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HIP-HOP DA MARGINALIDADE A INCLUSÃO SOCIAL - Unesp

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<strong>HIP</strong>-<strong>HOP</strong> <strong>DA</strong> MARGINALI<strong>DA</strong>DE A <strong>INCLUSÃO</strong> <strong>SOCIAL</strong><br />

SASCIO, Ubirajara. 1<br />

RESUMO<br />

O trabalho tem o objetivo de discutir sobre o Hip-hop como instrumento de promoção da<br />

cidadania. Para tanto parte-se da história do movimento Hip-hop e de sua evolução, em<br />

especial na sociedade brasileira. O movimento, que tem suas origens na marginalidade,<br />

integra-se à sociedade, porém conserva suas características básicas de protesto. Este estudo<br />

discute como a utilização das linguagens contidas no Hip-hop e seus elementos culturais<br />

podem auxiliar na construção da cidadania e inclusão social de jovens e crianças, em especial<br />

das periferias. Trata-se de pesquisa exploratória com referências bibliográficas para a<br />

discussão das manifestações do Hip-hop, como forma de propiciar a integração de jovens na<br />

sociedade. Discute-se, portanto o paradoxo que caracteriza o movimento: surge marginal e<br />

luta para ser reconhecido, e, uma vez reconhecido passa a fazer parte da sociedade, porém,<br />

suas características de marginalidade, de fora do padrão, permanecem. Os traços de<br />

linguagem alternativa, seja na música, na dança, no desenho, nas roupas, no vocabulário, seja<br />

no comportamento social dos integrantes dos grupos de jovens do movimento podem ser<br />

encontrados não apenas nos eventos da periferia das grandes cidades, mas passam a fazer<br />

parte de produtos da grande mídia. As diferentes manifestações do Hip-hop passam a ser<br />

implementadas em escolas, centros comunitários e ONGs como ferramentas de inclusão e de<br />

identificação dos jovens, que se sentem valorizados quando passam a fazer parte de um grupo.<br />

Palavras-chave: Comunicação, Linguagem, Inclusão, Cidadania, Hip-hop.<br />

O Hip-hop e sua Origem<br />

Para se contar a historia do hip-hop, será necessário entender a situação política, social<br />

e econômica do berço do movimento cultural, os EUA, que no momento em que eclode e se<br />

destaca o movimento de resistência, criado por necessidades impostas pelas condições que o<br />

país enfrentava externa e internamente como - as campanhas anti-segregação encabeçada por<br />

Malcon X, pelos direitos civis, liderada por Martin Luther King e, também as externas - como<br />

a Guerra-Fria contra a Rússia, o incidente na Baía dos Porcos, em Cuba e a Guerra do Vietnã,<br />

além do endividamento com a corrida espacial.<br />

É neste cenário de agitação, entre a década de 60/70, que surge às primeiras<br />

manifestações de resistência ao modelo político, social e financeiro, que excluía e segregava<br />

os afro-descentes e latinos residentes e os que retornavam da guerra do Vietnã do Sul. Neste<br />

momento difícil o presidente dos Estados Unidos, era o então jovem John Kennedy, que<br />

1 Graduando em Comunicação Social – Relações Públicas - UMESP – Universidade Metodista de São Paulo<br />

Bolsista PIBIC – 2011/12. E-mail: ubizerethay@ibest.com.br


priorizou os problemas externos, portanto naquele momento deixando em segundo plano os<br />

problemas internos, o que ocasionou um maior agravamento da situação do país.<br />

Nesta agitação social e política é que eclode o hip-hop, por volta dos anos 70, nos<br />

subúrbios negros e latinos da America do Norte, mais precisamente ao sul do Bronx em Nova<br />

Iorque. Nestes subúrbios residiam as famílias de classe média italianas, alemãs, irlandeses e<br />

judias, que por motivo da construção da via expressa no centro do Bronx e um enorme<br />

conjunto de apartamentos, que viria a desvalorizar a região mudaram-se por causa do<br />

decréscimo da qualidade de vida.<br />

Conforme afirma (ROSE, 1977, p. 199), em seu texto: No caso do South Bronx,<br />

chamado com frequência de “o berço da cultura hip-hop”, as condições geradas pela era pós-<br />

industrial foi exagerado pelas rupturas consideradas “parte inesperada do efeito” de um<br />

grande projeto motivado por fins políticos.<br />

Ainda segundo a autora, no início da década de 1970, esse projeto de renovação<br />

redundou em deslocamentos maciços de pessoas de cor, economicamente frágeis e de<br />

diferentes áreas de Nova York.<br />

A transição étnica e racial subsequente no South Bronx não foi realizada por<br />

meio de um processo gradual que permitisse a criação de instituições sociais<br />

e culturais que pudessem agir protetoramente. Ao contrário, foi um processo<br />

brutal de destruição de uma comunidade e desapropriação, executadas por<br />

oficiais municipais sob a direção do legendário planejador urbano Robert<br />

Moses. (ROSE, T. 1977, p. 199)<br />

Nestas localidades estabeleceram-se os afrodescendentes, mais pobres e as famílias de<br />

hispânicos. Por causa da pobreza crescente os problemas se avolumaram, por conta de crimes,<br />

drogas, aumento da violência e do desemprego.<br />

Nasce em 1968, da reunião de sete jovens a primeira gangue, que se denominou<br />

“Savagen Seven” (sete selvagens), que passou a aterrorizar o bairro, criando assim bases para<br />

algo que dominaria o Bronx, e se espalharia para toda Nova Iorque, além de incentivar a<br />

criação de novas gangues, em cada esquina e em cada rua destes subúrbios, estas gangues rua<br />

ou Streetgangs, dominaram o cenário durante seis anos.<br />

Após alcançarem o topo da criminalidade, estas gangues começaram a desaparecer<br />

uma a uma, isto por volta da década de 70, a razão para que este fato tivesse iniciado o seu


declínio, podem ser encontradas em diferentes níveis, as brigas entre as gangues, muitas<br />

estavam envolvidas em crimes, drogas e miséria e o surgimento de uma nova cultura. A<br />

deserção de muitos integrantes destas gangues, que decidiu não mais se envolverem com estes<br />

fatos.<br />

Com a queda acentuada do número de gangues, principalmente porque cada vez mais<br />

jovens estavam envolvidos com um movimento que despontava e se identificavam com<br />

alguma atividade deste. Uma vez que a idéia principal deste movimento era a competição<br />

entre criatividade e a não violência.<br />

Desta forma, se alguém quisesse melhorar suas habilidades deveria deixar a violência,<br />

o crime e as drogas e, concentrar suas energias nas atividades do movimento, procurando<br />

desta forma inspirar e conquistar novos adeptos para participar do movimento, que viria a<br />

receber o nome de hip-hop.<br />

Conforme afirmação encontrada em Takara, A. (2003, p. 73), o hip-hop tem origem na<br />

