Já no terceiro número, o tablóide traz 11 patrocinadores: ENO (sal de fruta, ilustração 2), Steel (engenharia), A Elétrica (loja de lustres), Banco Predial, Companhia Americana de Intercâmbio (importadora de ferro, aço e metais), Loteria do Estado, Forja (material de construção), Mesbla, Livraria e Papelaria Ideal, Cia. Brasileira de Energia Elétrica e Moreira dos Cofres (siderurgia). Na mesma edição o diretor do tablóide convida o público a enviar seus textos, que seriam publicados depois de aprovados por uma “comissão editorial”, cujos membros não figuravam nos créditos do <strong>jornal</strong>. Ilustração 2: <strong>Letras</strong> <strong>Fluminenses</strong>, n. 3, outubro, 1950, p.3. Na década de 1980, Luiz Magalhães encontrou nas escolas particulares um anunciante com grande potencial, passando a publicar informes publicitários de página inteira <strong>sobre</strong> o sistema de ensino de instituições locais, como o Colégio Santa Catarina, o Centro Educacional e o Colégio Figueiredo Costa. Em 1982, o número 30 do <strong>jornal</strong> traz, pela primeira vez, a Confraria do <strong>Letras</strong> <strong>Fluminenses</strong>. Trata-se de uma lista de 23 escritores e simpatizantes que passaram a contribuir financeiramente para a subsistência do periódico. Ao pé da coluna, a chamada: “Inscreva-se na Confraria de LETRAS FLUMINENSES e concorra para o progresso da comunidade intelectual”.
Interessante perceber que um número considerável de signatários tem seus textos publicados do corpo do tablóide. Apesar de não ser uma regra, pois havia outros colaboradores nãoconfrades, acreditamos que o fato de apoiar financeiramente o <strong>jornal</strong> pressionava, de certa maneira, para que tais financiadores não tivessem seus textos vetados, pelo menos, não sistematicamente. Não avaliaremos, aqui, a influência dessa situação na qualidade das obras veiculadas, mas, sim, no relacionamento entre escritor e leitor em <strong>Letras</strong> <strong>Fluminenses</strong>. Em princípio, o público de um <strong>jornal</strong> literário constitui-se de interessados em livros e literatura. Assim, partimos do pressuposto de que tais leitores não abarcam a totalidade dos homens e mulheres de uma determinada sociedade, mas apenas uma parte, uma “fração da corte, do clero, da magistratura e da burguesia rica”, nas palavras de Jean-Paul Satre (1989, p.68). O leitor, singularmente considerado por Sartre como “homem de bem” integra o mesmo grupo social do escritor, por mais que este queira negar: É a burguesia que o lê, e só ela que o sustenta [o escritor] e que decide quanto à sua glória. É em vão que ele finge recuar para considerá-la em conjunto: para julgá-la, seria necessário, em primeiro lugar que ele saísse de dentro dela, e não há outra maneira de sair senão experimentando os interesses e a maneira de viver de uma outra classe. Como ele não se decide a fazer isso, vive na contradição e na má-fé, pois sabe, e ao mesmo tempo não quer saber, para quem escreve. (1989, p.95) No caso de <strong>Letras</strong> <strong>Fluminenses</strong>, o escritor e o leitor se confundem e se completam. Não que o periódico fosse lido apenas por seus colaboradores, mas acreditamos que, em sua maioria, por leitores muito próximos a eles, compartilhando, assim, o mesmo horizonte de expectativas do qual nos fala Hans Robert Jauss. O termo, cunhado pela teoria literária conhecida como Estética da Recepção, diz respeito à “soma das normas estéticas, ideológicas e sociais que são válidas no momento da publicação de uma obra literária” (DIRSCHERL, 1982, p.1). Ora, como um <strong>jornal</strong>, por suas próprias características, nasce para o rápido consumo, é de se esperar que a produção literária – quase sempre inédita – veiculada por ele diga respeito aos valores em voga no momento de sua publicação. O que poderíamos dizer, então, do leitor implícito, conceito cunhado por Wolfgang Iser, colega de Jauss na Universidade de Constança, berço da teoria? Se para Iser o leitor implícito constitui-se daquele imaginado pelo autor ao escrever sua obra, no caso de nosso tablóide, possivelmente ambos – autor e leitor – sejam, figurativamente, a mesma pessoa, ao compartilharem das mesmas referências e valores. Se uma poesia fala de um parque ou uma rua de Niterói, por exemplo, o leitor, sendo morador da mesma cidade do escritor, ou próximo a ela, não terá dificuldade em imaginá-la e, possivelmente, até mesmo a conheça.