APRESENTAÇÃO Almanaque do Bicentenário de Pelotas (Vol. 1
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que aprofundavam a linha realista esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-a para a compreensão<br />
<strong>de</strong> ambientes rurais ainda virgens para a ficção.<br />
<strong>Vol</strong>tan<strong>do</strong> as costas para as modas que as elites urbanas importavam,<br />
tantas vezes por mero esnobismo, puseram-se a pesquisar o folclore<br />
e a linguagem <strong>do</strong> interior, alcançan<strong>do</strong>, em alguns momentos, efeitos<br />
notáveis (...): alguns <strong>do</strong>s nossos regionalistas prece<strong>de</strong>ram, em contexto<br />
diferente, o vivo interesse <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>rnos pela realida<strong>de</strong> brasileira<br />
total, não apenas urbana. Hoje, quan<strong>do</strong> já se incorporaram à nossa<br />
consciência literária o alto regionalismo crítico <strong>de</strong> Graciliano Ramos<br />
e a experiência estética universal <strong>do</strong> regionalista Guimarães Rosa, é<br />
mais fácil reconhecer o trabalho paciente e amoroso <strong>de</strong> um Val<strong>do</strong>miro<br />
e <strong>de</strong> um Simões Lopes, volta<strong>do</strong>s para a verda<strong>de</strong> humana da província”<br />
(Bosi, A. História concisa da literatura brasileira. 43 ed. São Paulo:<br />
Cultrix, 2006, p. 207. Grifo nosso).<br />
O intelectual que valoriza os abolicionistas e republicanos à frente <strong>de</strong> seu tempo<br />
Após <strong>de</strong>finir o “Programa” da Revista, é significativo que Simões indique o<br />
méto<strong>do</strong> como irá trabalhar na abordagem <strong>do</strong>s temas: “Daremos os retratos e<br />
traço biográfico das individualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque como fator pensante, dirigente,<br />
responsável, da nossa vida urbana” (no 1, p. 1. Grifo nosso). É, portanto, a<br />
capacida<strong>de</strong> intelectual que ele consi<strong>de</strong>ra como um valor <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m. O<br />
acento é importante, pois, embora Simões diga, na sequência, que não irá fazer<br />
uma abordagem cronológica das “individualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque”, ao tratar <strong>do</strong>s<br />
“Filhos ilustres”, ele opta por começar por um abolicionista: Antonio Ferreira<br />
Viana (que nasce numa charqueada em <strong>Pelotas</strong>, no ano <strong>de</strong> 1833). Assim, no<br />
exíguo espaço que possui para fornecer um “traço biográfico” <strong>de</strong> Ferreira Viana,<br />
Simões <strong>de</strong>staca justamente o seguinte: “É sua a glória <strong>de</strong> ter formula<strong>do</strong> o projeto<br />
<strong>de</strong> abolição absoluta e incondicional da escravatura. A lei <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> maio,<br />
como foi concebida e formulada é <strong>de</strong> sua inspiração” (no 1, p. 6). Não se trata,<br />
todavia, <strong>de</strong> um caso isola<strong>do</strong>.<br />
No segun<strong>do</strong> número da Revista, por exemplo, em “Notícia sobre a fundação<br />
das xarqueadas”, Simões observa que “João Baptista Roux, francês, que pelo fim<br />
da revolução farroupilha estava em Jaguarão”, veio trabalhar em <strong>Pelotas</strong> com<br />
“seu compatriota Eugène Salgues”, sen<strong>do</strong> que, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> charquea<strong>do</strong>r,<br />
“J. B. Roux [foi] o primeiro a empregar o braço livre num meio e numa época<br />
por inteiro oposto à inovação” (no 2, p. 11). E, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> volta a<br />
apresentar a relação <strong>do</strong>s “Filhos ilustres”, elege Felisberto Ignácio da Cunha, o<br />
“Barão <strong>de</strong> Corrientes”, pois, como enfatiza Simões, “antes da lei <strong>do</strong> ventre livre<br />
(28 <strong>de</strong> setembro [<strong>de</strong> 1871]) já os filhos das suas escravas eram por ele reconheci<strong>do</strong>s<br />
livres; antes da libertação <strong>do</strong> município, já ele havia concedi<strong>do</strong> a liberda<strong>de</strong><br />
plena a uns e a curto prazo <strong>de</strong> serviço a outros <strong>do</strong>s seus servos” (no 2, p. 12-13).<br />
Vê-se, portanto, que além <strong>de</strong> privilegiar vultos abolicionistas, a or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s “Filhos<br />
ilustres”, <strong>de</strong> fato, coloca o acento no “fator pensante, dirigente, responsável<br />
<strong>de</strong> nossa vida urbana”. Isto explica o fato <strong>de</strong> inicialmente surgir um advoga<strong>do</strong><br />
e político (Ferreira Viana), em seguida um charquea<strong>do</strong>r (Felisberto Ignácio da<br />
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