Jamaica, cresceu e ganhou expressão nos Estados Unidos, mais precisamente ao sul do Bronx,<br />

em Nova Iorque e constituiu-se em elemento da cultura de rua.<br />

Este movimento chegou ao EUA, com Kool Herc, jamaicano que imigrou para o<br />

território americano, aos 12 anos (1967), de Kingston, levando consigo seu conhecimento<br />

sobre a cena musical jamaicana, dentre estes conhecimentos destaca-se Sound system<br />

(sistema de som, muito tradicional na Jamaica, que consistia na aparelhagem de som, muito<br />

potente ligado na rua).<br />

Em meados de 1973, Kool Herc chamou a atenção como DJ no Bronx, em inúmeras<br />

Block Parties (festas promovidas em blocos de apartamentos abandonados, no Bronx e<br />

região), festas que muito se assemelhavam as de sua infância na Jamaica, estas festas eram<br />

realizadas em parques e escolas, e posteriormente passou a realizá-las em clubes famosos. A<br />

razão deste sucesso foi fazer com que as pessoas dançassem sem parar, Herc seguiu a filosofia<br />

do Sound system, tocando reggae e outros ritmos jamaicanos, o que não deu muito certo, até<br />

que conheceu o Soul e o Funk.<br />

Passado algum tempo desenvolveu uma técnica revolucionaria de girar os pratos dos<br />

toca discos, além de ter apresentado um sistema de som mais pesado e mais alto, que todos os<br />

outros.


Kool Herc foi considerado um dos o pais do hip-hop, por suas inovações, como por<br />

exemplo, nunca tocar uma musica inteira, mas sim, os trechos que as pessoas mais gostavam:<br />

o Break - a parte onde a batida foi tocada na mais pura forma. Os “Breaks” das canções eram<br />

só alguns segundos, ele os ampliou utilizando-se de duas pick-up e dois discos iguais,<br />

denominando isto de “Break-beat”.<br />

Esta criação de Herc é o fundamento musical para B-boy e B-girl (breaker boys e<br />

girls) dançarinos que se enfrentavam durante os Break-beat, lembrando as brigas de suas<br />

antigas gangues, surgiram aqui também os Mcs (mestres de Cerimônias), artistas no<br />

microfone que divertem as pessoas fazendo-as dançar com suas rimas. Sua contribuição para<br />

o novo movimento talvez se encerre por aí.<br />

Além da musica, dança e literatura outra forma de arte também se destaca no<br />

movimento fomentado pelos jovens dos subúrbios nova-iorquinos, este é o grafite que até<br />

então era apenas uma forma de marcar território por intermédio das assinaturas dos membros<br />

das gangues, estas nada mais eram do que pichações. O grafite durante os anos 70 passa por<br />

uma evolução ao adquirir o traço do desenho e uma mensagem diferente do que aquela<br />

exibida por seus praticantes.<br />

Com esta grande efervescência nos subúrbios de Nova Iorque, Afrika Bambaataa se<br />

destaca ao reunir as quatro manifestações culturais, dando assim origem ao movimento ou<br />

cultura urbana denominada hip-hop.<br />

Bambaataa nasceu com o nome Kahyan Aasim, em 1957, morador do Bronx,<br />

Bambaataa em sua juventude passa a integrar gangues, tornando-se líder da gangue "Black<br />

Spades", este era um aficcionado por discos da “Black music”, a partir deste hobby ele passa a<br />

seguir os passos de Herc se interessando assim pelo novo movimento que ali esta surgindo.<br />

Afrika Bambaataa percebe que o novo movimento pode se tornar uma maneira de livrar os<br />

jovens da criminalidade e o envolvimento com as drogas, por este motivo ele funda uma ONG<br />

chamada Bronx River Organization, que muda de nome chamando se The Organization como<br />

integrantes os antigos membros das gangues.<br />

Os elementos musicais do rap e o uso da tecnologia musical são aspectos<br />

cruciais no desenvolvimento e no uso da forma pelo hip-hop, sendo que essa<br />

combinação foi fundamental para a evolução geral do movimento. (ROSE,<br />

1997, p. 194)


Esta organização muda novamente de nome passando a se chamar Zulu Nation, este<br />

ultimo nome foi dado devido ao grande interesse de Bambaataa pela sua ancestralidade<br />

africana em particular a historia dos guerreiros Zulus. A Zulu Nation passa a organizar festas<br />

e, assim todo o conhecimento de Bambaataa acerca da cultura hip-hop é transmitido.<br />

O Hip-hop no Brasil:<br />

Este estudo refere-se à análise da chegada e desenvolvimento do movimento cultural<br />

do hip-hop no Brasil, faz-se necessário um estudo do momento político, social e econômico<br />

brasileiro, para que possamos entender quais as influências provocadas com o advento do hip-<br />

hop na sociedade brasileira que na década de 80, por exemplo, na política: assistia a discussão<br />

e votação da emenda “Dante de Oliveira” que tramitava no Congresso Nacional e, propunha<br />

eleições diretas, a emenda era apoiada pela campanha popular das “Diretas Já” que contava<br />

com a participação de políticos, artistas, esportistas, estudantes de diversos níveis e a<br />

população em geral.<br />

Esta campanha foi articulada pelos meios de comunicação (rádio, jornais e televisão),<br />

teve como principais protagonistas o deputado Ulisses Guimarães, o próprio deputado Dante<br />

de Oliveira e o radialista Osmar Santos entre outros.<br />

O desejo maior da campanha era o fim do regime militar, que durava 21 anos e, assim,<br />

restabelecer a democracia, através de eleições diretas para todos os cargos eletivos, aqui<br />

também nasce o Partido do Trabalhador (PT) fundado por intelectuais de esquerda como, por<br />

exemplo, o Dr. Hélio Bicudo, o cientista político comunista Carlos Nelson Coutinho, Eduardo<br />

Suplicy, José Dirceu, Rui Falcão, etc. e líderes sindicais, com destaque para Luiz Inácio da<br />

Silva (Lula) e católicos ligados à Teologia da Libertação.<br />

Na economia: O Brasil enfrentava a crise do petróleo, que aumentava o valor da<br />

dívida externa, uma vez que a maior parte do petróleo utilizado pelo país era importada,<br />

internamente era cada vez pior a distribuição da renda, o fantasma da inflação voltava a<br />

aparecer.


