MISTÉRIOS DA FLANDRES - Pedro Almeida Vieira

Abençoando a hora em que decidira fechar as máquinas,
encerrar o laboratório, esquecer todas as fórmulas
e hipóteses que lhe fervilhavam na cabeça, esfregou as
mãos de contente.
«Durante uma semana inteirinha vou viver como
uma pessoa normal. Dormir até tarde, passear a pé, fazer
petiscos e saboreá-los ao ar livre.»
Um assobio prolongado veio interromper-lhe os pensamentos.
— Orlando! Orlando!
— Está alguém em casa?
Eram eles! Radiante, correu a abrir a porta e caíram
nos braços uns dos outros.
— Que bom! Chegaram mais cedo do que eu pensava!
João, impulsivo como de costume, recuou três passos
e mirou-o de alto a baixo.
— Ena! Que elegante!
O velho cientista não disfarçou o seu contentamento.
— Gostam? Foi para vos agradar que me vesti desta
maneira.
— Fez muito bem — disse a Ana. — Está impecável.
Até parece mais novo.
— Mas eu estou mais novo! Estou em férias! Sinto-
-me leve, leve como uma pena.
Dito isto, pôs-se a saltitar à roda da sala, fazendo
movimentos rítmicos com os braços e as pernas.
— Que tal?
— Perfeito! — exclamou o João. — Quando compro
ténis novos, também fico assim.
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