Fernando Pessoa - Antologia - Rotary Club Coimbra
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outros. .... Chamo insinceras as coisas feitas para fazer<br />
pasmar, e às coisas, também – repare nisto, que é<br />
importante – que não contêm uma fundamental ideia<br />
metafísica, isto é, por onde não passa, ainda que como um<br />
vento, uma noção da gravidade e do mistério da Vida. Por<br />
isso é serio tudo o que escrevi sob os nomes de Caeiro,<br />
Reis, Álvaro de Campos. Em qualquer destes pus um<br />
profundo conceito da vida, diverso em todos três, mas em<br />
todos gravemente atento a importância misteriosa de<br />
existir.<br />
Será um regresso a ele próprio o poema com que<br />
vou finalizar a apresentação. A poesia é mesmo de<br />
<strong>Fernando</strong> <strong>Pessoa</strong>, mas como sempre dum <strong>Fernando</strong><br />
<strong>Pessoa</strong> impossível de se assumir inteiramente como<br />
<strong>Fernando</strong> <strong>Pessoa</strong>:<br />
O tempo que eu hei sonhado<br />
Quantos anos foi de vida!<br />
Ah, quanto do meu passado<br />
Foi só a vida mentida<br />
De um futuro imaginado!<br />
Aqui à beira do rio<br />
Sossego sem ter razão.<br />
Este seu correr vazio<br />
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