou vizinho. Neste c<strong>as</strong>o, a violência ocorre no<br />
contexto <strong>de</strong> uma relação íntima que é normalmente resolvida pelos próprios cônjuges ou a família<br />
alargada. A Pesquisa da <strong>VCM</strong> <strong>de</strong>scobriu que <strong>as</strong> ofens<strong>as</strong> perpetrad<strong>as</strong> por não parceiros são mais que<br />
du<strong>as</strong> vezes prováveis <strong>de</strong> serem reportad<strong>as</strong> do que <strong>as</strong> ofens<strong>as</strong> cometid<strong>as</strong> pelo parceiro da vítima. 11<br />
As razões mais comuns por não informar são que “ela lidou com isto sozinha ou através da família<br />
alargada” (47%), ou consi<strong>de</strong>rando isto como “não sério” (15%) junto com um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> manter o<br />
12<br />
<strong>as</strong>sunto privado (9%), e medo <strong>de</strong> represáli<strong>as</strong> pelo perpetrador (11%). Est<strong>as</strong> constatações<br />
claramente sublinham a natureza privada percebida da violência contra <strong>as</strong> mulheres. Claro que<br />
muit<strong>as</strong> famíli<strong>as</strong> preferem solucionar os c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> violência através <strong>de</strong> sistem<strong>as</strong> <strong>de</strong> justiça<br />
costumeiros, particularmente n<strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>s rurais. Outra pesquisa constatou que no geral <strong>as</strong><br />
mulheres não contestam o direito m<strong>as</strong>culino <strong>de</strong> c<strong>as</strong>tigar a cônjuge ou parceira, respon<strong>de</strong>ndo <strong>as</strong>sim ao<br />
facto <strong>de</strong> que pouc<strong>as</strong> mulheres reportam c<strong>as</strong>os ou consi<strong>de</strong>ram a violência “séria”, m<strong>as</strong> que <strong>as</strong><br />
mulheres reportam a violência que consi<strong>de</strong>ram injusta ou infundada. 13<br />
A pesquisa <strong>de</strong> <strong>VCM</strong> também <strong>de</strong>scobriu que a maioria dos parceiros íntimos (70%) que são violentos<br />
contra mulheres nunca estiveram a cont<strong>as</strong> com a polícia como consequência do seu violento<br />
comportamento fora da c<strong>as</strong>a que sugere que estes homens não são violentos excepto com os seus<br />
parceiros do sexo feminino: “parece, portanto, que a violência contra <strong>as</strong> mulheres é um tipo muito<br />
específico <strong>de</strong> violência, relacionado com o domínio m<strong>as</strong>culino e valores patriarcais, bem como a<br />
14<br />
funções <strong>de</strong> género e expectativ<strong>as</strong>.”<br />
O facto da violência contra <strong>as</strong> mulheres não estar relacionada com a violência fora da c<strong>as</strong>a também<br />
explica por que atitu<strong>de</strong>s sociais ten<strong>de</strong>m a culpar <strong>as</strong> mulheres e <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> jovens que são<br />
consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> provocador<strong>as</strong> da agressão ou “serem mal comportad<strong>as</strong>.” Isto reforça a noção popular<br />
<strong>de</strong> que violência é o produto <strong>de</strong> indivíduos irresponsáveis que são vistos como c<strong>as</strong>os sociais. Esta<br />
percepção também é extensivamente radiodifundida pel<strong>as</strong> media que ten<strong>de</strong>m a informar <strong>de</strong> uma<br />
perspectiva sensacionalista, realçando os c<strong>as</strong>os mais horrendos que conduzem a resultados extremos<br />
como a morte <strong>de</strong> cônjuge. A violência sexual em particular é vista como resultado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo sexual<br />
9 MMAS, Pesquisa da <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.11<br />
10 Artur, Maria José & Mejia, Margarita, Coragem e Impunida<strong>de</strong>: Denúncia e tratamento da violência doméstica contra<br />
<strong>as</strong> mulheres em Moçambique (Maputo, 2006), p. 76, Tabela 10.<br />
11 MMAS, Pesquisa <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.11. O estudo afirma que 17% d<strong>as</strong> ofens<strong>as</strong> perpetrad<strong>as</strong> por não parceiros são<br />
reportad<strong>as</strong>, comparado com apen<strong>as</strong> 7% <strong>de</strong> ofens<strong>as</strong> perpetrad<strong>as</strong> por parceiros.<br />
12 MMAS, Pesquisa da <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.11<br />
13 Artur, Maria José & Mejia, Margarita, Coragem e Impunida<strong>de</strong>: Denúncia e tratamento da violência doméstica contra<br />
<strong>as</strong> mulheres em Moçambique (Maputo, 2006), p. 107-129.<br />
14 MMAS, Inquérito <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.10<br />
4