O cancioneiro popular brasileiro deslocando ... - Ippur - UFRJ
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inexoravelmente associado a um SD, ainda que em determinadas circunstâncias, determinado<br />
sentido estabelecido por um SD viesse a se espraiar, tornando-se hegemônico, em certa<br />
situação espaço-temporalmente localizada ou em certo contexto (relativo à interferência que<br />
discursos emitidos de fora do campo da música, produzem, por exemplo, sobre os discursos<br />
dos SD Rapaz Folgado e Barão da Ralé). Porém, como veremos adiante, essa possibilidade,<br />
não se concretiza, não se encerra, da mesma forma que a metodologia não rasurada revelar-se-<br />
ia incapaz de dar conta do movimento que a interpretação do <strong>cancioneiro</strong> <strong>popular</strong> executa. Por<br />
hora seguimos esmiuçando características dos Sujeitos Discursivos, ainda enfatizando a<br />
hermenêutica dialógica, assinalando rasuras quando for necessário fazê-lo.<br />
O sujeito discursivo segundo a hermenêutica dialógica seria uma alegoria cujos discursos se<br />
constituem como tal por intermédio de sua especificação enquanto Linguagem, Língua e Voz<br />
(LLV). Por sua vez, essa especificação é constituída pela interpretação que o intérprete-eu<br />
(cujo discurso está também constrangido pelo dialogismo com o discurso de meus alteres no<br />
presente dessa escrita) faço dos discursos dos SD eleitos e interpretados.<br />
A Linguagem (1) diz respeito à visão de mundo predominante do sujeito discursivo, isto é: se<br />
ele tem uma visão de mundo conservadora ou crítica, tradicional ou moderna, de manutenção<br />
ou transformação das estruturas, etc.<br />
A Língua (2) diz respeito ao modo de expressão do sujeito que em nosso caso geral é a<br />
música, mais especificamente a música <strong>popular</strong> 12 , o que seria aqui uma especificação da<br />
língua. Consideramos seus aspectos fundamentais como a letra, a melodia, o ritmo, os<br />
arranjos, a própria performance em que especifica-se a relação do comportamento do corpo,<br />
do lugar e da forma de execução, analisando possíveis identificações étnico-culturais que<br />
12 Como constituinte do signo musica especificam-se certas subdivisões como música erudita,<br />
folclórica e <strong>popular</strong> cujas características ajudariam a pensar o <strong>cancioneiro</strong> <strong>popular</strong> como língua.<br />
Pode-se adiantar que sob a visão elitista, da primeira metade do século XX, há uma hierarquização<br />
das formas onde a música erudita apresentando forma e conteúdo segundo critérios rígidos de<br />
composição ocuparia o topo. A música folclórica apela para o domínio do puro e da tradição, visto<br />
que remonta para passados distantes e primórdios de manifestações que seriam valorizadas por<br />
discursos acadêmicos e ilustrados no decorrer do século. Mesmo apresentando características de<br />
cruzamento de culturas como a européia, africana, indígena, o fator tempo remoto, que apela, por<br />
exemplo, para o nordeste-medievo dos cordéis da fábula castelã, garante o “valor” desse discurso<br />
segundo os critérios da elite ilustrada. Por fim, a música <strong>popular</strong> corresponde à forma musical menos<br />
valorizada pela elite do campo. Seu caráter híbrido, constituído de ritmos e formas contemporâneas e<br />
urbanas, coisas da “moda” que, por sua vez, se agregam aos ritmos e formas do folclore e do<br />
passado produzindo um “crossover” cultural de tal magnitude e velocidade de movimento que se<br />
torna, inclassificável, aos padrões taxonômicos da música como pensada segundo os critérios do<br />
erudito.<br />
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