Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
110 anos <strong>de</strong> crítica literária<br />
Camões e Castro Alves. Existem registrados oito livros <strong>de</strong> sua autoria sobre<br />
Camões, nesta década, inclusive um dicionário <strong>de</strong> Os Lusíadas e uma obra sobre<br />
a Medicina nessa epopéia. De Castro Alves, Peixoto fez, no mesmo período,<br />
uma gran<strong>de</strong> edição crítica das obras completas, uma antologia e um livro <strong>de</strong><br />
crítica. 11<br />
A marca da crítica <strong>de</strong> Afrânio Peixoto é a erudição literária e científica, aliada<br />
à questão da brasilida<strong>de</strong>. Consi<strong>de</strong>ra Castro Alves “o precursor <strong>de</strong> um brasileirismo,<br />
natural e intencional, como que a nossa in<strong>de</strong>pendência literária.” 12<br />
Ele não fazia crítica por <strong>de</strong>ver profissional, mas por prazer <strong>de</strong> diletante. Não<br />
estava ligado a grupos nem a polêmicas, apesar <strong>de</strong> os seus romances terem sido<br />
atacados por mo<strong>de</strong>rnistas, irritados com os reparos que fez ao Mo<strong>de</strong>rnismo.<br />
4. A década <strong>de</strong> 1927-1937 teve como expoente Tristão <strong>de</strong> Athay<strong>de</strong>, o primeiro<br />
crítico literário <strong>de</strong> peso do Mo<strong>de</strong>rnismo. Nela publicou as cinco séries<br />
<strong>de</strong> seus Estudos, bem como O Espírito e o Mundo. 13 Católico e conservador, extremamente<br />
culto e europeizante, amigo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnistas como Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>,<br />
o crítico se impunha pela qualida<strong>de</strong> e pelo embasamento filosófico <strong>de</strong> seus<br />
textos. Agora, saltava-se do diletantismo do cientista Afrânio Peixoto para o<br />
profissionalismo do filósofo-religioso Alceu Amoroso Lima, com o pseudônimo<br />
Tristão <strong>de</strong> Athay<strong>de</strong> – homem totalmente <strong>de</strong>dicado às Humanida<strong>de</strong>s.<br />
Com ele saía-se do impressionismo e entrava-se no expressionismo crítico.<br />
Não raro Athay<strong>de</strong> tentava agradar a gregos e troianos, avaliando balanceadamente<br />
os prós e os contras da matéria objeto da crítica. Um bom exemplo é<br />
o texto “Marinnetti”, saído na primeira série dos Estudos, em 1927. São exatas<br />
cinco páginas sobre os <strong>de</strong>feitos do Futurismo e outras tantas sobre as qualida<strong>de</strong>s,<br />
afirmando Athay<strong>de</strong>, em conclusão: “[...] o Futurismo é um estado <strong>de</strong> espí-<br />
11<br />
Um levantamento exaustivo <strong>de</strong> sua obra encontra-se em VIANA FILHO, Luís. Afrânio Peixoto:<br />
romance. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Agir Ed. , 1963. p. 108-110.<br />
12<br />
Apud GOMES, Eugênio. Castro Alves: poesia. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Agir Ed. 1960. p. 123.<br />
13<br />
ATHAYDE, Tristão <strong>de</strong>. Estudos (cinco séries: 1927,1928,1930,1931,1933); O espírito e o mundo<br />
(1936)<br />
119