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Documento Sobre as Questos de VCM e Ligacao ... - UN Women

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Antece<strong>de</strong>ntes<br />

DOCUMENTO SOBRE AS QUESTÕES <strong>de</strong> <strong>VCM</strong> E LIGAÇÃO COM O HIV<br />

Como parte <strong>de</strong> seu programa global sobre o Orçamentação na Optica <strong>de</strong> Género (OOG), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000<br />

o <strong>UN</strong>IFEM tem vindo a colaborar estreitamente com o Governo <strong>de</strong> Moçambique e organizações <strong>de</strong><br />

mulheres para promover <strong>as</strong> metodologi<strong>as</strong> <strong>de</strong> OOG na planificação nacional e em processos <strong>de</strong><br />

alocação <strong>de</strong> recursos. A primeira f<strong>as</strong>e centrou-se sobre o aumento da consciência quanto ao OOG<br />

(i.e. i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> questões cruciais para a advocacia sobre o OOG e capacitação institucional). A<br />

segunda f<strong>as</strong>e, que começou em 2005, dá enfoque à promoção d<strong>as</strong> metodologi<strong>as</strong> do OOG, bem como<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> e mo<strong>de</strong>los replicáveis.<br />

O programa envolve o Governo e <strong>as</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil. Os intervenientes chave e<br />

lí<strong>de</strong>res do processo do OOG são o Ministério <strong>de</strong> Planificação e Desenvolvimento (MPD), o<br />

Ministério d<strong>as</strong> Finanç<strong>as</strong> (MINF), o Ministério da Mulher e Acção Social (MMAS), o Conselho<br />

Nacional para o Avanço <strong>de</strong> Mulher (CNAM), o Ministério do Interior (MINT), o Ministério da<br />

Saú<strong>de</strong> (MISAU), a Fórum Mulher e o Grupo Moçambicano da Dívida. Em consulta com o Governo<br />

e a socieda<strong>de</strong> civil foi acordado seleccionar algum<strong>as</strong> priorida<strong>de</strong>s nacionais como questões chave a<br />

volta d<strong>as</strong> quais <strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong> do GRB po<strong>de</strong>m ser monitorad<strong>as</strong>. Foi alcançado consenso para<br />

focalizar na VBG ou melhor VG (Violência contra a Mulheres), mortalida<strong>de</strong> materna e HIV/SIDA.<br />

Por conseguinte, foram seleccionados o MINT e o MISAU como sectores pilotos.<br />

Durante a implementação do programa, o pessoal sénior do MISAU levantou uma preocupação <strong>de</strong><br />

que enquanto a <strong>VCM</strong> é aceite como uma questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na prática muit<strong>as</strong> vezes não são<br />

enfatizad<strong>as</strong> <strong>as</strong> dimensões <strong>de</strong> género. 1<br />

(vale a pena inserir uma nota <strong>de</strong> rodapé explicando em pouc<strong>as</strong><br />

palavr<strong>as</strong>a diferença entre uma questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e uma questão <strong>de</strong> género). Há, portanto, um risco<br />

real <strong>de</strong> que a política oficial e <strong>as</strong> intervenções do MISAU abordam ina<strong>de</strong>quadamente <strong>as</strong> dimensões<br />

<strong>de</strong> género subjacentes <strong>de</strong> <strong>VCM</strong> e su<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> sobre a saú<strong>de</strong> pública. De igual modo, o<br />

Departamento da Mulher e Criança na polícia informa que a violência é muit<strong>as</strong> vezes compreendida<br />

como sendo consequência da pobreza e privação do que um resultado <strong>de</strong> valores patriarcais e<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género subjacentes.<br />

Por est<strong>as</strong> razões, foi comissionado um <strong>Documento</strong> sobre <strong>as</strong> questões que <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>linear <strong>as</strong><br />

dimensões <strong>de</strong> género da <strong>VCM</strong> Violência Contra a Mulher em relação à saú<strong>de</strong> pública, mortalida<strong>de</strong><br />

materna e HIV/SIDA, bem como <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> para serviços sensíveis ao género oferecidos por<br />

agentes da polícia nos Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento às Vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> Violência Doméstica localizados<br />

n<strong>as</strong> esquadr<strong>as</strong> da polícia.<br />

Talves seria interessante apresentar uma pagina com conceitos. Em algum momento falamos da<br />

Violência contra a Mulher (linguagem feminista) e noutros momentos <strong>de</strong> Violência B<strong>as</strong>eada no<br />

Género. Temos <strong>de</strong> procurar trazer clareza <strong>de</strong> conceitos para <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> perceberem o resto.<br />

Os objectivos <strong>de</strong>ste documento são:<br />

1 Isto é, muit<strong>as</strong> vezes a questão da violência é consi<strong>de</strong>rado pelos trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como um simples fenomeno<br />

causado por actos violentes sem questionar a origem social e cultural <strong>de</strong>ste comportamento; enfatizando <strong>as</strong><br />

consequênci<strong>as</strong> físic<strong>as</strong> corre-se o risco <strong>de</strong> apen<strong>as</strong> tratar <strong>as</strong> lesões e <strong>as</strong> ferid<strong>as</strong>, sem consi<strong>de</strong>rar os outros efeitos que a<br />

violência traz e que afectam a vítima.<br />

1


- Mostrar <strong>as</strong> ligações existentes entre a <strong>VCM</strong> e o sector <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública; <strong>de</strong>monstrando <strong>as</strong>sim<br />

claramente que a <strong>VCM</strong> é uma questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública e que respost<strong>as</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública<br />

a<strong>de</strong>quad<strong>as</strong> a <strong>VCM</strong> exigirão atenção às questões <strong>de</strong> género subjacentes;<br />

- I<strong>de</strong>ntificar algum<strong>as</strong> intervenções que o MISAU e os trabalhadores da saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m fazer,<br />

particularmente aquel<strong>as</strong> que po<strong>de</strong>m ser realizad<strong>as</strong> em colaboração com o MINT para<br />

fortalecer a estratégia tripla (criação <strong>de</strong> instrumentos legais para a prevenção e combate da<br />

<strong>VCM</strong>, fortalecimento e melhoramento <strong>de</strong> serviços para <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong>, <strong>de</strong>safio aos preconceitos<br />

sociais incluindo a reabilitação d<strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência);<br />

- Criar maior clareza e consciência sobre algum<strong>as</strong> dimensões <strong>de</strong> género fundamentais da <strong>VCM</strong><br />

em relação a intervenções pelo sector público (saú<strong>de</strong> e polícia) - e <strong>de</strong>sta forma po<strong>de</strong>rá ser um<br />

primeiro p<strong>as</strong>so para a advocacia da inclusão <strong>de</strong> medid<strong>as</strong> sensíveis ao género nos processos<br />

<strong>de</strong> planificação sectorial e na alocação <strong>de</strong> recursos.<br />

- Fortalecer os mecanismos <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação intersectorial tais como os Memorandos <strong>de</strong><br />

Entendimento entre MMAS e outros intervenientes e provedores <strong>de</strong> serviços às vitim<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

violência.<br />

<strong>VCM</strong> no contexto Moçambicano<br />

A <strong>VCM</strong> é um problema universal. De acordo com a OMS, pelo menos uma em cada três mulheres<br />

no mundo já foram batid<strong>as</strong>, foram coagid<strong>as</strong> a praticar sexo, ou mesmo abusad<strong>as</strong> na sua vida. Um<br />

relatório do Banco Mundial estimou que a nível mundial a violência contra <strong>as</strong> mulheres era tanto<br />

uma causa séria <strong>de</strong> morte e incapacida<strong>de</strong> entre <strong>as</strong> mulheres <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> reprodutiva quanto era o cancro,<br />

e era também uma maior causa <strong>de</strong> doença que os aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> viação e malária juntos. A violência<br />

sexual, uma forma específica <strong>de</strong> violência contra <strong>as</strong> mulheres, está a emergir como uma priorida<strong>de</strong><br />

global para a saú<strong>de</strong>. As estatístic<strong>as</strong> sugerem que também está difundido ao longo da região da<br />

SADC, incluindo Moçambique. 2<br />

Em Moçambique, um estudo recente mostrou que 54% d<strong>as</strong> mulheres inquirid<strong>as</strong> tinham<br />

3<br />

experimentado violência física ou sexual na sua vida. Estes números são consistentes com os<br />

números produzidos pelo MINT que mostram que a violência está a aumentar. 4<br />

Neste momento, o<br />

MINT possui 184 Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento às Vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> Violência Doméstica (daqui em diante<br />

