fontes e bibliografia - Arca - Fiocruz
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médicos que deixaram patenteado, em atos e palavras, o seu compromisso de<br />
reverenciar aquele que passou a ser considerado o mito de origem do sanitarismo no<br />
Brasil.<br />
Uma extensa <strong>bibliografia</strong> - cujo capítulo forte são as biografias, necrológios,<br />
panegíricos, textos encomiásticos - produzida a partir da morte de Oswaldo Cruz,<br />
constitui um conjunto significativo de testemunhos que contribuíram decisivamente<br />
para criar a imagem mitificada que se conhece.<br />
Em sua maioria estes textos foram escritos, a princípio, por um grupo de<br />
médicos contemporâneos de Oswaldo Cruz e mais ligados a ele. Foi, contudo, este<br />
discurso reproduzido por gerações de médicos que, ao longo do tempo, empreenderam<br />
um eficiente trabalho ideológico, constituindo-se uma tradição escrita e oral de<br />
culto à memória de Oswaldo Cruz que, lado a lado com festividades organizadas<br />
com o propósito de marcar a sua presença e eternizá-la, sobreviveu no imaginário<br />
nacional.<br />
Acredito que, mesmo sem ter sido exaustivo, o levantamento destes textos<br />
possibilitou perceber a existência de um amplo e significativo conjunto de imagens<br />
simbólicas sobre Oswaldo Cruz, as quais conformam o que denomino hagiografia<br />
oswaldiana, e que é a fonte privilegiada desta análise.<br />
A HAGIOGRAFIA OSWALDIANA<br />
Falar de Oswaldo Cruz não se revela fácil empreendimento... de há muito está sendo obje¬<br />
to da atenção geral, pertencendo à raça especial de homens, cuja vida cria bibliotecas.<br />
Carlos Seidl, 1917<br />
"Seria possível uma biografia de Oswaldo Cruz?" indaga a si mesmo o médico<br />
baiano Clementino Fraga, que trabalhou com Oswaldo Cruz na Diretoria Geral de<br />
Saúde Pública entre os anos de 1903 e 1907, e frequentou o Curso de Aplicação do<br />
Instituto Oswaldo Cruz, considerado o melhor curso da época para aprendizado de<br />
técnicas microbiológicas e de bacteriologia.<br />
Muitos anos mais tarde, Clementino Fraga - um clínico que desenvolvera<br />
pendores literários - dedicou-se a escrever a biografia de Oswaldo Cruz. Do ponto<br />
de vista deste biógrafo, apesar da brevidade de sua vida, a atuação de Oswaldo Cruz<br />
como homem público fora fulgurante: encontrara a glória em curto espaço de tempo.<br />
A extraordinária ascensão científica e social de Oswaldo Cruz, no entendimento de<br />
Fraga, justificava este tipo de obra.<br />
Como pude verificar, tal opinião foi compartilhada por diferentes gerações de<br />
médicos, que, a partir dos contemporâneos de Oswaldo Cruz, seguiram-lhes o<br />
exemplo, produzindo um amplo conjunto de textos voltados para cantar sua vida em<br />
prosa e verso. De fato, uma copiosa literatura foi produzida sobre Oswaldo Cruz,<br />
cuja característica essencial é o tom laudatório.<br />
Ao relembrar fatos da vida quotidiana da Faculdade de Medicina do Rio de<br />
Janeiro na virada do século, Pedro Nava, em seu livro autobiográfico Baú de Ossos,