A ESTRATÉGIA EPISTOLAR EM NOVAS CARTAS PORTUGUESAS
A ESTRATÉGIA EPISTOLAR EM NOVAS CARTAS PORTUGUESAS
A ESTRATÉGIA EPISTOLAR EM NOVAS CARTAS PORTUGUESAS
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura<br />
São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128<br />
2<br />
bilhetes. Acima de tudo, o texto inaugural, sintomaticamente uma carta, parece<br />
subordinar todo o universo literário a essa técnica narrativa: “Pois que toda a<br />
literatura é uma longa carta a um interlocutor invisível, presente, possível ou futura<br />
paixão que liquidamos, alimentamos ou procuramos.” (Barreno, [1972] 2010, p. 3)<br />
A opção por essa tipologia sublinha a relação com o texto-fonte, mas<br />
ultrapassa-o, pela intencionalidade de re-inscrição na época contemporânea, como<br />
que a sugerir que as Novas servem, não já à expansão amorosa, antes à denúncia e ao<br />
sarcasmo: “De Mariana tiramos o mote, de nós mesmas o motivo, o mosto, a métrica<br />
dos dias (...) fazendo dela uma pedra a fim de a atirarmos aos outros e a nós<br />
próprias.” (Barreno, 2010, p. 67) Ora, a subversão que operam Novas cartas<br />
portuguesas, lançando mão do modo de representação de certa literatura apodada de<br />
sentimental, mas unindo a esfera do privado à do público, é, por si só, inovadora.<br />
Num momento em que se vivia em Portugal a primavera marcelista, que dava<br />
continuidade às políticas repressivas de Salazar, a obra das Três Marias, nome pelo<br />
qual ficariam conhecidas as autoras, assume um tom de enfrentamento e como que<br />
paroxiza o estado de clausura que se faz sentir no país: “Porque o objeto da paixão é<br />
mesmo pretexto, pretexto para nele ou através dele, definirmos, e em que sentido, o<br />
nosso diálogo com o resto.” (Barreno, [1972] 2010)<br />
Se em Lettres portugaises o amor incondicional da freira pelo objeto amado se<br />
converte em paixão pelo sentimento amoroso, em Novas cartas esse excesso será o<br />
pretexto para o “diálogo com o resto”, tendo-se já afirmado na Carta I que a