<strong>de</strong>signados por: Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento) que registam um aumento fixo no número <strong>de</strong> c<strong>as</strong>os <strong>de</strong><br />

violência contra mulheres ao longo dos últimos anos.<br />

2<br />

OMS, O primeiro P<strong>as</strong>so para uma Resposta <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública contra a Violência Sexual em Moçambique, (Maputo,<br />

2006, p15.<br />

3<br />

MMAS, Pesquisa sobre a Violência contra <strong>as</strong> Mulheres, 2004 (<strong>UN</strong>ICEF, PNUD, OMS & <strong>UN</strong>FPA). Um total <strong>de</strong> 1927<br />

mulheres foram inquirid<strong>as</strong> na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo, Provínci<strong>as</strong> <strong>de</strong> Nampula, Zambézia, Manica e Sofala. A pesquisa era<br />

parte do Projecto da Pesquisa Internacional <strong>de</strong> Violência contra <strong>as</strong> Mulheres.<br />

4<br />

Também regista-se um aumento no numéro <strong>de</strong> c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> violência reportados por homens, m<strong>as</strong> na prática muitos<br />

agentes dos Gabinetes indicam que embora existem poucos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> violência perpetrada pel<strong>as</strong> parceir<strong>as</strong>/mulheres<br />

contra homens, esta subida tem mais à ver com uma outra tendência ou seja o maior numéro <strong>de</strong> homens que vêm<br />

queixar-se na esquadra solicitando o apoio da policia para “trazer” a esposa que abandonou o lar <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter levada<br />

porrada ou abuso. Comando Geral da Polícia, Departamento da Mulher e Criança.<br />

2


Numéro <strong>de</strong> c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> registados nos Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento<br />

# <strong>de</strong> c<strong>as</strong>os registados 2004 2005 2006<br />

Homens 1131 2059 2416<br />

Mulheres 6440 6648 8268<br />

Crianç<strong>as</strong> 1512 1144 1673<br />

Total 9083 10684 12357<br />

Fonte: MINT, Comando Geral da Polícia, Departamento da Mulher e Criança (2007)<br />

Enquanto este aumento estatístico po<strong>de</strong>rá ser em parte <strong>de</strong>vido ao aumento da cobertura geográfica<br />

dos Gabinetes Atendimento, está claro que para a maioria d<strong>as</strong> mulheres em Moçambique a violência<br />

é uma parte da sua vida quotidiana e uma parte da realida<strong>de</strong> presente em que el<strong>as</strong> vivem. A pesquisa<br />

mostra que um quinto d<strong>as</strong> mulheres vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência tinha experimentado ataques <strong>de</strong> violência<br />

no ano transacto. 5<br />

A <strong>VCM</strong> afecta <strong>as</strong> mulheres em todos os lugares, sem se importar se el<strong>as</strong> vivem em áre<strong>as</strong> urban<strong>as</strong> ou<br />

rurais, sem olhar para os níveis <strong>de</strong> educação e situação <strong>de</strong> emprego. Existem alguns factores que<br />

parecem sugerir uma maior vulnerabilida<strong>de</strong> à violência: por exemplo, a violência é mais comum<br />

entre <strong>as</strong> mulheres c<strong>as</strong>ad<strong>as</strong>; está <strong>as</strong>sociada com o ciúme m<strong>as</strong>culino, suspeita <strong>de</strong> infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e<br />

comportamento <strong>de</strong> controlo; surpreen<strong>de</strong>ntemente, também aparece com frequência entre mulheres<br />

6<br />

com níveis baixos <strong>de</strong> renda m<strong>as</strong> que têm palavra sobre como g<strong>as</strong>tar a sua própria renda.<br />

A <strong>VCM</strong> é uma questão b<strong>as</strong>tante complexa que é amoldada por uma imensidão <strong>de</strong> factores. A<br />

pesquisa mostra que não há nenhum único factor responsável pela violência praticada contra <strong>as</strong><br />

mulheres, m<strong>as</strong> que há muitos elementos que po<strong>de</strong>m provocar, legitimar ou perpetuar a violência<br />

7<br />

contra <strong>as</strong> mulheres. Estudos sublinham que a causa <strong>de</strong> raiz na violência doméstica resi<strong>de</strong> n<strong>as</strong><br />

relações <strong>de</strong>siguais que existem entre os homens e <strong>as</strong> mulheres e a estrutura patriarcal da socieda<strong>de</strong>.<br />

Por outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, a violência contra <strong>as</strong> mulheres é uma consequência directa d<strong>as</strong> relações <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>siguais entre os homens e <strong>as</strong> mulheres, legitimando a subordinação em todos os <strong>as</strong>pectos da<br />

vida. Por exemplo, comparativamente aos homens, <strong>as</strong> mulheres têm acesso e controlo limitado aos<br />

recursos económicos, tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão limitada, tanto <strong>de</strong>ntro da c<strong>as</strong>a como na vida pública,<br />

controlo limitado sobre o seu próprio corpo, menos acesso à educação, etc. Est<strong>as</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

resultam n<strong>as</strong> violações dos direitos humanos d<strong>as</strong> mulheres. Este ponto <strong>de</strong> vista foi também adoptado<br />

pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>: “a violência contra <strong>as</strong> mulheres é uma manifestação <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

historicamente <strong>de</strong>siguais entre os homens e <strong>as</strong> mulheres <strong>as</strong> quais conduziram à dominação e<br />

discriminação contra <strong>as</strong> mulheres pelos homens e para impedir o avanço total d<strong>as</strong> mulheres [...]” 8<br />

5<br />

MMAS, Pesquisa da <strong>VCM</strong> 2004, tabela 5.<br />

6<br />

MMAS, Pesquisa da <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.<br />

7<br />

Innocenti Digest (<strong>UN</strong>ICEF), Violência Doméstica contr<strong>as</strong> <strong>as</strong> Mulheres e Raparig<strong>as</strong>, Número 6, Julho <strong>de</strong> 2000, p.7.<br />

Estes factores são muito variados e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> conjunto específicos <strong>de</strong> circunstanci<strong>as</strong> <strong>de</strong> cada socieda<strong>de</strong>, m<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m<br />

incluir a composição familiar, o medo da sexualida<strong>de</strong> feminina, religião, legislação, mudanç<strong>as</strong> no estado económico,<br />

prestígio, etc. A OMS também usa um quadro que analisa <strong>as</strong> causa da violência contra <strong>as</strong> mulheres em quatro níveis,<br />

nomeadamente individual, relacionamento, factor comunida<strong>de</strong> e influênci<strong>as</strong> sociais/culturais. Ver OMS, O Primeiro<br />

P<strong>as</strong>so, p25-26.<br />

8<br />

Declaração d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> sobre a Eliminação da Violência contra <strong>as</strong> Mulheres, Resolução da Assembleia Geral,<br />

Dezembro <strong>de</strong> 1993.<br />

3


Apesar <strong>de</strong>ste reconhecimento explícito da relação causal entre a <strong>VCM</strong> e os valores patriarcais que<br />

permeia a socieda<strong>de</strong>, a violência perpetrada contra <strong>as</strong> mulheres é predominantemente vista como um<br />

<strong>as</strong>sunto privado e isto impe<strong>de</strong> que muit<strong>as</strong> mulheres reportem actos <strong>de</strong> violência e <strong>as</strong> impe<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

procurar a ajuda externa. A pesquisa da <strong>VCM</strong> <strong>de</strong>scobriu que somente 10% <strong>de</strong> todos os c<strong>as</strong>os <strong>de</strong><br />

violência reportados no estudo foram reportados junto à polícia e entre aqueles que não foram<br />

reportados à polícia, mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> procuraram ajuda <strong>de</strong> parentes (57%). Apen<strong>as</strong> 36% procuraram<br />

ajuda <strong>de</strong> uma agência profissional (36%) 9<br />

.<br />

O facto <strong>de</strong> que a violência doméstica é ainda tratada principalmente como um <strong>as</strong>sunto privado que<br />

está, em parte, relacionado ao facto <strong>de</strong> que frequentemente o perpetrador é alguém que é conhecido<br />

10<br />

pela vítima, tal como um parente, amigo íntimo ou vizinho. Neste c<strong>as</strong>o, a violência ocorre no<br />

contexto <strong>de</strong> uma relação íntima que é normalmente resolvida pelos próprios cônjuges ou a família<br />

alargada. A Pesquisa da <strong>VCM</strong> <strong>de</strong>scobriu que <strong>as</strong> ofens<strong>as</strong> perpetrad<strong>as</strong> por não parceiros são mais que<br />

du<strong>as</strong> vezes prováveis <strong>de</strong> serem reportad<strong>as</strong> do que <strong>as</strong> ofens<strong>as</strong> cometid<strong>as</strong> pelo parceiro da vítima. 11<br />

