A Moeda - Viverpontocom

A Moeda
Emeraude. Aquele perfume doce deixou minha cabeça doendo e meu
estômago enjoado.
Quando o bonde parou na frente da loja de departamentos
Woolworth’s e descemos, Jean se apressou para atravessar a rua na minha
frente a fim de entrar na fila e comprar as entradas. Mesmo daquela
distância, eu conseguia ver a marca vermelha que a fúria de
Papai havia deixado em sua bochecha. Ela logo se afastaria de nós. Eu
mal conseguia respirar quando pensava em Jean saindo de casa e indo
para a escola de secretariado.
“O que você está olhando?”, ela pôs as mãos na cintura. “Vamos”.
Geralmente, quando estávamos sozinhas em casa, quando Papai
havia saído e Mamãe estava fora, e eu ficava doida para fazer confidências
à minha irmã, eu pegava Jean olhando para mim como se
lamentasse me conhecer. Talvez ela não gostasse muito da ideia de
que, em razão do acontecimento inoportuno do meu nascimento, ela
estava ligada a mim para toda a vida. Às vezes ela quase parecia achar
que não havia problema em ter uma irmã. Outras vezes, ela deixava
claro que não gostava de quem sua irmã era. Eu não podia fazer nada
para mudar isso, além de desejar que ela tentasse me ver de forma diferente.
Enquanto estávamos de pé na rua do lado de fora do cinema,
eu pensava em como o humor de Jean podia me incomodar de vez em
quando, mas eu queria ficar bem com ela. Ela era tudo que eu tinha.
Foi quando o bonde elétrico tocou o alarme e deu a partida atrás
de nós.
Foi nesse exato instante que vi a moeda pela primeira vez.
Foi naquele instante que a história realmente começou.
A moeda estava no chão, com o lado com a inscrição do número
voltada para cima, tão suja que estava quase invisível. Como eu disse,
não estava acostumada a recolher moedas naquela época. Uma moeda
é algo tão pequeno — nunca vale muito. Era uma moeda de um centavo.
Olhei para ela, pisei nela, e segui em direção à minha irmã que
esperava do lado de fora do teatro.
Então o barulho da Grand Avenue silenciou. Volte, algo dentro de
mim insistia. Não perca esta chance.
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