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fontes e bibliografia - Arca - Fiocruz

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Na biografia que escreveu, Clementino Fraga observa que a idealização<br />

presente nestas interpretações concorre para a desumanização de Oswaldo Cruz. Em<br />

sua opinião, a interpretação de que ele era um predestinado, "com mandato nominal<br />

para vir ao mundo", compromete o seu mérito pessoal, menosprezando os estudos e<br />

esforços que empreendeu como cientista. Afirma que a análise de sua história de<br />

vida não autoriza nenhuma ilação deste tipo, porquanto nada há nela de excepcional,<br />

nem mesmo o seu interesse pela microbiologia, fato normal para um estudante de<br />

medicina que atingira a vida profissional em plena era pasteuriana. Tampouco a sua<br />

indicação para a Diretoria Geral de Saúde Pública constituiu um fato extraordinário,<br />

podendo ser encarada como uma circunstância ocasional e feliz que "conjugava um<br />

jovem profissional com os interesses patrióticos de um governo disposto a gastar e<br />

que dispunha de cofres cheios" (Fraga, 1972:5).<br />

Porém, como verifica-se, estes comentários não redundaram numa postura<br />

diferente de Fraga diante de seu biografado; ele mantém o mesmo tom laudatório<br />

dos demais. E mais que isto, percebe-se que, em seu trabalho, inúmeros trechos<br />

reproduzem literalmente passagens e interpretações de outros textos que lhe serviram<br />

de referência, principalmente a biografia escrita por Sales Guerra.<br />

Vista pela lente das idealizações, a trajetória de vida de Oswaldo Cruz trans¬<br />

formou-se numa grande epopéia, como afirma Henrique Autran, funcionário da<br />

Diretoria Geral de Saúde Pública, e que se considerava discípulo. Tratado como um<br />

herói, Oswaldo Cruz foi alçado ao panteão nacional brasileiro, onde deveria figurar<br />

em lugar destacado.<br />

Um exemplo característico desta opinião é Belisário Pena, para quem, em<br />

tempo algum, houve na história "outro brasileiro que se igualasse a Oswaldo Cruz",<br />

e que chegou a propor que se construísse, na capital do país, uma estátua de ouro<br />

maciço em tamanho natural, e outras estátuas em cada praça de cada cidade ou vila<br />

do Brasil. Segundo este higienista, os brasileiros deveriam homenager Oswaldo Cruz<br />

tendo em casa a sua efígie (Pena, 1922:13).<br />

Como discernir, na vida de um herói, entre fantasia e realidade? De nossa parte<br />

procuramos compreender, através do discurso dos memorialistas, as representações<br />

que contribuíram para tornar Oswaldo Cruz um mito da ciência brasileira. Nesse<br />

sentido, verificamos duas imagens essenciais: a do saneador e a do cientista,<br />

fundador da medicina experimental. Delas, trataremos a seguir.<br />

O Saneador do Rio de Janeiro<br />

"Quem é esse Oswaldo Cruz, Dr. Seabra?" perguntou o presidente Rodrigues<br />

Alves ao ministro da Justiça, J. J. Seabra, que lhe apresentava o nome do cientista<br />

para ocupar a Diretoria Geral de Saúde Pública. O episódio é narrado por Sales<br />

Guerra, responsável pela indicação de Oswaldo Cruz ao ministro, de quem era<br />

médico particular.

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