A Moeda - Viverpontocom

A Moeda
que minha mãe perguntava por que não fazíamos isso, ele a lembrava
que podia conseguir um aluguel mais alto se mantivesse os inquilinos
nos quartos mais frescos localizados na parte de baixo.
O humor da minha irmã mais velha era compatível com o calor
daquele mês de julho. Jean andava pela casa tão inquieta quanto
um lince rondando sua jaula no zoológico, e também quase tão mal-
-humorada quanto ele. Podia-se quase ver a sala escurecer quando ela
entrava pela porta.
Jean era cerca de quatro anos mais velha que eu e havia se formado
cedo. No ano em que iniciaria a alfabetização, o colégio não formou
turmas, então a diretoria compensou esse problema separando os alunos
inteligentes do terceiro ano pré-escolar daqueles que não iam tão
bem, colocando-os em uma turma avançada. Jean agia como se tivesse
ganhado o Prêmio Nobel ou algo parecido, mas tudo que ela tinha
feito fora comparecer e ir aonde lhe mandavam. Além disso, se eu estivesse
naquela turma, eles teriam me deixado na terceira série, e Jean
sabia disso. Ela se gabava por estar progredindo o tempo todo. Acho
que eu entendia a razão. Às vezes, para sobreviver à maldade de Papai,
nós nos sentíamos melhor andando com nosso nariz empinado.
As aulas de secretariado de Jean teriam início em dois meses. Ultimamente
Mamãe havia começado a fazer sugestões inesperadas a Jean
sobre me levar para sair: “Você vai trabalhar como secretária em breve,
Jean, e não vai ter tempo para aproveitar a companhia de sua irmã”,
Mamãe dizia com muito cuidado, como se estivesse pisando em ovos.
Ainda assim, Jean me ignorava. Ela se jogava na cadeira próxima à
janela e olhava para fora com os braços cruzados.
Imagino que minha irmã e eu convivíamos como a maioria das
irmãs. Eu sempre me sentia como se estivesse vivendo à sombra dela.
Ela me disse mais tarde como a incomodava o fato de eu estar sempre
grudada nela. Eu disse a ela que estava errada — eu apenas estava
sempre tentando acompanhá-la para não ficar para trás.
No dia da moeda, Jean tinha ficado emburrada outra vez porque
Adele Middleton a havia convidado para passar a noite com sua família
em um quarto refrigerado no Hotel Ambassador, mas, como
sempre, Papai havia dito que não. Papai sempre dizia não a tudo. Só
14