A ESTRATÉGIA EPISTOLAR EM NOVAS CARTAS PORTUGUESAS
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Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura<br />
São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128<br />
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pisones ou Carta a um jovem poeta), estas são cartas que têm como matriz as cartas de<br />
amor ou, pelo menos, insistem na referência à paixão, mesmo se se trata da paixão da<br />
escrita:<br />
Não fatigada da escrita, que a vou retomando agora no que tem de talha<br />
solitária como há muito o não fazia e talvez o devendo a isto que nos<br />
impusemos ou nos foi imposto – este exercício da paixão de escrever e da<br />
compaixão a três por vidas nossas e outras que bem desejaríamos mais soltas<br />
e de alegrias (...). (Barreno, [1972] 2010: 292)<br />
Novas cartas enfocam a centralidade da escrita, ampliando possibilidades de<br />
leitura e de interpretação, até pelo caráter, dir-se-ia, experimental de alguns textos.<br />
Curiosamente, apesar das polêmicas que opõem marianistas e seus detratores, e se as<br />
mais recentes investigações parecem ter retirado, definitivamente, do cânone literário<br />
português as cartas seiscentistas, as Novas cartas como que as re-inserem no sistema<br />
das letras portuguesas. Não obstante, resistem a uma visão canônica da literatura.<br />
Sóror Mariana, essa entrou no cânone da literatura universal amorosa e continua a<br />
suscitar recriações.<br />
A evocação de elementos extra-referenciais, como os cafés onde as autoras se<br />
encontrariam para porem em comum as cartas que, individualmente, escreveram dá<br />
pistas de leitura para a re-contextualização da história de Mariana que percorre<br />
gerações de mulheres até a atualidade, vítimas de repressão e alienadas no próprio<br />
corpo.<br />
A estratégia epistolar confere maior flexibilidade a uma obra que, dada a sua<br />
natureza heterogênea, “desordenada”, permite multiplicar as narrativas e os<br />
narradores, alcançando, assim, um “interlocutor invisível” e universal. “Cartas” que