Administração de Empresas em Revista - Unicuritiba
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Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
ADMINISTRAÇÃO DE<br />
EMPRESAS EM<br />
REVISTA<br />
FACULDADES INTEGRADAS CURITIBA<br />
FACULDADE DE CIÊNCIAS<br />
ADMINISTRATIVAS DE CURITIBA<br />
ISSN 1676-9457<br />
<strong>Administração</strong> <strong>de</strong> <strong>Empresas</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong> Curitiba a. 4<br />
n. 4 p. 1-138 2005<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
1
2<br />
EXPEDIENTE<br />
ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS EM REVISTA é uma publicação das Faculda<strong>de</strong>s<br />
Integradas Curitiba (FIC)<br />
Diretor Institucional<br />
Luís Cesar Esmanhotto<br />
Diretor-Geral<br />
Ubiratan <strong>de</strong> Mattos<br />
Diretor Acadêmico<br />
Rainer Czajkowski<br />
Comissão Editorial<br />
Cristina Luiza C. Surek, Carlos Luiz Strapazzon, Bortolo Vale, Gisela Maria Bester<br />
Benitez, Rosane Beyer, Fabiano C. Pucci do Nascimento, Marlus Vinicius Forigo,<br />
Mônica <strong>de</strong> Faria Mascarenhas e L<strong>em</strong>os<br />
Revisão: Antonio Carlos Amaral Lincoln<br />
Diagramação: Tatiane Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oliveira<br />
Impressão: Associação <strong>de</strong> Ensino Novo Ateneu (AENA)<br />
Tirag<strong>em</strong>: 200 ex<strong>em</strong>plares<br />
Data: nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2005<br />
En<strong>de</strong>reço: Rua Chile, 1.678 – CEP 80220-181 – Curitiba, PR – Brasil<br />
Telefone: (41) 3213-8700<br />
Site: www.faculda<strong>de</strong>scuritiba.br<br />
E-mail: npesquisa.fic@aena.br<br />
Dados Internacionais <strong>de</strong> Catalogação na Publicação (CIP)<br />
Biblioteca das Faculda<strong>de</strong>s Integradas Curitiba<br />
<strong>Administração</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> revista / Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Administrativas<br />
<strong>de</strong> Curitiba. – Ano 1, n. 1, 2002 - . – Curitiba : Faculda<strong>de</strong>s Integradas Curitiba,<br />
2002 - .<br />
v. ; 24 cm.<br />
Anual.<br />
A partir do ano 3, n. 3, 2004, a revista sofreu reformulações quanto à padronização.<br />
ISSN 1676-9457<br />
1. <strong>Administração</strong> – Periódicos. 2. <strong>Administração</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas – Periódicos.<br />
I. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Administrativas <strong>de</strong> Curitiba.<br />
CDD (21. ed.) – 658.05
CONSELHO CIENTÍFICO<br />
Adriana Machado Casali<br />
Fernando Kulaitis<br />
João Gustavo Ritter<br />
Jorge Luis Marcon<strong>de</strong>s<br />
Isaak Newton Soares<br />
Marcelo Fassina<br />
Marlus Vinicius Forigo<br />
Maurício Reinert do Nascimento<br />
Mônica <strong>de</strong> Faria Mascarenhas e L<strong>em</strong>os<br />
Sandro Aparecido Gonçalves<br />
CONSELHO EDITORIAL<br />
E<strong>de</strong>lvino Razzolini Filho (FCSA/UTP)<br />
Fernando António Gimenez (UNICEMP)<br />
José Augusto Guagliardi (FEA/USP)<br />
Paulo Muller Henrique Prado (UFPR)<br />
Pedro José Steiner Neto (UFPR)<br />
Renato Zancan Marchetti (PUCPR)<br />
EDITOR<br />
Olga Maria Coutinho Pepece<br />
COORDENADOR EDITORIAL<br />
Marlus Vinicius Forigo<br />
3
APRESENTAÇÃO<br />
É com gran<strong>de</strong> prazer que lançamos a quarta edição <strong>de</strong> <strong>Administração</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Empresas</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, das Faculda<strong>de</strong>s Curitiba.<br />
Seguindo a filosofia <strong>de</strong> Heráclito <strong>de</strong> que o Universo se encontra<br />
<strong>em</strong> constante mudança, nossa revista não po<strong>de</strong>ria ser diferente. Nesta<br />
publicação chamamos a atenção para a nova capa, resultado <strong>de</strong> quase<br />
dois anos <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> toda a equipe envolvida com as revistas das<br />
Faculda<strong>de</strong>s Curitiba. Como os leitores po<strong>de</strong>rão observar, a partir do presente<br />
ano, todas as revistas do Curso <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> passarão a ser<br />
ilustradas com pinturas que represent<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s administrativas.<br />
Essa mudança foi proposta no intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a revista com uma<br />
aparência mais mo<strong>de</strong>rna (o que a antiga capa já não oferecia mais) e <strong>de</strong><br />
criar uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> visual, permitindo que <strong>em</strong> qualquer acervo, nossa<br />
revista seja facilmente reconhecida por sua característica diferenciadora<br />
<strong>em</strong> relação às outras publicações da área. A antiga capa, toda azul (representando<br />
a cor do curso) e com o símbolo da <strong>Administração</strong> foi substituída<br />
por uma pintura <strong>de</strong> George Caleb Bingham, intitulada Negociantes<br />
<strong>de</strong> peles no Missouri, <strong>de</strong> 1845.<br />
Esta edição t<strong>em</strong> como primeiro artigo “Adoção do comércio eletrônico<br />
por pequenas <strong>em</strong>presas: implicações para o comércio exterior”, dos<br />
autores Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni. De t<strong>em</strong>a cont<strong>em</strong>porâneo e <strong>de</strong> relevância tanto para<br />
teóricos quanto para <strong>em</strong>presários <strong>de</strong> pequenas <strong>em</strong>presas, esse trabalho<br />
traz para os leitores uma realida<strong>de</strong> ainda pouco explorada teoricamente: a<br />
da inserção e utilização do comércio eletrônico por pequenas <strong>em</strong>presas.<br />
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yára Lúcia Mazziotti Bulgacov,<br />
no segundo texto, buscam i<strong>de</strong>ntificar se os relacionamentos<br />
interorganizacionais constituídos por cinco <strong>em</strong>presas do Paraná são<br />
mantidos <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com seus respectivos centros <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> e<br />
quais as conseqüências das opções <strong>de</strong> relacionamentos interorganizacionais<br />
para a sustentabilida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />
busca por aumento da produtivida<strong>de</strong> e formação <strong>de</strong> conhecimento.<br />
O terceiro artigo, <strong>de</strong> Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes,<br />
apresenta uma análise mercadológica dos bares e casas noturnas da<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba, evi<strong>de</strong>nciando-os não apenas como estabelecimentos<br />
<strong>de</strong>stinados ao serviço <strong>de</strong> refeições, mas também como locais <strong>de</strong> lazer<br />
urbano, propícios para relacionamentos interpessoais e favoráveis para a<br />
vivência da sociabilida<strong>de</strong> nas mais diversas formas.<br />
5
6<br />
Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />
Com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a influência que o ambiente externo<br />
exerce no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão estratégica das organizações e, como<br />
conseqüência, nas mudanças internas necessárias para se a<strong>de</strong>quar às<br />
novas situações, o autor E<strong>de</strong>lcio Pedro Jacomassi escreveu o artigo “Ambiente<br />
externo e processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias organizacionais:<br />
uma revisão e síntese teórica”.<br />
O quinto artigo que encerra esta edição t<strong>em</strong> como título “Orig<strong>em</strong> e<br />
utilização <strong>de</strong> informações <strong>em</strong> <strong>de</strong>cisões organizacionais do setor metalmecânico<br />
brasileiro” trata do t<strong>em</strong>a informação, o que hoje constitui um<br />
recurso estratégico na gestão das organizações e no processo <strong>de</strong>cisório.<br />
O trabalho dos autores Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e Pedro<br />
José Steiner Neto se propõe a verificar qual a relação entre o uso <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />
formais e fonte alternativa <strong>de</strong> informação, no contexto <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas<br />
do setor metal-mecânico brasileiro.<br />
Agra<strong>de</strong>c<strong>em</strong>os a todos que nos enviaram seus trabalhos e damos<br />
os parabéns àqueles que tiveram os trabalhos aceitos.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
Olga Maria Coutinho Pépece<br />
EDITORA
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
SUMÁRIO<br />
ADOÇÃO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO POR PEQUENAS<br />
EMPRESAS: IMPLICAÇÕES PARA O COMÉRCIO EXTERIOR ·<br />
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni .............................................................................. 9<br />
RELAÇÕES INTERORGANIZACIONAIS: ESTUDO EM CINCO<br />
INDÚSTRIAS DE PEQUENO PORTE DO PARANÁ<br />
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e<br />
Yára Lúcia Mazziotti Bulgacov .............................................................. 29<br />
OLHARES CONTEMPORÂNEOS SOBRE CONSUMO<br />
EM BARES E CASAS NOTURNAS<br />
Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes ....................................... 55<br />
AMBIENTE EXTERNO E PROCESSO DE DEFINIÇÃO<br />
DE ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS:<br />
UMA REVISÃO E SÍNTESE TEÓRICA<br />
E<strong>de</strong>lcio Pedro Jacomassi ...................................................................... 77<br />
ORIGEM E UTILIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES EM DECISÕES<br />
ORGANIZACIONAIS DO SETOR METAL-MECÂNICO BRASILEIRO<br />
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto .................................................................... 103<br />
NORMAS EDITORIAIS ........................................................................ 133<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
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Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
ADOÇÃO DO COMÉRCIO<br />
ELETRÔNICO<br />
POR PEQUENAS EMPRESAS:<br />
IMPLICAÇÕES PARA O<br />
COMÉRCIO EXTERIOR ∗<br />
MARCO AURÉLIO ALVES DE MENDONÇA<br />
___________________________________________________________<br />
Professor da Universida<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá,<br />
Doutorando <strong>em</strong> Engenharia <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>as e Computação (UFRJ)<br />
RICARDO MAZORRA PERES FILHO<br />
___________________________________________________________<br />
Aluno do Curso <strong>de</strong> Relações Internacionais,<br />
da Universida<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá<br />
LUCIANA FRANCO GOLONI<br />
___________________________________________________________<br />
Aluna do Curso <strong>de</strong> Relações Internacionais,<br />
da Universida<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá<br />
( ∗ ) Este trabalho é fruto <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> Iniciação Científica, <strong>de</strong>senvolvido no âmbito do<br />
Curso <strong>de</strong> Relações Internacionais, da Universida<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá (Rio <strong>de</strong> Janeiro).<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
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Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
RESUMO<br />
As pequenas <strong>em</strong>presas têm gran<strong>de</strong> importância na economia brasileira.<br />
Com a inovação cada vez maior <strong>de</strong> tecnologias e o surgimento das<br />
tecnologias <strong>de</strong> informação, surgiu a oportunida<strong>de</strong> para as <strong>em</strong>presas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> tamanho, <strong>de</strong> comercializar por re<strong>de</strong>s virtuais. O comércio<br />
eletrônico está firmando-se a cada dia e sua adoção por parte das <strong>em</strong>presas<br />
<strong>de</strong> menor porte po<strong>de</strong> ser oportuna, <strong>em</strong>bora existam riscos. Em termos<br />
<strong>de</strong> exportações, as pequenas <strong>em</strong>presas brasileiras têm participação<br />
satisfatória, e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer uso da internet para exportar<br />
é algo real. Este artigo preten<strong>de</strong> sugerir tópicos para melhor estudo do<br />
assunto.<br />
Palavras-chave: pequena <strong>em</strong>presa, comércio eletrônico, comércio exterior.<br />
ABSTRACT<br />
Small sized enterprises have an important participation in Brazil’s economy.<br />
The information technologies created new opportunities for firms through<br />
the virtual net. The electronic commerce is an important tool and its adoption<br />
by small enterprises is consi<strong>de</strong>red a good <strong>de</strong>al, even though there are<br />
risks to be consi<strong>de</strong>red. In terms of exportation, small firms can improve its<br />
participation if they can use the Internet. This paper suggests issues for<br />
research in this agenda.<br />
Keywords: small enterprises, electronic commerce, foreign tra<strong>de</strong>.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
11
12<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />
A virada do milênio se revelou um período <strong>de</strong> intensas mudanças,<br />
com muitas inovações <strong>em</strong> produtos, mercados e formas <strong>de</strong> organização<br />
<strong>em</strong>presarial. Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que implicam resistência, elas acarretam<br />
a expansão dos limites <strong>de</strong> conhecimentos existentes. Com a diminuição<br />
<strong>de</strong> distâncias, dá-se o cenário <strong>de</strong> globalização.<br />
Huntington (1994, p. 123) prevê que, com a globalização, a maior<br />
interação e contato entre as civilizações, somados ao processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização<br />
econômica como fator <strong>de</strong> enfraquecimento dos Estados-nação<br />
como base <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local, com o crescimento da consciência<br />
civilizacional e do regionalismo econômico, concorreriam para um novo cenário<br />
internacional.<br />
Embora alguns estudiosos consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong> que as pequenas <strong>em</strong>presas<br />
s<strong>em</strong>pre tiveram sua importância no cenário econômico, há autores<br />
que suger<strong>em</strong> um enfoque diferenciado. Afinal, se com a internacionalização<br />
dos mercados, gran<strong>de</strong>s multinacionais expandiram seus domínios, talvez<br />
seja a hora, para o b<strong>em</strong> e para o mal, <strong>de</strong> os pequenos também <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar<strong>em</strong><br />
seu papel.<br />
Sugerimos, neste trabalho, que os pequenos po<strong>de</strong>m contribuir para<br />
o incr<strong>em</strong>ento do comércio internacional. Acredita-se que as tecnologias<br />
<strong>de</strong> informação e comunicação, <strong>em</strong> especial o comércio eletrônico, são<br />
ferramentas que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> concorrer, sobr<strong>em</strong>aneira, para a melhoria <strong>de</strong>sse<br />
cenário, no Brasil.<br />
Este artigo preten<strong>de</strong> sugerir que a adoção do comércio eletrônico<br />
po<strong>de</strong> ajudar na inserção das pequenas e micro<strong>em</strong>presas no comércio<br />
exterior. Está estruturado <strong>em</strong> três seções, além <strong>de</strong>sta introdução e das<br />
consi<strong>de</strong>rações finais. A primeira preten<strong>de</strong> caracterizar as pequenas firmas,<br />
analisando seu papel e importância na esfera econômica. Na segunda<br />
seção, preten<strong>de</strong>-se evi<strong>de</strong>nciar o comércio eletrônico e suas<br />
potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aproveitamento por pequenas <strong>em</strong>presas. O comércio<br />
exterior será tratado na terceira seção, <strong>em</strong> que se sugere que as pequenas<br />
firmas têm muito a contribuir para o incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>le.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
2 PEQUENA E MICROEMPRESA<br />
Qualquer estudo que objetive abordar as pequenas <strong>em</strong>presas <strong>de</strong>para-se<br />
com uma dificulda<strong>de</strong> inicial: como <strong>de</strong>finir as especificida<strong>de</strong>s das<br />
firmas que se enquadram nessa categoria. Na literatura consultada, ficou<br />
clara a ausência <strong>de</strong> um padrão único para <strong>de</strong>fini-las. Exist<strong>em</strong> vários critérios<br />
usados na classificação, e cada um sugere uma abordag<strong>em</strong> distinta.<br />
Tal heterogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> critérios <strong>de</strong> classificação <strong>de</strong>ve-se, <strong>em</strong> parte,<br />
ao fato <strong>de</strong> que o conceito <strong>de</strong> micro ou pequena <strong>em</strong>presa é estabelecido<br />
<strong>em</strong> consonância com as condições gerais do país <strong>em</strong> que essas firmas<br />
estão inseridas. Assim, <strong>em</strong>preendimentos consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> pequeno<br />
porte <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado país po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como <strong>de</strong> médio porte<br />
<strong>em</strong> outros.<br />
Dois são os critérios básicos que dimensionam a pequena firma: o<br />
faturamento e o número <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregados.<br />
Neste trabalho, será <strong>em</strong>pregada a <strong>de</strong>finição do Instituto Brasileiro<br />
<strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE) e do Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às<br />
Micro e Pequenas <strong>Empresas</strong> (Sebrae), que utiliza como parâmetro o número<br />
<strong>de</strong> funcionários 1 , <strong>em</strong>bora o governo fe<strong>de</strong>ral consi<strong>de</strong>re critério <strong>de</strong><br />
faturamento para fins <strong>de</strong> enquadramento tributário. 2<br />
2.1 ESPECIFICIDADES DA PEQUENA E MICROEMPRESA<br />
A relevante participação das pequenas <strong>em</strong>presas no atual cenário<br />
globalizado é <strong>de</strong>scrita por diversos autores. Segundo Montaño (1999,<br />
p. 93), a pequena <strong>em</strong>presa <strong>em</strong>prega, no Brasil, quase 60% da força <strong>de</strong><br />
trabalho e, <strong>em</strong> alguns ramos produtivos, apresenta importante contribuição<br />
na formação do produto interno bruto (PIB).<br />
Solomon (1986, p. 85) afirma que os pequenos negócios são importantes<br />
porque ajustam os níveis <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, <strong>de</strong> acordo com as<br />
1 Segundo o IBGE, micro<strong>em</strong>presa, na área industrial, é aquela dotada <strong>de</strong> até 19 <strong>em</strong>pregados;<br />
pequena, a que possui <strong>de</strong> 20 a 99 funcionários; média, <strong>de</strong> 100 a 499; gran<strong>de</strong>, acima<br />
<strong>de</strong> 500 <strong>em</strong>pregados. No setor <strong>de</strong> comércio e serviços, consi<strong>de</strong>ra-se micro<strong>em</strong>presa a que<br />
possui até 9 <strong>em</strong>pregados; pequena, <strong>de</strong> 10 a 49; média, <strong>de</strong> 50 a 99; gran<strong>de</strong>, acima <strong>de</strong><br />
100.<br />
2 A Lei 9.841, <strong>de</strong> 5/10/1999, <strong>de</strong>fine micro<strong>em</strong>presa <strong>de</strong> acordo com faturamento anual <strong>de</strong> até<br />
R$ 244 mil, enquanto <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> pequeno porte <strong>de</strong>ve faturar anualmente, acima <strong>de</strong>sse<br />
valor, até R$ 1,2 milhão.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
13
14<br />
Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />
flutuações no comércio. Além disso, ajudam a manter o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra,<br />
<strong>em</strong>pregando trabalhadores ou sendo cliente direto dos produtos das gran<strong>de</strong>s<br />
<strong>em</strong>presas.<br />
Montaño (1999, p. 56) corrobora essa visão ao apontar o fomento<br />
das pequenas <strong>em</strong>presas no Estado neoliberal 3 , por essa i<strong>de</strong>ologia, diante<br />
das novas necessida<strong>de</strong>s do capital que implicam retração do po<strong>de</strong>r sindical.<br />
Com isso, o Estado “promove” <strong>de</strong>missão <strong>em</strong> massa, precarização do<br />
vínculo <strong>de</strong> trabalho, perda dos direitos trabalhistas e terceirização.<br />
Assim, as pequenas <strong>em</strong>presas absorv<strong>em</strong> e <strong>em</strong>pregam parte das<br />
massas excluídas do mercado formal. A promoção <strong>de</strong>sse fenômeno é<br />
feita mediante legislação que <strong>de</strong>sburocratize sua criação e via programas<br />
<strong>de</strong> incentivo à <strong>de</strong>missão voluntária. A pequena <strong>em</strong>presa constitui, por conseqüência,<br />
uma importante alternativa ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego provocado pela<br />
corrente neoliberal.<br />
Para Montaño (1999, p. 13-14), há que se analisar a pequena<br />
<strong>em</strong>presa além <strong>de</strong> suas características intrínsecas, as quais correspon<strong>de</strong>m<br />
à sua pequena dimensão, com poucos trabalhadores, baixo volume <strong>de</strong><br />
produção e menor complexida<strong>de</strong>, possuindo escassa divisão <strong>de</strong> tarefas e<br />
alta centralização. Uma análise acurada exige a observação das dimensões<br />
extrínsecas, inserindo-as no contexto socioeconômico e político para<br />
diferenciá-la <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa.<br />
O autor utiliza-se do conceito <strong>de</strong> “composição orgânica do capital”<br />
4 . Ele afirma que as <strong>em</strong>presas com alto nível tecnológico possu<strong>em</strong> sua<br />
parte constante favorecida via automação da produção, portanto caracterizam-se<br />
como gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas. Em contrapartida, as <strong>em</strong>presas que,<br />
por sua precarieda<strong>de</strong> tecnológica, possu<strong>em</strong> sua composição orgânica com<br />
a parte variável favorecida <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da parte constante, integram as<br />
pequenas <strong>em</strong>presas. Por outro lado, a diferenciação entre gran<strong>de</strong> e pequena<br />
<strong>em</strong>presa, <strong>de</strong> acordo com o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Solomon (1986, p. 54), é<br />