As razões mais comuns por não informar são que “ela lidou com isto sozinha ou através da família<br />

alargada” (47%), ou consi<strong>de</strong>rando isto como “não sério” (15%) junto com um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> manter o<br />

12<br />

<strong>as</strong>sunto privado (9%), e medo <strong>de</strong> represáli<strong>as</strong> pelo perpetrador (11%). Est<strong>as</strong> constatações<br />

claramente sublinham a natureza privada percebida da violência contra <strong>as</strong> mulheres. Claro que<br />

muit<strong>as</strong> famíli<strong>as</strong> preferem solucionar os c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> violência através <strong>de</strong> sistem<strong>as</strong> <strong>de</strong> justiça<br />

costumeiros, particularmente n<strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>s rurais. Outra pesquisa constatou que no geral <strong>as</strong><br />

mulheres não contestam o direito m<strong>as</strong>culino <strong>de</strong> c<strong>as</strong>tigar a cônjuge ou parceira, respon<strong>de</strong>ndo <strong>as</strong>sim ao<br />

facto <strong>de</strong> que pouc<strong>as</strong> mulheres reportam c<strong>as</strong>os ou consi<strong>de</strong>ram a violência “séria”, m<strong>as</strong> que <strong>as</strong><br />

mulheres reportam a violência que consi<strong>de</strong>ram injusta ou infundada. 13<br />

A pesquisa <strong>de</strong> <strong>VCM</strong> também <strong>de</strong>scobriu que a maioria dos parceiros íntimos (70%) que são violentos<br />

contra mulheres nunca estiveram a cont<strong>as</strong> com a polícia como consequência do seu violento<br />

comportamento fora da c<strong>as</strong>a que sugere que estes homens não são violentos excepto com os seus<br />

parceiros do sexo feminino: “parece, portanto, que a violência contra <strong>as</strong> mulheres é um tipo muito<br />

específico <strong>de</strong> violência, relacionado com o domínio m<strong>as</strong>culino e valores patriarcais, bem como a<br />

14<br />

funções <strong>de</strong> género e expectativ<strong>as</strong>.”<br />

O facto da violência contra <strong>as</strong> mulheres não estar relacionada com a violência fora da c<strong>as</strong>a também<br />

explica por que atitu<strong>de</strong>s sociais ten<strong>de</strong>m a culpar <strong>as</strong> mulheres e <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> jovens que são<br />

consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> provocador<strong>as</strong> da agressão ou “serem mal comportad<strong>as</strong>.” Isto reforça a noção popular<br />

<strong>de</strong> que violência é o produto <strong>de</strong> indivíduos irresponsáveis que são vistos como c<strong>as</strong>os sociais. Esta<br />

percepção também é extensivamente radiodifundida pel<strong>as</strong> media que ten<strong>de</strong>m a informar <strong>de</strong> uma<br />

perspectiva sensacionalista, realçando os c<strong>as</strong>os mais horrendos que conduzem a resultados extremos<br />

como a morte <strong>de</strong> cônjuge. A violência sexual em particular é vista como resultado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo sexual<br />

9 MMAS, Pesquisa da <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.11<br />

10 Artur, Maria José & Mejia, Margarita, Coragem e Impunida<strong>de</strong>: Denúncia e tratamento da violência doméstica contra<br />

<strong>as</strong> mulheres em Moçambique (Maputo, 2006), p. 76, Tabela 10.<br />

11 MMAS, Pesquisa <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.11. O estudo afirma que 17% d<strong>as</strong> ofens<strong>as</strong> perpetrad<strong>as</strong> por não parceiros são<br />

reportad<strong>as</strong>, comparado com apen<strong>as</strong> 7% <strong>de</strong> ofens<strong>as</strong> perpetrad<strong>as</strong> por parceiros.<br />

12 MMAS, Pesquisa da <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.11<br />

13 Artur, Maria José & Mejia, Margarita, Coragem e Impunida<strong>de</strong>: Denúncia e tratamento da violência doméstica contra<br />

<strong>as</strong> mulheres em Moçambique (Maputo, 2006), p. 107-129.<br />

14 MMAS, Inquérito <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.10<br />

4


m<strong>as</strong>culino. A violência é atribuída <strong>as</strong>sim ou a um <strong>de</strong>sejo natural ou a uma paixão incontrolável,<br />

frequentemente supostamente provocada pel<strong>as</strong> mulheres. 15<br />

Ao <strong>de</strong>sviar a atenção d<strong>as</strong> relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r subjacentes que estão na origem da violência contra <strong>as</strong><br />

mulheres, retratando violência como c<strong>as</strong>os sociais, ofusca a natureza estrutural <strong>de</strong> <strong>VCM</strong> (i.e. o facto<br />

que a origina é legitimado e perpetuada por valores patriarcais que são presentes em todos os<br />

<strong>as</strong>pectos da vida pública e privada).<br />

Resposta nacional à <strong>VCM</strong><br />

O Governo <strong>de</strong> Moçambique reconhece a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género como um <strong>as</strong>pecto fundamental <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento social e económico. Por exemplo, vários processos fundamentais <strong>de</strong> planeamento e<br />

documentos <strong>de</strong> polític<strong>as</strong> reconhecem explicitamente a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género como um tema<br />

transversal que <strong>de</strong>veria ser abordado sistematicamente pelos sectores do governo. Os objectivos <strong>de</strong><br />

igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género estão incluídos no PARPA II, Programa Quinquenal 2005-2009, PES 2007, e<br />

Objectivos <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milénio (2000). A Política Nacional <strong>de</strong> Género e Estratégia <strong>de</strong><br />

Implementação e o Plano Nacional para o Avanço da Mulher foram aprovados pelo Conselho <strong>de</strong><br />

Ministros em Março <strong>de</strong> 2006 e Outubro <strong>de</strong> 2007, respectivamente. Ambos contêm medid<strong>as</strong> multisectoriais<br />

para prevenir e mitigar a violência contra <strong>as</strong> mulheres.<br />

O país é também signatário <strong>de</strong> vári<strong>as</strong> convenções e <strong>de</strong>clarações internacionais que proíbem actos <strong>de</strong><br />

violência contra mulheres, como a Declaração <strong>de</strong> Beijing e Plataforma para Acção (1995); a<br />

Convenção sobre a Eliminação <strong>de</strong> Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> Form<strong>as</strong> <strong>de</strong> Discriminação Contra Mulheres (CEDAW)<br />

que entrou em vigor no contexto nacional em 1997; Declaração <strong>de</strong> Género dos Chefes do Estado da<br />

SADC (1998); Protocolo para a Carta Africana dos Direitos Humanos que realçam os Direitos<br />

Humanos da Mulher em África (adoptado na Cimeira da União Africana em 2003).<br />

O Governo <strong>de</strong> Moçambique reconhece que tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> proteger os direitos humanos d<strong>as</strong><br />

mulheres. Como a instituição do governo responsável pela promoção <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género e dos<br />

direitos da mulher, o Ministério para a Mulher e Acção Social (MMAS) tem um papel especial <strong>de</strong><br />

coor<strong>de</strong>nar os diferentes parceiros, a socieda<strong>de</strong> governamental e civil, na luta para eliminar a<br />

violência contra <strong>as</strong> mulheres. Em 2002 o MMAS elaborou um Plano <strong>de</strong> Acção para Combater a<br />

Violência Contra <strong>as</strong> Mulheres e Crianç<strong>as</strong> (PACV) esboçando medid<strong>as</strong> fundamentais a serem<br />

implementad<strong>as</strong> pelo governo e pel<strong>as</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil. O MMAS está encabeçando<br />

uma parceria estratégica com outr<strong>as</strong> instituições do governo e a socieda<strong>de</strong> civil a fazer lobby para a<br />

adopção <strong>de</strong> uma nova lei que vai criminalizar a violência doméstica.<br />

O Ministério do Interior (MINT) está a implementar vári<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> para combater violência,<br />

incluindo a formação em direitos humanos e em direitos humanos da mulher, sensibilização para<br />

recrutar mais políci<strong>as</strong> <strong>de</strong> sexo feminino, e a criação <strong>de</strong> instalações para Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento<br />

situad<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro d<strong>as</strong> esquadr<strong>as</strong> da polícia on<strong>de</strong> <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência po<strong>de</strong>m apresentar queix<strong>as</strong><br />

contra os perpetradores. Estes Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento estão actualmente a funcionar em todos os<br />

distritos. Durante os anos <strong>de</strong> 2003-2005, o MINT juntamente com a socieda<strong>de</strong> civil, em particular a<br />

