MISTÉRIOS DA FLANDRES - Pedro Almeida Vieira

— Não percebo como é que este indivíduo viajou
pelo tempo sem máquina! — disse Orlando, intrigadíssimo.
— Que eu saiba é o primeiro que consegue semelhante
proeza sem ficar pelo caminho.
— Quem será?
Como se desejasse responder ao João, o homem
abriu os olhos e pestanejou repetidamente, emitindo
sons arranhados e guturais. Não compreenderam nada
do que dizia, mas uma coisa era certa e segura, estava
apavorado. A sua expressão transmitia um verdadeiro
terror. Condoídos, tentaram ajudá-lo a levantar-se, mas
quando lhe tocaram ele estremeceu como se tivesse
apanhado um choque eléctrico, espalhando à sua volta
uma nuvem de cristais brilhantes que se desfizeram
no ar.
— O que é isto? — berraram os dois irmãos.
No entanto, referiam-se a coisas diferentes. João,
ao surpreendente pó luminoso. Ana, a um fenómeno
estranhíssimo que fazia os pés do homem aparecerem e
desaparecerem como se ele fosse um desenho e alguém
apagasse as extremidades com uma borracha.
— Coitado! — exclamou Orlando. — Ainda não
estabilizou na nossa época! Tenho que o ajudar depressa
senão morre. — Virando-se para a Ana, ordenou:
— Abana-o com força, para ver se ele acorda definitivamente
e toma consciência do que lhe aconteceu. Sem
isso nada feito! Enquanto andar a vogar entre o cá e o
lá, o problema não se resolve.
Ela apressou-se a cumprir a ordem, mas ao primeiro
safanão retirou as mãos.
— Dá choque!
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