feita consi<strong>de</strong>rando-se seus papéis na economia.<br />
3 Fruto da i<strong>de</strong>ologia econômica que surge como resposta à crise no processo <strong>de</strong> acumulação<br />
capitalista <strong>de</strong>flagrada até 1970, como prática política adotada, sobretudo nos anos<br />
80, por organismos internacionais <strong>de</strong> financiamento, sob heg<strong>em</strong>onia dos países centrais,<br />
<strong>de</strong>stinada a estabelecer programas <strong>de</strong> “ajuste estrutural” também nas economias do<br />
Terceiro Mundo, visando enxugar o Estado, <strong>de</strong>ixando sob sua conduta apenas t<strong>em</strong>as<br />
como educação, segurança e saú<strong>de</strong>.<br />
4 É a relação entre valor constante <strong>de</strong> capital – meios <strong>de</strong> produção – e valor variável <strong>de</strong><br />
capital – força <strong>de</strong> trabalho.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
Os dois tipos <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas aten<strong>de</strong>m a diferentes mercados, e a<br />
gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa direciona-se para mercados nos quais a pequena <strong>em</strong>presa<br />
não se interessa ou não t<strong>em</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazê-lo. Os mercados<br />
explorados pelos pequenos negócios são mínimos, instáveis ou aten<strong>de</strong>m<br />
a uma <strong>de</strong>manda marginal e flutuante. Além disso, os recursos utilizados<br />
são distintos, com as gran<strong>de</strong>s companhias fazendo uso <strong>de</strong> recursos primários<br />
mais procurados, enquanto as pequenas faz<strong>em</strong> maior uso <strong>de</strong> recursos<br />
secundários <strong>de</strong> capital e <strong>de</strong> recursos humanos.<br />
Apesar da contribuição das pequenas <strong>em</strong>presas, principalmente,<br />
no que tange à diminuição do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, é imprescindível que se <strong>de</strong>staque<br />
sua fragilida<strong>de</strong>, para que se apont<strong>em</strong> soluções e alternativa a seu<br />
<strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Montaño (1999, p. 93) <strong>de</strong>screve meios <strong>de</strong> produção e tecnologia<br />
obsoletos, gerando <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong> entre t<strong>em</strong>po e custos. Conseqüent<strong>em</strong>ente,<br />
os pequenos <strong>em</strong>presários praticam preços mais altos, reduzindo volume<br />
<strong>de</strong> vendas ou diminuindo a marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> lucro. Desse modo, não é<br />
possível a acumulação <strong>de</strong> capital. O autor aponta sugestões ao isolamento<br />
político das pequenas <strong>em</strong>presas, as quais não possu<strong>em</strong> organizações<br />
representativas perante o Estado. Sugere a criação <strong>de</strong> uma câmara <strong>de</strong><br />
comércio e indústria voltada para as pequenas <strong>em</strong>presas, além <strong>de</strong> suporte<br />
via políticas públicas.<br />
2.2 PEQUENA EMPRESA: NOVO PAPEL NO CENÁRIO<br />
CONTEMPORÂNEO<br />
A conjuntura político-econômica responsável pelo fortalecimento<br />
das pequenas <strong>em</strong>presas, a partir da década <strong>de</strong> 70, é explicada por David<br />
Harvey. Em 1973, o sist<strong>em</strong>a capitalista vivia época <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> recessão,<br />
agravada com a crise do petróleo, que resultou no <strong>de</strong>saparecimento do<br />
fordismo. O fordismo, segundo Harvey (1992, p. 135), caracterizava-se<br />
por rigi<strong>de</strong>z nos mercados e nos contratos <strong>de</strong> trabalho, <strong>em</strong> um cenário no<br />
qual o Estado, <strong>de</strong> acordo com o keynesianismo que figurava até então,<br />
estava comprometido com os programas <strong>de</strong> assistência social e gasto<br />
público.<br />
O único instrumento flexível na economia era a impressão <strong>de</strong> moeda,<br />
responsável por uma onda inflacionária, que afundaria a expansão do<br />
pós-guerra. Esse quadro foi agravado com a <strong>de</strong>cisão da OPEP <strong>de</strong> aumentar<br />
os preços do petróleo e <strong>em</strong>bargar suas exportações para o Oci<strong>de</strong>nte<br />
<strong>em</strong> 1973.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
15
16<br />
Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />
Para o autor, ao fordismo seguiu-se um novo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> acumulação<br />
<strong>de</strong> capital <strong>de</strong>nominado acumulação flexível. Esse sist<strong>em</strong>a apóia-se<br />
na flexibilida<strong>de</strong> dos mercados <strong>de</strong> trabalho, dos produtos e dos padrões <strong>de</strong><br />
consumo. A acumulação flexível procura explicar altos níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego,<br />
ganhos mo<strong>de</strong>stos <strong>de</strong> salários e enfraquecimento do po<strong>de</strong>r sindical.<br />
Diante <strong>de</strong>sse contexto, os <strong>em</strong>pregadores impõ<strong>em</strong> regimes e contratos<br />
<strong>de</strong> trabalho mais flexíveis.<br />
Houve, então, uma redução do <strong>em</strong>prego regular <strong>em</strong> favor do trabalho<br />
<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po parcial, t<strong>em</strong>porário ou subcontratado. Desse modo, a<br />
subcontratação organizada, favoreceria o surgimento <strong>de</strong> pequenos <strong>em</strong>presários.<br />
2.3 PEQUENA EMPRESA NA ERA DO CONHECIMENTO<br />
Concomitant<strong>em</strong>ente às mudanças estruturais ocorridas no mundo<br />
oci<strong>de</strong>ntal, <strong>de</strong>senvolveram-se as tecnologias da informação e comunicação<br />
(TIC). Ferramentas <strong>de</strong> informática, <strong>de</strong> comunicação a distância e<br />
processadores cada vez mais rápidos e eficientes contribuíram para r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lar<br />
o mundo dos negócios e o relacionamento entre países.<br />
Ocorria uma revolução informacional, propiciada pelas novas<br />
tecnologias que originariam um novo padrão: o paradigma tecno-econômico<br />
das tecnologias da informação 5 . Com isso, <strong>em</strong>ergiu novo enfoque<br />
sobre o papel das pequenas <strong>em</strong>presas para o <strong>de</strong>senvolvimento econômico.<br />
6<br />
O padrão atual baseia-se nas tecnologias da informação, porque<br />
importantes inovações na área, <strong>em</strong> computação eletrônica, softwares e<br />
telecomunicações reduziram significativamente custos associados aos diferentes<br />
procedimentos relacionados à informação que influenciam a ativida<strong>de</strong><br />
produtiva. Tais tecnologias afetaram setores econômicos madu-<br />
5 De acordo com Dosi (1982), Fre<strong>em</strong>an (1982) e Perez (1983), paradigma tecno-econômico<br />
(PTE) é um conceito que busca elucidar as transformações estruturais periodicamente<br />
enfrentadas pelas socieda<strong>de</strong>s. Para Lastres e Ferraz (1999, p. 32-33), revela o resultado<br />
do processo <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> combinações viáveis <strong>de</strong> inovações que<br />
provocam transformações e influenciam toda a economia. O PTE é resultado <strong>de</strong> avanços<br />
científicos e pressões competitivas e sociais que procuram superar os limites do padrão<br />
anteriormente estabelecido, além <strong>de</strong> possibilitar novas frentes <strong>de</strong> expansão econômica,<br />
b<strong>em</strong> como produtivida<strong>de</strong> e lucrativida<strong>de</strong>.<br />
6 Ainda que a maioria das pequenas firmas opere <strong>em</strong> ambientes <strong>de</strong> baixo conteúdo<br />
tecnológico, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar a parcela que, com intensas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa<br />
e <strong>de</strong>senvolvimento (P&D), é responsável por importantes inovações.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
ros, como a indústria têxtil, e contribuíram para o surgimento <strong>de</strong> novas<br />
indústrias (como a <strong>de</strong> software) ou serviços (segurança <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as e<br />
comércio eletrônico, por ex<strong>em</strong>plo).<br />
O avanço <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo acarretou o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos<br />
formatos e estratégias <strong>em</strong>presariais, os quais se foram tornando<br />
gradativamente mais intensivos <strong>em</strong> informação e conhecimento, recursos<br />
que passaram a ser consi<strong>de</strong>rados fundamentais, configurando a era<br />
(ou socieda<strong>de</strong>) da informação e do conhecimento. Com isso, surgiram<br />
setores produtivos, serviços financeiros e até mercados.<br />
As elevadas taxas <strong>de</strong> inovação comercial, tecnológica e<br />
organizacional não implicaram o fim da produção <strong>em</strong> massa, mas a<br />
reestruturação do sist<strong>em</strong>a industrial que permite a coexistência com um<br />
padrão <strong>de</strong> especialização flexível, <strong>em</strong> que as micro e pequenas <strong>em</strong>presas<br />
têm papel relevante.<br />
Na era do conhecimento, observar-se-á que as pequenas firmas<br />
possu<strong>em</strong> algumas vantagens, se comparadas às gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas, <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong>s daquelas. Estruturas menos hierárquicas,<br />
recursos humanos escassos, especialização e flexibilida<strong>de</strong> – peculiarida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>ssas <strong>em</strong>presas comumente apontadas – são características<br />
marcantes do novo mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong> acordo com Harvey (1992, p. 140), por<br />
meio do conceito <strong>de</strong> acumulação flexível, que se apóia na “[...] flexibilida<strong>de</strong><br />
dos processos <strong>de</strong> trabalho, dos mercados <strong>de</strong> trabalho, dos produtos e<br />
padrões <strong>de</strong> consumo.”<br />
3 COMÉRCIO ELETRÔNICO COMO NOVO MODELO DE NEGÓCIO<br />
A literatura relacionada ao comércio eletrônico esclarece que a<br />
adoção <strong>de</strong>le por <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> menor porte po<strong>de</strong> ser um el<strong>em</strong>ento que dê<br />
maior fôlego às ativida<strong>de</strong>s, possibilitando queda nos custos e expandindo<br />
o espectro <strong>de</strong> seu mercado consumidor.<br />
Segundo Legey (2001, p. 260), o comércio eletrônico é conseqüência<br />
da utilização das TIC, e, <strong>em</strong>bora muitos acredit<strong>em</strong> que o comércio eletrônico<br />
é recente, essa modalida<strong>de</strong> já v<strong>em</strong> sendo efetuada entre <strong>em</strong>presas<br />
há mais <strong>de</strong> duas décadas, a partir <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s proprietárias <strong>de</strong> intercâmbio<br />
eletrônico <strong>de</strong> dados (eletronic data interchange – EDI).<br />
Embora o termo “comércio eletrônico” não tenha nenhuma <strong>de</strong>finição<br />
amplamente aceita, acredita-se que ele não se limita apenas à compra<br />
e venda <strong>de</strong> produtos por meio <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s eletrônicas, mas uma ativida<strong>de</strong><br />
que inclui os diversos processos necessários a essas transações, e<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
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18<br />
Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />
sua adoção está condicionada à reestruturação dos processos internos<br />
das <strong>em</strong>presas.<br />
No âmbito do comércio eletrônico po<strong>de</strong>m-se caracterizar diversas<br />
modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transação. Quando as primeiras aplicações <strong>de</strong> transferência<br />
eletrônica <strong>de</strong> fundos (electronic funds tranfers – EFT) e intercâmbio<br />
eletrônico <strong>de</strong> dados (electronic data interchange – EDI) 7 começaram a<br />
ser adotadas pelas <strong>em</strong>presas, configurando o que se po<strong>de</strong>ria consi<strong>de</strong>rar<br />
primórdios do comércio eletrônico, esse se limitava exclusivamente ao<br />
relacionamento entre <strong>em</strong>presas, segmento <strong>de</strong>nominado Business-to-<br />
Business (B2B), que é responsável por cerca <strong>de</strong> 90% dos negócios realizados<br />
nesse meio.<br />
Com a chegada da internet, mais serviços foram criados,<br />
objetivando atingir compradores domésticos. Daí surgiu o Business-to-<br />
Consumer (B2C), ou seja, segmento <strong>em</strong> que se realizam negócios, pela<br />
internet, entre <strong>em</strong>presa e consumidor final. Isso significa que, por meio <strong>de</strong><br />
um computador, po<strong>de</strong>-se realizar compras, s<strong>em</strong> que se precise ter qualquer<br />
contato físico com a <strong>em</strong>presa ou ven<strong>de</strong>dor. É importante notar que<br />
exist<strong>em</strong> outras modalida<strong>de</strong>s que consist<strong>em</strong> na transação entre consumidores<br />
(leilões virtuais, etc.), b<strong>em</strong> como as relacionadas ao governo (pagamento<br />
<strong>de</strong> impostos, troca <strong>de</strong> informações e dados, etc.)<br />
O B2B e o B2C são apontados pela Organização <strong>de</strong> Cooperação<br />
para o Desenvolvimento Econômico (OCDE) como modalida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>verão<br />
causar profundos impactos nas <strong>em</strong>presas, mercados e nível <strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>prego pelos efeitos nos custos <strong>de</strong> transações e a criação <strong>de</strong> novos<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios.<br />
O comércio eletrônico envolve funções que traz<strong>em</strong> inovações para<br />
o tradicional processo <strong>de</strong> vendas. Com ele, há a mudança da comunicação<br />
e a forma <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> informações ou documentos, com o<br />
objetivo <strong>de</strong> conseguir mais rapi<strong>de</strong>z no relacionamento comercial, tornando<br />
a transação mais fácil. Com isso, há significativa melhoria nos processos<br />
<strong>de</strong> negócios, uma vez que automatiza e melhora o atendimento a<br />
clientes, parceiros e fornecedores.<br />
Além disso, o gerenciamento <strong>de</strong> serviços se torna mais efetivo, o<br />
que po<strong>de</strong> contribuir sobr<strong>em</strong>aneira para tornar a clientela fiel, já que ela<br />
po<strong>de</strong> dirimir dúvidas ou obter informações on-line. Esse é um fator <strong>de</strong><br />
extr<strong>em</strong>a importância para as pequenas <strong>em</strong>presas que têm como caracte-<br />
7 Tecnologia <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> dados numa <strong>em</strong>presa ou entre diferentes <strong>em</strong>presas, por<br />
meio <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s eletrônicas.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
rística administrativa a centralização da execução <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s nas mãos<br />
do <strong>em</strong>presário que, por falta <strong>de</strong> estrutura, exerce várias funções ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po. Assim, parte <strong>de</strong> seu trabalho fica facilitada.<br />
3.1 DIFUSÃO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO<br />
Tigre (2000, p. 18) <strong>de</strong>staca que, <strong>em</strong> algumas áreas, esse tipo <strong>de</strong><br />
modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócios já se <strong>de</strong>senvolveu. Ex<strong>em</strong>plos são os softwares<br />
(com 16% do total <strong>de</strong> vendas na re<strong>de</strong>), livros (com 14%), hardware, música<br />
e eletrodomésticos. A posição <strong>de</strong> softwares na li<strong>de</strong>rança não causa<br />
nenhuma estranheza, pois num meio tão dinâmico, <strong>em</strong> que a cada dia<br />
surg<strong>em</strong> novida<strong>de</strong>s, nada melhor do que vendê-las pela internet.<br />
Já a posição <strong>de</strong> livros <strong>em</strong> segundo, <strong>em</strong>bora não seja <strong>de</strong> se estranhar<br />
muito, <strong>de</strong>monstra um dos gran<strong>de</strong>s benefícios <strong>de</strong> se trabalhar virtualmente.<br />
A Amazon, maior ven<strong>de</strong>dora <strong>de</strong> livros do mundo, pela internet, já<br />
assusta muitas das gran<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> livrarias, porque, além <strong>de</strong> não haver<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possuir estoque (os pedidos são encaminhados diretamente<br />
à editora), agrega valor ao serviço <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> livros por intermédio<br />
<strong>de</strong> resenhas feitas por profissionais amantes <strong>de</strong> literatura e contratados<br />
pela Amazon.<br />
Embora o comércio eletrônico se tenha <strong>de</strong>senvolvido b<strong>em</strong> nessas<br />
áreas, isso não ocorreu <strong>em</strong> áreas <strong>em</strong> que o consumo é também uma<br />
ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lazer (por ex<strong>em</strong>plo, vestuário), no qual o consumidor gosta<br />
<strong>de</strong> ter contato com o produto, assim como na área <strong>de</strong> alimentos.<br />
No Brasil, o comércio eletrônico t<strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> potencial. Segundo<br />
o IDC 8 , <strong>em</strong> pesquisa realizada no ano 2000, o País é responsável por<br />
mais <strong>de</strong> 40% do dinheiro movimentado por meio do comércio eletrônico<br />
na América Latina. Estudo realizado <strong>em</strong> parceria com a <strong>em</strong>presa <strong>de</strong><br />
consultoria Valve Partners 9 revelou que o crescimento do comércio eletrônico<br />
t<strong>em</strong> sido b<strong>em</strong> acentuado no Brasil.<br />
Além disso, o Brasil v<strong>em</strong> mantendo-se entre os 20 maiores usuários<br />
da re<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong> 90, e o crescimento anual <strong>de</strong><br />
números <strong>de</strong> usuários é gran<strong>de</strong>. Esses valores <strong>de</strong>monstram um gran<strong>de</strong><br />
crescimento na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usuários da re<strong>de</strong> e, conseqüent<strong>em</strong>ente, no<br />
tamanho <strong>de</strong>sse mercado para o comércio eletrônico.<br />
8 International Development Coorporation.<br />
9 Citado pelo relatório “Internet Comercial”, elaborado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia<br />
e publicado <strong>em</strong> abril <strong>de</strong> 2001.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
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Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />
No entanto, <strong>de</strong> acordo com uma pesquisa realizada <strong>em</strong> 2001 pela<br />
Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do Estado <strong>de</strong> São Paulo (Fiesp), apenas 5%<br />
das pequenas firmas paulistas faz<strong>em</strong> transações comerciais pela internet.<br />
O estudo também explicou que 41% das companhias pesquisadas não<br />
preten<strong>de</strong>m realizar investimentos <strong>em</strong> comércio eletrônico. Os números<br />
são baixos, apesar das expectativas <strong>de</strong> crescimento. A pesquisa revela<br />
ainda, que, para essas organizações, os maiores obstáculos para a adoção<br />
<strong>de</strong>ssa aplicação são as dificulda<strong>de</strong>s operacionais e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
realizar reestruturações nos procedimentos que envolv<strong>em</strong> cobrança, compras,<br />
produção e atendimento ao cliente.<br />
Outro levantamento, realizado pela <strong>em</strong>presa IT Mídia 10 , com executivos<br />
<strong>de</strong> 300 <strong>em</strong>presas brasileiras, durante outubro e nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2000,<br />
informou que 39% das firmas que faz<strong>em</strong> negócios eletrônicos estão presentes<br />
no segmento B2B; 33%, no B2C; 28%, <strong>em</strong> ambos. Deve-se ressaltar<br />
que esse estudo não levou <strong>em</strong> conta o porte das <strong>em</strong>presas. Sendo<br />
assim, caso a pesquisa fosse exclusivamente focalizada <strong>em</strong> MPE, os resultados<br />
provavelmente seriam diferentes. Todavia, sabe-se que não apenas<br />
as gran<strong>de</strong>s organizações po<strong>de</strong>m beneficiar-se da tecnologia envolvida<br />
e das potencialida<strong>de</strong>s do comércio eletrônico.<br />
3.2 APROVEITAMENTO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO POR<br />
PEQUENAS EMPRESAS<br />
Exist<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos que favorec<strong>em</strong> o uso do comércio eletrônico<br />
<strong>em</strong> relação à pratica do comércio tradicional, os quais po<strong>de</strong>m beneficiar<br />
as pequenas <strong>em</strong>presas. Dentre eles, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar a expansão do<br />
espaço <strong>de</strong> mercado consumidor para mercados nacionais e internacionais;<br />
a diminuição do custo <strong>de</strong> criar, processar, distribuir, armazenar e<br />
procurar informação com base <strong>em</strong> papel; a redução do t<strong>em</strong>po entre o<br />
<strong>de</strong>linear do capital e a recepção <strong>de</strong> produtos e serviços. A redução <strong>de</strong><br />
custos operacionais e <strong>de</strong> instalação também po<strong>de</strong> atrair a formação ou<br />
inserção <strong>de</strong> pequenas <strong>em</strong>presas nesse mercado, uma vez que muitas<br />
não têm recursos para montar uma loja física.<br />
Outra importante característica do comércio eletrônico é a conseqüente<br />
eliminação <strong>de</strong> intermediários no processo <strong>de</strong> negócios. O fato <strong>de</strong> o<br />
segmento B2B ser o <strong>de</strong> maior parcela no mercado e com maior potencial<br />
10 Citado pelo relatório “Internet Comercial”, elaborado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia<br />
e publicado <strong>em</strong> abril <strong>de</strong> 2001.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
<strong>de</strong> crescimento é basicamente resultado <strong>de</strong>ssa eliminação. Acredita-se<br />
que a re<strong>de</strong> po<strong>de</strong> eliminar os intermediários que apenas repass<strong>em</strong> os produtos,<br />
