A CINDERELA NO MUNDO DA DANÇA - Curso de Dança
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As figuras presentes em Cin<strong>de</strong>rela não são ambivalentes - não são boas e más ao<br />
mesmo tempo, como somos na realida<strong>de</strong>, essa polarização tão presente no universo<br />
infantil também domina o universo da ficção, Bettelheim 55 assim explica:<br />
“Uma pessoa é boa ou má, sem meio termos . Um irmão é tolo e o<br />
outro é esperto. Uma irmã é virtuosa e trabalhadora, as outras são<br />
vis e preguiçosas. Uma é linda, as outras são feias . Um dos pais é<br />
todo bonda<strong>de</strong>, o outro é malvado.” 56<br />
A vilania da madrasta e das irmãs adotivas chama a atenção das crianças, pois as<br />
suas falhas tornam-se insignificantes diante <strong>de</strong> tanta malda<strong>de</strong>, por isso ao ouvir o conto<br />
a criança não se sente tão culpada por sentir raiva <strong>de</strong> seus irmãos. Numa alusão ao<br />
exagero fantástico “por mais que pais e irmãos pareçam tratar-nos muito mal, e por<br />
mais que soframos não é nada em comparação ao <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> Borralheira.” 57<br />
No possível papel <strong>de</strong> borralheira a criança po<strong>de</strong> sentir uma espécie <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong><br />
superficial, tendo uma leve convicção <strong>de</strong> que é superior à mãe e irmãs mantendo um<br />
pensamento <strong>de</strong> que só é tratada <strong>de</strong>sse jeito por ser superior, por achar que, na verda<strong>de</strong>,<br />
as irmãs sentem ciúmes <strong>de</strong>la e por isso a excluem. O que dá ênfase a esse pensamento é<br />
o fim da história que assegura a todas as crianças borralheiras serem <strong>de</strong>scobertas pelos<br />
príncipes.<br />
O conto fala abertamente da rivalida<strong>de</strong> fraterna <strong>de</strong> maneira extrema: os ciúmes e<br />
inimiza<strong>de</strong>s das irmãs e o sofrimento <strong>de</strong> Borralheira quanto a isso. Bettelheim assim<br />
<strong>de</strong>fine:<br />
“As inúmeras outras proposições psicológicas recebem uma alusão<br />
tão encoberta que a criança não toma consciência <strong>de</strong>las. Mas no<br />
inconsciente respon<strong>de</strong> a estes <strong>de</strong>talhes significativos que se referem a<br />
assuntos e experiências <strong>de</strong> que se afastou conscientemente, mas que<br />
continuam criando-lhe gran<strong>de</strong>s problemas.” 58<br />
O interessante é que em nenhum outro conto há essa explanação da madrasta má,<br />
que estabelece missões difíceis para a enteada e exige <strong>de</strong>la um árduo trabalho. Isso<br />
significa para a criança que apesar <strong>de</strong> ser massacrada ela terá sua recompensa, que é<br />
tornar-se a princesa do reino. Se não fosse a Borralheira, a heroína nunca teria se<br />
tornado noiva do príncipe, por exemplo, e as irmãs para quem a madrasta teria sempre<br />
sido uma boa-mãe continuariam sendo conchas ocas 59 , conforme aponta Collete<br />
55 BETTELHEIM. Op Cit.<br />
56 BETTELHEIM. Op Cit, p. 17.<br />
57 BETTELHEIM. Op Cit, p. 281.<br />
58 BETTELHEIM. Op Cit, p. 285.<br />
59 BETTELHEIM. Op Cit, p. 315.