WLSA e a Oxfam-Bélgica, implementaram em 2003-2005 um programa <strong>de</strong> formação visando<br />

proporcionar aos políci<strong>as</strong> habilida<strong>de</strong>s especiais em lidar com <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência. Porem, é<br />

importante notar que o estabelecimento <strong>de</strong> Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento em si não é suficiente para<br />

15 OMS, O Primeiro P<strong>as</strong>so, p 12<br />

5


garantir bo<strong>as</strong> condições <strong>de</strong> atendimento; a prática já vem mostrando que em muitos c<strong>as</strong>os os<br />

gabinetes carecem <strong>de</strong> meios humanos, materiais e financieros, o que tem prejudicado a qualida<strong>de</strong><br />

dos serviços prestados.<br />

O MISAU i<strong>de</strong>ntificou du<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> específic<strong>as</strong> para respon<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência:<br />

tratamento <strong>de</strong> dano físico (sob a responsabilida<strong>de</strong> da Direcção Nacional <strong>de</strong> Assistência Médica) e<br />

serviços <strong>de</strong> medicina legal, sendo o Departamento <strong>de</strong> Doenç<strong>as</strong> Não Transmissíveis responsável pelo<br />

controlo epi<strong>de</strong>miológico. Em Fevereiro <strong>de</strong> 2002 um projecto <strong>de</strong> Violência b<strong>as</strong>eada no Género foi<br />

iniciado em Maputo pelo MISAU em colaboração com a Kulaya e <strong>UN</strong>FPA para formar o pessoal <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> em quatro hospitais da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo e em 2 centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que provi<strong>de</strong>nciam serviços<br />

<strong>de</strong> urgência 24 hor<strong>as</strong> por dia. Os primeiros resultados mostram que os provedores dos serviços <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> são muito positivos e ganharam consciência acrescida sobre <strong>as</strong> caus<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência,<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género, direitos humanos etc. No Hospital Central <strong>de</strong> Maputo vários serviços foram<br />

integrados numa re<strong>de</strong> que inclui: serviços <strong>de</strong> urgência, medicina legal, serviços <strong>de</strong> ginecologia,<br />

serviços <strong>de</strong> pediatria, <strong>de</strong>rmatologia e <strong>de</strong> doenç<strong>as</strong> venére<strong>as</strong>, e a Kulaya e outros parceiros tais o<br />

CERPIJ para o aconselhamento <strong>de</strong> trauma psico-social. Porém, esta gama extensiva <strong>de</strong> serviços<br />

integrados só está disponível em Maputo.<br />

No momento, serviços <strong>de</strong> medicina legal estão disponíveis apen<strong>as</strong> em Maputo e Beira. Na ausência<br />

<strong>de</strong> especialist<strong>as</strong> <strong>de</strong> medicina legal formalmente treinados, a função <strong>de</strong> medicina legal é<br />

<strong>de</strong>sempenhada pelos serviços <strong>de</strong> urgência (ou por um ginecologista no c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> estupro ou violência<br />

sexual). É então importante proporcionar aos médicos e enfermeir<strong>as</strong> dos serviços <strong>de</strong> urgência <strong>as</strong><br />

habilida<strong>de</strong>s necessári<strong>as</strong> para prestar atenção a esta tarefa importante e sensível. Sendo <strong>as</strong>sim, o<br />

sector <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> enfrenta o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> <strong>as</strong>segurar que os serviços integrados e serviços <strong>de</strong> medicina<br />

legal apropriados estão disponíveis no âmbito nacional, particularmente como a lei estipula que sem<br />

“prova” legal, acusações contra perpetradores <strong>de</strong> violência não po<strong>de</strong>m ser sustentad<strong>as</strong> em tribunal.<br />

A violência contra <strong>as</strong> mulheres foi um tema central d<strong>as</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil que<br />

trabalham em prol da igualda<strong>de</strong> da mulher e do género <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos noventa. Em particular, a<br />

campanha nacional Todos Contra a Violência (TCV) foi criada juntando o governo e a socieda<strong>de</strong><br />

civil para encabeçar uma abordagem multi-sectorial, proporcionando às vítim<strong>as</strong> feminin<strong>as</strong> da<br />

violência o acesso aos serviços <strong>de</strong> aconselhamento legais, médicos e psico-sociais. Em 2000 a<br />

Fórum Mulher e su<strong>as</strong> organizações membros participaram em Março na Marcha Mundial e<br />

apresentaram ao governo uma lista <strong>de</strong> reivindicações <strong>de</strong> direitos incluindo o direito a liberda<strong>de</strong> da<br />

violência. Des<strong>de</strong> então, a violência <strong>de</strong> género continuou sendo uma questão <strong>de</strong> extrema preocupação<br />

para <strong>as</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m os direitos da mulher e a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género<br />

que implementaram medid<strong>as</strong> para proteger <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência, provi<strong>de</strong>nciam serviços<br />

a<strong>de</strong>quados para <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong>, e a revisão da legislação com o objectivo <strong>de</strong> criar instrumentos legais<br />

para penalizar a violência contra <strong>as</strong> mulheres. Além disso, a pesquisa abrangente e <strong>de</strong>talhada sobre a<br />

violência b<strong>as</strong>eada no género foi levada a cabo por parceiros locais como WLSA e CEA/UEM e<br />

muito trabalho esta sendo feito por gabinetes <strong>de</strong> atendimento da socieda<strong>de</strong> civil como Mulei<strong>de</strong>,<br />

AMMCJ, Assomu<strong>de</strong> em Marracuene, Amu<strong>de</strong>ia na Manhiça entre outros ao longo do país. Se<br />

tomarmos em conta estes serviços prestados por outr<strong>as</strong> organziações, os números apresentados pelo<br />

MINT po<strong>de</strong>rão aumentar significativamente.<br />

A <strong>VCM</strong> como <strong>as</strong>sunto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública<br />

6


O sistema <strong>de</strong> cuidados médicos <strong>de</strong>para-se com <strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência contra <strong>as</strong> mulheres, e<br />

especialmente a violência sexual, na prática clínica quotidiana. Em particular, esta toma a forma <strong>de</strong>:<br />

dano físico, gravi<strong>de</strong>z, infecção com HIV, exposição a outr<strong>as</strong> infecções sexualmente transmitid<strong>as</strong>, e<br />

trauma psicológico.<br />

Dano físico<br />

Os danos sofridos por mulheres por causa <strong>de</strong> abuso físico e sexual po<strong>de</strong>m ser extremamente sérios.<br />

Muitos inci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>as</strong>salto resultam em danos, variando <strong>de</strong> contusões e fractur<strong>as</strong> a inaptidões<br />

crónic<strong>as</strong>. A <strong>VCM</strong> é um bom profeta para o uso <strong>de</strong> serviços médicos porque uma gran<strong>de</strong><br />

percentagem <strong>de</strong>st<strong>as</strong> requer tratamento médico. De Janeiro a Junho <strong>de</strong> 2006, o MISAU levou a cabo<br />

um estudo sobre violência contra <strong>as</strong> mulheres. O estudo entrevistou 899 mulheres que foram tratad<strong>as</strong><br />

nos serviços <strong>de</strong> urgência <strong>de</strong> quatro hospitais e três centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo<br />

estudo <strong>de</strong>scobriu que 48% <strong>de</strong>l<strong>as</strong> tinham chegado aos cuidados <strong>de</strong> urgência como consequência<br />

directa da violência.<br />

Um sistema abrangente <strong>de</strong> colecta <strong>de</strong> dados sobre violência ainda não foi instalado n<strong>as</strong> unida<strong>de</strong>s<br />

sanitári<strong>as</strong>. De momento, <strong>as</strong> sal<strong>as</strong> <strong>de</strong> urgência registam somente a natureza do dano (por exemplo<br />

choque) sem registar a causa (por exemplo queda durante o espancamento) e sem registar a<br />

progressão do dano (por exemplo morte <strong>de</strong>vido a hemorragi<strong>as</strong>).<br />

