EM CONTRACORRENTE O valor da indagação da pedagogia na ...
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que esta discussão é particularmente relevante no momento actual, em que se questio<strong>na</strong> o papel e<br />
a <strong>na</strong>tureza do ensino e <strong>da</strong> aprendizagem <strong>na</strong>s instituições de ensino superior, exigindo-se aos professores<br />
que repensem e inovem as suas práticas.<br />
2. Descobridores ou seguidores de caminhos?<br />
Docência é ensi<strong>na</strong>r a pensar. Quem sabe pensar tem mais chances de sobreviver e de ter prazer. Contribui<br />
para a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> dos indivíduos e do país. Considero a docência o <strong>valor</strong> mais alto, mais digno. Mas<br />
onde se encontra a docência <strong>na</strong> bolsa inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l dos saberes e <strong>da</strong> ciência? Ausente. Uma vez decretado<br />
que o <strong>valor</strong> mais alto é a publicação de artigos em revistas inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, publish or perish, os alunos passaram<br />
a ser trambolhos que atrapalham os cientistas (não mais docentes…) <strong>na</strong> busca de excelência.<br />
Ensi<strong>na</strong>r não tem <strong>valor</strong>, não é coisa dig<strong>na</strong>. Um pesquisador que publica artigos vale mais que um professor<br />
que ensi<strong>na</strong> a pensar. Essa é a minha conclusão diante dos critérios de avaliação dos docentes: professor<br />
não vale <strong>na</strong><strong>da</strong>.<br />
Alves, 2000: 248<br />
No momento em que redijo este texto, no início de 2009, vive-se <strong>na</strong>s uni<strong>da</strong>des de investigação<br />
em educação do nosso país um clima de forte preocupação e alguma contestação face à recente<br />
avaliação realiza<strong>da</strong> pela Fun<strong>da</strong>ção para a Ciência e a Tecnologia, <strong>na</strong> qual se constata que, de<br />
facto, e como afirma Rubem Alves, «o <strong>valor</strong> mais alto é a publicação de artigos em revistas inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is».<br />
Se esta visão redutora <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de científica é grave do ponto de vista <strong>da</strong> compreensão,<br />
expansão e fi<strong>na</strong>nciamento <strong>da</strong> investigação educacio<strong>na</strong>l em Portugal, ela é tanto ou mais grave<br />
quanto às suas consequências <strong>na</strong> docência. A afirmação de Rubem Alves de que «ensi<strong>na</strong>r não tem<br />
<strong>valor</strong>, não é coisa dig<strong>na</strong>» pode passar a fazer ca<strong>da</strong> vez mais sentido a partir <strong>da</strong>qui, apesar de o<br />
Processo de Bolonha apontar em direcção contrária. Isto porque o discurso <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />
é um discurso de poder que impõe os termos em que essa quali<strong>da</strong>de deve ser medi<strong>da</strong>, conduzindo<br />
as instituições à sua interiorização e reprodução como condições de sobrevivência, e<br />
reduzindo a sua capaci<strong>da</strong>de e legitimi<strong>da</strong>de de contestação:<br />
Quality assurance demands a self and organization beratement that demoralizes and disempowers. (…)<br />
Resistance cannot be easily declared as it implies espousal of the other side of quality, that is privilege, elitism,<br />
mystification of decision making, unreliability, and shoddiness. (…) Opposition is not easily communicated as<br />
to oppose quality is to to favour its opposite» (Morley, 2003: 165).<br />
Os paradoxos com que temos de li<strong>da</strong>r são ca<strong>da</strong> vez mais gritantes. A par <strong>da</strong> actual retórica de<br />
mu<strong>da</strong>nça e dos esforços empreendidos para a inovação <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas, e em desarticulação<br />
com essa retórica e esses esforços, opera, ca<strong>da</strong> vez mais, uma lógica estreita de produtivi<strong>da</strong>de,<br />
quase exclusivamente centra<strong>da</strong> <strong>na</strong> investigação discipli<strong>na</strong>r, <strong>na</strong> quantificação <strong>da</strong> produção<br />
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