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Por Dentro - The India Road

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Peter Wibaux<br />

anomalia da agulha genovesa». Referia-se ao desvio do Norte verdadeiro, que<br />

se sabia ocorrer na zona dos Açores e que, ao contrário das crenças da altura,<br />

não permitia a medição da longitude, mas indicava efectivamente a proximidade<br />

das ilhas vulcânicas. «Mas no Atlântico Sul, onde haverá ilhas para nos<br />

guiarem? Como saberemos até onde navegar para oeste?».<br />

Abraão voltou a falar. «Concebemos um método, mas requer um piloto de<br />

grande perícia, como tu». Alenquer baixou os olhos; como muitos outros<br />

grandes homens, era modesto em relação aos seus feitos e os elogios deixavam-no<br />

pouco à vontade. «Chamámos-lhe “dente de serra”. Estais de acordo<br />

que quando navegais em linha recta para ocidente, com a contra-corrente<br />

equatorial sul, só podeis utilizar a ampulheta, certo?». Os marinheiros anuíram<br />

com a cabeça, mas de forma algo dúbia.<br />

«A ampulheta é volúvel como uma mulher», desdenhou Dias. «O que diz<br />

não é o que pensa – pode ser tão enganadora para um marinheiro como o canto<br />

da sereia».<br />

«Obviamente», disse Abraão, «a bordo, só há dois instrumentos nos quais<br />

se pode confiar: a agulha de marear e o astrolábio».<br />

«E as bombas», disse Dias. <strong>Por</strong> muito bem calafetadas que estivessem,<br />

todas as embarcações metiam água, principalmente depois de uma tempestade,<br />

sendo frequente toda a tripulação ficar de serviço às bombas até se repararem<br />

os danos. O astrónomo pressentiu que o capitão estava desejoso de mudar de<br />

assunto e esquecer a hipótese de uma rota alternativa. Afinal, Diogo Cão<br />

utilizara um navio muito menos manobrável e atingira a metade sul da costa<br />

angolana. <strong>Por</strong>que iria Dias pôr a expedição em risco com base em noções tão<br />

extravagantes?<br />

Abraão olhou para o colega e viraram-se ambos para Alenquer, que parecia<br />

ser o mais sério dos dois marinheiros. «Acreditamos que podeis melhorar<br />

significativamente a vossa precisão ao navegarem no paralelo ziguezagueando<br />

em forma de dente de serra. Recordais-vos da roda das horas de Behaim? O<br />

quadrante tem oito divisões, cada uma com onze graus e um quarto. Para<br />

saberdes quão para oeste vos haveis deslocado, tomai por rumo uma das divisões,<br />

e se conseguirdes manter o rumo verdadeiro sabereis quanto vos haveis<br />

afastado da latitude». Os marinheiros olharam para ele sem o perceberem.<br />

Abraão desenhou algumas linhas e ângulos num papel. O segredo está na<br />

geometria. Imaginai-vos no Equador. Navegando setenta léguas para sudoeste,<br />

desenhareis um triângulo rectângulo de cerca de cinquenta léguas para sul,<br />

seguidas de cinquenta léguas para oeste. Sabereis quão a sul vos encontrais<br />

pesando o sol. Se a vossa latitude, no fim do percurso, for de 3º S, encontrarvos-eis<br />

3º mais a oeste». Abraão sorriu. «Se o vosso rumo foi sudoeste verdadeiro,<br />

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