Consi<strong>de</strong>rando que frequentemente <strong>as</strong> mulheres não informam sobre a agressão física às autorida<strong>de</strong>s<br />

policiais, a unida<strong>de</strong> sanitária é frequentemente o primeiro contacto entre a vítima <strong>de</strong> violênci<strong>as</strong> e <strong>as</strong><br />

autorida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m oferecer serviços. As vítim<strong>as</strong> requerem um tratamento abrangente e uma<br />

gama <strong>de</strong> serviços, variando <strong>de</strong> diagnóstico médico correcta ao aconselhamento psicológico. Assim é<br />

muito importante que danos que resultam <strong>de</strong> violência sejam reconhecidos e que sejam tratados<br />

como tal em vez <strong>de</strong> tratá-los como meros ossos fracturados, fractur<strong>as</strong>, hemorragi<strong>as</strong> etc. e que uma<br />

gama abrangente <strong>de</strong> serviços esteja disponível numa unida<strong>de</strong> sanitária separada. Enquanto que a<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>veria estar separada no sentido do seu pessoal ser formado especialmente para lidar com<br />

a violência, é importante que seja integrado no recinto da unida<strong>de</strong> sanitária para atrair os usuários e<br />

evitar a marginalização dos serviços.<br />

Também é perpetrada a violência contra <strong>as</strong> mulheres grávid<strong>as</strong>, frequentemente pelo pai da criança.<br />

A Pesquisa <strong>de</strong> <strong>VCM</strong> <strong>de</strong>scobriu que 13% d<strong>as</strong> mulheres entrevistad<strong>as</strong> tinham vivido alguma forma <strong>de</strong><br />

17<br />

abuso físico durante a gravi<strong>de</strong>z . A pesquisa da OMS i<strong>de</strong>ntificou violência durante a gravi<strong>de</strong>z como<br />

um risco para a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> mães e do seu bebé por n<strong>as</strong>cer. Pesquis<strong>as</strong> nesta área mostram gran<strong>de</strong>s<br />

níveis <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições: abuso durante a gravi<strong>de</strong>z era um factor <strong>de</strong> risco significante<br />

para o baixo peso ao n<strong>as</strong>cimento, baixo ganho <strong>de</strong> peso materno, infecções e anemia.<br />

Gravi<strong>de</strong>z<br />

Violênci<strong>as</strong> contra <strong>as</strong> mulheres po<strong>de</strong>m resultar em gravi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>sejada, seja por estupro ou<br />

afectando a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mulher para negociar uso <strong>de</strong> anticonceptivos. Por exemplo, algum<strong>as</strong><br />

mulheres po<strong>de</strong>m ter medo <strong>de</strong> levantar o <strong>as</strong>sunto <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> anticonceptivo com os seus parceiros<br />

sexuais por medo <strong>de</strong> serem batid<strong>as</strong> ou abandonad<strong>as</strong>. Em Moçambique a maioria <strong>de</strong> mulheres sujeit<strong>as</strong><br />

16 OMS, O Primeiro P<strong>as</strong>so, p 21.<br />

17 MMAS, Inquérito <strong>VCM</strong> 2004, 2.5.4.<br />

16<br />

. O<br />

7


à violência não usam nenhum método anticonceptivo para prevenir a gravi<strong>de</strong>z: na altura da Pesquisa<br />

<strong>de</strong> <strong>VCM</strong>, apen<strong>as</strong> 20% estavam usando alguma forma <strong>de</strong> preservativo 18<br />

.<br />

Quando uma gravi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>sejada acontece, muit<strong>as</strong> mulheres tentam solucionar o seu dilema<br />

através do aborto. Em países como Moçambique on<strong>de</strong> o aborto é ilegal, caro ou difícil <strong>de</strong> obter, <strong>as</strong><br />

mulheres po<strong>de</strong>m recorrer a abortos ilegais, às vezes com consequênci<strong>as</strong> fatais. Em Moçambique, <strong>de</strong><br />

acordo com <strong>as</strong> estatístic<strong>as</strong> hospitalares, o aborto insegurocontribui com cerca <strong>de</strong> 11% a mortalida<strong>de</strong><br />

19<br />

institucional.<br />

Porém, a gravi<strong>de</strong>z po<strong>de</strong> ser evitada até 72 hor<strong>as</strong> <strong>de</strong>pois da relação sexual. Por est<strong>as</strong> razões, é<br />

imperioso que <strong>as</strong> unida<strong>de</strong>s sanitári<strong>as</strong> provi<strong>de</strong>nciem tratamento para prevenir a gravi<strong>de</strong>z, como parte<br />

do pacote total <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> cuidados médicos provi<strong>de</strong>nciados às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência sexual.<br />

Infecções sexualmente transmitid<strong>as</strong>, incluindo HIV<br />

A ameaça <strong>de</strong> violência também intensifica a vulnerabilida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> mulheres, <strong>de</strong> contrair infecções<br />

sexualmente transmitid<strong>as</strong> (ITS) porque el<strong>as</strong> não são capazes <strong>de</strong> negociar a protecção. As mulheres<br />

com ISTs têm um risco <strong>de</strong> complicações mais elevado durante a gravi<strong>de</strong>z, incluindo sepsia, aborto<br />

espontâneo e n<strong>as</strong>cimento prematuro; bem como o risco <strong>de</strong> infecção pélvica crónica mais elevado<br />

que po<strong>de</strong> prejudicar a fertilida<strong>de</strong>.<br />

Algum<strong>as</strong> ITSs aumentam também a vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mulher ao vírus <strong>de</strong> HIV. A violência<br />

sexual agressiva também po<strong>de</strong> aumentar os riscos d<strong>as</strong> mulheres porque a rotura resultante do tecido<br />

vaginal <strong>de</strong>licado, permite a entrada fácil do vírus na circulação sanguínea. A violência sexual é<br />

muito predominante entre mulheres jovens que representam o grupo com a maior taxa <strong>de</strong> infecção<br />

com HIV (mulheres com ida<strong>de</strong> compreendida entre 18-24 anos) são quatro vezes mais propens<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

serem seropositiv<strong>as</strong> do que os homens da mesma ida<strong>de</strong>. Portanto, em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> violência sexual, o<br />

pessoal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria levar a cabo uma avaliação rotineira do risco <strong>de</strong> IST e infecção <strong>de</strong> HIV e<br />

prosseguir a administração <strong>de</strong> prophylaxia. De acordo com vários estudos, o risco <strong>de</strong> violência<br />

20<br />

sexual e violação d<strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> jovens está a aumentar .<br />

As ligações entre a violência, igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género e HIV estão se tornando mais visíveis, dado que a<br />

epi<strong>de</strong>mia continua a afectar cada vez mais <strong>as</strong> famíli<strong>as</strong>. A preocupação particular é o facto <strong>de</strong> que o<br />

medo da violência constitui uma barreira principal para a testagem e para a revelação <strong>de</strong> estado <strong>de</strong><br />

HIV aos parceiros sexuais para <strong>as</strong> mulheres seropositiv<strong>as</strong>. Realmente, a pesquisa internacional e<br />

evidência anedótica <strong>de</strong> Moçambique sugere que a violência é também um resultado <strong>de</strong> revelação<br />

entre algum<strong>as</strong> mulheres.<br />

21<br />

Como <strong>as</strong> mulheres rotineiramente são provi<strong>de</strong>nciad<strong>as</strong> testagem como<br />

parte <strong>de</strong> cuidados pré-natais, est<strong>as</strong> são frequentemente os primeiros membros da família a serem<br />

diagnosticad<strong>as</strong> com HIV e <strong>as</strong>sim po<strong>de</strong>m ser percebid<strong>as</strong> como “tendo sido el<strong>as</strong> a trazer o HIV na<br />

família.” Isto sublinha a importância crítica <strong>de</strong> formar o pessoal da saú<strong>de</strong> para rigorosamente<br />

respeitar o princípio <strong>de</strong> confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> e apoiar <strong>as</strong> mulheres seropositiv<strong>as</strong> perante relações<br />

abusiv<strong>as</strong> e violent<strong>as</strong>. Isto po<strong>de</strong> ser feito realizando através <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> encaminhamento à<br />

18<br />

MMAS, Inquérito <strong>VCM</strong> 2004, 2.5.3.<br />

19<br />

MISAU, Encontro com Li<strong>de</strong>ranç<strong>as</strong> d<strong>as</strong> ONGs filiados ao Forum Mulher sobre o Tema: Projecto <strong>de</strong> Lei sobre<br />

Interrupção <strong>de</strong> Gravi<strong>de</strong>z (16/08/2007).<br />

20<br />

MISAU, PES 2006: Balanço Anual d<strong>as</strong> Activida<strong>de</strong>s Realizad<strong>as</strong> (Abril 2007) Relatório da Criança.<br />