No plano social: a grande greve dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Diretas<br />

Já, que tomou conta de todo o Brasil, os anos 80 foram marcados por muita esperança, por um<br />

lado e também muita descrença por outro.<br />

E é neste momento conturbado do Brasil, com o movimento<br />

“Direto Já”, de luta pela Anistia ampla e irrestrita aos exilados políticos e a passagem do<br />

regime militar para a democratização do país, que surge o primeiro grupo de hip-hop Funk &<br />

Cia liderado por Nelson Triunfo.<br />

Bem diferente do movimento hip-hop americano o movimento brasileiro nasce de<br />

forma tímida tida apenas como um modismo vindo de fora, no país quando pensava se em<br />

música negra o que se tinha eram os grandes bailes black’s em sua maioria organizados por<br />

equipes de som que prestigiam músicos como Jorge Ben (Jor), Tim Maia, Gerson King<br />

Combo, Cassiano e Wilson Simonal além-claro dos grandes nomes da cena americana. Além<br />

das influências vindas dos inúmeros grupos de samba.<br />

Este era o cenário da musica negra brasileira o então novo movimento vinha chegando<br />

ao Brasil de forma acanhada, este chegava por meio de revistas, filmes como Beat Street,<br />

Flash Dance que retratava momentos de tal cultura. Entretanto o grande boom da cultura hip-<br />

hop acontece com a abertura da novela Partida Alto, de 1984, apresentada pela emissora<br />

Globo de Televisão e o astro jovem Michael Jackson que em seus vídeos clipes apresentava<br />

pessoas dançado o break.<br />

No inicio do movimento os rap feitos pelos Mcs brasileiros eram inocentes, falavam<br />

apenas sobre coisas cotidianas e historinhas criadas em cima das bases americanas, mesmo<br />

com esta diferença a nova manifestação sofria preconceito, seus participantes sofriam com a<br />

discriminação por partes dos participantes dos grandes bailes Black e pela policia que os viam<br />

apenas como marginais. A partir destes ingredientes de discriminação, os Mcs brasileiros<br />

acabam por deixar de lado os rap inocentes e, passam a fazer um rap engajado, mais<br />

consciente e denunciativo das mazelas da periferia, ou seja, passam a falar de seus cotidianos<br />

violentos, a discriminação que sofriam por parte da policia, sociedade.<br />

Apesar deste cenário os jovens não desistiam de se reunir para dançar, grafitar, tocar<br />

seus pick-ups e fazer suas rimas, estes encontros eram realizados nos centros das grandes<br />

cidades, dentre elas São Paulo que ocupa um lugar de destaque no surgimento do hip-hop


asileiro. Tendo como pano de fundo o largo São Bento, os jovens de diferentes regiões da<br />

cidade se reuniam para trocar experiências sobre o desenvolvimento do movimento hip-hop.<br />

Neste local podíamos encontrar os até então desconhecidos Thaíde e DJ Hum, Ndee<br />

Naldinho, Racionais Mcs, além do já conhecido Nelson Triunfo. Este último conhecido por<br />

sua dança com Funk & Cia de maneira que acabou por influenciar os b-boys e b-girls que ali<br />

estavam por esta influencia Nelson Triunfo acaba por ser denominado como o “Pai do break<br />

brasileiro”<br />

Mesmo com todos estes acontecimentos, as grandes equipes de som só percebem ao<br />

final dos anos 80, o rap como uma das linguagens do hip-hop e que, não é apenas uma<br />

modinha, que logo passaria assim fazendo diversas coletâneas das musicas produzidas até o<br />

momento. Nos anos 90 o hip-hop já esta consolidado como um movimento de cultura da<br />

periferia das grandes cidades, recebendo as influências da cultura brasileira.<br />

A partir de 1990, uma evolução se inicia no hip-hop nacional, que passa a ser visto<br />

como agente de transformação social, uma vez que musicas passa a clamar por mudanças, por<br />

respeito aos direitos humanos, pela valorização das diferenças raciais e de gênero, todo este<br />

apelo é feito por rappers saído da periferia, uma vez que o hip-hop é uma manifestação<br />

cultural da periferia e, estes rappers são oriundos desta, e desejam utilizar-se do movimento<br />

para conquistar melhorias para a periferia, além de evitar que crianças e jovens nascidos<br />

nestes locais se envolvam com o crime, a violência e as drogas.<br />

Esta evolução foi marcada pela disseminação do break, o primeiro elemento do hip-<br />

hop, a ser apresentado no Brasil, mais precisamente em São Paulo, logo tinha se espalhado<br />

por outras grandes cidades e municípios, sua consolidação trouxe para o movimento uma<br />

maior visibilidade, gerando autoestima aos afro-descentes, que são a maioria dos participantes<br />

do movimento cultural, uma vez que a população das periferias é composta por uma maioria<br />

de afro-descentes e, estes passam a cobrar melhorias concretas para suas localidades junto aos<br />

poderes públicos constituídos, melhorias que irão beneficiar toda a comunidade.<br />

Em 28 de julho de 1999, nasce à Casa do Hip-hop, no espaço público do Centro<br />

Cultural Canhema, mantido pela prefeitura do município de Diadema, com o intuito de<br />

oferecer uma política de acesso à difusão e formação cultural, oferece cursos de iniciação em<br />

hip-hop e outras linguagens artísticas, além de eventos que promovam a inserção da<br />

população aos bens culturais. Embora tenha sido oficialmente denominada “Casa do Hip-hop”


somente em 1999, ela é fruto de reinvidicações dos jovens de diversas regiões da cidade que<br />

desde 1993 se organizavam visando obter espaços para ensaios, encontros, oficinas e<br />

workshops específicos. Sendo, portando, um espaço conquistado através da organização da<br />

população, em especial os jovens militantes desta cultura, esse espaço passou a ser conhecido<br />

como posses.<br />

Como define DUARTE: “Posse” é o nome que se dá aos coletivos de ativistas e de<br />

localidades de reuniões do hip hop. Genericamente, equivale às expressões coletivas, núcleo,<br />

grupo ou, até mesmo, cooperativa, que tradicionalmente definem grupos de mobilização<br />

político-social ou artística. São pequenos grupos. A literatura especializada costuma falar em<br />

