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O cancioneiro popular brasileiro deslocando ... - Ippur - UFRJ

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LADO A<br />

Alguns problemas se nos apresentariam de cara. Problemas que possivelmente não<br />

resultariam em solução ao término desta apreensão. Mas, nos consideraremos parcialmente<br />

satisfeitos em identificá-los como questões metodológicas que venham a contribuir aos<br />

estudos sociais relacionados à música no campo específico da etnomusicologia<br />

contemporânea 3 , com foco nas interpretações de discursos expressos na interseção dos<br />

campos da política, no sentido amplo, e do <strong>cancioneiro</strong> <strong>popular</strong> como foco investigativo.<br />

O primeiro problema, de ordem mais objetiva, diria respeito a como trabalhar, expor e<br />

conceituar o objeto de investigação empírica, o dialogismo expresso nos discursos do<br />

<strong>cancioneiro</strong> <strong>popular</strong> <strong>brasileiro</strong>, em seu caráter prosódico, ou para além dele, contemplando<br />

manifestações sociais relativas ao ethos e ao contexto da canção. Isto é, a canção deveria ser<br />

analisada discursivamente considerando, não só os elementos musicais que a compõem, o que<br />

diz respeito à prosódia, relação música e letra, mas também seu ethos: os gestos, os<br />

movimentos dos corpos, a performance e os ritos que se conjugam com e na canção,<br />

constituindo um sobre-corpo que não se encerra nos limites prosódicos, nem no registro ou<br />

leitura da música em si.<br />

10<br />

Caracterizada pela criação espontânea, pela potência de todos os sons na<br />

tensão de um fluxo constantemente renovado, a música seria destinada a ser<br />

sentida – vivida na sua experiência inefável – e não a ser pensada ou<br />

analisada. Seu sentido residiria menos nos próprios sons que nos estados<br />

afetivos suscitados pela audição (Queiroz, p. 25, 2006).<br />

Sobre essa questão, podemos adiantar como premissa de leitura e atuação no jogo uma<br />

sugestão importante que talvez devesse estar na introdução, no tutorial, mas, como o<br />

problema foi destacado agora, entendemos que a sugestão deve responder a essa questão. A<br />

dica é: o jogo deve ser operado também pela escuta. Apenas ler os versos das canções não<br />

permitirá ordenar percepções para então fazê-las mover. Por isso as canções foram<br />

disponibilizadas para escuta e desde já apelamos para que sejam ouvidas ou simultaneamente<br />

3 A etnomusicologia no Brasil, como discurso que se inscreve no campo acadêmico da música<br />

legitimando-se com o poder de dizer o que é a música folclórica e <strong>popular</strong>, foi revisada no decorrer do<br />

século XX, obedecendo a um percurso que se desdobra desde o naturalismo determinista de olhar<br />

eurocentrado do inicio do século, deixando-se contaminar pelas propostas do modernismo de 20,<br />

pela sociologia da geração de 30, avançando ainda por uma leitura com base no materialismo<br />

histórico e na percepção de classes sociais. O que denomino de etnomusicologia contemporânea<br />

seria algo que procura romper o axioma que estabelece a percepção do objeto de investigação<br />

empírica como sendo a expressão do “outro” completamente diferente de mim. Um “outro”, cujo ethos<br />

em nenhuma medida se aproxima do ethos daquele que pergunta. Para essa etnomusicologia<br />

contemporânea a idéia de participação entre discursos da academia e das comunidades, ethos,<br />

culturas, atenta às pré-construções hierárquicas que um lado ou outro sempre podem incorrer, parece<br />

nortear as pesquisas no campo (Queiroz, Tugny, 2006).

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