exigindo uma nova espécie <strong>de</strong> intermediário: o que agrega valor ao<br />
produto.<br />
Deve-se ressaltar, entretanto, que as pequenas firmas enfrentam<br />
uma série <strong>de</strong> obstáculos à utilização do comércio eletrônico, por causa da<br />
própria natureza frágil, além <strong>de</strong> elevados custos <strong>de</strong> estruturação, falta <strong>de</strong><br />
visão quanto aos benefícios trazidos pelas tecnologias <strong>de</strong> informação e<br />
comunicação para o negócio, percepção <strong>de</strong>turpada das oportunida<strong>de</strong>s<br />
trazidas pelo comércio eletrônico ou falta <strong>de</strong> produtos a<strong>de</strong>quados. No entanto,<br />
a utilização das tecnologias da informação po<strong>de</strong>ria permitir que muitas<br />
tarefas sejam automatizadas e favorecer a análise dos processos <strong>de</strong> negócio<br />
e a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> erros e resultados antes que eles se efetiv<strong>em</strong>.<br />
Por isso, um projeto <strong>de</strong> comércio eletrônico vai requerer a preparação<br />
do ambiente interno da organização e possivelmente análise acurada<br />
dos procedimentos <strong>de</strong> trabalho, os quais <strong>de</strong>verão estar <strong>em</strong> consonância<br />
com o tamanho da <strong>em</strong>presa e suas peculiarida<strong>de</strong>s. Para muitas firmas, a<br />
aplicação inicial <strong>de</strong> recursos e as mudanças organizacionais transformamse<br />
<strong>em</strong> barreiras à execução <strong>de</strong> um projeto que envolva tecnologia da<br />
informação.<br />
Além disso, segundo Legey (2001, p. 276), a falta <strong>de</strong> padrões<br />
tecnológicos, comerciais, fiscais e legais também dificultam a entrada das<br />
pequenas firmas no ramo, porque inib<strong>em</strong> as iniciativas <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas que<br />
preten<strong>de</strong>m se estabelecer na internet, mas estas relutam <strong>em</strong> investir <strong>em</strong><br />
tecnologias que possam ser substituídas por alternativa que venha a se<br />
tornar padronizada. O probl<strong>em</strong>a po<strong>de</strong> afetar principalmente as transações<br />
<strong>de</strong> comércio exterior. Outros fatores, como medo da insegurança,<br />
questões jurídicas e até probl<strong>em</strong>as culturais, po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados<br />
inibidores do <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong>.<br />
Sendo consi<strong>de</strong>radas as oportunida<strong>de</strong>s que o comércio eletrônico<br />
cria para as pequenas <strong>em</strong>presas, permite-se consi<strong>de</strong>rar que estas <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />
ter vantagens comportamentais relacionadas à sua maior flexibilida<strong>de</strong> e<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação a mudanças no mercado, quando comparadas<br />
a uma gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa, po<strong>de</strong>ndo assim operar mais facilmente <strong>em</strong> nichos<br />
que apresentam altas taxas <strong>de</strong> inovação. Além disso, segundo Tigre<br />
(2000), tais <strong>em</strong>presas po<strong>de</strong>m aproveitar externalida<strong>de</strong>s positivas quando<br />
participam <strong>de</strong> “re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas” pelo uso da internet. A facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
comunicação introduzida pelas novas tecnologias beneficia a criação <strong>de</strong><br />
re<strong>de</strong>s virtuais, com amplas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> novos conhecimentos.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
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22<br />
Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />
As pequenas firmas também po<strong>de</strong>m aproveitar o movimento <strong>de</strong><br />
terceirização que abre possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contratos com gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas,<br />
para a prestação <strong>de</strong> serviços, mais especificamente no caso <strong>de</strong><br />
micro<strong>em</strong>presas <strong>em</strong> áreas <strong>de</strong> consultoria, software, tradução e edição <strong>de</strong><br />
textos ou engenharia. A difusão da internet abre ainda oportunida<strong>de</strong>s para<br />
produção e venda <strong>de</strong> manufaturados e serviços inteiramente novos, cujo<br />
valor agregado muitas vezes está ligado a informações relevantes, objetivas<br />
ou <strong>de</strong> fácil acesso.<br />
O uso das re<strong>de</strong>s eletrônicas favorece também ao facilitar a inovação<br />
e o aumento da eficiência e acesso a novos mercados, domésticos e<br />
estrangeiros. Pequenas firmas com certo grau <strong>de</strong> capacitação po<strong>de</strong>m i<strong>de</strong>ntificar<br />
e introduzir soluções que utiliz<strong>em</strong> a internet como meio <strong>de</strong> acesso a<br />
mercados, permitindo a supressão <strong>de</strong> barreiras t<strong>em</strong>porais e geográficas<br />
para realizar<strong>em</strong> seus negócios. É importante levar <strong>em</strong> conta que a incorporação<br />
das TIC <strong>de</strong>ntro das pequenas <strong>em</strong>presas não cria apenas oportunida<strong>de</strong>s.<br />
Há benefícios gerados pela troca <strong>de</strong> informações com parceiros<br />
e aperfeiçoamento <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as e rotinas sist<strong>em</strong>áticas, permitindo a essas<br />
firmas uma rápida resposta às mudanças nos padrões <strong>de</strong> consumo.<br />
A melhoria da administração <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> provisão e o maior<br />
controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> são benefícios prováveis, b<strong>em</strong> como o processo <strong>de</strong><br />
distribuição <strong>de</strong> bens e serviços, que implica consi<strong>de</strong>rável redução do t<strong>em</strong>po<br />
entre or<strong>de</strong>m e entrega, aumentando a possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sucesso do<br />
negócio. Atingindo certo nível <strong>de</strong> sucesso, ou produzindo algo atrativo<br />
para mercados externos, uma MPE po<strong>de</strong> exportar sua produção utilizando<br />
o comércio eletrônico.<br />
4 TECNOLOGIA E COMÉRCIO EXTERIOR<br />
A relação entre tecnologia e comercio exterior foi estudada <strong>de</strong> uma<br />
forma pioneira por Posner (1961, p. 34). Mais recent<strong>em</strong>ente, diversos<br />
pesquisadores, li<strong>de</strong>rados pelos ingleses Richard Nelson e Christopher<br />
Fre<strong>em</strong>an, têm sugerido a formação <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as nacionais <strong>de</strong> inovação,<br />
com o objetivo <strong>de</strong> fomentar os ambientes científico e institucional capazes<br />
<strong>de</strong> promover inovações para a competitivida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas. Tais<br />
estudos mostram como a infra-estrutura educacional e científica, os mecanismos<br />
<strong>de</strong> apoio à inovação e cooperação tecnológica e as estratégias<br />
<strong>em</strong>presariais contribu<strong>em</strong> para criar el<strong>em</strong>entos positivos ao esforço exportador<br />
<strong>em</strong> diferentes países.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
Perez e Soete (apud LASTRES; FERRAZ , 1999, p. 29), por ex<strong>em</strong>plo,<br />
<strong>de</strong>stacam que os objetivos dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> inovação <strong>em</strong> países <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>veriam ser distintos dos existentes naqueles já <strong>de</strong>senvolvidos.<br />
Nos países periféricos, a principal tarefa do sist<strong>em</strong>a seria,<br />
<strong>de</strong> acordo com os autores, o aproveitamento <strong>de</strong> “janelas <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>”,<br />
<strong>de</strong> forma a viabilizar a realização <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> catching-up. Isso<br />
inclui não só a transferência <strong>de</strong> tecnologia, mas também a geração <strong>de</strong><br />
capacitação tecnológica capaz <strong>de</strong> conduzir a uma trajetória dinâmica <strong>de</strong><br />
entrada <strong>em</strong> novos mercados. A utilização do comércio eletrônico para<br />
alcançar o mercado externo po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma “janela <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>”.<br />
Guimarães (2002, p. 455) afirma que as pequenas <strong>em</strong>presas s<strong>em</strong><br />
tradição exportadora po<strong>de</strong>m contar com certas facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ingresso<br />
nos mercados externos <strong>em</strong> que as gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas congêneres foram<br />
b<strong>em</strong>-sucedidas. Esses mercados são <strong>de</strong>nominados tradicionais, enquanto<br />
os mercados novos, não tradicionais, faz<strong>em</strong> parte dos planos <strong>de</strong> curto<br />
e médio prazo das gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas exportadoras. Assim, setores produtivos<br />
ou produtos brasileiros com pouca expressivida<strong>de</strong> no cenário internacional<br />
<strong>de</strong>veriam ser orientados preferencialmente para os mercados<br />
externos já conquistados pela gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa.<br />
Não se <strong>de</strong>ve, porém, restringir a atuação externa por <strong>em</strong>presas<br />
brasileiras <strong>em</strong> mercados nas quais nossas gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas ainda não<br />
possu<strong>em</strong> boa reputação. Há casos <strong>em</strong> que o produto a ser exportado t<strong>em</strong><br />
gran<strong>de</strong> potencial no mercado externo, s<strong>em</strong> que haja uma gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa<br />
congênere nacional atuando no exterior. Exist<strong>em</strong> também os casos <strong>de</strong><br />
produtos, típicos ou não, que são <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> uma parcela específica<br />
<strong>de</strong> um mercado. Esses produtos po<strong>de</strong>m ser exportados e têm gran<strong>de</strong><br />
chance <strong>de</strong> manter sua fatia <strong>de</strong> mercado, a qual po<strong>de</strong> não ser gran<strong>de</strong> o<br />
suficiente para interessar a uma média ou gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa.<br />
A participação das pequenas <strong>em</strong>presas na exportação brasileira<br />
era, <strong>em</strong> 2001, <strong>de</strong> acordo com a Fundação Centro <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Comércio<br />
Exterior (FUNCEX), pouco mais <strong>de</strong> 13%, correspon<strong>de</strong>ndo a US$ 7,707<br />
bilhões <strong>de</strong> um valor total exportado <strong>de</strong> US$ 58,139 bilhões. Esse valor<br />
exportado por pequenas firmas 11 cresceu <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 20% <strong>em</strong> quatro<br />
anos. O crescimento da participação das micro e pequenas <strong>em</strong>presas, na<br />
11 Das quase 17 mil <strong>em</strong>presas exportadoras brasileiras, <strong>em</strong> 2001, pouco mais <strong>de</strong> 11 mil<br />
<strong>de</strong>las eram micro ou pequenas <strong>em</strong>presas, representando aproximadamente 65% do<br />
total <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s produtivas.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
23
24<br />
Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />
pauta <strong>de</strong> exportação brasileira <strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong> 90 até a atualida<strong>de</strong>,<br />
po<strong>de</strong> ser relacionado, até certo ponto com a integração regional.<br />
De acordo com Guimarães (2002, p. 477), existe certa s<strong>em</strong>elhança<br />
<strong>de</strong> características que levaram os países a operar com estruturas produtivas<br />
similares <strong>em</strong> termos tecnológicos, favorecendo um intercâmbio<br />
mais simétrico vis-à-vis do Brasil com os países <strong>de</strong> outros continentes.<br />
Assim, a <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> menor porte, que participava com 1,7% do mercado<br />
do Mercosul 12 <strong>em</strong> 1995, passou para 2,9% <strong>em</strong> 2001, com um crescimento<br />
<strong>de</strong> 71% no período. Nos outros gran<strong>de</strong>s mercados (Aladi 13 , Nafta 14 , Europa<br />
e Ásia), a participação das exportações das pequenas <strong>em</strong>presas pouco<br />
se alterou, valendo registrar que manteve seus espaços competitivos<br />
conquistados.<br />
O acesso a mercados distantes, segundo Guimarães (2002, p. 478),<br />
<strong>de</strong>veria ocorrer por meio <strong>de</strong> especializadas <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> exportação nesses<br />
mercados e não pela agressivida<strong>de</strong> comercial da pequena <strong>em</strong>presa<br />
produtora isoladamente. Dessa maneira, uma <strong>em</strong>presa com alguma estrutura<br />
po<strong>de</strong>ria optar pela tentativa <strong>em</strong> um mercado distante, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
tenha o apoio <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> exportação especializada no mercado<br />
escolhido, levando <strong>em</strong> conta as práticas comerciais nesse local, assim<br />
como as diferenças comerciais. Talvez nesse nicho estivesse a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> a pequena <strong>em</strong>presa fazer comércio eletrônico.<br />
3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PEQUENA EMPRESA<br />
EXPORTADORA<br />
É importante mencionar as políticas <strong>de</strong> apoio às exportações para<br />
as pequenas firmas. As principais iniciativas <strong>em</strong> curso <strong>de</strong> política<br />
tecnológica para exportações são o Programa <strong>de</strong> Apoio Tecnológico à<br />
Exportação (Progex), o Programa Novos Pólos Exportadores (PNPE) e<br />
as ações da Agência <strong>de</strong> Promoção <strong>de</strong> Exportações (Apex).<br />
O Progex t<strong>em</strong> por objetivo prestar assistência tecnológica às<br />
micro<strong>em</strong>presas que queiram tornar-se exportadoras ou àquelas que já<br />
exportam e <strong>de</strong>sejam melhorar seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho nos mercados externos.<br />
12 Mercado Comum do Sul, constituído inicialmente por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.<br />
13 Associação Latino-Americana <strong>de</strong> Integração, constituída por Uruguai, Argentina, Paraguai,<br />
Chile, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela e México.<br />
14 Tratado <strong>de</strong> Livre Comércio da América do Norte, constituído por México, Estados Unidos<br />
e Canadá.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
O programa conta com recursos <strong>de</strong> vários fundos setoriais, apoiando<br />
melhorias da qualida<strong>de</strong> e do processo produtivo e redução <strong>de</strong> custos,<br />
entre outros incentivos.<br />
O PNPE t<strong>em</strong> por objetivo <strong>de</strong>senvolver mediante estímulo e apoio<br />
tecnológico e comercial a <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> setores com propensão exportadora,<br />
sobretudo as <strong>de</strong> menor porte, visando <strong>de</strong>sconcentrar as exportações<br />
brasileiras <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> produtos, <strong>em</strong>presas e mercados <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino.<br />
Já a Apex <strong>de</strong>senvolve parcerias com entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe <strong>em</strong>presariais<br />
e outras instituições s<strong>em</strong> fins lucrativos, para a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong><br />
programas <strong>de</strong> promoção comercial <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> pequeno porte. É<br />
responsável por apoiar pela a<strong>de</strong>quação dos produtos e preparação para<br />
a exportação, trabalhando com projetos <strong>de</strong> cunho setorial, horizontal, consórcios<br />
ou cooperativas, e isoladamente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as <strong>em</strong>presas se comprometam<br />
com metas <strong>de</strong> exportação e com a geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos.<br />
Os três programas são direcionados a <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> pequeno porte,<br />
com intuito <strong>de</strong> exportar<strong>em</strong>, as quais necessit<strong>em</strong> <strong>de</strong> maior capacitação<br />
tecnológica e <strong>de</strong> capacitação do produto <strong>em</strong> termos das normas técnicas<br />
internacionais. A capacitação tecnológica po<strong>de</strong> ser a informatização da<br />
<strong>em</strong>presa, para que esta possa usufruir os benefícios gerados não só pela<br />
informatização, mas também se inserindo no mundo virtual, po<strong>de</strong>ndo ter<br />
maior contato com fornecedores pela re<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sfrutar do comércio eletrônico,<br />
voltado para a exportação.<br />
Embora esse apoio seja incipiente, ele <strong>de</strong>monstra que há uma<br />
iniciativa no sentido <strong>de</strong> incentivar as exportações por parte dos pequenos<br />
<strong>em</strong>preendimentos, levando <strong>em</strong> conta suas necessida<strong>de</strong>s e fragilida<strong>de</strong>s.<br />
Por causa <strong>de</strong>ssas fragilida<strong>de</strong>s, Lima e Carvalho Junior (2000, apud<br />
LASTRES; FERRAZ , 1999, p. 38), acreditam que seria <strong>de</strong>sejável “ensinar”<br />
as firmas a trabalhar<strong>em</strong> <strong>em</strong> conjunto. Segundo esses autores, a experiência<br />
internacional <strong>de</strong>monstra que as menores <strong>em</strong>presas obtêm melhores<br />
condições para alcançar sucesso nos seus processos <strong>de</strong><br />
internacionalização. É preciso que pass<strong>em</strong> a operar <strong>em</strong> ambiente cooperativo<br />
para o <strong>de</strong>senvolvimento ou a absorção <strong>de</strong> tecnologia, a elaboração<br />
<strong>de</strong> novos produtos ou o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> processos, a conquista <strong>de</strong><br />
mercados, o compartilhamento <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> uso comum como <strong>em</strong>presas<br />
<strong>de</strong> distribuição internacional e <strong>de</strong> logística, a captação <strong>de</strong> recursos<br />
creditícios, etc. Os autores afirmam que uma estratégia <strong>de</strong> capacitação<br />
<strong>em</strong>presarial para exportações <strong>de</strong>finida com base nesses princípios seria<br />
mais eficaz para fortalecer e ampliar a participação <strong>de</strong> exportadores já<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />
25
26<br />
Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />
atuantes, assim como para estimular a entrada <strong>de</strong> novas <strong>em</strong>presas, ambas<br />
condições necessárias para a expansão das exportações.<br />
No entanto, <strong>de</strong> acordo com Tigre (2000, p. 25), o crescimento das<br />
exportações por parte das pequenas firmas brasileiras é, <strong>em</strong> curto prazo,<br />
limitado, tendo poucas perspectivas <strong>de</strong> exercer impacto sobre a balança<br />
comercial, uma vez que não são <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s produtores, cujo<br />
volume <strong>de</strong> exportação certamente é maior. Existe, porém, o lado positivo<br />
<strong>de</strong> se incentivar as exportações por parte das <strong>em</strong>presas menores. Elas<br />
geralmente exportam produtos diferentes das gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas, alguns<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor agregado, como, por ex<strong>em</strong>plo, software, diversificando a<br />
pauta nacional <strong>de</strong> exportação.<br />
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
No Brasil, a pequena <strong>em</strong>presa perfaz um papel muito especial e<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a economia. São esses <strong>em</strong>preendimentos<br />
que absorv<strong>em</strong> e <strong>em</strong>pregam as massas do mercado <strong>de</strong> trabalho formal,<br />
excluídas por conta das ações aintrozidas pelo Estado neoliberal.<br />
Com a difusão das novas tecnologias <strong>de</strong> informação, essas firmas<br />
passaram a ter mais relevância, porque a natureza ágil <strong>de</strong> tais aplicações<br />
permite e facilita o relacionamento com fornecedores ou parceiros, além<br />
<strong>de</strong> criar a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua utilização para fins comerciais. A adoção<br />
do comércio eletrônico po<strong>de</strong>, portanto, gerar diversos benefícios, <strong>de</strong>ntre<br />
os quais se <strong>de</strong>staca a ampliação do mercado consumidor. Todavia, essas<br />
implicações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser abordadas <strong>de</strong> forma cuidadosa e, se possível, <strong>de</strong><br />
forma setorial.<br />
Embora o comércio eletrônico tenha um gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> aproveitamento,<br />
e, até mesmo, vantagens sobre o comércio tradicional, <strong>de</strong>vese<br />
levar <strong>em</strong> conta a existência <strong>de</strong> riscos. Para ser b<strong>em</strong>-sucedido, um<br />
pequeno <strong>em</strong>presário <strong>de</strong>ve investigar a aceitação <strong>de</strong> seu produto, já que<br />
há aqueles que não geram resultados positivos no âmbito virtual (o mercado<br />
consumidor e a concorrência), além <strong>de</strong> utilizar as ferramentas corretas<br />
<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e propaganda.<br />
O comércio eletrônico também po<strong>de</strong> ser um meio <strong>de</strong> incr<strong>em</strong>ento<br />
das exportações e talvez uma janela <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para a inserção das<br />
pequenas e micro<strong>em</strong>presas nesse cenário. Contudo, há que se consi<strong>de</strong>rar<br />
que o comércio internacional é ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> risco. A inserção no mercado<br />
externo exige o conhecimento das tradições e culturas locais. Além<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.
Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />
Luciana Franco Goloni<br />
disso, <strong>de</strong>ve-se estar apto a aten<strong>de</strong>r a um aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda por seu<br />
produto.<br />
O pequeno <strong>em</strong>presário muitas vezes não t<strong>em</strong> como adquirir e<br />
manusear tais informações. Num mundo globalizado (e digitalizado), ven<strong>de</strong>r<br />
produtos ou serviços para outras <strong>em</strong>presas maiores, ou mesmo consumidores<br />
finais, <strong>em</strong> outros países, por meio da internet ou outra re<strong>de</strong>,<br />
requer capacitação, conhecimento e informação.<br />
Tudo indica que esse processo está <strong>em</strong> crescimento e se consolidando<br />
como alternativa viável para a negociação <strong>de</strong> produtos e serviços.<br />
Nesse sentido, trata-se <strong>de</strong> uma opção consi<strong>de</strong>rável para pequenos<br />
produtores ou reven<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> produtos típicos que tenham estrutura<br />
suficiente para manter uma loja virtual, ou fornecedores <strong>de</strong> serviços<br />
especializados que visam ampliar seu mercado consumidor <strong>de</strong> uma<br />
maneira menos custosa.<br />
Supondo que o pequeno <strong>em</strong>presário consi<strong>de</strong>re a utilização do comércio<br />
eletrônico <strong>em</strong> seu <strong>em</strong>preendimento, acredita-se <strong>em</strong> possíveis benefícios<br />
advindos <strong>de</strong>ssa aplicação, o que justificaria uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> investimento<br />
com boa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retorno, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das condições<br />
<strong>em</strong> que está inserida da ativida<strong>de</strong> produtiva.<br />
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Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
RELAÇÕES<br />
INTERORGANIZACIONAIS:<br />
ESTUDO EM CINCO<br />
INDÚSTRIAS DE PEQUENO<br />
PORTE DO PARANÁ<br />
ANGÉLICA GALVES<br />
___________________________________________________________<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
29<br />
Mestre pela UFPR<br />
DR. SERGIO BULGACOV<br />
___________________________________________________________<br />
Professor do Programa <strong>de</strong> Mestrado<br />
e Doutorado <strong>em</strong> <strong>Administração</strong> da UFPR<br />
DRA. YÁRA LÚCIA MAZZIOTTI BULGACOV<br />
___________________________________________________________<br />
Professora do Curso <strong>de</strong> Mestrado<br />
<strong>em</strong> <strong>Administração</strong> da UnicenP
30<br />
Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
RESUMO<br />
Levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração os estudos sobre relações interorgani-zacionais<br />
na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção e sobre o foco das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios, procurou-se<br />
i<strong>de</strong>ntificar, neste trabalho, se os relacionamentos interorganizacionais<br />
constituídos por cinco <strong>em</strong>presas do Paraná são mantidos <strong>em</strong><br />
conformida<strong>de</strong> com seus respectivos centros <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>. Procura-se<br />
verificar também quais as conseqüências das opções <strong>de</strong> relacionamentos<br />
interorganizacionais para a sustentabilida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> termos<br />
<strong>de</strong> busca por aumento da produtivida<strong>de</strong> e formação <strong>de</strong> conhecimento.<br />
Utilizando-se <strong>de</strong> investigação multicaso, com abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong>scritiva e<br />
qualitativa, os dados permit<strong>em</strong> concluir que as relações interorganizacionais<br />
das cinco <strong>em</strong>presas industriais pesquisadas segu<strong>em</strong> a lógica<br />
da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, assim como há forte <strong>de</strong>pendência das organizações,<br />
<strong>em</strong> relação às características pessoais e comportamentais dos dirigentes.<br />
Prevalec<strong>em</strong> os acordos informais, e a busca pela segurança é o<br />
que preserva os relacionamentos, <strong>de</strong> acordo com suas configurações. Os<br />
dirigentes não estão cientes ou orientados para as possibilida<strong>de</strong>s situadas<br />
no fluxo abaixo das ca<strong>de</strong>ias. Não há coerência nas ações orientadas<br />
para o fortalecimento da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, entre outras consi<strong>de</strong>rações.<br />
Palavras-chave: relações interorganizacionais, centro estratégico <strong>de</strong><br />
gravida<strong>de</strong>.<br />
ABSTRACT<br />
Consi<strong>de</strong>ring the studies on inter-organisational relations in the production<br />
chain, with focus of the business-oriented activities, this research inten<strong>de</strong>d<br />
to i<strong>de</strong>ntify if the interorganizations relationships of five companies in the<br />
Parana state are kept in compliance with its strategy centers of gravity.<br />
The research also inclu<strong>de</strong>d the study of the consequences of options in<br />
the interorganisations relationships for the sustentabilida<strong>de</strong> of the<br />
companies in terms of increase of productivity and knowledge. Using of<br />
multi case research, with <strong>de</strong>scriptive and qualitative approach. The data<br />
allow us to conclu<strong>de</strong> that the inter-organisational relations of the five<br />
companies followed the logic of the production chain, as well a strong<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce in the personal characteristics of the controllers; the informal<br />
agre<strong>em</strong>ents prevail, among other consi<strong>de</strong>rations.<br />
Keywords: interorganisation relationship, strategic center of gravity.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
31
32<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />
Estudos clássicos dos relacionamentos interorganizacionais têm<br />
tido <strong>de</strong>staque, principalmente com a abordag<strong>em</strong> da interação interpessoal<br />
e da abordag<strong>em</strong> sistêmica das re<strong>de</strong>s formais e informais e suas relações<br />
<strong>de</strong> troca. Pesquisas recentes <strong>de</strong>monstram que a maioria das organizações<br />
ainda não se <strong>de</strong>u conta <strong>de</strong> que o relacionamento <strong>em</strong> re<strong>de</strong>s, estrategicamente<br />
direcionado, po<strong>de</strong> ser forte aliado das pequenas <strong>em</strong>presas na<br />
busca pela competitivida<strong>de</strong> sustentável (PECI, 1999; ALMEIDA; FERREIRA<br />
DA SILVA; ALMEIDA JUNIOR, 1998; CASAROTTO FILHO; PIRES, 1998).<br />
A busca por mo<strong>de</strong>los que expliqu<strong>em</strong> o relacionamento<br />
interorganizacional e suas conseqüências para as organizações t<strong>em</strong> conquistado<br />
espaço entre os pesquisadores. Há várias tentativas <strong>de</strong> entendimento<br />
do como e do porquê dos relacionamentos, assim como dos resultados<br />
socioeconômicos daí auferidos para a <strong>em</strong>presa e para o contexto<br />
<strong>em</strong> que está inserida. Dentro <strong>de</strong>ssa mesma preocupação, este trabalho<br />
busca a junção <strong>de</strong> duas abordagens: a teoria do relacionamento<br />
interorganizacional e o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção para a explicação<br />
das relações das organizações pesquisadas.<br />
Enten<strong>de</strong>-se o conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento interorganizacional<br />
como o conjunto <strong>de</strong> organizações, cujos relacionamentos sociais<br />
estão engajados <strong>em</strong> conduzir ações socioeconômicas que tenham significado<br />
para as partes e que persistam, ao longo do t<strong>em</strong>po, preservando a<br />
autonomia <strong>de</strong> cada uma das <strong>em</strong>presas participantes. A ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção,<br />
por sua vez, representa todo o processo do setor, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a extração<br />
da matéria-prima até a venda ao consumidor final, envolvendo diferentes<br />
ativida<strong>de</strong>s focais <strong>de</strong> negócios (GALBRAITH, 2001).<br />
A busca pelo entendimento <strong>em</strong>pírico recai sobre o seguinte probl<strong>em</strong>a<br />
<strong>de</strong> investigação: <strong>de</strong> que forma as relações interorganizacionais <strong>de</strong> cinco<br />
industriais do Paraná segu<strong>em</strong> a lógica <strong>de</strong> suas ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> produção?<br />
Os objetivos específicos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>finidos como:<br />
a) i<strong>de</strong>ntificar o posicionamento no centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> das cinco<br />
<strong>em</strong>presas pesquisadas;<br />
b) i<strong>de</strong>ntificar os critérios utilizados para a seleção dos atores da<br />
estrutura <strong>de</strong> relacionamento;<br />
c) i<strong>de</strong>ntificar os relacionamentos interorganizacionais existentes nas<br />
<strong>em</strong>presas pesquisadas;<br />
d) verificar a congruência entre o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> e os relacionamentos<br />
<strong>em</strong> re<strong>de</strong> e seus efeitos sobre a sustentabilida<strong>de</strong> das<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
<strong>em</strong>presas participantes, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e aprendizag<strong>em</strong>.<br />
2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E EMPÍRICOS<br />
Na perspectiva contingencial e na visão baseada <strong>em</strong> recursos, as<br />
exigências <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> para as <strong>em</strong>presas suger<strong>em</strong> a interação<br />
interorganizacional para suprimento conjunto das <strong>de</strong>ficiências internas <strong>de</strong><br />
recursos como forma <strong>de</strong> ganho <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e aprendizag<strong>em</strong> para a<br />
competitivida<strong>de</strong> (BARNEY; HESTERLY, 1996; KAY, 1996), assim como<br />
as exigências do mercado, muitas vezes, inviabilizam a <strong>em</strong>presa pela<br />
impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle sobre todas as etapas do processo produtivo,<br />
o que conduz ao estabelecimento <strong>de</strong> parcerias com a formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s<br />
interorganizacionais (LOPES; MORAES, 2000; RYNGELBLUM, 1999).<br />
Seguindo essa pr<strong>em</strong>issa, Schommer (2000) ressalta a importância<br />
do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> algumas condições favoráveis para que as<br />
virtu<strong>de</strong>s das relações <strong>de</strong> cooperação interorganizacional se torn<strong>em</strong> ótimas<br />
e potencializadas. Nesse sentido, i<strong>de</strong>ntifica-se que os aspectos mais<br />
evi<strong>de</strong>ntes do ambiente <strong>de</strong> uma organização são as outras organizações<br />
“[...] que influ<strong>em</strong> sobre ela, como concorrentes, fornecedores, clientes,<br />
sindicatos ou órgãos controladores” (PERROW, 1981, p. 150). Essa teia<br />
<strong>de</strong> inter-relacionamento é ampla e complexa, mas constitui tentativa <strong>de</strong><br />
se atenuar à insegurança. Assim, na busca pela sustentabilida<strong>de</strong> e tendo<br />
<strong>em</strong> vista a inter<strong>de</strong>pendência organizacional crescente, as organizações<br />
ampliam as relações interorganizacionais à procura <strong>de</strong> cooperação mútua.<br />
Isso contribui para o <strong>de</strong>senvolvimento das transações e com as perspectivas<br />
das possibilida<strong>de</strong>s organizacionais. Geralmente, a ação voltada<br />
para a colaboração po<strong>de</strong> ser tanto reativa, numa tentativa <strong>de</strong> reagir às<br />
pressões ambientais, quanto proativa, procurando antecipar-se à cooperação<br />
(ALMEIDA, SILVA FILHO; ALMEIDA JUNIOR, 1998). Logo, compreen<strong>de</strong>-se<br />
que o campo para a a<strong>de</strong>quada análise das relações<br />
interorganizacionais está no estudo das ca<strong>de</strong>ias produtivas que <strong>de</strong>lineiam,<br />
cada um sua forma, as configurações mais amplas das áreas <strong>de</strong><br />
atuação das <strong>em</strong>presas.<br />
Uma dos mais relevantes conceitos para as organizações está na<br />
i<strong>de</strong>ntificação precisa <strong>de</strong> sua área <strong>de</strong> atuação, ou seja, a essência do negócio<br />
no ambiente produtivo <strong>em</strong> que se situa. A ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, por<br />
sua vez, po<strong>de</strong> representar todo o processo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado setor pro-<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
33
34<br />
Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />
dutivo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a extração da matéria-prima até a venda ao consumidor<br />
final. O centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> relacionamentos po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />
como o posicionamento da <strong>em</strong>presa na fase <strong>em</strong> que ela se encontra<br />
na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção (GALBRAITH, 2001). O presente estudo<br />
consi<strong>de</strong>ra os seis períodos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção apresentados por<br />
Galbraith (2001) e Normann e Ramirez (1993), como:<br />
a) extração <strong>de</strong> matéria-prima (manufatura primária);<br />
b) produção padronizada;<br />
c) produção <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> material primário, já como produto acabado;<br />
d) produção <strong>de</strong> produtos resultantes do valor agregado, geralmente<br />
por meio do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos, patente e produtos<br />
exclusivos;<br />
e) inclusão <strong>de</strong> marketing, fortalecimento da marca e sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />
distribuição;<br />
f) varejistas que contam com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contato direto com<br />
os consumidores finais.<br />
Galbraith (2001) sugere dois pontos <strong>de</strong> referência conceitual na<br />
ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, estabelecendo as características fluxo acima e fluxo<br />
abaixo, metaforicamente <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com o fluxo <strong>de</strong> um rio a partir<br />
<strong>de</strong> sua fonte <strong>em</strong> direção à foz. As organizações <strong>em</strong> cada um dos fluxos<br />
acima, <strong>em</strong> direção à fonte, ou abaixo, direção à foz, são entida<strong>de</strong>s diferentes.<br />
Segundo o autor, os fatores <strong>de</strong> sucesso e a formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
relacionamentos, b<strong>em</strong> como a forma <strong>de</strong> gestão, a estrutura e a cultura,<br />
são completamente diferentes nas <strong>em</strong>presas situadas <strong>em</strong> diferentes etapas<br />
– fluxo acima ou abaixo – da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção.<br />
Os períodos do fluxo acima agregam valor ao reduzir a matériaprima<br />
a produtos padronizados. Em tal fase, a finalida<strong>de</strong> é produzir matérias-primas<br />
flexíveis e previsíveis e intermediar produtos dos quais uma<br />
varieda<strong>de</strong> cada vez maior <strong>de</strong> fluxo abaixo é fabricada. Os períodos do<br />
fluxo abaixo agregam valor por meio <strong>de</strong> produtos que atendam às necessida<strong>de</strong>s<br />
dos mais diversos usuários. O valor fluxo abaixo é agregado por<br />
meio da pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento, do posicionamento do produto, do<br />
acesso por canais <strong>de</strong> marketing e da comunicação (GALBRAITH, 2001).<br />
O centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da posição que a <strong>em</strong>presa ocupa<br />
nos elos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong> acordo com Galbraith (2001, p. 134),<br />
“[...] é a seqüência <strong>de</strong> etapas que, partindo dos insumos, vai agregando<br />
valor até chegar ao produto ou serviço final.”<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
Porter (1989) enten<strong>de</strong> por elos as relações <strong>de</strong> interligação e<br />
inter<strong>de</strong>pendências entre os atores da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. A ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
produção também po<strong>de</strong> ser, genericamente, visualizada no que o mesmo<br />
autor (1989, p. 33) conceitua como ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor, “[...] a reunião <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s que são executadas para projetar, produzir, comercializar, entregar<br />
e sustentar um produto.” Assim, para o a<strong>de</strong>quado direcionamento<br />
do processo é necessário <strong>de</strong>compor as etapas <strong>de</strong> formação do produto,<br />
para que sejam visualizadas as incidências <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> valor. Nenhum<br />
produto ou serviço existe s<strong>em</strong> que tenha feito parte <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s. Isso implica afirmar que uma <strong>em</strong>presa é parte <strong>de</strong> elos complexos<br />
<strong>de</strong> relações e não t<strong>em</strong> condições <strong>de</strong>, isolada, prover todos os recursos<br />
necessários a seu funcionamento.<br />
Dessa forma, o modo como as ativida<strong>de</strong>s do fornecedor são executadas,<br />
afetam o custo e a capacida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s das <strong>de</strong>mais <strong>em</strong>presas<br />
participantes, e vice-versa, pois os fornecedores produz<strong>em</strong> o que<br />
é <strong>em</strong>pregado por outra <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> suas ativida<strong>de</strong>s. Os elos entre as<br />
ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> valores das <strong>em</strong>presas propiciam oportunida<strong>de</strong>s, a fim <strong>de</strong> que<br />
ambas possam conquistar vantagens competitivas. A criação <strong>de</strong> valor, no<br />
produto final, po<strong>de</strong> ocorrer internamente na organização, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esta<br />
possua todas as etapas do processo produtivo.<br />
Enten<strong>de</strong>ndo a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor, é possível i<strong>de</strong>ntificar os elos mais<br />
frágeis existentes no processo produtivo, possibilitando que se encontre<br />
alternativa que proporcione condições para a manutenção da ca<strong>de</strong>ia, evitando<br />
que se rompa a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção necessária para ultimar o produto<br />
ou serviço (PORTER, 1989; FERNANDES, 2000).<br />
A sugestão <strong>de</strong> Galbraith (2001, p. 136) para a análise <strong>de</strong> opções<br />
e <strong>de</strong>cisões estratégicas po<strong>de</strong> estar na “[...] integração vertical <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
seu setor.” Em <strong>de</strong>terminadas condições, a <strong>em</strong>presa po<strong>de</strong> fortalecer suas<br />
relações para etapas anteriores ou posteriores do negócio, para garantir<br />
fontes <strong>de</strong> suprimento e relacionar-se com ativida<strong>de</strong>s mais próximas<br />
dos clientes finais para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> novas oportunida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> novos produtos. Mover-se nas relações para frente, no<br />
sentido do cliente, po<strong>de</strong> garantir mercado e auto-alimentação com dados<br />
sobre novos produtos, fortalecendo o pensamento <strong>de</strong> investigações<br />
que sustentam o relacionamento interorganizacional como fonte <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong><br />
e aprendizag<strong>em</strong> e, assim, <strong>de</strong> vantag<strong>em</strong> competitiva. Dessa<br />
forma, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionar-se constitui recurso indispensável para<br />
organizações que preten<strong>de</strong>m ter acesso a capacida<strong>de</strong>s e competências<br />
compl<strong>em</strong>entares (LIPPARINI; CAZZOLA; PISTARELLI; BARRUCCI, 2000;<br />
ARAÚJO, 2000).<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
35
36<br />
Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />
As buscas por relacionamentos com fornecedores mais integrados<br />
<strong>em</strong> seus negócios facilitam o processo <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> soluções para a<br />
obtenção <strong>de</strong> melhores resultados <strong>em</strong> seus mercados pela redução <strong>de</strong><br />
custos e diferenciação, <strong>em</strong> face das inúmeras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alternativas<br />
<strong>de</strong> consumo (RIBEIRO; GRISI; SALIBY, 1999).<br />
Várias abordagens das relações interorganizacionais suger<strong>em</strong> que<br />
estas <strong>de</strong>vam ser primordialmente <strong>de</strong> cooperação. Para que haja cooperação,<br />
é necessária a troca <strong>de</strong> informações entre as várias <strong>em</strong>presas dos<br />
elos para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma visão estratégica comum, <strong>de</strong>marcação<br />
das áreas <strong>de</strong> atuação, análise conjunta dos probl<strong>em</strong>as, soluções conjuntas<br />
e <strong>de</strong>finição das contribuições <strong>de</strong> cada um dos atores envolvido<br />
(CASAROTTO FILHO; PIRES, 1999) para o melhor aproveitamento dos<br />
conceitos imbuídos na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor. Um grupo <strong>de</strong> pesquisadores, coor<strong>de</strong>nados<br />
por Trist (1983), conforme refer<strong>em</strong> Cândido e Abreu (2000),<br />
suger<strong>em</strong> que no mundo organizacional a colaboração po<strong>de</strong> ser tão constante<br />
como a competição.<br />
N<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre as parcerias entre os atores da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor ocorr<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> maneira linear e seqüencial. As parcerias po<strong>de</strong>m incidir sobre mais<br />
<strong>de</strong> um elo da ca<strong>de</strong>ia. Na opinião <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s (2000, p. 3): “A partir do<br />
momento que uma <strong>em</strong>presa percebe os benefícios da aliança, é freqüente<br />
que se adote iniciativas <strong>de</strong>sta natureza <strong>em</strong> outros elos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
valor, envolvendo novos parceiros.”<br />
Dessa forma, a estratégia principal <strong>de</strong> uma organização está<br />
centrada na configuração e reconfiguração <strong>de</strong> seus relacionamentos e<br />
sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> negócios (NORMANN; RAMIREZ, 1993). A configuração dos<br />
relacionamentos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da proximida<strong>de</strong> da <strong>em</strong>presa com as ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> seus fornecedores, fornecedores potenciais, clientes e competidores<br />
(MARTINELLI; VICHI, 1999, p. 2). Assim, a vantag<strong>em</strong> competitiva e sua<br />
sustentabilida<strong>de</strong>, também po<strong>de</strong>m ser provenientes das relações entre os<br />
elos e suas ativida<strong>de</strong>s, da mesma forma que provêm da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada<br />
uma das <strong>em</strong>presas. As habilida<strong>de</strong>s para coor<strong>de</strong>nar os elos <strong>de</strong> relacionamento<br />
<strong>de</strong> uma mesma ca<strong>de</strong>ia geralmente culminam na redução <strong>de</strong> custos<br />
ou aumento da estratégia <strong>de</strong> diferenciação.<br />
Os motivos que levam ao relacionamento não são suficientes para<br />
ajudar a enten<strong>de</strong>r, na totalida<strong>de</strong>, toda a dinâmica socioeconômica que<br />
envolve as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento. Os benefícios auferidos da capacida<strong>de</strong><br />
interna <strong>de</strong> formação e manutenção dos relacionamentos, somados<br />
com a colaboração externa, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser vistos como essenciais para a<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
formação e manutenção das re<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>ndo envolver vantagens para as<br />
organizações: redução <strong>de</strong> custos, compartilhamento <strong>de</strong> recursos e informações<br />
e, até mesmo, facilida<strong>de</strong>s no processo <strong>de</strong> inovação.<br />
A percepção <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> vantagens por parte dos atores é um<br />
dos fatores indispensáveis para a estabilida<strong>de</strong> dos relacionamentos <strong>em</strong><br />
re<strong>de</strong> (LOPES; MORAES, 2000; MARIZ; MEDEIROS, 2000; BULGACOV;<br />
VERDU, 2000). Para que o relacionamento interorganizacional se efetive,<br />
é imprescindível que haja competências específicas que possam ser<br />
compl<strong>em</strong>entares às já existentes: <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> relacionar-se e <strong>de</strong> cooperação,<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orientação, investimentos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e recursos pelas<br />
partes e possível divisão <strong>de</strong> riscos e <strong>de</strong> adaptabilida<strong>de</strong>. Dev<strong>em</strong> existir<br />
características comuns entre os atores, como, por ex<strong>em</strong>plo, objetivos claramente<br />
<strong>de</strong>finidos no que tange ao objeto foco do relacionamento, compreensão<br />
dos diferentes papéis dos atores envolvidos, funções e competências<br />
<strong>de</strong> cada participante, um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> comunicação aberto e transparente<br />
e o compartilhamento <strong>de</strong> valores entre as organizações envolvidas<br />
(SCHOMMER, 2000). Esses fatores presentes perpetuam os relacionamentos<br />
duradouros.<br />
Dessa forma, para efeito <strong>de</strong> investigação, as relações estratégicas<br />
da estrutura <strong>de</strong> relacionamento são consi<strong>de</strong>radas como relacionamentos<br />
sociais e econômicos predispostos à condução <strong>de</strong> ações racionais,<br />
que tenham significado estratégico para as partes e persistam ao<br />
longo do t<strong>em</strong>po, preservando a autonomia individual. O significado<br />
