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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Ficção brasileira contemporânea e socieda<strong>de</strong><br />

diência ampla (o que talvez dificulte pensar em hegemonia, mesmo relativa,<br />

como quer Schwarz). Isso significava ampliar o fosso entre parte do movimento<br />

cultural e as camadas populares. Essa situação mantém-se até 1968, ano em<br />

que entra em cena o AI-5, quando a conjuntura é outra, cujo exame não é possível<br />

fazer aqui (Schwarz, 1978, pp. 62-63).<br />

Enfocando agora a literatura, digamos que ela não esteve entre os alvos<br />

principais da atuação da censura em razão <strong>de</strong> seu minguado alcance junto ao<br />

público em país <strong>de</strong> leitores escassos. Era muito mais proveitoso aos censores o<br />

controle, com maior rigor, sobre outros meios <strong>de</strong> difusão cultural <strong>de</strong> mais forte<br />

apelo popular. Assim, a prosa <strong>de</strong> ficção engajada permaneceu com alguma<br />

liberda<strong>de</strong>, cumprindo seu papel <strong>de</strong> ser uma força, ainda que em âmbito mo<strong>de</strong>sto,<br />

a se bater contra o arbítrio, a afirmar posturas críticas impossíveis <strong>de</strong> se sustentarem<br />

em outros meios. Claro que não se po<strong>de</strong> subestimar a atuação da censura<br />

– muitos livros foram proibidos. Os escritores não pu<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar<br />

possíveis restrições a seu trabalho. Verificam-se a tática do <strong>de</strong>spiste e outros<br />

cuidados em romances marcadamente políticos: a opção por situar a ação<br />

no exterior, como no livro <strong>de</strong> Érico Veríssimo O Senhor Embaixador (1965), e a<br />

opção por não aludir diretamente à ditadura militar brasileira no romance Pessach:<br />

a Travessia (1967), <strong>de</strong> Carlos Heitor Cony, são bons exemplos (Silverman,<br />

2000, p. 420-421). Evi<strong>de</strong>ntemente, o AI-5 é um marco nesse processo e após<br />

sua efetivação há maior tendência do romance à camuflagem pela via do mito,<br />

da alegoria, da fábula ou à crítica sutil pela via da introspecção (Silverman,<br />

2000, p. 423-424). Anote ainda que a partir <strong>de</strong> 1975, período em que se verifica<br />

certo boom editorial no país e a autocensura dos media já estava bem estabelecida,<br />

tornaram-se mais rigorosas as restrições aos livros (Süssekind, 1985, p.<br />

20-21). Outro sintoma da opressão política daquele momento, do ressaibo<br />

pela <strong>de</strong>rrota da resistência ao arbítrio, bem como da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com<br />

as barreiras impostas, está no surgimento, pelo início da década <strong>de</strong> 70, <strong>de</strong> um<br />

tipo <strong>de</strong> romance que se volta para os impasses do escritor, dividido entre a literatura<br />

e a política, para os malogros da esquerda e as <strong>de</strong>silusões quanto à viabilida<strong>de</strong><br />

dos rumos da revolução social, pondo em pauta as dificulda<strong>de</strong>s corres-<br />

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