21<br />

O número <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> tratad<strong>as</strong> no Hospital Central (Maputo) por violência sexual aumentou <strong>de</strong> 55 em 2005 para 57<br />

em 2006. A Save the Children UK e WLSA também constataram que <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> são mais vulneráveis à violência<br />

sexual ainda na sua infância.<br />

8


organizações que oferecem serviços para <strong>as</strong> mulheres vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência, incluindo re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />

ao parceiro 22 .<br />

Trauma psicológica<br />

A experiência da violência tem algum<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> psicológic<strong>as</strong> sever<strong>as</strong>, tais como <strong>de</strong>pressão,<br />

ansieda<strong>de</strong>, isolamento, e po<strong>de</strong> conduzir até mesmo em c<strong>as</strong>os extremos ao suicídio como último<br />

recurso para escapar <strong>as</strong> relações violent<strong>as</strong>. As crianç<strong>as</strong> em particular sofrem trauma quando el<strong>as</strong><br />

testemunham ou vivem situações <strong>de</strong> violência e são mais prováveis <strong>de</strong> reproduzir este<br />

comportamento mais tar<strong>de</strong> na vida adulta.<br />

Com algum<strong>as</strong> excepções, o apoio psicológico a<strong>de</strong>quado não está disponível, em parte <strong>de</strong>vido à falta<br />

<strong>de</strong> instalações e <strong>de</strong> profissionais e, em outros c<strong>as</strong>os, por falta <strong>de</strong> recursos para remunerar estes<br />

profissionais e por outro lado, <strong>de</strong>vido ao facto <strong>de</strong> que efeitos psicológicos, são frequentemente<br />

invisíveis.<br />

Os custos sociais da <strong>VCM</strong><br />

A violência contra <strong>as</strong> mulheres e <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> aumenta o risco da sua pobre saú<strong>de</strong>. Há uma maior<br />

consciência que a violência tem um impacto negativo na saú<strong>de</strong> física e mental da vítima. O custo<br />

para socieda<strong>de</strong> é enorme e inclui cuidados médicos <strong>de</strong> tratar <strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> médic<strong>as</strong> direct<strong>as</strong> <strong>de</strong> abuso<br />

sexual e físico; custos <strong>de</strong> serviços sociais, incluindo os serviços da protecção da criança e custos<br />

contraídos pela polícia, pelos tribunais e serviços legais para processar os perpetradores do abuso.<br />

Existem também custos económicos, pois a violência tem efeitos negativos na produtivida<strong>de</strong> e no<br />

emprego.<br />

A violência contra <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> jovens também tem efeitos negativos severos para uma geração<br />

futura <strong>de</strong> mulheres jovens. Por exemplo, em áre<strong>as</strong> on<strong>de</strong> o abuso sexual <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> sexo<br />

feminino por professores <strong>de</strong> sexo m<strong>as</strong>culino é prevalecente, <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m evitar ir à escola<br />

para escapar da atenção não <strong>de</strong>sejada. Em outros lugares, os pais que temem que <strong>as</strong> su<strong>as</strong> filh<strong>as</strong> sejam<br />

agredid<strong>as</strong> sexualmente, po<strong>de</strong>m mantê-l<strong>as</strong> em c<strong>as</strong>a, até que estejam “seguramente c<strong>as</strong>ad<strong>as</strong>.” Em<br />

muitos países, uma rapariga que fica grávida é tirada da escola, seja ou não a gravi<strong>de</strong>z resultado <strong>de</strong><br />

uma violação sexual. A consequência em todos os c<strong>as</strong>o, é uma educação reduzida, uma<br />

oportunida<strong>de</strong> diminuída <strong>de</strong> ganhar emprego seguro, e uma contribuição reduzida para a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida para a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta rapariga.<br />

As adolescentes que são abusad<strong>as</strong>, ou que foram abusad<strong>as</strong> na infância, são muito menos prováveis<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um senso <strong>de</strong> auto-estima e <strong>de</strong> pertença que aquel<strong>as</strong> que não sofreram o abuso. Isto<br />

po<strong>de</strong> conduzir a preocupação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> específica, como el<strong>as</strong> são mais provável <strong>de</strong> se negligenciarem<br />

e se ocuparem em comportamentos arriscados, tais como relações sexuais prematur<strong>as</strong> ou<br />

<strong>de</strong>sprotegid<strong>as</strong>. Acredita-se que <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> que são abusad<strong>as</strong> sexualmente durante a infância estão<br />

em maior risco <strong>de</strong> contrair a gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada durante a adolescência.É <strong>de</strong> salientar que a VBG<br />

também afecta negativamente os rapazes, no sentido <strong>de</strong> incrustar valores tradicionais <strong>de</strong><br />

m<strong>as</strong>culinida<strong>de</strong> principalmente <strong>as</strong>sociados à força física.<br />

22 OMS/Departamento <strong>de</strong> Género, Mulher e Saú<strong>de</strong>, Estratégi<strong>as</strong> e Recomendações para abordar a violência contra<br />

mulheres no Contexto <strong>de</strong> Testagem <strong>de</strong> HIV e Aconselhamento (Genebra, 2006)<br />

9


Porém, neste momento a dimensão verda<strong>de</strong>ira d<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência contra <strong>as</strong> mulheres e<br />

<strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> em Moçambique é difícil <strong>de</strong> medir, pois os registos médicos ainda não têm <strong>de</strong>talhes<br />

vitais relativamente a quais quer c<strong>as</strong>os violentos contra a saú<strong>de</strong>. Enquanto a violência for<br />

fundamentalmente uma violação <strong>de</strong> direitos humanos d<strong>as</strong> mulheres, os enormes custos sociais da<br />

violência, também justificam o investimento público em medid<strong>as</strong> chave para melhorar a resposta à<br />

violência.<br />

As funções complementares dos trabalhadores da saú<strong>de</strong> e dos Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento<br />

Os profissionais da saú<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> emergência do hospital, têm um papel crucial para<br />

ajudar <strong>as</strong> mulheres e <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> que vivem em situações <strong>de</strong> violência. Estes po<strong>de</strong>m ser os primeiros<br />

a examinar <strong>as</strong> mulheres prejudicad<strong>as</strong> pela violação sexual ou violência doméstica. Po<strong>de</strong>m também<br />

ser os primeiros a notar evidência <strong>de</strong> violência em mulheres ou abuso em crianç<strong>as</strong>. A violência po<strong>de</strong><br />

escalar em femicídio 23<br />

e frequentemente <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> ficam magoad<strong>as</strong> quando tentam <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r <strong>as</strong><br />

su<strong>as</strong> mães.<br />

A primeira preocupação é <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar cuidado e tratamento médicos correctos, incluindo a<br />

avaliação do risco <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong> ITS e <strong>de</strong> HIV e administração da profilaxia pos exposição para<br />

prevenir a infecção por HIV. É importante <strong>as</strong>segurar que <strong>as</strong> instalações especiais estejam<br />

disponíveis para <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência <strong>de</strong> modo que est<strong>as</strong> possam ser tratad<strong>as</strong> com a sensibilida<strong>de</strong><br />

e varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidados que a sua situação exige. Est<strong>as</strong> instalações <strong>de</strong>vem estar no recinto da<br />

unida<strong>de</strong> sanitária <strong>de</strong> modo a evitar a marginalização.<br />

Os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> têm uma responsabilida<strong>de</strong> especial para <strong>as</strong>segurar que a vítima é<br />

encaminhada para os provedores <strong>de</strong> serviços a<strong>de</strong>quados (por exemplo, aconselhamento legal, social<br />

e psicológico). Isto é especialmente aplicável quando a violência resulta em ferimentos severos<br />

qualificada pela lei, como sendo um crime (por exemplo: lesão corporal grave, violação sexual,<br />

incesto, relações sexuais com menores, etc.). Em tais c<strong>as</strong>os, os trabalhadores da saú<strong>de</strong> têm uma<br />

obrigação especial <strong>de</strong> administrar todos os cuidados médicos necessários e <strong>de</strong> aconselhar a vítima a<br />

procurar a intervenção através do Gabinete <strong>de</strong> Atendimento. Enquanto os crimes são “ públicos”, o<br />

pessoal médico <strong>de</strong>ve estar ciente do facto <strong>de</strong> que a violência é principalmente consi<strong>de</strong>rada uma<br />

questão “privada” e po<strong>de</strong> conduzir a estigmatização e mais violência. Isto clama pela importância <strong>de</strong><br />

confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> entre o profissional da saú<strong>de</strong> e a vítima, particularmente no c<strong>as</strong>o da testagem e<br />

aconselhamento para seropositivida<strong>de</strong>. Deve ficar claro que que <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violação sexual<br />