organizacional refere-se aos relacionamentos interorganizacionais mantidos<br />
pelos dirigentes dos diferentes níveis das organizações, cujos efeitos<br />
sejam sentidos por um longo período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e afet<strong>em</strong> a organização<br />
<strong>de</strong> várias maneiras, focalizando e/ou <strong>de</strong>stinando uma porção expressiva<br />
<strong>de</strong> recursos na direção do resultado esperado, procurando criar condição<br />
favorável <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> e, conseqüent<strong>em</strong>ente, melhorar o retorno<br />
sobre o investimento por meio <strong>de</strong> alternativa que explore as competências<br />
essenciais e tornando o crescimento possível (PRAHALAD;<br />
HAMEL, 1998; ALMEIDA; SILVA FILHO; ALMEIDA JUNIOR, 1998;<br />
ANSOFF; McDONNELL, 1993; MINTZBERG, 2001; ANDREWS, 2001).<br />
Para fins <strong>de</strong>ssa investigação serão consi<strong>de</strong>rados os critérios que sustentam<br />
o julgamento para a seleção das <strong>em</strong>presas que faz<strong>em</strong> parte do relacionamento<br />
interorganizacional das industrias investigadas. A seguir, após<br />
a exposição dos fundamentos teóricos, apresenta-se a metodologia <strong>de</strong><br />
pesquisa utilizada para o levantamento <strong>de</strong> dados e para a análise.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
37
38<br />
3 METODOLOGIA<br />
Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />
Este estudo busca i<strong>de</strong>ntificar a existência do relacionamento<br />
interorganizacional <strong>de</strong> cinco <strong>em</strong>presas industriais, procurando <strong>de</strong>tectar<br />
se os relacionamentos existentes estão <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com o<br />
posicionamento estratégico assumido, levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração os estudos<br />
sobre ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor e centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> e<br />
tomando a orientação teórica sobre essas condições, como pr<strong>em</strong>issas<br />
que possam contribuir para a sustentabilida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas.<br />
A investigação po<strong>de</strong> ser caracterizada como pesquisa do tipo<br />
multicaso, com utilização <strong>de</strong> múltiplas fontes <strong>de</strong> evidência e <strong>de</strong> perspectiva<br />
transversal. O levantamento <strong>de</strong> dados foi realizado por meio <strong>de</strong> procedimentos<br />
<strong>de</strong>scritivo-qualitativos para a caracterização dos aspectos subjetivos,<br />
como as percepções e as relações. O <strong>de</strong>senvolvimento da etapa<br />
resultou da análise <strong>de</strong> conteúdo <strong>de</strong> fontes primárias e análise <strong>de</strong><br />
congruência qualitativa do conjunto dos dados utilizados.<br />
A coleta dos dados primários ocorreu por entrevista com uso <strong>de</strong> roteiro<br />
s<strong>em</strong>i-estruturado. A observação no local, on<strong>de</strong> o trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido,<br />
b<strong>em</strong> como as observações das reações dos entrevistados também serviram<br />
como subsídios aos dados <strong>de</strong> análise. O nível <strong>de</strong> análise é o<br />
organizacional e a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise é constituída pelos dirigentes das <strong>em</strong>presas<br />
pesquisadas. Como critério <strong>de</strong> validação dos resultados da pesquisa,<br />
dada a metodologia <strong>em</strong>pregada, limitada aos estudos <strong>de</strong> casos investigados,<br />
foi levada <strong>em</strong> conta apenas a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua transferibilida<strong>de</strong>,<br />
mas não sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> generalização (SELLTIZ et al., 1987).<br />
Uma das principais limitações <strong>de</strong>ssa investigação se assentou nas<br />
diferentes possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação por parte dos respon<strong>de</strong>ntes e<br />
dos pesquisadores. A busca pela redução <strong>de</strong> seus efeitos se <strong>de</strong>u pela<br />
aplicação cuidadosa dos procedimentos metodológicos com a utilização<br />
da triangulação dos dados.<br />
4 CASOS INVESTIGADOS<br />
As <strong>em</strong>presas investigadas estão situadas na região da Associação<br />
dos Municípios do Vale do Ivaí (AMUVI), uma das microrregiões administrativas<br />
<strong>em</strong> que está dividido o Estado do Paraná, localizada no centro-norte<br />
do Estado, composta <strong>de</strong> 26 municípios, ocupando uma região<br />
territorial <strong>de</strong> 109.669,53 km 2 , com uma população estimada <strong>de</strong> 326.562<br />
habitantes (VANZELLA, 2000; IPARDES, 1998).<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
As <strong>em</strong>presas foram escolhidas intencionalmente pela acessibilida<strong>de</strong>,<br />
período <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> cinco anos <strong>de</strong> atuação na área,<br />
possuir mais <strong>de</strong> 30 funcionários e pela representativida<strong>de</strong> social na comunida<strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>presarial regional. Investigações <strong>em</strong>píricas no Estado do<br />
Paraná revelam que gran<strong>de</strong> parte das <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> pequeno porte possui<br />
essas mesmas características (IPARDES, 1998).<br />
4.1 APRESENTAÇÃO DOS CASOS E ANÁLISE DOS DADOS<br />
A região da AMUVI não congrega um pólo industrial significativo<br />
para o Estado do Paraná. As <strong>em</strong>presas ali instaladas são todas <strong>de</strong> micro<br />
ou pequeno porte, e a maior concentração é <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas com menos <strong>de</strong><br />
três anos <strong>de</strong> existência. No entanto, representa <strong>em</strong> seu conjunto importante<br />
alternativa <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, geração <strong>de</strong> renda e impostos. Poucas são<br />
as que se enquadram no perfil proposto na metodologia <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>ste<br />
estudo (Fonte: ACIs, prefeituras, li<strong>de</strong>ranças municipais e Sebrae). As<br />
<strong>em</strong>presas pesquisadas possu<strong>em</strong> características comuns que segu<strong>em</strong> os<br />
pré-requisitos <strong>de</strong>finidos na metodologia <strong>de</strong> pesquisa, conforme o quadro<br />
abaixo.<br />
CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS PESQUISADAS<br />
Nº RAMO<br />
A<br />
B<br />
C<br />
D<br />
E<br />
indústria<br />
<strong>de</strong> ração<br />
indústria <strong>de</strong><br />
confecção<br />
indústria <strong>de</strong><br />
aguar<strong>de</strong>nte<br />
indústria<br />
<strong>de</strong> doces<br />
indústria <strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>butidos<br />
FUNCIO-<br />
NÁRIOS<br />
43<br />
40<br />
74<br />
34<br />
31<br />
FONTE: dados da pesquisa.<br />
TIPO DE<br />
TECNOLOGIA<br />
EMPREGADA<br />
utilização <strong>de</strong><br />
equipamentos<br />
s<strong>em</strong>i-automáticos<br />
produção <strong>em</strong> série<br />
<strong>em</strong> célula única<br />
utilização <strong>de</strong><br />
equipamentos<br />
s<strong>em</strong>i-automáticos<br />
produção <strong>em</strong> série,<br />
com parte artesanal<br />
produção <strong>em</strong> série,<br />
com parte artesanal<br />
MATÉRIA-PRIMA<br />
PRINCIPAL<br />
TEMPO DE<br />
EXISTÊNCIA<br />
milho e soja 5 anos<br />
tecido<br />
cana-<strong>de</strong>-açúcar<br />
leite e açúcar<br />
carnes bovina<br />
e suína<br />
23 anos<br />
20 anos<br />
5 anos<br />
8 anos<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
39
40<br />
Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />
A fim <strong>de</strong> apresentar os resultados da pesquisa, a análise dos dados<br />
foi <strong>de</strong>lineada pelas seguintes parâmetros: i<strong>de</strong>ntificação do período<br />
que as <strong>em</strong>presas ocupam na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, i<strong>de</strong>ntificação das <strong>em</strong>presas<br />
envolvidas nos relacionamentos interorganizacionais, análise dos<br />
critérios para a seleção das organizações dos relacionamentos preferenciais,<br />
análise da congruência existente entre os relacionamentos interorganizacionais<br />
e o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da <strong>em</strong>presa.<br />
Foram substituídos os nomes originais das <strong>em</strong>presas pesquisadas<br />
por indicações fictícias e classificadas como <strong>em</strong>presa A, B, C, D e E. A<br />
verificação dos dados ocorreu individualmente, seguindo as perguntas <strong>de</strong><br />
pesquisa <strong>de</strong> cada um dos objetivos específicos. Para efeito da <strong>de</strong>scrição<br />
<strong>de</strong>ste trabalho, é apresentada a analise comparativa <strong>de</strong> forma sumarizada<br />
entre todas as <strong>em</strong>presas pesquisadas.<br />
COMPARATIVO DOS RELACIONAMENTOS ESTRATÉGICOS<br />
DAS EMPRESAS PESQUISADAS<br />
Nº<br />
A<br />
B<br />
C<br />
D<br />
E<br />
RELACIONAMENTOS<br />
FLUXO ACIMA<br />
37,50%<br />
42,12%<br />
52,94%<br />
22,22%<br />
42,85%<br />
FONTE: dados da pesquisa.<br />
RELACIONAMENTOS<br />
FLUXO ABAIXO<br />
31,35%<br />
47,36%<br />
70,58%<br />
55,58%<br />
14,30%<br />
Os dados quantitativos <strong>de</strong>monstram a não-existência <strong>de</strong> evidências<br />
<strong>de</strong> que existam características comuns que permitam explicar as formas<br />
<strong>de</strong> relacionamento interorganizacional adotada pelas <strong>em</strong>presas. Essa<br />
diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> direcionamento dos relacionamentos interorganizacionais<br />
sugere que não existe mo<strong>de</strong>lo único seguido pelas <strong>em</strong>presas pesquisadas.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
RELACIONAMENTOS FORA<br />
DA CADEIA DE SUPRIMENTOS<br />
31,25%<br />
10,52%<br />
11,76%<br />
22,22%<br />
42,85%
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
Comparando-se os resultados, buscou-se i<strong>de</strong>ntificar um perfil que<br />
pu<strong>de</strong>sse estar influenciando a forma <strong>de</strong> relacionamento encontrada. Observando-se<br />
a ida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas, constata-se que duas <strong>de</strong>las possu<strong>em</strong><br />
mais <strong>de</strong> 20 anos, e a similarida<strong>de</strong> encontrada, quanto aos relacionamentos,<br />
está no direcionamento <strong>de</strong>sses para <strong>em</strong>presas que façam parte da<br />
ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. Esse fato leva à conclusão <strong>de</strong> que <strong>em</strong>presas mais<br />
antigas procuram se relacionar mais fort<strong>em</strong>ente com as que faz<strong>em</strong> parte<br />
da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. Essas duas <strong>em</strong>presas relacionam-se somente<br />
com o elo imediatamente inferior ou superior da ca<strong>de</strong>ia, assim como as<br />
<strong>de</strong>mais <strong>em</strong>presas, o que <strong>de</strong>monstra a pouca importância dada à ca<strong>de</strong>ia<br />
como um todo, não acusando a influência que os <strong>de</strong>mais elos da ca<strong>de</strong>ia<br />
possam exercer sobre os resultados da <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> questão.<br />
Os dados qualitativos obtidos por intermédio <strong>de</strong> entrevistas e observações<br />
permitiram i<strong>de</strong>ntificar evidências <strong>de</strong> que não há outras variáveis<br />
relacionadas às características organizacionais que estejam afetando<br />
as formas <strong>de</strong> relacionamento, além das condições cognitivas dos dirigentes<br />
pela ausência <strong>de</strong> instrumentos burocráticos e <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> relacionamento.<br />
Sendo assim, a base dos relacionamentos das <strong>em</strong>presas está<br />
enraizada no comportamento e nas ações <strong>de</strong> seus dirigentes, cujo perfil<br />
está diretamente ligado à forma <strong>de</strong> atuação e ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> relacionamento<br />
interorganizacional mantido.<br />
4.2 CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA SELEÇÃO DOS ATORES DA<br />
ESTRUTURA DE RELACIONAMENTO<br />
Conforme estabelecido nos procedimentos <strong>de</strong> pesquisa, a seguir<br />
<strong>de</strong>monstram-se os critérios utilizados para a seleção das <strong>em</strong>presas que<br />
constitu<strong>em</strong> a estrutura <strong>de</strong> relacionamento das organizações pesquisadas.<br />
Os motivos foram i<strong>de</strong>ntificados como expectativas e situações potenciais<br />
<strong>de</strong> relacionamentos que possam influenciar na ampliação do valor da produção<br />
da <strong>em</strong>presa focalizada na investigação. A freqüência geral <strong>de</strong>termina<br />
a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importância dada à organização e seu posicionamento<br />
<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> fluxo acima ou fluxo abaixo na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor. I<strong>de</strong>ntificaram-se<br />
também os relacionamentos fora da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
41
42<br />
Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />
MOTIVOS DOS RELACIONAMENTOS INTERORGANIZACIONAIS<br />
DAS EMPRESAS PESQUISADAS<br />
EXPECTATIVAS<br />
E SITUAÇÕES<br />
POTENCIAIS<br />
PARA AMPLIAÇÃO<br />
DO VALOR<br />
integração com<br />
a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
produção para<br />
garantir suprimento<br />
e volume<br />
relação com<br />
clientes e<br />
intermediários<br />
no mercado<br />
FREQÜÊNCIA<br />
GERAL<br />
FREQÜÊNCIA<br />
NOS RELACIO-<br />
NAMENTOS COM<br />
FLUXO ACIMA<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
FREQÜÊNCIA<br />
NOS RELACIO-<br />
NAMENTOS COM<br />
FLUXO ABAIXO<br />
16 14 2*<br />
13 13<br />
FREQÜÊNCIA<br />
NOS RELACIO-<br />
NAMENTOS FORA<br />
DA CADEIA<br />
redução <strong>de</strong> custo 12 9 3<br />
comercialização<br />
<strong>em</strong> volume<br />
geração <strong>de</strong><br />
conhecimento<br />
aumento da<br />
marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> lucro<br />
aumento do po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> barganha /<br />
negociação<br />
aumento do<br />
potencial <strong>de</strong><br />
obtenção <strong>de</strong><br />
informações<br />
(facilitar o acesso<br />
a informações)<br />
compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> recursos<br />
financeiros<br />
utilização a<br />
capacida<strong>de</strong> ociosa<br />
integração vertical<br />
com a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
produção para<br />
obtenção <strong>de</strong><br />
informações <strong>em</strong><br />
forma <strong>de</strong> feedback<br />
solução para<br />
soluções<br />
específicas<br />
11 9<br />
2<br />
11 7 3<br />
1<br />
11<br />
8 3<br />
7 1 5<br />
1<br />
7<br />
5 2<br />
5 3 1<br />
1<br />
4 2 1<br />
1<br />
4<br />
4<br />
3 1<br />
2 1
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
EXPECTATIVAS<br />
E SITUAÇÕES<br />
POTENCIAIS<br />
PARA AMPLIAÇÃO<br />
DO VALOR<br />
aquisição com<br />
ganho <strong>em</strong> escala<br />
compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> competências<br />
específicas<br />
aumento da<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
inovação<br />
viabilização<br />
<strong>de</strong> promoções<br />
conjuntas<br />
facilitar acesso<br />
à assistência<br />
técnica<br />
otimização dos<br />
recursos do<br />
marketing<br />
diluição/divisão<br />
<strong>de</strong> riscos<br />
aproveitamento<br />
<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong><br />
enfrentamento<br />
<strong>de</strong> ameaças<br />
ambientais<br />
fortalecimento<br />
da marca<br />
ampliação do<br />
potencial <strong>de</strong><br />
percepção <strong>de</strong><br />
oportunida<strong>de</strong>s e<br />
ameaças<br />
melhoria da<br />
qualida<strong>de</strong><br />
dos produtos<br />
obtenção <strong>de</strong><br />
representativida<strong>de</strong><br />
redução <strong>de</strong> custo<br />
pela aquisição <strong>de</strong><br />
mercadoria<br />
FREQÜÊNCIA<br />
GERAL<br />
FONTE: dados da pesquisa.<br />
3<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
FREQÜÊNCIA<br />
NOS RELACIO-<br />
NAMENTOS COM<br />
FLUXO ACIMA<br />
(*) Empresa “C” que se relaciona com atores que ao mesmo t<strong>em</strong>po são clientes e<br />
fornecedores<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
3<br />
1 1<br />
2<br />
2<br />
1<br />
1<br />
FREQÜÊNCIA<br />
NOS RELACIO-<br />
NAMENTOS COM<br />
FLUXO ABAIXO<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
FREQÜÊNCIA<br />
NOS RELACIO-<br />
NAMENTOS FORA<br />
DA CADEIA<br />
2<br />
1<br />
1<br />
43
44<br />
Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />
Os dados <strong>de</strong>monstram, quantitativamente, os principais motivos<br />
que conduz<strong>em</strong> os relacionamentos interorganizacionais das <strong>em</strong>presas<br />
pesquisadas. As interações com as <strong>em</strong>presas da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção,<br />
orientada para garantir as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suprimento, foi i<strong>de</strong>ntificada<br />
16 vezes durante as entrevistas, revelando que existe a preocupação por<br />
parte dos dirigentes com a continuida<strong>de</strong> dos relacionamentos para a manutenção<br />
do fornecimento <strong>de</strong> insumos. Esse fato po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />
óbvio, quando se constata a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> suprimento por<br />
todas as <strong>em</strong>presas.<br />
As relações com o mercado e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar ótima a<br />
ação <strong>em</strong>presa nos intermediários com o mercado são o segundo motivo<br />
que impulsiona os relacionamentos interorganizacionais. Observou-se,<br />
no entanto, qualitativamente, que os gestores não perceb<strong>em</strong>, nos relacionamentos<br />
com os agentes fluxo abaixo, todas as oportunida<strong>de</strong>s para<br />
o melhor aproveitamento da proximida<strong>de</strong> com o mercado ou absorção<br />
<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los ou ferramentas que possibilitam melhorar sua atuação no<br />
mercado.<br />
Quanto à relação <strong>de</strong> importância dos motivos dos relacionamentos,<br />
na seqüência surgiram a redução <strong>de</strong> custo, a comercialização <strong>em</strong><br />
volume e o aumento da marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> lucro, <strong>de</strong>monstrando que há pouca<br />
absorção dos benefícios a ser<strong>em</strong> obtidos com a melhoria das relações<br />
próximas com o mercado. Entretanto, percebe-se orientação restrita para<br />
os relacionamentos dirigidos a ganhos imediatos, que serão auferidos<br />
com os fornecedores fluxo acima, buscando possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ganhos <strong>de</strong><br />
curto prazo com a redução <strong>de</strong> custos, aumento do volume <strong>de</strong> produção e<br />
comercialização.<br />
A geração <strong>de</strong> conhecimento foi <strong>de</strong>stacada 11 vezes, o que <strong>de</strong>monstra<br />
a percepção dos dirigentes <strong>em</strong> tornar ótimo o conhecimento já<br />
existente na ca<strong>de</strong>ia e <strong>em</strong> buscar absorvê-lo por meio dos relacionamentos<br />
com atores <strong>de</strong>ntro e fora da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. Das 11 vezes <strong>em</strong><br />
que foi mencionada a geração <strong>de</strong> conhecimento, 5 referiam-se a relacionamentos<br />
com atores que estão fora da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, como cursos<br />
profissionalizantes e participação <strong>em</strong> feiras e associações <strong>de</strong> classe.<br />
Os principais critérios <strong>de</strong> escolha são, mais uma vez, tipicamente<br />
direcionados para o fluxo na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. É o caso dos relacionamentos<br />
motivados pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração vertical com a ca<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> produção para garantir suprimento e volume, sendo essa uma preocupação<br />
típica <strong>de</strong> relacionamento fluxo acima. Observou-se que, por duas<br />
vezes, foram mencionados como fluxo abaixo. É que se trata da <strong>em</strong>presa<br />
pesquisada, <strong>em</strong> que o mesmo ator exerce o papel <strong>de</strong> fornecedor e <strong>de</strong><br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
cliente. Em conformida<strong>de</strong> com os propósitos do trabalho, na seqüência<br />
apresenta-se o quadro com os critérios <strong>de</strong> seleção e as respectivas freqüências<br />
verificadas.<br />
CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DOS ATORES DO RELACIONAMENTO<br />
INTERORGANIZACIONAL DAS EMPRESAS<br />
CRITÉRIOS PARA<br />
SELEÇÃO DOS<br />
ATORES DO<br />
RELACIONAMENTO<br />
INTERORGANIZACIONAL<br />
FREQÜÊNCIA<br />
9 lealda<strong>de</strong> 32<br />
12 15 5<br />
12 compartilhamento <strong>de</strong> cultura 10<br />
2 8<br />
1 <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> cooperar 8<br />
3 4<br />
FONTE: dados da pesquisa.<br />
RELACIONA-<br />
MENTOS<br />
FLUXO<br />
ACIMA<br />
RELACIONA-<br />
MENTOS<br />
FLUXO<br />
ABAIXO<br />
RELACIONA-<br />
MENTOS<br />
FORA DA<br />
CADEIA<br />
5 confiança 26<br />
13 5 8<br />
comunicação aberta e<br />
4<br />
transparente<br />
14<br />
4 8 2<br />
14 reputação 14<br />
6 2 6<br />
16<br />
histórico <strong>de</strong> relacionamentos<br />
interorganizacionais<br />
duradouros ao longo do<br />
t<strong>em</strong>po (conhecimento mútuo)<br />
14<br />
5 9<br />
2 comunicação/contato/acesso 12<br />
3 9<br />
3<br />
metas claras e comuns<br />
baseadas no benefício mútuo<br />
12<br />
5 7<br />
8 comprometimento 12<br />
3 5 4<br />
15 inter<strong>de</strong>pendência 12<br />
1 10<br />
participação da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
18<br />
produção – cliente<br />
11<br />
11<br />
nível <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>cisão<br />
7 10 2 8<br />
s<strong>em</strong>elhantes<br />
participação da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
17 8 8<br />
produção – fornecedores<br />
10 reciprocida<strong>de</strong><br />
5<br />
1 2<br />
existência <strong>de</strong> características<br />
11 4 2 1 1<br />
comuns<br />
13 conhecimento mútuo<br />
2<br />
1 1<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
1<br />
2<br />
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Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />
Quanto aos critérios utilizados para a seleção dos atores dos relacionamentos<br />
interorganizacionais, percebe-se que a lealda<strong>de</strong> foi mencionada<br />
32 vezes durante as entrevistas, o que <strong>de</strong>monstra que essa é uma<br />
exigência imprescindível para os relacionamentos. Os dados da pesquisa<br />
<strong>de</strong>monstram que a lealda<strong>de</strong> é exigência para os relacionamentos fluxo<br />
acima como para os <strong>de</strong> fluxo abaixo e nos relacionamentos mantidos fora<br />
da ca<strong>de</strong>ia.<br />
A confiança é o segundo critério <strong>de</strong> escolha para seleção dos atores<br />
dos relacionamentos interorganizacionais, principalmente nos fluxo<br />
acima, nos quais a confiança foi mencionada 13 vezes. Em seguida foi 8<br />
vezes nos relacionamentos com atores não pertencentes à ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção.<br />
Por fim, foi mencionada 5 vezes nos com o fluxo abaixo, totalizando<br />
26 menções exaltando a confiança como um dos critérios relevantes para<br />
a existência <strong>de</strong> tais relacionamentos. Assim a lealda<strong>de</strong> e a confiança foram<br />
os principais critérios utilizados como base para o relacionamento.<br />
Como as relações ten<strong>de</strong>m a manter-se informais, pela ausência<br />
significativa <strong>de</strong> condições burocráticas para sua formalização, <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> e<br />
evi<strong>de</strong>nciam a exigência da lealda<strong>de</strong> e da confiança como principal atributo<br />
e expectativa das relações interorganizacionais. Na seqüência, aparec<strong>em</strong><br />
a comunicação aberta, a reputação e a vivência <strong>de</strong> relacionamentos<br />
duradouros ao longo do t<strong>em</strong>po como critérios <strong>de</strong> escolha dos atores dos<br />
relacionamentos estratégicos, confirmando os atributos anteriores. Os três<br />
critérios foram mencionados 14 vezes, sendo a comunicação aberta exigida<br />
mais freqüent<strong>em</strong>ente nos relacionamentos fluxo abaixo; a reputação<br />
exigida com mais ênfase nos relacionamentos fluxo acima e fora da ca<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> produção e a vivência <strong>de</strong> relacionamentos duradouros foi mais<br />
exigida nos relacionamentos fluxo abaixo. A comunicação, o contato, o<br />
acesso, a existência <strong>de</strong> metas claras e comuns baseadas no benefício<br />
mútuo, os comprometimentos e as inter<strong>de</strong>pendências foram mencionados<br />
12 vezes cada.<br />
Como nos motivos que impulsionam os relacionamentos, os critérios<br />
<strong>de</strong> escolha também possu<strong>em</strong> alguns itens que são tipicamente<br />
direcionados para um <strong>de</strong>terminado sentido do fluxo na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção,<br />
tais como “participação na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção como fornecedor/<br />
cliente”. A confiança é o critério mais mencionado entre os relacionamentos<br />
fluxo acima, sendo l<strong>em</strong>brado 13 vezes, seguido da lealda<strong>de</strong>. Já nos<br />
relacionamento fluxo abaixo, a lealda<strong>de</strong> é evi<strong>de</strong>nciada, seguida da<br />
inter<strong>de</strong>pendência e da participação da <strong>em</strong>presa na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção<br />
na condição <strong>de</strong> cliente.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES<br />
Levando-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração os estudos sobre ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção,<br />
centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> e ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor, procurou-se i<strong>de</strong>ntificar se os<br />
relacionamentos interorganizacionais são mantidos <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com<br />
