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O Protagonista<br />
Com os pais aos três meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />
nia <strong>de</strong> inauguração do novo edifício<br />
da Escola Superior <strong>de</strong> Música <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>,<br />
em Benfica, com a presença do<br />
ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino<br />
Superior, Mariano Gago.<br />
Com apenas quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />
Moyano começou a estudar Música.<br />
O primeiro piano, comprado pelos<br />
pais, custou seis contos, e quando<br />
tocava não chegava com os pés ao<br />
chão. Na família não havia ninguém<br />
ligado ao meio musical. O pai, Jorge<br />
Pinto Marques, trabalhava na antiga<br />
Companhia das Águas <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, a<br />
mãe, Maria <strong>de</strong> los Angeles Moyano<br />
Marques, <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> espanhola,<br />
era doméstica.<br />
Nasceu no dia 4 <strong>de</strong> Setembro<br />
<strong>de</strong> 1951, na Rua da Palmeira, em<br />
<strong>Lisboa</strong>. Os pais, ainda hoje vivos,<br />
conheceram-se por fotografia e casaram-se<br />
em Espanha. Filho único,<br />
recorda-se a <strong>de</strong>terminada altura, <strong>de</strong><br />
ter pedido um irmão. Depois habituou-se<br />
à i<strong>de</strong>ia.<br />
Tímido e introvertido por natureza,<br />
o pianista <strong>de</strong>testava, em pequeno,<br />
quando os pais lhe pediam para<br />
tocar piano em casa <strong>de</strong> amigos. Ainda<br />
hoje, aos 59 anos, custa-lhe muito<br />
entrar num café para pedir um copo<br />
<strong>de</strong> água ou telefonar para alguém<br />
que não conheça. Nestas situações<br />
recorre à mulher, Julieta, “uma espécie<br />
em vias <strong>de</strong> extinção”, completamente<br />
diferente <strong>de</strong> si, com quem partilha<br />
a vida há mais <strong>de</strong> três décadas.<br />
Conheceram-se no <strong>Instituto</strong> Superior<br />
Técnico, foram colegas no curso <strong>de</strong><br />
engenharia civil.<br />
O pianista habituou-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
muito cedo às apresentações em<br />
público. Com apenas sete anos foi<br />
<strong>de</strong> barco à Ma<strong>de</strong>ira tocar com a orquestra<br />
<strong>de</strong> sopros da Fundação Musical<br />
dos Amigos das Crianças. Recorda-se<br />
do nervosismo que sentiu<br />
mas nada exagerado. Confessa que<br />
hoje é pior, cada vez que sobe ao<br />
palco as mãos gelam. Por isso, antes<br />
<strong>de</strong> cada actuação, no camarim,<br />
passa as mãos por água quente,<br />
mesmo que seja em pleno Verão. O<br />
espectáculo <strong>de</strong> inauguração do edifício<br />
da Escola Superior <strong>de</strong> Música<br />
<strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> não foi excepção. O inédito<br />
é que o fez à frente do público.<br />
Em criança, refugiava-se no quarto<br />
a brincar, entregue a si mesmo.<br />
Muitas vezes os pais encontravam-no<br />
a chorar sem razão aparente. Hoje,<br />
continua a apreciar os momentos <strong>de</strong><br />
solidão. Em casa passa horas sozinho<br />
a tocar piano.<br />
Nos espectáculos a solo dispensa<br />
as partituras. Tem consciência que,<br />
com o avançar da ida<strong>de</strong>, custa-lhe<br />
muito mais memorizar e o <strong>de</strong>sgaste,<br />
após cada concerto, é “brutal”. Acredita<br />
que o sucesso <strong>de</strong> um concerto<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> em muito da performance do<br />
piano. Prefere um piano com sonorida<strong>de</strong>s<br />
mais aveludadas.<br />
Consi<strong>de</strong>ra-se um homem <strong>de</strong> sorte,<br />
há alturas em que anda profundamente<br />
<strong>de</strong>primido. O “país cinzento”<br />
em que vivemos e as adversida<strong>de</strong>s<br />
da vida entristecem-no.<br />
Vencedor <strong>de</strong> distintos prémios nacionais,<br />
tem actuado, em recitais, por<br />
todo o país, e conta com várias apresentações<br />
no estrangeiro.<br />
Dá aulas na Escola Superior <strong>de</strong><br />
Música <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> há mais <strong>de</strong> 35 anos.<br />
Em jeito <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira até já lhe chamam<br />
<strong>de</strong> professor <strong>de</strong>cano. Procura<br />
manter com os alunos uma relação<br />
pessoal, não se limita a transmitirlhes<br />
a técnica pianista. Extremamente<br />
exigente consigo e com os outros,<br />
irrita-se quando os alunos não falam<br />
correctamente o português.<br />
Jorge Moyano com colegas da Escola Superior <strong>de</strong> Música <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> em 1987<br />
Politecnia n.º 25 Fevereiro / 2011