40, 50 pessoas, mas esses números são de difícil definição. Há casos de posses com 10<br />

integrantes ou menos, com 50 ou mais. Depende muito de vários fatores, principalmente da<br />

força da cultura nas comunidades. Já existem iniciativas locais e nacionais, estabelecendo<br />

redes integradas de posses, chegando, por vezes, a multiplicar em muito os números<br />

hipotetizados acima.<br />

Mas devemos lembrar que esta não é a primeira posse. A Posse no hip-hop é um local<br />

utilizado pelos envolvidos em tal movimento para que estes possam se reunir para a troca de<br />

informações, decisões e reflexões que preocupados com a problemática da violência e da<br />

pobreza na periferia, se unem e desenvolvem ações para formação cidadã através da arte e da<br />

cultura, e a partir daí discutem as formas de contribuição para o desenvolvimento e<br />

organização da comunidade. Tendo esta afirmação como principio podemos dizer que a<br />

primeira posse foi a do Largo São Bento.<br />

Ainda falando sobre as posses devemos salientar as mais importantes e mais atuantes<br />

nesse momento, que estão distribuídas nas diversas áreas da cidade de São Paulo, bem como<br />

nas cidades ao redor da grande capital e por todo o Brasil, já que o movimento hip-hop se<br />

espalhou por todas as periferias brasileiras, mas em São Paulo e Rio de Janeiro este tem<br />

grande representação.<br />

Quero aqui destacar as posses de maior importância e que tem participado com maior<br />

relevância das ações e produções no estado de São Paulo, uma vez que estas são as mais<br />

conhecidas do público leigo ou participante do movimento: Na zona norte as posses do bairro


da Brasilândia. Lauzane Paulista e do Tremembé, na sul temos diversas posses de muita<br />

atividade, como a do Capão Redondo e Heliópolis, ainda na zona sul ocorre às batalhas da<br />

Estação Santa Cruz do Metrô, na zona leste as posses com maior visibilidade são: São Mateus<br />

e Cidade Tiradentes, na zona oeste as posses de Pirituba e Vila Zatti entre outras.<br />

Na grande São Paulo existe posses muito ativas em São Bernardo do Campo, como a<br />

Hausas, em São Caetano do Sul, Santo André, Ribeirão Pires, Mauá, Rio Grande da Serra a<br />

Negroatividades é a possse de ligação entre os municípios e em Diadema a Casa do Hip-hop,<br />

outras não tão ativas como em Carapicuíba, Osasco e outras de menores expressões em outras<br />

cidades do cinturão que formam a grande São Paulo.<br />

O Hip-hop como Questão de Educação:<br />

Após termos dissertado acerca da historia do hip-hop iremos nos ater ao assunto de<br />

maior importância para as comunidades carentes envolvidas com o movimento cultural e para<br />

a pesquisa em questão, uma vez que o foco desta é a educação e, como esta vem<br />

transformando e auxiliando nos ambientes educacionais por intermédio de uma prática<br />

diferenciada daquela que é aplicada ainda hoje nas escolas brasileiras.<br />

Para dar continuidade a esta discussão se faz necessário uma abordagem sobre a<br />

educação brasileira é como ela se apresenta nos dias atuais, afim de que possamos<br />

compreender como a cultura urbana suas linguagens e seus elementos podem contribuir para a<br />

construção de um sujeito ético, critico e que luta pelos seus direitos de cidadãos.<br />

Crítico feroz da escola tradicional, Mcluhan aponta os defeitos do sistema atual, que,<br />

segundo ele, prefere criticar a mídia, em vez de utilizá-la como aliada na educação. “Poucos<br />

estudantes conseguem adquirir proficiência na análise de um jornal. Ainda menos têm<br />

capacidade para discutir com inteligência um filme”. Irônico o autor canadense afirma, que “a<br />

educação tradicional dispõe de um impressionante acervo de meios próprios para suscitar em<br />

nós o desgosto por qualquer atividade humana, por mais atraente que seja na partida”.<br />

Nos dias atuais as escolas das comunidades periféricas estão em condições precárias,<br />

seja pela ausência de materiais escolares ou humanos, pela falta de professores ou pelas más<br />

condições de seus prédios, além de contar com estas interferências internas as escolas ainda


contam com agentes externos como: a violências, tráfico de drogas a miséria e outras diversas<br />

mazelas que atingem estas escolas.<br />

A falta de professores nas escolas periféricas deve-se aos baixos salários, a falta de<br />

condições favoráveis, higiênicas, espaciais, estéticas, sem as quais os professores se movem<br />

menos eficazmente no espaço pedagógico. Às vezes, as condições são de tal maneira perversa<br />

que nem se move, conforme salienta (FREIRE, 2010).<br />

Quanto aos estudantes, que denominarei educando, e que sofrem com a carência<br />

alimentícia das periferias, educacional, pois que nela, na maioria das vezes moram pessoas de<br />

pouco estudo, portanto de baixa renda, e que, portanto, na maioria das vezes não podem<br />

sustentar os seus filhos estudando, uma vez que esses devem auxiliar os pais no sustento da<br />

casa, enquanto que o lazer, que deve ser oferecido pelo poder público é inexistente, pois que<br />

esse não investe nas periferias, e dessa forma não existe nas periferias espaços para o lazer e<br />

esporte, já a cultura baseia-se somente no ir à escola, em alguns bairros da periferia não existe<br />

sequer uma biblioteca.<br />

Todos esses fatores levam os jovens a procurar alguma forma de entretenimento, de<br />

cultura, lazer e esporte, o que faz surgir as ONGs, com o intuito de suprir essa lacuna deixada<br />

pelo poder público. Algumas destas Ongs fazem o papel de escolas, oferecendo parcela do<br />

que deveria ser ofertado pelas escolas da periferia, mas, entretanto não devemos colocar a<br />

culpa de toda a ineficiência nas escolas e, também não devemos colocar na escola todas as<br />

nossas esperanças como se esta fosse o único lugar capaz de salvar crianças e jovens de um<br />

futuro desolador e também não podemos dizer que sem esta estes mesmos não podem chegar<br />

a algum lugar.<br />

Claro que a escola não é a salvação final, é apenas um agente que deve<br />

compor-se a outros agentes numa parceria em trabalho de cooperação.<br />

Somam-se nesse esforço comum, além de educação, a segurança, a igreja, as<br />

empresas, a justiça, a política, a urbanização, acultura, os esportes e lazer,<br />

todos orquestrados por um poder local, dinamizado por representantes da<br />

cidade. (TAKARA, 2003, p.42)<br />

É contando com este cenário de abandono que o hip-hop se apresenta às escolas<br />

brasileiras com a intenção de provocar mudanças e auxiliar na formação e conquista da<br />

cidadania de jovens, uma vez que a cultura exige destes mais conhecimentos, mais<br />

informações e um maior entendimento político.


