O cancioneiro popular brasileiro deslocando ... - Ippur - UFRJ
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O segundo – banca examinadora – ao ocupar lugar de poder, considerando a inevitável marca<br />
de autoridade que produzirá na tese em dado momento, rasura os SD eleitos de um lugar não<br />
menos presente no dialogismo expresso em meu discurso que incorpora aquilo que devo ou<br />
espero ouvir de forma responsiva de meus leitores.<br />
Estes efeitos de rasura entre os SD eu, leitor (Orientador, Banca Examinadora, demais<br />
leitores) e o discurso-tese rasurado (já sob a marca derridiana) correspondem a rasuras<br />
prévias, tendo em vista que o exercício de interpretação discursiva do objeto de pesquisa<br />
empírica 36 ainda não começou.<br />
Apesar de já estarem identificados como Barão da Ralé, Rapaz Folgado e Contente Magoado,<br />
os discursos dos SD eleitos, para o discurso-tese, precisam ser postos em dialogismo entre si,<br />
considerando sua condição discursiva rasurada, considerando a interferência dos discursos<br />
que emergem do contexto e por fim aquilo que prevejo de discursos que resultam das rasuras<br />
prévias: eu, leitores e discurso-tese.<br />
♪♪♫♫<br />
A partir desse momento, a rasura da metodologia passa a atuar de forma constante. O corpus<br />
desloca-se em direção a outra coisa onde não caberia mais dizer o que a música fala ou deixa<br />
de falar. Ou de desvendar significados e sentidos da urbanidade, tradição, modernidade,<br />
ruralidade, identidade, centro, periferia. Trata-se de seguir os deslocamentos como pistas,<br />
através das marcas das rasuras e identificá-los através das canções, tratadas a partir de agora<br />
como rastros daquilo que se investiga nos discursos dos SD eleitos: movimentos de<br />
identificação 37 e reterritorialização 38 dos discursos dos SD eleitos que especificam estratégias<br />
dialógicas de sobrevivência e resistência aos discursos hegemônicos. No calor do embate,<br />
entre hegemonias e singularidades, os nomes da identidade, do urbano, do rural, do moderno e<br />
da tradição deslizam e se re-configuram na medida em que se tenta afirmar o que são.<br />
A princípio deve-se criticar a visão estruturalista do <strong>brasileiro</strong> amarrado na camisa de força<br />
das identidades construídas por opostos: Porém, acredito que será pela marca/rasura dessas<br />
dicotomias (civilizado/primitivo, negro/branco, rural/citadino) que se poderá seguir o rastro<br />
36 Os dialogismos expressos por certo conjunto discursivo do <strong>cancioneiro</strong> <strong>popular</strong> que, segundo<br />
minha interpretação, tematiza sobre construções discursivas do moderno, do urbano, do rural, da<br />
identidade nacional e da tradição.<br />
37 Identificação como sentimentos de empatias fluidas, vulneráveis a rasuras circunstanciais e jamais<br />
fixadas no tempo. Na construção de Stuart Hall, a identificação se expressa como oposição ao<br />
conceito rígido de identidade.<br />
38 Reterritorialização como expresso no Ritornelo de Deleuze (1997), onde a ação de territorializar ou<br />
desterritorializar é entendida como movimento de posse do direito de nomear, lugar de conflitos da<br />
ordem do discurso, mas que expressam relações de dominação objetivadas e concretas.<br />
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