<strong>de</strong>vem ter acesso automático a profilaxia contra o HIV.<br />

Os oficiais da polícia no Gabinete <strong>de</strong> Atendimento po<strong>de</strong>m ajudar a vítima <strong>de</strong> vários modos,<br />

oferecendo uma solução que po<strong>de</strong>rá põr termo a violência (por exemplo, através da apresentação <strong>de</strong><br />

queix<strong>as</strong> contra o perpetrador) ou encaminhando a vítima a outros serviços <strong>de</strong> apoio e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />

disponíveis (por exemplo: aconselhamento psico-social, representação legal grátis, etc.) A colecta da<br />

prova po<strong>de</strong> ser muito importante para abrir um c<strong>as</strong>o; <strong>as</strong>sim o registo seguindo-se <strong>de</strong><br />

encaminhamento do c<strong>as</strong>o à saú<strong>de</strong> parece ser fundamental. Na prática, alguns Gabinetes <strong>de</strong><br />

Atendimento ampliaram a sua função <strong>de</strong> aconselhamento para uma função <strong>de</strong> mediação. Isto po<strong>de</strong><br />

presumivelmente ser entendido como uma tentativa pragmática para solucionar o conflito, através da<br />

mediação entre a vítima e o perpetrador enquanto os Gabinetes não têm a função <strong>de</strong> mediação e<br />

23 WLSA, Homicídio e Femicídio, Violência <strong>de</strong> Género: Resultados Fatais da Violência Contra a Mulher (Maputo).<br />

10


<strong>de</strong>veriam limitar-se à referir a vítima aos diversos serviços a<strong>de</strong>quados. Esta tentativa <strong>de</strong> mediação<br />

traz o risco <strong>de</strong> <strong>as</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> género e <strong>as</strong> violênci<strong>as</strong> resultantes serem perpetuad<strong>as</strong> (a menos<br />

que os oficiais da polícia sejam sensíveis às <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> género subjacentes que condicionam a<br />

violência). Isto requer um investimento sistemático na formação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> manuais e<br />

procedimentos <strong>de</strong> aconselhamento a serem usados por todos os Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento.<br />

É importante que tanto os profissionais da saú<strong>de</strong> como os da polícia possam lidar a<strong>de</strong>quadamente<br />

com os <strong>as</strong>pectos psico-sociais da violência (por exemplo; provi<strong>de</strong>nciar aconselhando, conselho e<br />

tratamento aos problem<strong>as</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental a<strong>de</strong>quados) e a violência psicológica A violência<br />

psicológica não é apen<strong>as</strong> difícil <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar, como também não é legalmente qualificado. Este<br />

<strong>as</strong>pecto está sendo realçado no manual <strong>de</strong> formação para o pessoal do centro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; a monitoria<br />

será importante bem como a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>as</strong>segurar a relação com a acção social e com <strong>as</strong><br />

organizações da socieda<strong>de</strong> civil.<br />

Pela lei, os tribunais não po<strong>de</strong>m julgar c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> violência sem prova a<strong>de</strong>quada. Esta prova está<br />

frequentemente em falta por causa <strong>de</strong> insuficiência <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> exames médicos legais e porque<br />

não há nenhum sistema <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> registo específico para danos relacionados com a<br />

violência. Esta é uma ligação vital para a integração <strong>de</strong> serviços. Também é importante reconhecer<br />

que em muitos c<strong>as</strong>os <strong>as</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong>sempenham um papel importante através<br />

da prestação <strong>de</strong> serviços, o que coloca à questão da integração <strong>de</strong> serviços e parceria entre o governo<br />

e a socieda<strong>de</strong> civil bem como a importância dos mécanismos <strong>de</strong> coordinação entre <strong>as</strong> diferentes<br />

entida<strong>de</strong>s governamentais (p.e. a importância <strong>de</strong> implantar Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento nos distritos<br />

on<strong>de</strong> existe alguma infraestrutura a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>).<br />

Priorida<strong>de</strong>s para planificação e investimento público<br />

Expandir o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> serviço integrado pilotado em Maputo -instalação em lugar separado<br />

m<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro do mesmo recinto.<br />

Provi<strong>de</strong>nciar formação para profissionais da saú<strong>de</strong> a investigarem a violência e aconselhar <strong>as</strong><br />

vítim<strong>as</strong> a apresentar queix<strong>as</strong> (por exemplo, <strong>de</strong>senvolver um protocolo para obrigar os<br />

trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento a aconselhar a vítima sobre diferentes<br />

serviços disponíveis, incluindo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong> uma queixa e provi<strong>de</strong>nciar<br />

acesso imediato a profilaxia anti-HIV <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência sexual).<br />

Estabelecer um sistema <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> registos e fortalecer os serviços <strong>de</strong> medicina legal<br />

(afectando mais médicos legist<strong>as</strong> e/ou através <strong>de</strong> provisão <strong>de</strong> formação a<strong>de</strong>quada a pessoal<br />

<strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> urgência/ginecologia) - beneficiando <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> reforma <strong>de</strong> informação<br />

da saú<strong>de</strong> para incorporar dados sobre a violência.<br />

Formar a Polícia para reconhecer a violência psicológica e como dar apoio a<strong>de</strong>quado ou<br />

encaminhar c<strong>as</strong>os com outros preovedores <strong>de</strong> serviços, uma vez que não existe um quadro<br />

legal sobre a violência psicológica.<br />

Abordar a questão <strong>de</strong> ligações entre a violência e HIV/SIDA, em particular a violência,<br />

especialmente na forma <strong>de</strong> abuso sexual como um risco <strong>de</strong> infecção d<strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> por HIV;<br />

11


- Violência como uma barreira ao acesso d<strong>as</strong> mulheres aos serviços <strong>de</strong> testagem <strong>de</strong> HIV.<br />

Despertar a consciência sobre a ligação entre HIV e a violência entre os gestores<br />

<strong>de</strong> programa, conselheiros e pacientes.<br />

- Violência como uma barreira a revelação e como um resultado <strong>de</strong> revelação.<br />

Implementar ferrament<strong>as</strong> que os conselheiros po<strong>de</strong>m usar para i<strong>de</strong>ntificar e<br />

aconselhar <strong>as</strong> mulheres que temem violência e outros resultados negativos<br />

<strong>de</strong>correntes da revelação.<br />

Oferecer mo<strong>de</strong>los alternativos para a revelação que inclui a revelação mediada<br />

pelos conselheiros<br />

- Violência como uma barreira para <strong>as</strong> mulheres que implementam <strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> <strong>de</strong> redução <strong>de</strong><br />

risco<br />

Ajudar <strong>as</strong> mulheres para <strong>de</strong>senvolver estratégi<strong>as</strong> para se protegerem ao negociar<br />

<strong>as</strong> relações sexuais segur<strong>as</strong>.<br />

- Necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio pós testagem para mulheres em relações <strong>de</strong><br />

violência.<br />

Estabelecer mecanismos <strong>de</strong> monitoria para aferir os progressos alcançados com a<br />

implementação dos program<strong>as</strong> em curso.<br />

Mapeamento dos serviços existentes e fortalecimento dos mecanismos <strong>de</strong> intervenção entre<br />

diferentes actores<br />

Conclusão<br />

A violência em Moçambique é um problema real e sério, que afecta a vida <strong>de</strong> mais do que meta<strong>de</strong><br />

d<strong>as</strong> mulheres neste país. Tem <strong>as</strong> su<strong>as</strong> raízes no <strong>de</strong>sequilibrio entre homens e mulheres, ou seja, nos<br />

valores culturais que atribuiem um estatuto socio-economico inferior às mulheres em relação aos<br />

homens.<br />

As consequênci<strong>as</strong> da violência não <strong>de</strong>vem ser abordad<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> em termos <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong><br />

conflitos, nem apen<strong>as</strong> em termos <strong>de</strong> cuidados médicos, mais sim como manifestações <strong>de</strong> um<br />

problema multidimensional.<br />

Face à esta complexida<strong>de</strong>, o Governo <strong>de</strong> Moçambique estabeleceu um quadro <strong>de</strong> polític<strong>as</strong>,<br />

estratégi<strong>as</strong> e orientações que propoem uma abordagem multisectorial com intervenções a serem<br />

realizad<strong>as</strong> por diferentes entida<strong>de</strong>, o que requer mécanismos <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação quer entre entida<strong>de</strong>s<br />

governamentais (p.e. MISAU, MINT e MMAS) bem como entre governo e entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong><br />

civil provedores <strong>de</strong> serviços às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência.<br />