Através dos elementos que constituem o movimento hip-hop e que estão sendo<br />

apresentados para estes jovens em escolas da periferia e em ONGs, podemos perceber que o<br />

interesse destes pela escola, pelo movimento vem fazendo com que a cultura se alie a<br />

educação e traga um maior interesse dos alunos para os conteúdos a serem estudados.<br />

Esses usos do hip-hop tendem a ter um respaldo político e institucional de<br />

elementos progressistas do Estado, como é o caso da Secretaria Municipal de<br />

Educação de São Paulo, que patrocina o projeto Rap nas Escolas – Rap...<br />

Pensando a Educação. (HERSCHMANN, 1977, p. 42)<br />

Entretanto a cultura hip-hop não é bem vista por muitos agentes que realizam a<br />

educação escolar, já que esta trata de uma cultura produzida muitas vezes por aqueles que no<br />

passado foram excluídos dos bancos escolares e, por isto, estão à margem de uma escola que<br />

supervaloriza uma cultura burguesa em detrimento de outra.<br />

Nas escolas que a cultura hip-hop entrou, está por muitas vezes foi mutilada, já que as<br />

diversas vertentes de seus elementos são mal interpretadas, pois ao falar do crime e outras<br />

situações cotidianas acabam por gerar indignações e outros sentimentos. É muito difícil<br />

compreender esta cultura já que todos os seus elementos são provenientes da rua e em muitos<br />

momentos não são explicados por acadêmicos.<br />

Esta cultura hoje é muito utilizada nas escolas, pois converge com as ideias de Paulo<br />

Freire que em sua carreira no magistério defendeu uma educação que empoderasse os mais<br />

pobres. Que libertasse este de suas condições de miséria valorizando a cultura que estes<br />

produzem.<br />

A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação exige uma permanente<br />

busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz.<br />

Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela<br />

precisamente porque não a tem. (FREIRE, 1988, p. 34)<br />

Aqui devemos lembrar que a escola atual busca valorizar as experiências trazidas<br />

pelos educando, entretanto esta ainda traz em seu bojo resquícios da educação bancária,<br />

apresentada por Freire.<br />

Como forma de mudar esta cultura a escola tem utilizado este movimento cultural<br />

como ferramenta para que professores possam superar as dificuldades encontradas por seus<br />

alunos no cotidiano escolar.


O processo perverso da miséria, a luta pela sobrevivência, o preconceito, a<br />

superação dos problemas, a marginalização (hoje batizada com o nome de<br />

exclusão social) e o esforço de inclusão social. (TAKARA, 2003, p.53)<br />

Entretanto este processo é demorado, pois como citado acima muitos dos que vivem a<br />

cultura hip-hop estão à margem da escola, por diversos motivos: como uma linguagem cheia<br />

de vícios, erros gramaticais ou até mesmo não sabem escrever o que pensam por isto a cultura<br />

hip-hop sofre muito preconceito dos considerados acadêmicos.<br />

Esta linguagem cheia de vícios e erros gramaticais é uma característica dos integrantes<br />

do movimento, mas muitos destes erros gramaticais não são exclusivos dos integrantes do<br />

movimento hip-hop, já que os erros de pronuncia e escrita fazem parte da fala daqueles que<br />

por muito foram excluídos dos bancos escolares.<br />

Com este falar os participantes do movimento estão em busca da cidadania, do direito<br />

de ser reconhecido como individuo na sociedade, como nos fala COLIN (1937), devemos aqui<br />

perceber que a linguagem demonstra em muitos casos a situação social do individuo conforme<br />

o autor.<br />

Não é, evidentemente, de hoje que se postula uma ligação entre a divisão das<br />

classes e a divisão das linguagens: a divisão do trabalho engendra uma<br />

divisão dos léxicos; pode mesmo dizer-se (Greimas) que um léxico é<br />

precisamente a divisão imposta à massa semântica pela prática de um certo<br />

trabalho: não há léxico sem um trabalho correspondente. (COLIN, 1937, p.<br />

94)<br />

Ainda dentro da discussão sobre linguagem e suas variações encontramos BAGNO<br />

(1997), que nos apresenta uma explicação para este fenômeno , quando diz que não existe<br />

forma correta ou errada de falar, mas sim uma variação entre linguagem padrão (elite) e a não<br />

padrão (popular), esta última é a linguagem do movimento hip-hop, uma vez que os<br />

compositores (rappers) são oriundos da periferia e que em sua maioria não permaneceram no<br />

ambiente formal de escolarização.<br />

De acordo com BAGNO (1997), podemos constatar no nosso dia-a-dia, a existência de<br />

um preconceito linguístico decorrente de fenômenos humanos inerentes à própria natureza<br />

humana.<br />

Que existe um preconceito linguístico, tão fortemente entranhado na cultura<br />

ocidental e com consequências ainda mais perversas em sociedades como a<br />

brasileira, rigidamente hierarquizadas e com índices alarmantes de exclusão


social e de péssima distribuição de renda. Este preconceito linguístico se<br />

reflete enormemente ainda mais na cultura hip-hop. (BAGNO, 1997, p. 209)<br />

Este preconceito disseminado no ambiente escolar que por diversas vezes valoriza a<br />

cultura dita como erudita em detrimento da cultura popular que por diferentes maneiras são<br />

produzidas por seus alunos. Esta deformação ocorre em virtude da falta de conhecimento<br />

sobre a cultura popular e o preconceito decorrente da diferenciação do falar.<br />

Cabe aqui um parênteses para a explicação deste preconceito que esta enraizado na<br />

sociedade brasileira e, que conforme TAKARA (2003) apud SILVA, é entendido como “uma<br />

atitude negativa, desfavorável, para com um grupo ou seus componentes individuais”.<br />

