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Santos Oliveira “liberta-se” do PS - O Povo Famalicense

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6<br />

Marcas que Abril não apagou<br />

Foi na ditadura. Desterrada<br />

entre densas serranias.<br />

No recôndito <strong>do</strong> monte mais<br />

ermo. Só, lá bem por trás <strong>do</strong><br />

sol-posto, a professora primária<br />

cumpria a vocação. Respondia<br />

com espírito de missão.<br />

Como foco de luz que<br />

guia a navegação, orientava<br />

almas que iniciava para a<br />

vida. Com abnegação faziaas<br />

despertar para o mun<strong>do</strong> e<br />

para outros patamares da civilização.<br />

Na escola havia<br />

movimento. Sentia-se pulsar<br />

a vida. Faltava to<strong>do</strong> o resto. O<br />

quadro preto, gasto pelo uso,<br />

onde o giz já agarrava mal,<br />

era material didáctico único. A<br />

Caixa Métrica, com a fita<br />

métrica, as medidas de ca-<br />

pacidade em alumínio, o<br />

nível, o fio-de-prumo para o<br />

ensino da geometria e da aritmética,<br />

não estava lá. O<br />

mapa de Portugal Continental<br />

onde os alunos estudavam e<br />

decoravam, acompanhan<strong>do</strong><br />

com o indica<strong>do</strong>r, os nomes<br />

das serras, <strong>do</strong>s rios e <strong>do</strong>s<br />

afluentes, das linhas <strong>do</strong> caminho-de-ferro<br />

e seus ramais<br />

também não estava. Nem o<br />

mapa de Portugal Insular e<br />

Ultramarino onde os Açores,<br />

a Madeira, Cabo Verde, S.<br />

Tomé e Príncipe, Guiné, Angola<br />

e Moçambique – as Pérolas<br />

<strong>do</strong> Império -, Esta<strong>do</strong> da<br />

Índia, Macau e Timor eram<br />

representa<strong>do</strong>s. Muito menos<br />

o Planisfério.<br />

Para maior vergonha, a<br />

escola nem sequer tinha pendura<strong>do</strong>s<br />

na parede os retratos<br />

<strong>do</strong> senhor Presidente <strong>do</strong> Conselho<br />

e <strong>do</strong> Senhor Presidente<br />

da República! A quem eram<br />

Exposição de Ryu Silva chega ao fim<br />

Termina já no próximo sába<strong>do</strong>, dia 2 de Maio, a exposição<br />

de Ryu Silva, que esteve patente no Foyer da Casa das<br />

Artes.<br />

A exposição, intitulada “20 anos de Carreira”, dá a conhecer<br />

o trabalho desenvolvi<strong>do</strong> pelo autor, nasci<strong>do</strong> em 1974<br />

em Viseu, ao longo de duas décadas de exposições. Com<br />

formação base em Educação Visual e Tecnológica com<br />

Doutoramento em "Pintura - Ponto de Referência, Imagem -<br />

Design" na Faculdade de Belas Artes da Universidade de<br />

Entre a ditadura e a democracia<br />

sobrevivem os retratos.<br />

Manifestação suprema <strong>do</strong> cunho<br />

narcisista e <strong>do</strong> culto à personalidade.<br />

Marcas que Abril afinal não apagou.<br />

Por cá, pelo menos. E sobre retratos<br />

por aqui nos ficamos.<br />

devi<strong>do</strong>s respeito e veneração.<br />

Dedicada e perseverante,<br />

a professora não desistia. E<br />

<strong>do</strong> seu parco ordena<strong>do</strong> gastava<br />

dezenas e dezenas de es-<br />

Salamanca. Ao desenvolvimento e pesquisa experimental<br />

próprios associa formação profissional inter complementar<br />

em Cursos de Fusing e em diversas áreas de especialidade:<br />

pintura, cerâmica e azulejo, pintura com englobes, vidra<strong>do</strong>s,<br />

corda seca, raku. Exerce Docência no Ensino Secundário e<br />

é Professor Forma<strong>do</strong>r em atelier próprio. Actualmente, possui<br />

uma galeria privada onde hospeda os seus trabalhos,<br />

aberta aos Amigos/Clientes e Colecciona<strong>do</strong>res.<br />

cu<strong>do</strong>s em selos <strong>do</strong> correio.<br />

Que colocava nos sobrescritos<br />

das cartas que enviava<br />

para o Ministério da Educação.<br />

Sim, que os fax e os emails<br />

pertencem à vida moderna!<br />

A professora pedia respeitosamente.<br />

Com muita humildade<br />

insistia. Os meses<br />

iam entretanto corren<strong>do</strong>. O<br />

ano avançava. O Ministério<br />

da Educação, sim, que não<br />

havia a DREN, a DREC ou a<br />

DREL, respondia com o silêncio.<br />

O dia finalmente chegou.<br />

Dois volumosos pacotes descarrega<strong>do</strong>s<br />

à porta da escola,<br />

abriam novas esperanças à<br />

professora.<br />

De 28 de Abril a 4 de Maio de 2009<br />

PROFESSORA<br />

EDNA CARDOSO<br />

Era a hora por que esperava.<br />

Agora ia poder ser professora<br />

mesmo a sério!<br />

O desapontamento transbor<strong>do</strong>u<br />

na abertura da encomenda.<br />

Necessidades satisfeitas,<br />

a <strong>do</strong>s retratos <strong>do</strong><br />

Senhor Presidente <strong>do</strong> Conselho<br />

e <strong>do</strong> Senhor Presidente<br />

da República! Esta era a<br />

maior de todas as falhas, que<br />

o sistema não podia permitir.<br />

Tarde de mais! Abril explodiu.<br />

A ditadura caiu. Os retratos?<br />

Ah, os retratos!...<br />

Encosta<strong>do</strong>s a um canto, ali<br />

ficaram como múmias petrificadas.<br />

Indiferentes aos olhares.<br />

Esqueci<strong>do</strong>s. Até que o<br />

tempo deles se encarregou.<br />

Ou alguém por ele.<br />

Entre a ditadura e a democracia<br />

sobrevivem os retratos.<br />

Manifestação suprema<br />

<strong>do</strong> cunho narcisista e <strong>do</strong> culto<br />

à personalidade. Marcas que<br />

Abril afinal não apagou. Por<br />

cá, pelo menos. E sobre retratos<br />

por aqui nos ficamos.

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