Em particular, o MINT estabeleceu como meta a instalação <strong>de</strong> pelo menos um Gabinete <strong>de</strong><br />

Atendimento em cada distrito do território nacional até 2009 e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um protocolo<br />

que redige a <strong>as</strong>sistência policial às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência; isto implique vári<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> com o<br />

apetrechamento e formaçao <strong>de</strong> agentes da policia. Outr<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> intervenção contemplad<strong>as</strong> pelo<br />

MINT são a implantação <strong>de</strong> “Gabinetes mo<strong>de</strong>los” que reunem/integram todos os diferentes serviços<br />

12


<strong>de</strong> apoio às vítim<strong>as</strong> (serviços policiais, médicos, psicológicos, jurídicos) e que também funcionam<br />

como c<strong>as</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong> refúgio. Por seu lado, no que diz respeito à <strong>VCM</strong>, o MISAU i<strong>de</strong>ntificou vári<strong>as</strong> áre<strong>as</strong><br />

prioritári<strong>as</strong> <strong>de</strong> intervenção, tais como o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um protocolo <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> apoio às<br />

vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência, a administração <strong>de</strong> profilaxia contra HIV nos centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, formação <strong>de</strong><br />

profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sobre <strong>VCM</strong>, ampliação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> medicina legal e constituição <strong>de</strong> prova<br />

legal <strong>de</strong> violência, entre outros. Ambos os ministérios consi<strong>de</strong>ram que po<strong>de</strong>rão melhorar a<br />

qualida<strong>de</strong> e impacto dos serviços através <strong>de</strong> uma melhor concertação.<br />

È claro que est<strong>as</strong> intervenções só serão efectiv<strong>as</strong> se existirem recursos financeiros suficientes para<br />

suportar <strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>de</strong> implementação. E mais, embora que algum<strong>as</strong> initiativ<strong>as</strong> já estão a ser<br />

implementad<strong>as</strong> á b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> financiamentos concedidos no âmbito <strong>de</strong> “projectos pilotos” como por<br />

exemplo a criação <strong>de</strong> alguns Gabinetes mo<strong>de</strong>los em alguns distritos, a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes<br />

iniciativ<strong>as</strong> só será garantido pela inclusão d<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> nos planos e orçamentos sectorais. Por isso,<br />

este documento <strong>de</strong>ve ser contemplado em conjunto com os instrumentos da Orçamentação na Optica<br />

<strong>de</strong> Género, a qual <strong>de</strong>veria permitir uma análise do valor que custaria a realização <strong>de</strong>stes iniciativ<strong>as</strong><br />

bem como uma avaliação do nível <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fundos através dos planos e orçamentos<br />

sectoriais do MINT e MISAU.<br />

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SIGLAS (em or<strong>de</strong>m alfabético)<br />

AMMCJ – Associação Moçambicana <strong>de</strong> Mulheres <strong>de</strong> Carreira Jurídica (ONG <strong>de</strong>dicada a prestação<br />

<strong>de</strong> serviços legais/<strong>as</strong>sistência jurídica)<br />

Amu<strong>de</strong>ia - ONG/<strong>as</strong>sociação que presta serviços <strong>de</strong> apoio às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência<br />

Assomu<strong>de</strong> – ONG/<strong>as</strong>sociação que presta serviços <strong>de</strong> apoio às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência<br />

CEA/UEM – Centro <strong>de</strong> Estudos Africanos/Universida<strong>de</strong> Eduardo Mondlane<br />

CEDAW – Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination Against <strong>Women</strong><br />

CNAM – Conselho Nacional para o Avanço da Mulher, plataforme multisectorial para a promoção<br />

da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género e integração da dimensão género nos planos e orçamentos sectoriais<br />

conforme requer a implementação do PNAM; existe também a nível provincial e distrital on<strong>de</strong><br />

actuam os Conselhos Provinciais para o Avanço da Mulher e os Conselhos Distritais para o Avanço<br />

da Mulher respectivamente<br />

FM - Forum Mulher: forum <strong>de</strong> ONGs <strong>de</strong>dicados à promoção da igualda<strong>de</strong> entre homens e mulheres<br />

e <strong>de</strong>fesa dos direitos humanos da mulher<br />

Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento – serviçõs <strong>de</strong> apoio às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência, fonciona n<strong>as</strong> esquadr<strong>as</strong><br />

HIV – Human Immuno<strong>de</strong>ficiency Virus<br />

ITS – Infecção <strong>de</strong> Transmissão Sexual<br />

Kulaya - ONG/<strong>as</strong>sociação que presta serviços <strong>de</strong> apoio às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência<br />

MINF – Ministério d<strong>as</strong> Finanç<strong>as</strong><br />

MINT – Ministério do Interior<br />

MISAU _ Ministério da Saú<strong>de</strong><br />

MMAS – Ministério da Mulher e Acção Social<br />

MPD – Ministério do Plano e Desenvolvimento<br />

ODM – Objectivo <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milenio<br />

PACV – Plano <strong>de</strong> Acção para Combate à Violência contra mulheres e crianç<strong>as</strong><br />

PARPA – Plano <strong>de</strong> Acção para Redução da Pobreza Absoluta, instrumento chave da planificação<br />

governamental<br />

PES – Programa Economico e Social (do Governo) / Plano Economico e Social (sectorial)<br />

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PNAM – Plano Nacional para o Avanço da Mulher<br />

PNGEI – Política Nacional <strong>de</strong> Género e Estratégia <strong>de</strong> Implementação<br />

SADC – Southern African Development Community<br />

TCV – Todos Contra Violência; campanha nacional para melhorar e coor<strong>de</strong>nar os serviços <strong>de</strong> apoio<br />

às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> viol~encia<br />

UA – União Africana<br />

<strong>UN</strong>FPA – United Nations Population Fund<br />

<strong>UN</strong>IFEM – United Nations Development Fund for <strong>Women</strong><br />

WLSA – <strong>Women</strong> and Law in Southern Africa, ONG especializada em pesquisa, análise e<br />

divulgação <strong>de</strong> dados em relação ao estatuto da mulher; estes dados alimentam e reforçam advocacia<br />

para a <strong>de</strong>fesa e promoção dos direitos da mulher e a não discriminação<br />

GLOSSÀRIO (em or<strong>de</strong>m alfabético)<br />

OOG- Orçamento da Optica <strong>de</strong> Género - A Orçamentação da Optica <strong>de</strong> Género não se refere à um<br />

orçamento ou valor reservado para suportar algum<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> à favor <strong>de</strong> mulheres ou da promoção<br />

dos direitos da mulher, m<strong>as</strong> sim à uma metodologia que permite analisar a medida em que este tipo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> é incorporado nos planos e orçamentos sectorais/estatal. Isto permite analisar o impacto<br />

d<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> na vida d<strong>as</strong> mulheres e homens respectivamente.<br />

VBG – Violência B<strong>as</strong>eada no Género - A VBG refere-se aos tipos <strong>de</strong> violência que resultam do<br />

facto que <strong>as</strong> mulheres ocupam estatutos inferiores aos homens na vida social, economica e politica,<br />

ou seja, refere-se <strong>as</strong> relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre homens e mulheres que <strong>de</strong>ixam <strong>as</strong> mulheres mais<br />

vulneraveis. Assim, a VBG perpetua <strong>as</strong> relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sequilibrad<strong>as</strong>. A VGB é sustentada pela<br />

cultura <strong>de</strong> silêncio e ten<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> não levar em consi<strong>de</strong>ração a serieda<strong>de</strong> d<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong><br />

negativ<strong>as</strong> para a saú<strong>de</strong>. Para além do prejuizo que isto implica para a vítima, a VBG implica<br />

consi<strong>de</strong>raveis custos sociais bem como um <strong>de</strong>snecessario fardo para os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

<strong>VCM</strong>- Violência Contra Mulher – A <strong>VCM</strong> refere-se aos actos <strong>de</strong> violência perpetrados contra a<br />

mulher. È importante salientar que esta violência tem <strong>as</strong> su<strong>as</strong> raízes na vulnerabilida<strong>de</strong> da vítima, a<br />

qual tem a ver com <strong>as</strong> relações <strong>de</strong>siguais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre homens e mulheres.<br />

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