Ainda segundo o autor, este se caracteriza por crenças estereotipadas. E os estereótipos<br />

são convicções pré-concebidas sobre indivíduos, grupos e raças, de que resultam ideias,<br />

opiniões ou sentimentos desfavoráveis, formados a priori, sem analise.<br />

São atitudes de natureza hostil, resultante da generalização apressada de uma<br />

experiência pessoal ou imposta pelo meio. Do preconceito desfavorável<br />

resultam a intolerância e discriminação nas relações. Estabelece-se, então, a<br />

distância social entre duas ou mais categorias, grupos ou raças. (TAKARA<br />

apud SILVA, 2003, p. 101)<br />

Dentro deste panorama na educação é que se encontram algumas ações, que são<br />

promovidas por escolas públicas, tanto na esfera estadual quanto em municipal das periferias,<br />

ONGs e individuais, buscando auxiliar na inclusão e conquista da cidadania de grupos que<br />

sofrem os diversos tipos de preconceito, entre estes grupos podemos citar os do movimento<br />

hip-hop, que na maioria das oportunidades são pessoas (jovens) de baixa escolaridade, que<br />

tiveram ou possuem muitas dificuldades de aceitarem a chamada educação formal, uma vez<br />

que esta não faz referencia a sua vivencia nas periferias pobres e que não procura o<br />

aproveitar-se das experiências trazidas por estes indivíduos, assim facilitando a integração<br />

deste ao sistema educacional.<br />

Conforme nos afirma TAKARA (2003), o movimento hip-hop que tem sido<br />

introduzido em algumas escolas pode ser a forma de a periferia reivindicar a sua cidadania e o<br />

respeito ao individuo pelos poderes públicos constituídos.<br />

O hip-hop é a voz da periferia, reivindica melhores condições de vida, é mais<br />

forte do que a voz de partidos políticos. Seus membros, embora muitos<br />

desempregados, semi-alfabetizados, a quem falta o mínimo para sobreviver<br />

com dignidade, não se consideram vítimas do sistema, mas guerreiros,


embora tenham assistido à morte ou prisão de companheiros. Para seus<br />

membros, ser racional é ter consciência, é saber da importância da cultura e<br />

da educação no desenvolvimento pessoal e coletivo. O negro consciente e<br />

racional é aquele que sabe enfrentar as adversidades. (TAKARA, A. 2003. p.<br />

85)<br />

Corroborando a afirmação acima encontramos em FREIRE (1987), a declaração de<br />

que os preconceitos culturais por parte da escola formal provem da insistência da classe<br />

dominante em manter estes jovens das periferias alheios à cultura, quando afirma que a<br />

incultura do povo é tal ‘que lhes’ parece um absurdo falar da necessidade de respeitar a ‘visão<br />

do mundo’ que eles estejam tendo.<br />

Ainda conforme o autor parece absurda a afirmação de que é indispensável ouvir o<br />

povo para a organização do conteúdo programático da ação educativa. É que, para eles, “a<br />

ignorância absoluta” do povo não lhes permite outra coisa senão receber os seus<br />

ensinamentos.<br />

Assim é que a discussão que surge entre a educação formal e o aproveitamento das<br />

experiências de vida trazidas por estes jovens são ou não de utilidade para a reformulação dos<br />

programas de ensino nas escolas?<br />

Aldeia Global e às Tribos:<br />

Podemos dar inicio a discussão dessa questão buscando na teoria da aldeia global de<br />

McLuhan a resposta, observando sua disseminação pelo mundo e como se reorganizou e<br />

adaptaram-se nos locais onde está cultura esta presente e ativa.<br />

A teoria da Aldeia Global de McLuhan que em seu cerne apresenta o conceito do<br />

equilíbrio sensorial humano foi capaz de prever importantes mudanças no processo de<br />

aprendizagem, entendida como a forma pela qual o individuo constrói o seu saber a partir das<br />

experiências cotidianas, em uma época que ainda não se falava de convergência entre<br />

comunicação, educação e tecnologia.<br />

Cabe-nos verificar que estas experiências são frutos da modernidade, que esses jovens<br />

e crianças têm vivido, com a globalização, a tecnologia e a disponibilidade das informações,<br />

como não ocorria no início do século passado.


Tendo como ponto de partida tais afirmações encontramos nessa manifestação cultural<br />

as ideias de McLuhan, que disserta acerca da Aldeia Global, quando fala da chegada de um<br />

mundo unificado, na forma de grande teia e gerido por uma espécie de alma suprapessoal (...).<br />

Como essa manifestação cultural é originária das periferias americanas e acabou por se<br />

espalhar, adquirindo características dos locais onde hoje é um movimento de resistência, que<br />

se utiliza da comunicação boca a boca para informar aos seus integrantes o local, horário e dia<br />

do próximo evento, encontramos nessa ação a configuração de uma rede, conforme afirmou o<br />

autor.<br />

A aldeia global do movimento hip-hop é a síntese da previsão feita por McLuhan, em<br />

sua teoria conforme podemos entender:<br />

Previa McLuhan que, no novo mundo unificado da mídia que estava por se<br />

afirmar, ao contrário, os homens se veriam imersos em uma grande malha<br />

global, um mundo devassado, sobreposto e instantâneo, no qual as ideias se<br />

dissolveriam e as diferenças se anulariam – exatamente como na cultura pop<br />

que ele mesmo via nascer (CASTELLO, 2005).<br />

Portanto, podemos perceber que as ações dos sujeitos e dos movimentos sociais<br />

incorporam as transformações comunicativas da sociedade, organizadas e amplificadas na<br />

rede e na forma de comunicação das posses. Essa sociabilidade das posses em rede mostra<br />

como as comunidades reagem à exclusão de seus elementos, na busca de seus direitos a<br />

cidadania e inclusão social.<br />

Ainda dentro das ideias de McLuhan percebemos a comunicação de massa, uma vez<br />

que os elementos da cultura hip-hop representa a realidade das periferias mundiais seja pelas<br />

mazelas sociais ou pela violência. Porém não é só isso que o Hip-hop busca retratar em seus<br />

elementos culturais.<br />

O movimento hip-hop possui linguagem própria, assim como outras manifestações<br />

culturais, por exemplo, o punk, o gótico, o samba e tantos outros, estes criaram uma forma<br />

própria de comunicação entre os membros participantes do movimento, tornando esta forma<br />

de comportamento, expressão, agir e falar um código de identificação, do que se costuma<br />

denominar de tribos. O que segundo COLIN (1937), remete para a separação dos grupos<br />

sociais na medida em que lutam pelo poder. Este poder para o hip-hop esta representado pela<br />

conquista do direito a cidadania, uma vez que a maioria dos integrantes do movimento é da<br />

periferia, que sofre com o abandono do setor governamental.


