Sobre o jornal Letras Fluminenses - Seminário Brasileiro sobre ...
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Interessante perceber que um número considerável de signatários tem seus textos<br />
publicados do corpo do tablóide. Apesar de não ser uma regra, pois havia outros colaboradores<br />
nãoconfrades, acreditamos que o fato de apoiar financeiramente o <strong>jornal</strong> pressionava, de certa<br />
maneira, para que tais financiadores não tivessem seus textos vetados, pelo menos, não<br />
sistematicamente. Não avaliaremos, aqui, a influência dessa situação na qualidade das obras<br />
veiculadas, mas, sim, no relacionamento entre escritor e leitor em <strong>Letras</strong> <strong>Fluminenses</strong>.<br />
Em princípio, o público de um <strong>jornal</strong> literário constitui-se de interessados em livros e<br />
literatura. Assim, partimos do pressuposto de que tais leitores não abarcam a totalidade dos<br />
homens e mulheres de uma determinada sociedade, mas apenas uma parte, uma “fração da corte,<br />
do clero, da magistratura e da burguesia rica”, nas palavras de Jean-Paul Satre (1989, p.68). O<br />
leitor, singularmente considerado por Sartre como “homem de bem” integra o mesmo grupo<br />
social do escritor, por mais que este queira negar:<br />
É a burguesia que o lê, e só ela que o sustenta [o escritor] e que decide quanto à sua glória. É<br />
em vão que ele finge recuar para considerá-la em conjunto: para julgá-la, seria necessário,<br />
em primeiro lugar que ele saísse de dentro dela, e não há outra maneira de sair senão<br />
experimentando os interesses e a maneira de viver de uma outra classe. Como ele não se<br />
decide a fazer isso, vive na contradição e na má-fé, pois sabe, e ao mesmo tempo não quer<br />
saber, para quem escreve. (1989, p.95)<br />
No caso de <strong>Letras</strong> <strong>Fluminenses</strong>, o escritor e o leitor se confundem e se completam. Não<br />
que o periódico fosse lido apenas por seus colaboradores, mas acreditamos que, em sua maioria,<br />
por leitores muito próximos a eles, compartilhando, assim, o mesmo horizonte de expectativas<br />
do qual nos fala Hans Robert Jauss. O termo, cunhado pela teoria literária conhecida como<br />
Estética da Recepção, diz respeito à “soma das normas estéticas, ideológicas e sociais que são<br />
válidas no momento da publicação de uma obra literária” (DIRSCHERL, 1982, p.1). Ora, como<br />
um <strong>jornal</strong>, por suas próprias características, nasce para o rápido consumo, é de se esperar que a<br />
produção literária – quase sempre inédita – veiculada por ele diga respeito aos valores em voga<br />
no momento de sua publicação.<br />
O que poderíamos dizer, então, do leitor implícito, conceito cunhado por Wolfgang Iser,<br />
colega de Jauss na Universidade de Constança, berço da teoria? Se para Iser o leitor implícito<br />
constitui-se daquele imaginado pelo autor ao escrever sua obra, no caso de nosso tablóide,<br />
possivelmente ambos – autor e leitor – sejam, figurativamente, a mesma pessoa, ao<br />
compartilharem das mesmas referências e valores. Se uma poesia fala de um parque ou uma rua<br />
de Niterói, por exemplo, o leitor, sendo morador da mesma cidade do escritor, ou próximo a ela,<br />
não terá dificuldade em imaginá-la e, possivelmente, até mesmo a conheça.