MISTÉRIOS DA FLANDRES - Pedro Almeida Vieira

Todos os cientistas que pertenciam à AIVET continham
uma certa impaciência, pois ansiavam divulgar
a sua incrível descoberta. Mas não podiam fazê-lo. Se
as pessoas soubessem que havia brechas no tempo e
que era possível viajar de uma época para outra, seria
o caos. O mais certo era que os «corredores do tempo»
se enchessem de gente decidida a mergulhar no passado
para torcer a História a seu bel-prazer. Uns, com o coração
transbordando de altruísmo, tentariam eliminar os
males e erros da Humanidade. Quanto aos outros, era
melhor nem pensar. Movidos pela cobiça, pela ambição
ou por interesses de toda a ordem acabariam por provocar
autênticas catástrofes.
Que bom fazer parte de um grupo que tinha um
segredo fabuloso e sabia guardá-lo!
As regras de admissão também eram rigorosíssimas.
No entanto, já faziam parte da AIVET homens e
mulheres de todo o mundo. E duas crianças!
«Fui eu que os descobri», pensou com um sorriso.
«O João e a Ana. Gosto tanto deles como se fossem
meus netos!»
Tinha sido precisamente em sua honra que se vestira
a rigor. Calças de ganga. Ténis de marca. Camisolão
largo e comprido com emblema nas costas. Até as meias
eram a condizer. Sentia-se tão bem assim! O espelho
devolvia-lhe a imagem de um homem feliz. Brilhantes,
como sempre, os olhos azuis cintilavam. E ele, que nunca
perdia tempo a observar-se, achou-se bonito. A careca
dava-lhe um ar respeitável, e o bigode branco um certo
tom atrevido e simpático.
«Estava mesmo a precisar de uma mudança radical!»
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