Sendo essas linguagens especificas de grupos culturais e, tendo por base os estudos de<br />

sociolinguísticos que demonstram há existência de divisão entre linguagens, divisão que<br />

denomina a linguagem padrão/acadêmica de sociolecto e a linguagem destes grupos (tribos)<br />

de ideolecto, como observa COLIN (1937):<br />

É tempo de dar um nome a essas linguagens sociais recortadas na massa idiomática, e<br />

cujo caráter estanque, por existencial que a principio o tenhamos sentido, segue, através de<br />

todas as correias de transmissão, de todas as gradações e complicações que é licito conceber, a<br />

divisão e a oposição das classes; chamemos a essas linguagens de grupo soliolectos (por<br />

oposição evidente ao ideolecto, ou falar de um único individuo). (COLIN, 1937, p. 96).<br />

Ainda segundo COLIN (1937) afirma o caráter principal do campo sociolectal é que<br />

nenhuma linguagem pode ser-lhe exterior, toda a fala está fatalmente incluída num sociolecto.<br />

Assim podemos perceber que o idiolecto sempre se faz presente.<br />

Encontramos ainda em, “Pela mão de Alice”; de Boaventura de Sousa Santos, razões<br />

para discutir-se o social e o político na pós-modernidade, onde o autor apresenta a tensão<br />

entre a construção simultânea da subjetividade e cidadania, ele parte da análise da evolução<br />

social e histórica do estado permeada pelo estudo do jus-naturalistas, ou seja, pelos três<br />

pilares de regulação do estado.<br />

Neste contexto, a hipertrofia da cidadania social identificada então com o<br />

consumismo promoveu o definhamento da subjetividade, transformada em<br />

individualização, e gerou um mal-estar coletivo que vem desde então se<br />

generalizando. Assim, o compromisso social democrático não deixou<br />

qualquer espaço para o exercício da autonomia e da criatividade. (SANTOS,<br />

1997).<br />

A Indústria Cultural e a Reação do Hip-hop:<br />

Podemos inferir que hoje a maneira de divulgação do movimento hip-hop esta nas<br />

mídias e redes sociais, uma vez que essas oferecem uma maior visibilidade às ações dos<br />

principais MCs, ações essas que são: a venda de CDs, produzidos pelos próprios, camisetas e<br />

souvenires a comercialização desses acontece durante os shows e eventos organizados pelas<br />

diversas posses do hip-hop e também através dos grupos (equipes), que giram entorno desses,<br />

permitindo assim que o movimento continue, mantendo assim a independência e resistência<br />

ao sistema das grandes gravadoras. Evitando assim a massificação dos produtos produzidos<br />

pelo movimento, assim como ocorre com a Indústria Cultural.


A indústria cultural se constitui em um setor específico da produção capitalista, que<br />

engloba toda a produção simbólica, e que tem como elemento unificador a ideologia<br />

dominante, essa busca nos momentos de descanso, deseja ser o prolongamento da dominação<br />

que os trabalhadores sofrem na fábrica, transformando o lazer em fonte de controle social.<br />

A indústria cultural desenvolve fórmulas para seus produtos, que tem sempre os<br />

mesmos elementos básicos, com algum grau de novidade para poder ser consumido, essa<br />

combate a um inimigo já derrotado: o ser pensante, capaz de crítica.<br />

Ao menos no pensamento de Adorno e Horkheimer fica claro que o receptor é mesmo<br />

um sujeito que é manipulado e dominado, sem condições de reflexão e resistência.<br />

Os Estudos Culturais reconhecem que existem intencionalidades de dominação por<br />

parte da Indústria Cultural. No entanto, partem de uma visão de que existem muitos elementos<br />

intervenientes que fazem com que estas intencionalidades se realizem ou não, em partes ou<br />

integralmente.<br />

Essas ações representam a reação de resistência do movimento hip-hop à cultura de<br />

massa, que conforme ADORNO & HORKHEIMER em seus estudos apontaram que a<br />

modernidade e o capitalismo com seus avanços tecnológicos, transformam a cultura e a arte<br />

em mercadorias, que a sociedade passa a consumir como produto da indústria cultural: a<br />

música, o livro, o cinema, o rádio e a televisão. Assim qualquer manifestação cultural que<br />

passa a ser mediada pelos meios de comunicação de massa, devido à sua reprodução em larga<br />

escala, vira produto da indústria cultural. Dessa forma o que era considerado obra de arte se<br />

transforma em produto.<br />

A indústria cultural desenvolveu-se com o predomínio que o efeito, a<br />

performance tangível e o detalhe técnico, alcançaram sobre a obra, que era<br />

outrora o veiculo da ideia e com essa foi liquidada. Emancipando-se, o<br />

detalhe tornara-se rebelde e, do romantismo ao expressionismo, afirmara-se<br />

como expressão indômita, como veiculo do protesto contra a organização<br />

(...). A tudo isso deu fim a indústria cultural mediante a totalidade.<br />

(ADORNO & HORKHEIMER, 1985, p. 118).<br />

Esse traço distintivo motivou especial reflexão sobre como se constituem as indústrias<br />

culturais em países vindos de mestiçagem, de capitalismo tardio e dependente, produzidos a<br />

partir de encontros de cultura, com modernizações conservadoras, além de permitirem<br />

também a análise do deslocamento do popular para o massivo; da relação entre Estado e


indústria cultural; da característica monopolista e conservadora dos empreendimentos em<br />

comunicação etc.<br />

Contudo podemos observar que a maneira na qual vem se desenvolvendo as ações do<br />

movimento cultural refletem a ideia de resistência à indústria cultural e a massificação de seu<br />

trabalho.<br />

Esta forma de trabalho que veem sendo adotada por alguns abnegados do movimento<br />

cultural tem auxiliado no surgimento de novos talentos, além de colaborar com a obtenção de<br />

subsídios econômicos, tanto para a continuidade dos lançamentos de novos CDs, como no<br />

fortalecimento do movimento cultural, que dessa forma tem conquistado muitos adeptos,<br />

assim contribuindo para o crescimento do movimento hip-hop.<br />

A exposição e sucesso desses jovens abnegados nas mídias (rádio e TV) e,<br />

principalmente na rede mundial de computadores, têm levado outros jovens da periferia que<br />

sonham para si e para a família com uma melhoria de vida a se integrarem com mais<br />

determinação ao movimento hip-hop, uma vez que este pode tornar realidade o sonho de sair<br />

do anonimato e do estado de pobreza desses jovens, assim como acontece com outros jovens<br />

que sonhavam com a carreira futebolística, que até a bem pouco tempo no Brasil era a única<br />

forma de o jovem pobre conquistar respeito, mas não a cidadania, uma vez que, os que<br />

alcançam o reconhecimento, na maioria das vezes não possuem informação ou estudo<br />

suficiente para a luta por seus direitos a cidadania, enquanto que os jovens do movimento hip-<br />

hop, talvez por exigência da própria cultura, tem muito mais informação – mas não o<br />

conhecimento acadêmico - o que lhes permite estar mais bem preparado para as revindicações<br />

dos seus direitos a cidadania, o que perpassa pela educação formal.<br />

A adesão ao movimento cultural do hip-hop pode proporcionar a esses jovens pobres<br />

da periferia a ascensão social através do Grafiti – que hoje já se encontra nas galerias de arte –<br />

