A CINDERELA NO MUNDO DA DANÇA - Curso de Dança
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estão em cena costurando uma manta <strong>de</strong> forma ritmada, coreografada. Elas realizam um<br />
movimento <strong>de</strong> costura exagerado <strong>de</strong> acordo com os acor<strong>de</strong>s da música. A madrasta <strong>de</strong><br />
Cin<strong>de</strong>rela também está em cena, trajando um vestido que possui uma saia gran<strong>de</strong> e<br />
volumosa, com armações que lhe dão um ar ainda maior <strong>de</strong> soberania, ela está sentada<br />
em uma das confortáveis poltronas do cenário observando o trabalho-brinca<strong>de</strong>ira 84 das<br />
filhas e paparicando-as.<br />
O pai <strong>de</strong> Cin<strong>de</strong>rela encontra-se <strong>de</strong> pé ao lado da esposa, e reage <strong>de</strong> maneira<br />
apática a toda a situação. Esse comportamento indiferente do pai apresentado, em cena,<br />
não é claro na obra <strong>de</strong> Perrault, que aliás segue uma <strong>de</strong>nsa patriarcalização. Essa<br />
característica específica do pai está mais ligada aos contos orais narrado entre mulheres<br />
mulçumanas e registrada pela antropóloga Margaret A. Mills. 85 no curso <strong>de</strong><br />
aproximadamente quatro milênios, <strong>de</strong> 7000 a.C. a 3000 a.C. on<strong>de</strong> a socieda<strong>de</strong> seguia<br />
uma linhagem matriarcal.<br />
É interessante ressaltar que o rosto da madrasta é alterado por próteses em seu<br />
nariz e verrugas na região da boca que lhe conferem um ar grotesco, espantoso, <strong>de</strong><br />
acordo com a sua personalida<strong>de</strong> má. Essa associação do feio ao mal é muito comum no<br />
universo encantado dos contos <strong>de</strong> fadas.<br />
Cin<strong>de</strong>rela permanece próxima à lareira, fazendo jus ao significado <strong>de</strong> seu nome<br />
<strong>de</strong> viver entre as cinzas, realizando o seu trabalho serviçal 86 . A madrasta levanta <strong>de</strong> sua<br />
confortável poltrona, vai até o encontro <strong>de</strong> Cin<strong>de</strong>rela com o único intuito <strong>de</strong> insultá-la e<br />
retorna ao lugar <strong>de</strong> origem. O exagero <strong>de</strong> pantomimas <strong>de</strong>ixa nítida a raiva que a<br />
madrasta sente da enteada.<br />
Ballet Bolshoi<br />
84<br />
Assim <strong>de</strong>nominado por convenção da pesquisadora, pois, as filhas, trabalham, mas ao mesmo tempo,<br />
brincam e fazem provocações entre si.<br />
85<br />
CANTON. Op Cit., p.124.<br />
86<br />
Nessa adaptação Cin<strong>de</strong>rela aparece a maior parte do tempo próximo a lareira indo <strong>de</strong> acordo com o<br />
significado elucidado por Bruno Bettelheim “ter que viver entre as cinzas” em seu livro a Psicanálise dos<br />
contos <strong>de</strong> fadas. Op Cit, p. 277.