Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
110 anos <strong>de</strong> crítica literária<br />
lo da sociologia” 4 , Romero ataca o nosso maior escritor, exatamente no ano <strong>de</strong><br />
instalação da <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>, pela qual Machado tanto batalhou.<br />
A respeito da poesia machadiana, diz Romero que as Americanas são um verda<strong>de</strong>iro<br />
<strong>de</strong>sastre, quase do princípio ao fim. “Nas Crisálidas e Falenas abundam<br />
também as páginas imprestáveis.” 5 Sobre Memórias Póstumas <strong>de</strong> Brás Cubas, afirma<br />
o crítico:<br />
“Tirem do livro aquela patacoada dos pequenos capítulos com títulos<br />
estapafúrdios e aquelas reticências pretensiosas, que aparecem amiú<strong>de</strong>, e<br />
diabos me levem se há ali humor digno <strong>de</strong>sse nome.” 6<br />
Romero às vezes compensa suas acerbas restrições com elogios irônicos,<br />
que mais se assemelham a cotas <strong>de</strong> ações afirmativas: não raro enxerga Machado<br />
como produto do meio que imita a Europa em tudo, que “copia” os escritores<br />
<strong>de</strong> lá em vez <strong>de</strong> buscar tons <strong>de</strong> brasilida<strong>de</strong>.<br />
Assim, o sergipano praticava um tipo <strong>de</strong> crítica polêmico, porque baseado na<br />
vingança literária. Que vingança foi aquela? Anos antes, Machado havia escrito<br />
um artigo em que acusava Romero <strong>de</strong> exagerar <strong>de</strong>masiadamente a importância<br />
<strong>de</strong> um movimento literário do Recife. E <strong>de</strong>clara este, nas primeiras linhas do<br />
prefácio <strong>de</strong> sua obra Machado <strong>de</strong> Assis: “Não retruquei e o faço agora”. Antes <strong>de</strong><br />
sair o livro, Romero tinha sido convidado para a solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instalação da<br />
<strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>, recebendo uma Ca<strong>de</strong>ira fundadora. É claro que Machado ficou aborrecidíssimo.<br />
Veio em seu socorro outro acadêmico – Lafayette Rodrigues Pereira<br />
– que escreveu um livro para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o presi<strong>de</strong>nte Machado <strong>de</strong> Assis. 7<br />
2. O crítico da década seguinte – 1907-1917 – é José Veríssimo, amigo <strong>de</strong><br />
Machado. Romero travou gritantes e surdas batalhas literárias com ele também.<br />
Sobretudo porque Veríssimo preconizava uma crítica estética, imanente ao tex-<br />
4<br />
ROMERO, Sílvio. Machado <strong>de</strong> Assis, cit., p. 115.<br />
5<br />
Id., ib., p. 44.<br />
6<br />
Id., ib., p. 84.<br />
7<br />
Trata-se do Vindiciae [Vingança] (1899).<br />
117