Rap (a musica), o elemento de maior projeção do movimento e os Rappers/ MCs – os grandes<br />

mestres de cerimônia, que são também os cantores das rimas – do Break – que tem sido<br />

mostrado nas grandes redes de televisão e por meio dos grandes campeonatos transmitidos<br />

pela internet – e por fim os DJ’s que acompanham os MC’s criando novas batidas e<br />

sampleando grandes sucessos transformando-os em novos sucessos.


Podemos perceber que no movimento hip-hop existe uma forma de comunicação,<br />

códigos de conduta e linguagem específicas, que são compartilhadas na ritualidade das<br />

batalhas, festivais e encontros de hip-hop e que se traduzem nas formas de sociabilidade<br />

cotidiana. Os integrantes do movimento valorizam sobremaneira o respeito, a humildade, a<br />

atitude e firmeza do individuo, pois o posicionamento desses indivíduos é que o fará ser<br />

considerado ou não junto aos membros do movimento.<br />

Considerações Finais<br />

O movimento Hip-hop, analisado e apresentado como forma de contestação social e<br />

política, mostrou-se um novo sujeito político da esfera pública no cotidiano da periferia,<br />

instrumento político de uma juventude excluída, que busca através do movimento o<br />

empoderamento e a cidadania, transformando jovens de excluídos sociais, proscritos e<br />

marginalizados a protagonista da cena urbana que surgem como atores de relevância social.<br />

Esses jovens encontram voz no movimento, através do qual podem expressar sua dor e a<br />

angústia de pobres e periféricos que os afligem e, ao mesmo tempo, também podem<br />

manifestar sua vontade de mudar essa situação para melhor.<br />

Essa arte apresenta-se como uma renovada forma de expressão política. Os jovens, por<br />

meio dessa arte (através do rap, do break, do grafite, dos Dj's e Mc's), apropriam-se de modo<br />

simbólico do espaço urbano e promovem críticas à ordem social, a criminalização da periferia<br />

e dos jovens pobres, à mídia e à violência diária em suas várias formas, transmutando assim o<br />

movimento cultural do Hip-hop em uma ferramenta de inclusão e cidadania.<br />

E que a sua utilização como ferramenta de inclusão e cidadania na educação tenda a<br />

expandir para todas as unidades da escola pública, mesmo com a resistência de alguns setores<br />

da sociedade civil, que considera o movimento cultural do hip-hop uma forma de incentivo a<br />

criminalidade, uma vez que conhece muito pouco do que tem feito essa manifestação em prol<br />

da conquista da cidadania e inclusão social de jovens e crianças da periferia.<br />

Quanto à comunicação o hip-hop, apesar de ter conquistado espaço nas mídias<br />

tradicionais, continua sua luta para manter-se como produto de reação e resistência a indústria<br />

cultural, o que é um paradoxo, uma vez que a maior luta dos integrantes do movimento é a<br />

conquista de espaço, voz e poder de representatividade, mas sua luta para não ser engolido


pela máquina da indústria cultural, tornando o seu produto uma simples mercadoria, se<br />

contrapõe a busca dos objetivos que falo acima.<br />

A manifestação cultural do hip-hop é hoje uma rede de sociabilidade em todo o país,<br />

que obedece a regras e valores que são difundidos pelos diversos encontros promovidos pelas<br />

diversas posses, por instituições não governamentais, pelo estado e por associações ligadas ao<br />

movimento, uma vez que esses perceberam que a utilização dessa ferramenta tem auxiliado na<br />

inclusão e no empoderamento da cidadania aos jovens e crianças da periferia, que até bem<br />

pouco tempo só enxergavam a possibilidade de se libertarem da pobreza através do futebol e<br />

que hoje veem no movimento do hip-hop a possibilidade de alcançar projeção social e com<br />

isso auxiliar outros jovens a alcançar a mesma projeção através da cultura hip-hop.<br />

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ADORNO, Theodor Wiesengrund. A Indústria cultural, In: COHN, G. (org.). Theodor W.<br />

Adorno: Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1986.<br />

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fragmentosfilosóficos. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,<br />

1985. p. 118.<br />

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: Novela Sociolinguística. 16ª Ed. São Paulo, Editora<br />

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BARTHES, Roland.<br />

CASTELLO, José. Assim dizia McLuham. 17 out 2005. Disponível em:<br />

HTTP://blogdomarcuscarvalho.blogspot.com/2005/10/assim-dizia-mcluham.html, acesso em;<br />

10 jan.2011.<br />

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Gallimard. Paris. 1937. p. 94.<br />

DUARTE, Cláudio Manoel. EM TORNO DO <strong>HIP</strong> <strong>HOP</strong> – uma entrevista com o professor<br />

Nelson Maca. Disponível em: www.overmundo.com.br/.../em-torno-do-hip-hop-umaentrevista-co...<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 18ª Ed. São Paulo, Editora Paz e Terra S/A., 1988.<br />

p. 34.<br />

HERSCHMANN, Micael (organizador). Abalando os anos 90 - Funk e Hip-hop:<br />

globalização, violência e estilo cultural. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1997. p. 42


Rose, T. “Um estilo que ninguém segura: política, estilo e a cidade pós-industrial no hip hop”.<br />

Em M. Herschmann, (Org.), Abalando os anos 90: funk e hip-hop: globalização, violência e<br />

estilo cultural. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1997. p. 194-199.<br />

TAKARA, Alexandre. Educação Inclusiva: Movimento Hip-hop. São Paulo, Editora<br />

Alpharrabio. 2003. páginas 42-53-85-101.<br />

SANTOS, Souza Boaventura de. Pela mão de Alice – O Social e o Político na Transição do<br />

Pós-Moderno. 4ª Ed. São Paulo,. Editora Cortez, 1997.

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