o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> ocupado na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção e seus efeitos<br />
sobre a sustentabilida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas.<br />
As análises dos dados permit<strong>em</strong> concluir, quantitativamente, que<br />
as relações interorganizacionais das cinco pequenas <strong>em</strong>presas industriais<br />
pesquisadas, segu<strong>em</strong> a lógica da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. No entanto, as<br />
verificações qualitativas dos dados permitiram constatar a superficialida<strong>de</strong><br />
do perfil das relações, quando se observou, como referência, o mo<strong>de</strong>lo<br />
ampliado <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção e ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor e suas diferentes<br />
dimensões <strong>de</strong> gestão. Observou-se que os relacionamentos<br />
interorganizacionais estão direcionados apenas para as <strong>em</strong>presas dos<br />
elos mais próximos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção e pertencentes à dimensão<br />
fluxo acima. Constatou-se que as cinco <strong>em</strong>presas pesquisadas estão na<br />
etapa 3 da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, ou seja, orientadas para a produção <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> material primário, já como produto acabado. Estão situadas<br />
no meio da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> valor – posição privilegiada e <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> relacionamento com o fluxo acima e o fluxo abaixo da<br />
ca<strong>de</strong>ia. Verificou-se, no entanto, que as relações constituídas enfatizam<br />
suas tendências <strong>de</strong> relações com a dimensão fluxo acima.<br />
Quantitativamente, a integração fluxo acima na ca<strong>de</strong>ia é orientada<br />
para garantir suprimento e volume, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar ótimo o mercado,<br />
redução <strong>de</strong> custos, comercialização <strong>em</strong> volume, aumento da marg<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> lucro e a geração <strong>de</strong> conhecimento estão entre os motivos mais<br />
impulsionadores dos relacionamentos. Esses aspectos caminham <strong>em</strong><br />
conformida<strong>de</strong> com as buscas por relacionamentos com fornecedores mais<br />
integrados <strong>em</strong> seus negócios e com a facilida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> busca <strong>de</strong><br />
soluções para a obtenção <strong>de</strong> melhores resultados <strong>em</strong> seus mercados pela<br />
redução <strong>de</strong> custos e diferenciação, <strong>em</strong> face das inúmeras possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> consumo (RIBEIRO; GRISI; SALIBY, 1999). Todavia,<br />
qualitativamente, para as cinco <strong>em</strong>presas esses motivos estão claramente<br />
orientados para fatores <strong>de</strong> curto prazo e não <strong>de</strong> relacionamentos duradouros<br />
e <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> novos conhecimentos.<br />
Essas orientações caminham contrariamente às possibilida<strong>de</strong>s<br />
mais amplas <strong>de</strong> relações interorganizacionais <strong>de</strong> Galbraith (2001, p. 136)<br />
com as opções permitidas por toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. As preferências<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
47
48<br />
Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />
das parcerias são lineares e seqüenciais, incidindo mais sobre um elo da<br />
ca<strong>de</strong>ia, restringindo as relações comerciais e <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> conhecimento<br />
e as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e fortalecimento da ca<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> valor. Para Fernan<strong>de</strong>s, (2000, p. 3): “A partir do momento<br />
que uma <strong>em</strong>presa percebe os benefícios dos relacionamentos<br />
potencializados, é possível que se adot<strong>em</strong> iniciativas <strong>em</strong> outros elos da<br />
ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor, envolvendo novos parceiros.” De acordo com Martinelli e<br />
Vichi (1999): “A configuração dos relacionamentos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da proximida<strong>de</strong><br />
da <strong>em</strong>presa com as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus fornecedores, fornecedores<br />
potenciais, clientes e competidores.”<br />
Portanto, a vantag<strong>em</strong> competitiva e sua sustentabilida<strong>de</strong> também<br />
po<strong>de</strong>m ser provenientes das relações entre os elos e suas ativida<strong>de</strong>s, da<br />
mesma forma que provêm da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada uma das <strong>em</strong>presas. As<br />
habilida<strong>de</strong>s para coor<strong>de</strong>nar os elos <strong>de</strong> relacionamento <strong>de</strong> uma mesma<br />
ca<strong>de</strong>ia geralmente culminam na redução <strong>de</strong> custos ou aumento da diferenciação<br />
como mecanismos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>.<br />
Dessa forma, as ações <strong>de</strong> relacionamentos principais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar<br />
centradas na configuração e reconfiguração <strong>de</strong> seus relacionamentos e<br />
sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> negócios (NORMANN; RAMIREZ, 1993). Nesse sentido, as<br />
<strong>em</strong>presas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> fortalecer suas relações para períodos anteriores e posteriores<br />
da produção, a fim <strong>de</strong> garantir relacionamentos com fornecedores<br />
para suprimentos quantitativos e qualitativos. Dev<strong>em</strong> relacionar-se<br />
com ativida<strong>de</strong>s mais próximas dos clientes finais para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />
novas oportunida<strong>de</strong>s com aprendizag<strong>em</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos<br />
produtos e serviços que garantam sustentabilida<strong>de</strong> para a organização.<br />
As relações com as <strong>em</strong>presas do fluxo abaixo ou para frente, no<br />
sentido do consumidor final, po<strong>de</strong>m garantir aprendizag<strong>em</strong> e sustentabilida<strong>de</strong><br />
com a renovação do conhecimento com dados sobre novas necessida<strong>de</strong>s,<br />
fortalecendo o pensamento <strong>de</strong> investigações que sustentam<br />
os relacionamentos interorganizacionais como fonte <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e<br />
aprendizag<strong>em</strong> e, assim, <strong>de</strong> vantag<strong>em</strong> competitiva. Dessa forma, a gestão<br />
dos relacionamentos constitui condição fundamental para as pequenas<br />
<strong>em</strong>presas que preten<strong>de</strong>m ampliar ou reforçar suas participações nas<br />
ca<strong>de</strong>ias produtivas e garantias futuras <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>.<br />
Para que haja cooperação efetiva é necessária a troca <strong>de</strong> informações<br />
entre as várias <strong>em</strong>presas dos elos para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma<br />
visão estratégica comum, facilmente i<strong>de</strong>ntificada com a <strong>de</strong>marcação das<br />
áreas <strong>de</strong> atuação na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor (PORTER, 1989) e com análise conjunta<br />
dos probl<strong>em</strong>as, soluções conjuntas e <strong>de</strong>finição das contribuições <strong>de</strong><br />
cada um dos atores envolvidos (CASAROTTO FILHO; PIRES, 1999).<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
Os critérios utilizados para a seleção das <strong>em</strong>presas, enquanto<br />
expectativa e situações potenciais <strong>de</strong> relacionamentos orientados para a<br />
ampliação do valor da produção, constituindo a estrutura social dos relacionamentos<br />
das <strong>em</strong>presas pesquisadas, <strong>de</strong>monstram que a lealda<strong>de</strong> e<br />
a confiança entre os dirigentes das <strong>em</strong>presas <strong>de</strong>terminam os fundamentos<br />
das relações. Esse aspecto é explicado parcialmente, quando se constata<br />
a total ausência, nas cinco <strong>em</strong>presas, <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a eficiente, quantitativo<br />
e qualitativo <strong>de</strong> controle das relações, refletindo, assim, na <strong>de</strong>pendência<br />
das expectativas e exigências <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong> e confiança interpessoal<br />
e não organizacional. Á medida que se observam os dados individuais<br />
das <strong>em</strong>presas, é possível encontrar aspectos comuns significativos, além<br />
dos já apresentados, tais como os relacionados a seguir.<br />
I - A ausência <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as organizacionais <strong>de</strong> gestão das relações<br />
implica forte <strong>de</strong>pendência das características pessoais e<br />
cognitivas dos dirigentes. Se o dirigente dispõe <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s<br />
e características que lev<strong>em</strong> ao relacionamento interorganizacional,<br />
a <strong>em</strong>presa ten<strong>de</strong> a relacionar-se mais amplamente<br />
na ca<strong>de</strong>ia produtiva. Caso o gestor não possua essas características,<br />
a organização ten<strong>de</strong> a restringir suas relações.<br />
II - Prevalec<strong>em</strong> os acordos informais firmados nos relacionamentos<br />
interorganizacionais, mesmo por ocasião <strong>de</strong> relacionamentos<br />
estratégicos.<br />
III - A segurança é o atributo mais esperado nos relacionamentos<br />
interpessoais. Po<strong>de</strong>-se, aqui, relacionar segurança implicitamente<br />
com confiança, conforme consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Mariz;<br />
Me<strong>de</strong>iros (2000); Schommer (2000); Child (1999); Bulgacov;<br />
Verdu (2000); Peci (1999). Os dados coletados revelam a lealda<strong>de</strong><br />
como critério primordial para a existência dos relacionamentos<br />
interpessoais e, como no caso, interorganizacionais,<br />
mantidos pelos dirigentes e <strong>em</strong>presas pesquisadas.<br />
IV - Os dirigentes reduz<strong>em</strong>, pelos limites cognitivos, o potencial<br />
i<strong>de</strong>ntificado nos fundamentos das relações interorganizacionais<br />
fluxo acima e fluxo abaixo (GALBRAITH, 2001), reduzindo<br />
os limites da ca<strong>de</strong>ia para relacionamentos sociais dos<br />
parceiros imediatos.<br />
V - Os relacionamentos interorganizacionais, cujo motivo é a geração<br />
<strong>de</strong> conhecimento, são mantidos mais intensamente com<br />
os atores fluxo acima, o que evi<strong>de</strong>ncia que as <strong>em</strong>presas<br />
pesquisadas procuram obter informações <strong>em</strong> maior profusão<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />
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50<br />
Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />
com seus fornecedores. Essa afirmação se mostra contraditória<br />
com os fundamentos, uma vez que a expectativa é <strong>de</strong> que<br />
os gestores busqu<strong>em</strong> informações preferencialmente com os<br />
clientes finais para que possam a<strong>de</strong>quar-se às suas necessida<strong>de</strong>s<br />
e não às dos fornecedores.<br />
VI - Constata-se, nas <strong>em</strong>presas pesquisadas, todas pertencentes<br />
a setores competitivos, <strong>em</strong> que se constatam pressão por preço<br />
e custo, que a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção mantém relações predatórias<br />
entre os participantes, nas quais o elo da corrente fluxo<br />
abaixo pressiona os elos fluxo acima, num processo <strong>de</strong> redução<br />
da marg<strong>em</strong> e <strong>de</strong> investimento e, por conseqüência, <strong>de</strong><br />
sustentabilida<strong>de</strong>. Verifica-se forte pressão para que as <strong>em</strong>presas<br />
fluxo abaixo forneçam insumos <strong>em</strong> condições impostas.<br />
Caso contrário, busca-se outro fornecedor que as substitua.<br />
I<strong>de</strong>ntificam-se, nas <strong>em</strong>presas pesquisadas, outros fatores predatórios.<br />
As <strong>em</strong>presas, cuja condição financeira apresenta maior<br />
<strong>de</strong>pendência <strong>em</strong> relação às suas parcerias, são forçadas a<br />
negociar seus insumos com fornecedores que lhes concedam<br />
crédito, <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com os preços estabelecidos pelos<br />
compradores (pressão do comprador). Esse aspecto também<br />
explica, parcialmente, a preocupação imediatista da orientação<br />
principal para o fluxo acima.<br />
VII - Em nenhum caso se constatou o propósito <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> joint<br />
ventures, arranjos produtivos locais e just-in-time.<br />
Diante <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações, apreen<strong>de</strong>-se que o relacionamento<br />
interorganizacional é um dos fatores presentes e condicionantes para a<br />
compreensão das <strong>de</strong>pendências das <strong>em</strong>presas investigadas. Este estudo<br />
confirma a relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência existente entre as organizações<br />
que compõ<strong>em</strong> uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> sua sustentabilida<strong>de</strong>.<br />
Dessa forma, não se po<strong>de</strong> negar que uma organização possa exercer,<br />
<strong>em</strong> maior ou menor grau, influência sobre as <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>ntro da ca<strong>de</strong>ia.<br />
Na perspectiva contingencial e na visão baseada <strong>em</strong> recursos, as<br />
exigências <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, no caso das <strong>em</strong>presas pesquisadas, suger<strong>em</strong><br />
a insuficiência na interação interorganizacional (BARNEY;<br />
HESTERLY, 1996; KAY, 1996) na busca conjunta à redução das <strong>de</strong>ficiências<br />
<strong>de</strong> recursos como forma <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> interna, com ampliação<br />
da produtivida<strong>de</strong> e da aprendizag<strong>em</strong>. Há fortes indícios <strong>de</strong> que o afastamento<br />
das exigências do mercado das <strong>em</strong>presas pesquisadas po<strong>de</strong><br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.
Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />
inviabilizá-las pela redução das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controle sobre as etapas<br />
mais significativas do processo produtivo.<br />
Futuros estudos sobre os relacionamentos interorganizacionais<br />
po<strong>de</strong>m abranger diferentes aspectos: os fatores promotores e dificultadores<br />
encontrados para a abertura <strong>de</strong> novos negócios, a efetivida<strong>de</strong> econômica<br />
e social nas parcerias e os mecanismos <strong>de</strong> governança dos arranjos instituídos.<br />
Outra sugestão para estudo futuro está <strong>em</strong> pesquisar o grau <strong>de</strong><br />
influência e o impacto da <strong>em</strong>presa sobre as <strong>de</strong>mais organizações. Outras<br />
contribuições <strong>de</strong> forma compl<strong>em</strong>entar são: a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> produção, possibilitando i<strong>de</strong>ntificar todos os elos que a <strong>de</strong>fin<strong>em</strong>,<br />
as características predominantes <strong>de</strong> cada elo, <strong>de</strong> modo a verificar as <strong>de</strong>scrições<br />
dos elos fluxo acima e abaixo, e a relação entre a posição no<br />
centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>. Relações mais estreitas entre os pesquisadores da<br />
área <strong>de</strong> estratégia e organizações po<strong>de</strong>riam contribuir significativamente<br />
para a busca do conhecimento, exigindo a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um conjunto<br />
<strong>de</strong> pesquisadores dispostos a <strong>em</strong>penhar-se no entendimento das relações<br />
interorganizacionais.<br />
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Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />
OLHARES CONTEMPORÂNEOS<br />
SOBRE CONSUMO EM<br />
BARES E CASAS NOTURNAS<br />
MARIA HENRIQUETA SPERANDIO GARCIA GIMENES<br />
___________________________________________________________<br />
Mestre <strong>em</strong> Sociologia pela UFPR<br />
Especialista <strong>em</strong> Planejamento e Gestão do Turismo pela UFPR<br />
Professora do Curso <strong>de</strong> Turismo da UFPR<br />
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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...
Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />
RESUMO<br />
Enten<strong>de</strong>r o consumo <strong>de</strong> bares e casas noturnas nas socieda<strong>de</strong>s cont<strong>em</strong>porâneas<br />
<strong>de</strong>manda compreen<strong>de</strong>r a própria complexida<strong>de</strong> que envolve a<br />
freqüência a esses estabelecimentos na atualida<strong>de</strong>. Nesse sentido, este<br />
artigo discute as especificida<strong>de</strong>s do consumo <strong>de</strong> tais espaços pautandose<br />
<strong>em</strong> entrevistas realizadas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba (PR) e buscando evi<strong>de</strong>nciar<br />
bares e casas noturnas não apenas como estabelecimentos voltados<br />
ao serviço <strong>de</strong> refeições, mas também como locais <strong>de</strong> lazer urbano,<br />
propícios para relacionamentos interpessoais e favoráveis para a vivência<br />
da sociabilida<strong>de</strong> nas mais diversas formas.<br />
Palavras-chave: bares, casas noturnas, consumo, lazer, sociabilida<strong>de</strong>.<br />
ABSTRACT<br />
In or<strong>de</strong>r to un<strong>de</strong>rstand bar and night club consumption in cont<strong>em</strong>porary<br />
societies it is necessary to un<strong>de</strong>rstand the complexity involved in the<br />
frequentation of such establishments nowadays. This article therefore<br />
discusses the specificities of said consumption. The discussion is based<br />
on interviews conducted in the city of Curitiba (Brazil), with an eye toward<br />
evi<strong>de</strong>nce that bars and night clubs are not only establishments that serve<br />
food and drink, but also spaces of urban leisure, where interpersonal<br />
relationships thrive and sociability can be experienced in various different<br />
forms.<br />
Keywords: bars, night-clubs, consumption, leisure, sociability.<br />
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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />
RÉSUMÉ<br />
Pour comprendre la consommation eu égard aux bars et discothèques<br />
dans nos sociétés cont<strong>em</strong>poraines, il faut saisir la complexité même du<br />
phénomène <strong>de</strong> fréquentation <strong>de</strong> ces établiss<strong>em</strong>ents aujourd’hui. Nous<br />
discutons donc, dans cet article, <strong>de</strong>s spécificités <strong>de</strong> cette consommation,<br />
en s’appuyant sur les résultats d’entrevues menées dans la ville <strong>de</strong> Curitiba<br />
(au Brésil), cherchant à mettre à jour la nature <strong>de</strong>s bars et discothèques,<br />
non seul<strong>em</strong>ent comme <strong>de</strong>s établiss<strong>em</strong>ents dévolus au service <strong>de</strong> boissons<br />
et repas, mais aussi en tant qu’espaces <strong>de</strong> loisir urbain et endroits propices<br />
au foisonn<strong>em</strong>ent <strong>de</strong>s relations interpersonnelles, favorables à l’expérience<br />
<strong>de</strong> la sociabilité sous ses formes les plus variées.<br />
Mots clés: bars, discothèques, consommation, loisir, sociabilité.
Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A alimentação e as <strong>de</strong>cisões a ela relacionadas (formas <strong>de</strong> produção<br />
<strong>de</strong> matéria-prima, condicionamento, distribuição e serviço) figuram<br />
no cerne das preocupações humanas. Tendo <strong>em</strong> vista que os hábitos<br />
alimentares “[...] se traduz<strong>em</strong> na forma <strong>de</strong> seleção, preparo e ingestão <strong>de</strong><br />
alimentos, que não são o espelho, mas se constitu<strong>em</strong> na própria imag<strong>em</strong><br />
da socieda<strong>de</strong>” (BONIN; ROLIM, 1997, p. 76), t<strong>em</strong>-se clara não apenas a<br />
íntima relação que se estabelece entre a alimentação e a cultura <strong>de</strong> uma<br />
socieda<strong>de</strong>, mas até a influência <strong>de</strong> variáveis econômicas, sociais e<br />
tecnológicas que moldam a alimentação <strong>de</strong> acordo com o momento histórico<br />
vivido.<br />
Analisando a dinâmica das refeições cont<strong>em</strong>porâneas, nota-se<br />
que elas, inicialmente restritas a casa e ao âmbito familiar, marcadas<br />
pela comensalida<strong>de</strong>, por horários <strong>de</strong>finidos e pela atuação da mulher na<br />
produção e serviço das iguarias, foram sofrendo alterações gradativas,<br />
impulsionadas não apenas inserção da mulher no mercado <strong>de</strong> trabalho,<br />
mas também pelas novas formas <strong>de</strong> produção, armazenamento e distribuição<br />
<strong>de</strong> matéria-prima; pelos avanços tecnológicos convertidos <strong>em</strong><br />
comodida<strong>de</strong>s domésticas (gela<strong>de</strong>ira, freezer, microondas, forno elétrico,<br />
processadores, entre outros); pela separação nos gran<strong>de</strong>s centros das<br />
áreas <strong>de</strong> residência das <strong>de</strong> trabalho aliadas à redução do horário para<br />
refeições; b<strong>em</strong> como pela alteração na estrutura familiar (número cada<br />
vez maior <strong>de</strong> pessoas morando sozinhas, diminuição do número <strong>de</strong> filhos),<br />
apenas para mencionar alguns dos inúmeros fatores.<br />
Na nova dinâmica social, que se reflete diretamente na dinâmica<br />
do mercado <strong>de</strong> alimentação, as refeições foram gradativamente ganhando<br />
espaços públicos e tornando-se, como pontuam Bonin e Rolim (1991,<br />
p. 78): “[...] in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do espaço e do t<strong>em</strong>po, isto é, tendo-se meios,<br />
é possível consumir qualquer coisa, a qualquer momento, <strong>em</strong> qualquer<br />
lugar e <strong>em</strong> qualquer quantida<strong>de</strong>.”<br />
O serviço comercial <strong>de</strong> alimentação tal como é praticado começou<br />
a ser <strong>de</strong>senhado <strong>em</strong> meados <strong>de</strong> 1700 na França. Ao longo dos anos,<br />
aprimorou-se e multiplicou, incorporando características, especializandose<br />
<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas iguarias, ambientes e públicos. Criou a vasta tipologia<br />
<strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentos que se t<strong>em</strong> hoje (casas noturnas, danceterias, lojas<br />
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<strong>de</strong> fast-food 1 , restaurantes típicos, churrascarias, pizzarias, <strong>de</strong>liveries 2 ,<br />
entre outros), compondo com diversida<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nte o setor <strong>de</strong>nominado<br />
alimentos e bebidas ou ainda food service. 3<br />
Apesar <strong>de</strong> tal segmento ocupar espaços cada vez maiores na economia,<br />
encontra-se plenamente incorporado no cotidiano <strong>de</strong> inúmeras<br />
pessoas. I<strong>de</strong>ntifica-se nele uma enorme carência no tratamento teóricocientífico<br />
dado a esses estabelecimentos, principalmente no que tange<br />
aos enfoques que transcendam os aspectos administrativos e econômicos<br />
a eles vinculados e que sinaliz<strong>em</strong> para os novos papéis que foram<br />
incorporados por esses estabelecimentos.<br />
Justamente essa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhor compreensão do consumo<br />
<strong>de</strong> bares e casas noturnas motivou a realização da dissertação <strong>de</strong><br />
Mestrado intitulada “Lazer e prazer: o consumo simbólico e a vivência da<br />
sociabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> bares e casas noturnas no início do século XXI na cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Curitiba, Paraná” 4 . Tendo como objetivo central a investigação <strong>de</strong><br />
como se estabelec<strong>em</strong> os laços entre pessoas ao vivenciar<strong>em</strong> a sociabilida<strong>de</strong><br />
freqüentando (e consumindo) bares e casas noturnas <strong>em</strong> Curitiba,<br />
tal pesquisa <strong>de</strong>stacou esses estabelecimentos enquanto espaços <strong>de</strong> lazer<br />
urbanos, trazendo resultados que norteiam a elaboração <strong>de</strong>ste artigo.<br />
Acerca da metodologia que direcionou a investigação, observa-se<br />
que, atendo-se às peculiarida<strong>de</strong>s e objetivos da pesquisa e à certeza <strong>de</strong><br />
privilegiar informações <strong>de</strong> caráter qualitativo, o grupo <strong>de</strong> consumidores<br />
foi abordado por entrevistas não diretivas, meio <strong>de</strong> aprofundamento qualitativo<br />
<strong>de</strong> investigação. Esse processo t<strong>em</strong> como principal característica,<br />
conforme observa Thiollent (1982), a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong><br />
uma maior profundida<strong>de</strong> nas respostas, graças à gran<strong>de</strong> abertura das<br />
1 Fast-food: serviço <strong>de</strong> refeições rápidas com base <strong>em</strong> opções previamente <strong>de</strong>finidas que<br />
inclu<strong>em</strong> geralmente sanduíches e snacks (iguarias para rápido consumo). É bastante<br />
difundido no Brasil por meio <strong>de</strong> franquias internacionais, como o McDonald’s, e nacionais,<br />
como o Bob’s.<br />
2 Estabelecimentos especializados na entrega <strong>de</strong> lanches ou refeições prontas que po<strong>de</strong>m<br />
ser requisitadas pelo telefone e via internet. Observa-se a existência <strong>de</strong> estabelecimentos<br />
que trabalham somente nesse sist<strong>em</strong>a, b<strong>em</strong> como outros <strong>em</strong> que o sist<strong>em</strong>a<br />
<strong>de</strong>livery é compl<strong>em</strong>entar aos serviços <strong>de</strong> um restaurante convencional.<br />
3 Setor da economia que envolve toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas ligadas à preparação <strong>de</strong><br />
alimentos fora do lar, incluindo bares, restaurantes e similares.<br />
4 Dissertação <strong>de</strong> Mestrado apresentada ao Programa <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Sociologia, área<br />
<strong>de</strong> Sociologia das Organizações, do Setor <strong>de</strong> Ciências Humanas, Letras e Artes da<br />
UFPR, <strong>de</strong>fendida <strong>em</strong> maio <strong>de</strong> 2003.
Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />
perguntas, aplicadas <strong>em</strong> número reduzido. Abordando-se um número<br />
pequeno <strong>de</strong> pessoas, como sustenta Thiollent (1982, p. 85),<br />
[...] o indivíduo é consi<strong>de</strong>rado como portador <strong>de</strong> cultura (ou subcultura)<br />
que a entrevista não-diretiva po<strong>de</strong> explorar a partir das verbalizações,<br />
inclusive as <strong>de</strong> conteúdo afetivo. Nelas são procurados sintomas dos<br />
mo<strong>de</strong>los culturais que se manifestam na vivência dos indivíduos ou<br />
grupos consi<strong>de</strong>rados.<br />
Como critérios da amostra foram estabelecidos os seguintes aspectos:<br />
os indivíduos entrevistados <strong>de</strong>veriam ter ida<strong>de</strong> igual ou superior a<br />
21 anos e inferior a 65, <strong>de</strong> ambos os sexos, resi<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> Curitiba há<br />
mais <strong>de</strong> um ano e ser<strong>em</strong> freqüentadores <strong>de</strong> bares e casas noturnas, com<br />
assiduida<strong>de</strong> igual ou superior a duas vezes por s<strong>em</strong>ana. Dentro da perspectiva<br />
<strong>de</strong> uma pesquisa sociológica, Deslan<strong>de</strong>s (1998) e Thiollent (1982)<br />
foram fundamentais na reflexão que <strong>de</strong>finiu o dimensionamento da amostra.<br />
Sobre a questão da <strong>de</strong>finição da amostrag<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma pesquisa qualitativa,<br />
Deslan<strong>de</strong>s (1998, p. 43) comenta:<br />
A pesquisa qualitativa não se baseia no critério numérico para garantir<br />
sua representativida<strong>de</strong>. Uma pergunta importante neste it<strong>em</strong> é<br />
“quais indivíduos sociais têm vinculação mais significativa para o probl<strong>em</strong>a<br />
a ser investigado?” A amostrag<strong>em</strong> boa é aquela que possibilita<br />
abranger a totalida<strong>de</strong> do probl<strong>em</strong>a investigado <strong>em</strong> suas múltiplas<br />
dimensões.<br />
Em um raciocínio s<strong>em</strong>elhante, Thiollent (1982, p. 34) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que,<br />
ao tratar-se <strong>de</strong> entrevistas <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong>, a seleção dos indivíduos a<br />
ser<strong>em</strong> entrevistados “[...] supõe a disponibilida<strong>de</strong> do entrevistado, a qual<br />
não é previsível antes <strong>de</strong> um primeiro contato.” Em uma pesquisa qualitativa,<br />
só um pequeno número <strong>de</strong> pessoas é interrogado, escolhidas <strong>em</strong><br />
função <strong>de</strong> critérios não probabilísticos e que não possu<strong>em</strong>, <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência<br />
disso, uma amostra representativa no sentido estatístico. Tendo <strong>em</strong><br />
vista que o objetivo é utilizar as particularida<strong>de</strong>s das experiências sociais<br />
dos indivíduos enquanto reveladores da cultura tal como é vivida, os entrevistados<br />
são escolhidos por sua representativida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação ao t<strong>em</strong>a<br />
tratado. Esse raciocínio <strong>de</strong>finiu o número <strong>de</strong> entrevistados: 21.<br />
Nesse contexto, o artigo objetiva discutir bares e casas noturnas<br />
como espaços <strong>de</strong> comercialização <strong>de</strong> alimentos e bebidas, dando <strong>de</strong>staque<br />
a esses estabelecimentos como espaços <strong>de</strong> lazer e sociabilida<strong>de</strong> e<br />
procurando lançar reflexões que contribuam para melhor compreensão<br />
<strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos que não po<strong>de</strong>m ser omitidos nos processos <strong>de</strong> concepção<br />
e gerenciamento <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentos <strong>de</strong> tal natureza.<br />
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2 COMIDA, BEBIDA, LAZER E SOCIABILIDADE: NOVAS<br />
PERCEPÇÕES DE OFERTA DE BARES E CASAS NOTURNAS<br />
Antes que a discussão sobre o consumo vinculado a bares e casas<br />
noturnas avance e justamente por enten<strong>de</strong>r que as <strong>de</strong>cisões vinculadas<br />
ao âmbito da alimentação se inscrev<strong>em</strong> <strong>em</strong> um contexto cultural muito<br />
maior, torna-se imprescindível realizar algumas reflexões acerca da<br />
dinâmica das relações cont<strong>em</strong>porâneas <strong>de</strong> consumo. Nota-se que nas<br />
socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais, mais do que nunca, as formas e os critérios <strong>de</strong><br />
aquisição <strong>de</strong> produtos e serviços transcen<strong>de</strong>m à mera satisfação das necessida<strong>de</strong>s<br />
utilitárias. O consumo <strong>de</strong> fato, aquele relacionado com as características<br />
objetivas <strong>de</strong> um objeto, e o consumo simbólico, aquele que<br />
se relaciona ao valor simbólico atribuído culturalmente a um objeto, se un<strong>em</strong><br />
e se confun<strong>de</strong>m. Isso caracteriza o ato <strong>de</strong> consumir como um modo <strong>de</strong><br />
relação ativa não só com o objeto <strong>em</strong> si, mas também, como pontua<br />
Baudrillard (1991), com a coletivida<strong>de</strong> e com o mundo, estando intimamente<br />
ligada ao sist<strong>em</strong>a cultural <strong>em</strong> que <strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong> se insere.<br />
Dessa forma, produtos materiais não são mais apenas objetos <strong>de</strong><br />
consumo, mas principalmente instrumentos, um canal <strong>de</strong> satisfação <strong>de</strong><br />
outras necessida<strong>de</strong>s dos indivíduos, que consom<strong>em</strong> não mais os objetos<br />
<strong>em</strong> si, mas principalmente as relações que se estabelec<strong>em</strong> no e por meio<br />
do objeto, evi<strong>de</strong>nciando a idéia <strong>de</strong> mercadoria-signo <strong>de</strong> objeto carregado<br />
<strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> e simbolismo, proposta por Baudrillard (1991).<br />
Reproduzindo seu habitus <strong>de</strong> classe 5 e utilizando os bens e serviços<br />
consumidos como extensão <strong>de</strong> sua própria personalida<strong>de</strong>, o consumidor<br />
procura construir um universo inteligível com as mercadorias que elege,<br />
criando, pelo exercício <strong>de</strong> seu gosto 6 e limitado pelas possibilida<strong>de</strong>s e<br />
impossibilida<strong>de</strong>s econômicas <strong>de</strong> cada um, uma coerência entre suas escolhas<br />
e acabando por constituir uma fonte <strong>de</strong> diferenciação. Essa fonte <strong>de</strong><br />
diferenciação se constrói, pois, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m Bourdieu (1988) e<br />
Featherstone (1990), as preferências <strong>de</strong> consumo envolv<strong>em</strong> julgamentos<br />
discriminantes que i<strong>de</strong>ntificam o próprio julgamento <strong>de</strong> gosto e ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po o tornam passível <strong>de</strong> ser reconhecido e classificado pelos outros.<br />
5 Segundo Bourdieu (2000), habitus <strong>de</strong> classe é uma série <strong>de</strong> esqu<strong>em</strong>as gerados pela<br />
prática comum a todos os indivíduos que compartilham a mesma realida<strong>de</strong> e que acabam<br />
por influenciar, expressar e reforçar as práticas culturais <strong>de</strong> um grupo.<br />
6 Gosto significa, pela expressão da preferência pessoal, o exercício do estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong><br />
cada um.
Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />
Assim, a cultura é corporificada, e estilos <strong>de</strong> vida são impressos<br />
<strong>em</strong> concepções estéticas do corpo, marcando, juntamente com o uso <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminados bens, a entrada ou permanência <strong>de</strong> um indivíduo <strong>em</strong> um<br />
<strong>de</strong>terminado grupo social. Isso faz com que o indivíduo termine por comunicar-se<br />
com os outros e com o próprio mundo por meio <strong>de</strong> seu próprio<br />
corpo e pela forma com que se veste, corta seu cabelo, seleciona e utiliza<br />
sua casa, seu mobiliário e seu carro. Há ainda outras escolhas, como as<br />
ativida<strong>de</strong>s que realiza <strong>em</strong> seus momentos <strong>de</strong> lazer e as próprias companhias<br />
que escolhe para esses momentos.<br />
Com a pesquisa realizada, perceberam-se algumas nuances do<br />
consumo <strong>de</strong> bares e casas noturnas que <strong>de</strong>stacam a estreita relação entre<br />
o consumo <strong>de</strong> fato e o consumo simbólico nesses espaços. Freqüentados<br />
nos momentos livres <strong>de</strong> obrigações laborais e/ou familiares, bares<br />
e casas noturnas possu<strong>em</strong> algumas peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo que merec<strong>em</strong><br />
ser comentadas <strong>de</strong> maneira pormenorizada.<br />
Diferent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> um objeto que possa ser previamente avaliado<br />
<strong>em</strong> um ponto <strong>de</strong> venda, ser comprado ou consumido no próprio local <strong>de</strong><br />
residência, o consumo <strong>de</strong> bares, casas noturnas e similares se dá in loco.<br />
Isso pressupõe o <strong>de</strong>slocamento do indivíduo e a imersão <strong>em</strong> todo o contexto<br />
do bar ou da casa noturna, incluindo sua ambientação, <strong>de</strong>coração e<br />
convívio com os <strong>de</strong>mais freqüentadores. A prévia avaliação <strong>de</strong>sses espaços<br />
po<strong>de</strong> ocorrer apenas parcialmente, por meio da opinião <strong>de</strong> amigos ou<br />
<strong>de</strong> algum veículo <strong>de</strong> informação. Entretanto, o consumo só se efetiva simultaneamente<br />
ao processo <strong>de</strong> compra. Igualmente, <strong>de</strong>ve-se observar<br />
que freqüentar bares e casas noturnas pressupõe estar entre pessoas,<br />
mesmo que não se vá estabelecer contato com todos os presentes. Esse<br />
aspecto torna a freqüência a bares e casas noturnas, antes <strong>de</strong> mais nada,<br />
uma ativida<strong>de</strong> social.<br />
As motivações relacionadas com o consumo <strong>de</strong> bares e casas<br />
noturnas, <strong>em</strong> sua maioria, se mostram voltadas não apenas aos aspectos<br />
tangíveis, mas também aos aspectos simbólicos inerentes a esses estabelecimentos.<br />
Nesse sentido, consome-se não só a bebida e a comida,<br />
mas ainda, <strong>em</strong> um nível simbólico, a atmosfera criada nesse espaço, a<br />
diversão, o relaxamento e as relações que são ali entabuladas entre seus<br />
freqüentadores. Aspectos concretos como <strong>de</strong>coração, cardápio e som ambiente<br />
se un<strong>em</strong> aos estados <strong>de</strong> humor e às intenções dos freqüentadores<br />
para criar o “clima” do lugar, a “alma” da casa, o conjunto <strong>de</strong> atrativos que<br />
faz<strong>em</strong> com que <strong>de</strong>terminados estabelecimentos se torn<strong>em</strong> interessantes<br />
aos olhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados consumidores, evi<strong>de</strong>nciando assim, no processo<br />
<strong>de</strong> escolha, o exercício do gosto <strong>de</strong> cada um.<br />
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De acordo com os entrevistados, freqüentam-se bares e casas<br />
noturnas para “relaxar, fugir do estresse, divertir-se, reencontrar os amigos,<br />
paquerar” 7 ou ainda “ver e ser visto”. O consumo <strong>de</strong> comidas e<br />
bebidas é notadamente <strong>de</strong>ixado <strong>em</strong> segundo plano (muitas vezes tido<br />
como um compl<strong>em</strong>ento e não oferta principal do estabelecimento), diante<br />
da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usufruir um ambiente <strong>de</strong>scontraído, prazeroso e<br />
propício para o contato entre pessoas. Nesse contexto, freqüentar bares<br />
e casas noturnas também po<strong>de</strong> significar, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da intenção<br />
do consumidor, uma forma <strong>de</strong> aproximar-se, inserir-se ou ainda manterse<br />
integrado a um <strong>de</strong>terminado grupo, seja este primário, secundário ou<br />
<strong>de</strong> referência. 8<br />
2.1 IMAGENS VINCULADAS A BARES E CASAS NOTURNAS<br />
As imagens 9 <strong>de</strong> bares e casas noturnas <strong>de</strong>scritas pelos entrevistados<br />
<strong>de</strong>ixam transparecer as novas “funções” incorporadas por esses estabelecimentos.<br />
Bares foram fort<strong>em</strong>ente associados às conversas informais,<br />
ou bate-papo, e ao encontro entre amigos, sendo l<strong>em</strong>brados ainda<br />
como pontos <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> bebidas alcoólicas. As casas noturnas foram<br />
associadas ao flerte e à dança. A música também esteve presente nas<br />
imagens dos dois tipos <strong>de</strong> estabelecimento, sendo a diferença apontada<br />
pelos entrevistados justamente o volume da execução, pois, enquanto a<br />
música “<strong>de</strong> bar” é uma “música ambiente”, a executada nas casas noturnas<br />
t<strong>em</strong> volume mais alto, contribuindo para criar um ambiente mais agitado,<br />
se comparado ao <strong>de</strong> um bar.<br />
7 Gíria relacionada à idéia <strong>de</strong> flerte, <strong>de</strong> ação ou tentativa <strong>de</strong> busca por companhia amorosa.<br />
8 Grupo primário: o relacionamento entre indivíduos é mais pessoal, marcado por contatos<br />
mais íntimos. Grupo secundário: há convivência, mas os contatos são mais impessoais,<br />
superficiais. Grupo <strong>de</strong> referência: formado por pessoas que o indivíduo respeita e admira<br />
e que po<strong>de</strong>m ou não pertencer a seu círculo <strong>de</strong> convivência (GADE, 1998).<br />
9 Imag<strong>em</strong>: utiliza-se a idéia <strong>de</strong> imag<strong>em</strong> pautando-se na idéia <strong>de</strong> “imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> marca”. Para<br />
Karsaklian (2000, p. 181), a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> marca constitui-se no “[...] conjunto <strong>de</strong> percepções<br />
que o consumidor t<strong>em</strong> <strong>de</strong> um produto, uma pessoa ou uma idéia. Estruturalmente,<br />
a imag<strong>em</strong> toma a forma <strong>de</strong> constelações, <strong>de</strong> associações entre o estímulo e um número<br />
variável <strong>de</strong> atributos discriminatórios.”
Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />
Com exceção <strong>de</strong> três entrevistados, todos os homens que associaram<br />
a casa noturna a uma imag<strong>em</strong> <strong>de</strong>preciativa, tratando-a como “um<br />
estabelecimento voltado ao sexo” ou ainda um espaço <strong>de</strong>dicado ao “lazer<br />
masculino”. Tanto bares quanto casas noturnas foram consi<strong>de</strong>rados pelos<br />
<strong>de</strong>mais como espaços agradáveis, <strong>de</strong>scontraídos e freqüentados por<br />
pessoas <strong>de</strong> ambos os sexos. Se parece não haver consenso quanto às<br />
concepções e <strong>de</strong>finições <strong>de</strong>sses dois tipos <strong>de</strong> estabelecimento, tendo <strong>em</strong><br />
vista a confusão <strong>de</strong> muitos entrevistados no momento <strong>de</strong> caracterizar e<br />
diferenciar bares <strong>de</strong> casas noturnas (confusão agravada pelas próprias<br />
publicações especializadas que ten<strong>de</strong>m a tratar tais estabelecimentos<br />
como sinônimos), não houve divergências no momento <strong>de</strong> associar bares<br />
e casas noturnas ao prazer.<br />
As diferentes formas <strong>de</strong> prazer, como o encontro entre amigos,<br />
dos jogos <strong>de</strong> sedução, da <strong>de</strong>gustação <strong>de</strong> comidas e bebidas e <strong>de</strong> uma<br />
atmosfera <strong>de</strong> diversão e <strong>de</strong>scontração, terminaram por evi<strong>de</strong>nciar bares<br />
e casas noturnas como lugares agradáveis, propícios para ser<strong>em</strong> freqüentados<br />
nos momentos liberados do trabalho, tornando-os também espaços<br />
<strong>de</strong> lazer.<br />
Dumazedier (1989, p. 169) acredita que “[...] o espaço <strong>de</strong> lazer,<br />
tanto quanto espaço cultural, é um espaço social on<strong>de</strong> se entabulam relações<br />
específicas entre seres, grupos, meios e classes.” Isso permite a<br />
prática <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s livr<strong>em</strong>ente escolhidas <strong>em</strong> um ambiente que propicia<br />
o contato entre as pessoas. Sobre a idéia do lazer <strong>em</strong> si, o mesmo autor<br />
(2000, p. 34) escreve:<br />
O lazer é um conjunto <strong>de</strong> ocupações às quais o indivíduo po<strong>de</strong> entregar-se<br />
<strong>de</strong> livre vonta<strong>de</strong>, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se,<br />
entreter-se ou, ainda, para <strong>de</strong>senvolver sua informação ou<br />
formação <strong>de</strong>sinteressada, sua participação social voluntária ou a sua<br />
livre capacida<strong>de</strong> criadora após livrar-se ou <strong>de</strong>s<strong>em</strong>baraçar-se das<br />
obrigações profissionais, familiares e sociais.<br />
Embora historicamente o lazer tenha sido consi<strong>de</strong>rado durante muito<br />
t<strong>em</strong>po um antagonista do trabalho, atualmente importantes estudiosos do<br />
fenômeno lazer, como Dumazedier (1989), Marcellino (1995) e Camargo<br />
(1998), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o fim <strong>de</strong>ssa dicotomia. Enfatizam o lazer como uma<br />
forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do indivíduo, não apenas um momento <strong>de</strong> recuperação<br />
<strong>de</strong> força física, mas também mental, representando a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s pessoais que o individuo não<br />
exercita habitualmente <strong>em</strong> suas ativida<strong>de</strong>s laborais.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 55-75, 2005.<br />
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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />
Dumazedier (1989) abordando a importância da prática do lazer<br />
na vida <strong>de</strong> todo indivíduo, ressalta que o lazer possui como funções o<br />
<strong>de</strong>scanso (forma <strong>de</strong> recuperação das energias físicas e mentais do indivíduo),<br />
o divertimento (afastamento do tédio e da rotina que auxilia os<br />
processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso e <strong>de</strong>senvolvimento humano). Possui também o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento voltado justamente ao exercício <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s individuais<br />
ou <strong>em</strong> grupo que auxiliarão o indivíduo, inclusive <strong>em</strong> suas ativida<strong>de</strong>s<br />
profissionais.<br />
Tratando especificamente <strong>de</strong> bares e casas noturnas, verifica-se<br />
que a freqüência a esses lugares permite o exercício <strong>de</strong> diferentes facetas<br />
do lazer. A idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso é ilustrada pelos vários <strong>de</strong>poimentos que<br />
i<strong>de</strong>ntificam na ida a bares e casas noturnas uma forma <strong>de</strong> manter a saú<strong>de</strong><br />
mental, relaxar e “<strong>de</strong>sestressar”. A idéia <strong>de</strong> divertimento aparece nas contribuições<br />
que afirmam que freqüentar tais espaços t<strong>em</strong> como objetivo<br />
sair da rotina, fugir dos probl<strong>em</strong>as do cotidiano e fugir do programa “casa,<br />
trabalho, casa, banho e cama”. No caso específico <strong>de</strong> casas noturnas, o<br />
objetivo é praticar a dança. A função do <strong>de</strong>senvolvimento, citada por<br />
Dumazedier (1989), influenciada positivamente pelo <strong>de</strong>scanso e divertimento,<br />
po<strong>de</strong> ser exercida <strong>em</strong> bares e casas noturnas por meio da prática<br />
da própria dança (aperfeiçoamento ou aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> dança)<br />
ou ainda das mais diversas conversas ou “bate-papos” que ganham<br />
força nesses espaços.<br />
O pensamento <strong>de</strong> que um bar areja as conversas mais sérias ou<br />
<strong>de</strong> que <strong>em</strong> bares e casas noturnas surg<strong>em</strong> conversas que não surgiriam<br />
<strong>em</strong> outro lugar sintetiza o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> vários entrevistados. Eles <strong>de</strong>clararam<br />
utilizar bares e casas noturnas (essas com menor incidência,<br />
tendo <strong>em</strong> vista o volume da música) para entabular conversas mais<br />
<strong>de</strong>scontraídas e até <strong>de</strong>scompromissadas, mas muitas vezes abordando<br />
conteúdos consi<strong>de</strong>rados mais sérios. Nesse sentido, enfatiza-se a inscrição<br />
<strong>de</strong> bares e casas noturnas nos domínios do s<strong>em</strong>ilazer – transição<br />
entre as obrigações do dia e o t<strong>em</strong>po liberado do trabalho, quando assuntos<br />
“<strong>de</strong> trabalho” se misturam à <strong>de</strong>scontração. Isso comumente ocorre<br />
durante o happy hour ou quando pessoas que trabalham juntas terminam<br />
por tratar <strong>de</strong> assuntos profissionais <strong>em</strong> bares e casas noturnas.<br />
Outro aspecto relacionado às conversas realizadas nesses espaços é<br />
justamente a troca <strong>de</strong> informações. Vários entrevistados consi<strong>de</strong>ram bares<br />
e casas noturnas como lugares on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> ficar sabendo o que<br />
está acontecendo na cida<strong>de</strong>, principalmente <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> eventos e realizações<br />
culturais.
Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />
2.2 PREFERÊNCIAS DE CONSUMO EM BARES E CASAS NOTURNAS<br />
O consumo <strong>de</strong> bares e casas noturnas pressupõe a imersão do<br />
indivíduo no ambiente do estabelecimento, na atmosfera criada por aspectos<br />
físicos e pelo próprio grupo <strong>de</strong> freqüentadores. Tendo <strong>em</strong> vista<br />
que freqüentar bares e casas noturnas é uma ativida<strong>de</strong> marcadamente<br />
social, pois esses espaços permit<strong>em</strong> a concentração e o contato entre<br />
pessoas, muitos dos entrevistados <strong>de</strong>clararam ser os freqüentadores os<br />
responsáveis pelo “clima” do estabelecimento.<br />
Nesse contexto, ao ser<strong>em</strong> indagados sobre quais são as características<br />
mais importantes <strong>de</strong> tais estabelecimentos, no momento <strong>de</strong> escolher<br />
aon<strong>de</strong> ir, os entrevistados apontaram os <strong>de</strong>mais freqüentadores e a<br />
música executada como el<strong>em</strong>entos essenciais. As referências relacionadas<br />
aos freqüentadores foram justificadas como “o público cria o ambiente”<br />
e ainda “as pessoas sa<strong>em</strong> para ver<strong>em</strong> e ser<strong>em</strong> vistas”. A música, por<br />
sua vez, foi mencionada com intensida<strong>de</strong>, inclusive como um el<strong>em</strong>ento<br />
seletor dos próprios freqüentadores. A questão da localização, notadamente<br />
associada às preocupações relacionadas com a violência urbana; b<strong>em</strong><br />
como a dos valores financeiros cobrados pelos estabelecimentos (tendo<br />
<strong>em</strong> vista a limitação <strong>de</strong> caráter financeiro que um preço elevado po<strong>de</strong><br />
significar) também mereceu a atenção dos entrevistados.<br />
A preocupação com o perfil dos <strong>de</strong>mais freqüentadores e com a<br />
música executada no momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir aon<strong>de</strong> ir, <strong>de</strong>veras transparente<br />
nos <strong>de</strong>poimentos coletados, parece estar pautada, <strong>de</strong> forma significativa,<br />
no autoconceito 10 do indivíduo e nas afinida<strong>de</strong>s eletivas 11 que se estabelec<strong>em</strong><br />
entre os indivíduos por meio do mútuo reconhecimento do estilo <strong>de</strong><br />
vida <strong>de</strong> cada um. A i<strong>de</strong>ntificação com a proposta do estabelecimento, b<strong>em</strong><br />
como com os <strong>de</strong>mais freqüentadores, mostrou-se fundamental no momento<br />
<strong>de</strong> escolher aon<strong>de</strong> ir. Pelo gosto, o consumidor elege o estabelecimento<br />
por consi<strong>de</strong>rá-lo compatível com a personalida<strong>de</strong> e estilo <strong>de</strong> vida<br />
do cliente, criando certa sensação <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> e até intimida<strong>de</strong> com<br />
os ambientes freqüentados, tornando-os quase um prolongamento do<br />
modo <strong>de</strong> ser.<br />
10 Autoconceito: a imag<strong>em</strong> que o indivíduo t<strong>em</strong> <strong>de</strong> si mesmo.<br />
11 Segundo Bourdieu (1998, p. 23), a idéia <strong>de</strong> afinida<strong>de</strong>s eletivas r<strong>em</strong>ete às simpatias e<br />
antipatias que se estabelec<strong>em</strong> entre as pessoas, fruto do mútuo reconhecimento do<br />
habitus e do estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> cada um.<br />
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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />
Justamente sobre a questão da familiarida<strong>de</strong> ou fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a esses<br />
estabelecimentos, verificou-se durante a pesquisa a predisposição<br />
dos entrevistados <strong>em</strong> conhecer novos estabelecimentos ou <strong>em</strong> continuar<br />
freqüentando os já conhecidos e aprovados. A maioria dos entrevistados<br />
afirmou preferir lugares já conhecidos ou recomendados por amigos, reforçando<br />
o caráter hedonístico do lazer, no sentido <strong>de</strong> aproveitar da forma<br />
mais agradável possível o t<strong>em</strong>po disponível, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> buscar proteger-se,<br />
pelo processo <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lização, das eventuais frustrações que possam<br />
ser causadas pelas novas experiências. Observa-se que alguns dos<br />
entrevistados afirmaram que até po<strong>de</strong>riam ir a um local <strong>de</strong>sconhecido e<br />
sobre o qual tivess<strong>em</strong> pouca ou nenhuma referência. Entretanto, se valeriam<br />
da companhia <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> amigos para tal intento, por acreditar<strong>em</strong><br />
que os freqüentadores são responsáveis pela atmosfera <strong>de</strong> um bar<br />
ou casa noturna.<br />
Poucos entrevistados se mostraram <strong>de</strong>liberadamente interessados<br />
<strong>em</strong> freqüentar um novo estabelecimento. Os que mantiveram esse<br />
posicionamento justificaram sua opção por conta <strong>de</strong> características da<br />
própria personalida<strong>de</strong> ou pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conhecer o que está na moda 12 .<br />
A idéia <strong>de</strong> freqüentar um estabelecimento que está sendo prestigiado pela<br />
mídia ou por um <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> freqüentadores parece <strong>de</strong>spertar<br />
um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> integração não só com os <strong>de</strong>mais freqüentadores, mas também<br />
com os valores (glamour, riqueza, mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, intelectualida<strong>de</strong>,<br />
in<strong>de</strong>pendência,..) incorporados por aquele estabelecimento.<br />
Deve-se observar, porém, um movimento <strong>de</strong> muitos bares e casas<br />
noturnas que, mesmo voltados para um perfil específico <strong>de</strong> freqüentares,<br />
procuram diversificar suas ofertas <strong>de</strong> produtos e atrativos ao longo da<br />
s<strong>em</strong>ana, dando uma nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ao estabelecimento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do<br />
dia. Acompanhando a própria diversida<strong>de</strong> dos estabelecimentos, os consumidores<br />
terminam por <strong>de</strong>senvolver preferências, freqüentando certo estabelecimento<br />
<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado dia da s<strong>em</strong>ana. Apesar <strong>de</strong> três entrevistados<br />
<strong>de</strong>clarar<strong>em</strong> que essa preferência vinculada ao dia da s<strong>em</strong>ana não<br />
<strong>de</strong>va ser consi<strong>de</strong>rada no caso dos bares, a maioria as elabora com base<br />
12 Para Lipovestsky (2001, p. 39-40) moda é “[...] um sist<strong>em</strong>a original <strong>de</strong> regulação e <strong>de</strong><br />
pressão sociais: suas mudanças apresentam um caráter constrangedor, são<br />
acompanhadas <strong>de</strong> “<strong>de</strong>ver” <strong>de</strong> adoção e <strong>de</strong> assimilação, impõ<strong>em</strong>-se mais ou menos<br />
obrigatoriamente a um meio social <strong>de</strong>terminado – tal é o “<strong>de</strong>spotismo” da moda tão<br />
freqüent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>nunciado ao longo dos séculos. Despotismo muito particular já que<br />
s<strong>em</strong> sanção maior, a não ser o riso, a zombaria e a reprovação dos cont<strong>em</strong>porâneos.
Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />
na própria experiência ou na opinião <strong>de</strong> amigos e pauta-se nela no momento<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir aon<strong>de</strong> ir. Nota-se, inclusive, que esse tipo <strong>de</strong> relação dia<br />
da s<strong>em</strong>ana-<strong>de</strong>terminado estabelecimento se norteia principalmente pelo<br />
tipo <strong>de</strong> música e pelo perfil <strong>de</strong> freqüentadores mais predominantes <strong>em</strong><br />
certos dias da s<strong>em</strong>ana.<br />
Observando que todos os integrantes da amostra possuíam ida<strong>de</strong><br />
igual ou superior a 21 anos (apenas uma entrevistada possuía 21 anos na<br />
ocasião da entrevista), faz-se constar que muitos <strong>de</strong>clararam preferir sair<br />
durante a s<strong>em</strong>ana, quando a presença é mais adulta, o movimento é menor<br />
e as chances <strong>de</strong> brigas e bebe<strong>de</strong>iras são reduzidas, o que <strong>de</strong>staca a<br />
preocupação com o perfil dos <strong>de</strong>mais freqüentadores e com o ambiente<br />
por estes gerado. Todavia, paradoxalmente, muitos continuam freqüentando<br />
bares e casas noturnas às sextas-feiras e sábados, tendo <strong>em</strong> vista<br />
que no dia seguinte não há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se cumprir uma rotina <strong>de</strong><br />
trabalho e po<strong>de</strong>-se sair s<strong>em</strong> a obrigação <strong>de</strong> voltar cedo ou não consumir<br />
bebidas alcoólicas.<br />
Nota-se inclusive que a carga exaustiva <strong>de</strong> trabalho, um dos el<strong>em</strong>entos<br />
impulsionadores <strong>de</strong> mais necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lazer, ten<strong>de</strong> a ser um<br />
importante fator limitante. Entre os fatores limitantes <strong>de</strong> uma maior assiduida<strong>de</strong><br />
a bares e casas noturnas, revelados pelos entrevistados, o excesso<br />
<strong>de</strong> trabalho e a falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po disponível para freqüentar esses<br />
locais mereceram especial referência. É preciso que se consi<strong>de</strong>re que<br />
esses estabelecimentos são freqüentados no período noturno, após um<br />
dia <strong>de</strong> trabalho e outras obrigações. Justamente por se concentrar no<br />
período noturno, é necessário que exista um equilíbrio entre os horários<br />
<strong>em</strong> que se freqüentam bares e casas noturnas e os horários dos compromissos<br />
do dia seguinte, <strong>em</strong> especial daqueles que se realizam logo pela<br />
manhã.<br />
Outro aspecto que mereceu <strong>de</strong>staque nas contribuições foram as<br />
limitações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m financeira. Consi<strong>de</strong>rando que muitos <strong>de</strong>sses estabelecimentos<br />
cobram, além do que é efetivamente consumido no seu interior,<br />
uma taxa <strong>de</strong> acesso (a “entrada”) e também estipulam uma taxa <strong>de</strong><br />
consumação mínima 13 . Freqüentar bares e casas noturnas ten<strong>de</strong> a ser<br />
13 Consumação mínima é uma taxa cobrada por alguns bares e casas noturnas. Refere-se<br />
a um valor mínimo que <strong>de</strong>verá ser consumido no estabelecimento. Caso o cliente não<br />
consuma a totalida<strong>de</strong> do valor expresso <strong>em</strong> produtos, <strong>de</strong>verá arcar com a quantia estipulada<br />
da mesma forma.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 55-75, 2005.<br />
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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />
um it<strong>em</strong> dispendioso no orçamento do consumidor mais assíduo. Como<br />
outras modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> entretenimento, a freqüência a bares e casas noturnas<br />
é bastante sensível às possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> corte do orçamento familiar<br />
ou pessoal.<br />
Os valores cobrados pela casa, b<strong>em</strong> como o tipo <strong>de</strong> música e o<br />
perfil dos <strong>de</strong>mais freqüentadores, foram as informações que os entrevistados<br />
<strong>de</strong>clararam privilegiar quando buscam dados sobre bares e casas<br />
noturnas. Novamente o cerne da preocupação revelou-se ser o perfil dos<br />
freqüentadores, tendo <strong>em</strong> vista que os valores cobrados pela casa e a<br />
música executada foram apontados como seletores da freqüência. Devese<br />
observar que três entrevistados <strong>de</strong>clararam não buscar informações<br />
sobre estes lugares, pois, segundo eles, freqüentam apenas os lugares<br />
que já conhec<strong>em</strong>. A maioria dos entrevistados <strong>de</strong>clarou procurar informações<br />
eventualmente, s<strong>em</strong> que a ação se torne um compromisso, dividindo<br />
com outros amigos esta tarefa.<br />
Diante dos <strong>de</strong>poimentos dos entrevistados po<strong>de</strong>-se perceber que<br />
amigos e colegas são as principais fontes <strong>de</strong> informações sobre bares e<br />
casas noturnas, <strong>em</strong>bora muitos dos entrevistados tenham <strong>de</strong>clarado que<br />
costumam buscar mais <strong>de</strong> uma fonte <strong>de</strong> informação. Sites, revistas e colunas<br />
especializadas também são consultadas, mas quando a intenção é construir<br />
um conceito sobre <strong>de</strong>terminado estabelecimento, os referenciais pessoais<br />
são privilegiados, sendo que as fontes mais impessoais, como publicações,<br />
sites e até mesmo o próprio estabelecimento, são consultadas <strong>em</strong> busca<br />
<strong>de</strong> informações compl<strong>em</strong>entares, mais operacionais, quando já se conhece<br />
o estabelecimento ou já se possui um referencial a respeito.<br />
2.3 BARES E CASAS NOTURNAS COMO ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE<br />
Outro aspecto que se evi<strong>de</strong>nciou ao longo das entrevistas e pesquisas<br />
é o fato <strong>de</strong> que, justamente por ser<strong>em</strong> tomados enquanto espaços<br />
<strong>de</strong> lazer, bares e casas noturnas propiciam o contato e o encontro entre<br />
pessoas <strong>de</strong> forma espontânea, possibilitando a vivência da sociabilida<strong>de</strong><br />
<strong>em</strong> várias configurações. A sociabilida<strong>de</strong> é vista, segundo BAECHLER<br />
(1995), como a capacida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> estabelecer re<strong>de</strong>s, através das<br />
quais as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s sejam estas individuais ou coletivas, faz<strong>em</strong><br />
circular as informações que exprim<strong>em</strong> seus interesses, gostos, paixões<br />
e opiniões, passíveis <strong>de</strong> acontecer nos mais diferentes espaços,<br />
conectando, mesmo que momentaneamente, os indivíduos envolvidos.
Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />
A gran<strong>de</strong> tônica da vivência da sociabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> bares e casas<br />
noturnas é, s<strong>em</strong> dúvida, o encontro entre amigos e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
reforçar laços criados <strong>em</strong> outros espaços que, por conta dos diferentes<br />
ritmos <strong>de</strong> vida das pessoas, muitas vezes não encontram espaço para<br />
ser<strong>em</strong> alimentados no cotidiano. Durante as entrevistas realizadas, todos<br />
os entrevistados <strong>de</strong>clararam buscar contatos, trocas que ornass<strong>em</strong>, completass<strong>em</strong><br />
ou compensass<strong>em</strong> as relações cotidianas impostas pelo trabalho,<br />
pelos <strong>de</strong>veres sociais ou familiares, buscando um quadro <strong>de</strong> relações<br />
sociais livr<strong>em</strong>ente escolhidas.<br />
Apenas dois entrevistados, ambos do sexo masculino, <strong>de</strong>clararam<br />
freqüentar eventualmente bares e casas noturnas sozinhos, sendo que<br />
todos os outros <strong>de</strong>clararam freqüentar estes espaços com amigos, namorado,<br />
namorada ou cônjuge, procurando justamente usufruir a companhia<br />
<strong>de</strong>stes <strong>em</strong> um ambiente agradável e <strong>de</strong>scontraído. Apesar <strong>de</strong> não constituir<br />
uma unanimida<strong>de</strong>, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer pessoas novas também<br />
foi apontada. Em linhas gerais verificou-se que, apesar da maioria<br />
dos relacionamentos surgidos <strong>em</strong> bares e casas noturnas ter<strong>em</strong> sido apontados<br />
como fulgazes, ocasionais e s<strong>em</strong> aprofundamento, marcas da própria<br />
sociabilida<strong>de</strong>, alguns entrevistados afirmaram, tendo como base a<br />
própria experiência, alguns relacionamentos iniciados <strong>em</strong> bares e casas<br />
noturnas po<strong>de</strong>m e são aprofundados posteriormente, estabelecendo laços<br />
mais fortes como amiza<strong>de</strong>s ou relacionamentos amorosos propriamente<br />
ditos.<br />
Entretanto, segundo os <strong>de</strong>poimentos, existe maior probabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> incorporação <strong>de</strong> um novo indivíduo a um grupo quando este v<strong>em</strong><br />
intermediado, ou seja, apresentado por um amigo ou conhecido <strong>em</strong> comum,<br />
pois <strong>de</strong>sta forma o estabelecimento <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> segurança<br />
e afinida<strong>de</strong> é incentivado pela aprovação do grupo ou amigo intermediador.<br />
Da mesma forma, os entrevistados <strong>de</strong>clararam ser mais fácil entabular<br />
uma relação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> ou amorosa com alguém “intermediado”, tendo<br />
<strong>em</strong> vista a existência <strong>de</strong> afinida<strong>de</strong>s e amigos <strong>em</strong> comum, fazendo com<br />
que os laços se sobreponham e sejam reforçados entre estas pessoas.<br />
Existe ainda a idéia <strong>de</strong> “relacionamento <strong>de</strong> bar”, que se refere aos<br />
laços que ficam circunscritos ao espaço do estabelecimento. Neste caso,<br />
as pessoas têm um mínimo conhecimento sobre as <strong>de</strong>mais e conviv<strong>em</strong><br />
com certa freqüência <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminados estabelecimentos, freqüência esta<br />
que é alimentada pela fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao próprio estabelecimento, mas que<br />
não pressupõe que estes laços sejam fortalecidos ou ainda cultivados<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 55-75, 2005.<br />
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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />
fora <strong>de</strong>stes ambientes. Um aspecto interessante é que muitos bares, restaurantes<br />
e casas noturnas, como observa ROLIM (1997) <strong>em</strong> sua pesquisa,<br />
ao ser<strong>em</strong> freqüentados com certa assiduida<strong>de</strong>, acabam sendo tomados<br />
como continuida<strong>de</strong> do lar <strong>de</strong> cada um, a segunda casa, consistindo<br />
<strong>em</strong> locais públicos que são tratados como espaços privados.<br />
A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer novas pessoas muitas vezes é<br />
alimentada pelo flerte, uma iniciativa <strong>de</strong> aproximação cujo principal objetivo<br />
é o envolvimento amoroso ou sensual, aspecto apontado por gran<strong>de</strong><br />
parte dos entrevistados que não possuíam na ocasião relacionamentos<br />
estáveis. Nota-se que muitas vezes a sedução se estabelece como<br />
um jogo estimulante propício para ser praticado nesses espaços, caracterizando-se<br />
como um gran<strong>de</strong> incentivo para a freqüência e permanência<br />
<strong>de</strong> pessoas s<strong>em</strong> relacionamento amoroso fixo <strong>em</strong> bares e casas<br />
noturnas.<br />
Deve-se observar que alguns entrevistados <strong>de</strong>clararam não conhecer<br />
novas pessoas justamente por centrar<strong>em</strong> suas atenções no próprio<br />
grupo <strong>de</strong> amigos com qu<strong>em</strong> freqüentam esses espaços, enquanto<br />
outros <strong>de</strong>clararam que, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do próprio humor e nível <strong>de</strong> cansaço,<br />
po<strong>de</strong>m se sentir mais à vonta<strong>de</strong> para estabelecer novos contatos.<br />
Três entrevistadas, no entanto, <strong>de</strong>clararam acreditar que a gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><br />
para conhecer novas pessoas <strong>em</strong> Curitiba resi<strong>de</strong> justamente no<br />
comportamento distante e pouco receptivo que as mesmas atribu<strong>em</strong> aos<br />
curitibanos. Entretanto, mesmo os que <strong>de</strong>clararam não conhecer pessoas<br />
<strong>em</strong> bares e casas noturnas freqüentam estes estabelecimentos acompanhados,<br />
não ampliando seus contatos, mas vivenciando a sociabilida<strong>de</strong><br />
entre seus acompanhantes.<br />
Logicamente, por tratar-se <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong> caráter comercial,<br />
<strong>de</strong>ve-se enfatizar que, <strong>em</strong>bora a sociabilida<strong>de</strong> estabeleça uma<br />
igualda<strong>de</strong> forjada entre os envolvidos <strong>de</strong>ixando t<strong>em</strong>porariamente<br />
suspensas as características objetivas <strong>de</strong> cada um, bares e casas noturnas<br />
continuam sendo espaços <strong>de</strong> lazer privados. Mesmo sendo o lazer<br />
resultado <strong>de</strong> uma livre escolha, ele também é marcado por condicionamentos<br />
socioeconômicos, aspecto este que, justamente por interferir no<br />
acesso a <strong>de</strong>terminados estabelecimentos comerciais e influenciar diretamente<br />
o perfil dos freqüentadores, <strong>de</strong>ve ser analisado <strong>de</strong> forma criteriosa<br />
durante a concepção dos <strong>em</strong>preendimentos <strong>em</strong> questão.
Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Os serviços <strong>de</strong> alimentação, antes intimamente relacionados ao<br />
lar e à mulher, constitu<strong>em</strong> atualmente objeto <strong>de</strong> relações comerciais, sendo<br />
oferecidos <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> escala a um gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> consumidores,<br />
que procuram a praticida<strong>de</strong>, a rapi<strong>de</strong>z, as facilida<strong>de</strong>s e até mesmo a segurança<br />
<strong>de</strong> uma alimentação equilibrada (ou pelo menos não contaminada)<br />
fora <strong>de</strong> seus locais <strong>de</strong> residência.<br />
Neste panorama, aliados à comida e à bebida (el<strong>em</strong>entos fundamentais<br />
da oferta), possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> entretenimento (música, dança,<br />
ambientes t<strong>em</strong>áticos, ...) e <strong>de</strong> interação entre pessoas (por meio da conversa,<br />
do flerte, ..) vêm ganhando <strong>de</strong>staque e figurando <strong>de</strong>ntre as principais<br />
motivações <strong>de</strong> freqüência <strong>de</strong> bares e casas noturnas. Nos gran<strong>de</strong>s<br />
centros urbanos, on<strong>de</strong> há uma tendência <strong>de</strong> isolamento das pessoas <strong>em</strong><br />
suas respectivas residências, b<strong>em</strong> como uma ausência quase total <strong>de</strong><br />
espaços <strong>de</strong> lazer que po<strong>de</strong>m ser freqüentados no período noturno <strong>em</strong><br />
segurança, muitos estabelecimentos <strong>de</strong> alimentos e bebidas são tomados<br />
como verda<strong>de</strong>iras extensões da residência <strong>de</strong> seus clientes.<br />
Desta forma, além das preocupações associadas à formatação do<br />
cardápio e <strong>de</strong>finição da proposta da casa, a criação <strong>de</strong> um ambiente a<strong>de</strong>quado<br />
e atrativo para o público que se preten<strong>de</strong> atrair configura-se hoje<br />
como uma das principais <strong>de</strong>cisões estratégicas no negócio <strong>de</strong> Alimentos<br />
e Bebidas. Ambientação não apenas no sentido <strong>de</strong> ocupação estética do<br />
espaço ou <strong>de</strong> provimento <strong>de</strong> conforto para os freqüentadores, mas principalmente<br />
como criação <strong>de</strong> uma atmosfera acolhedora e que comunique<br />
aos clientes a proposta e os diferenciais da casa, criando um sentimento<br />
<strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rá ser convertido <strong>em</strong> fi<strong>de</strong>lização.<br />
Em um mercado altamente competitivo e catalisado pelo aparecimento<br />
freqüente <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>s, a conexão entre clientes e estabelecimento<br />
talvez seja a chave para o sucesso e bom <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho financeiro<br />
<strong>de</strong> um estabelecimento. Neste sentido, a ampliação do foco do negócio<br />
<strong>de</strong> alimentos e bebidas, envolvendo a pr<strong>em</strong>issa <strong>de</strong> que os espaços <strong>de</strong><br />
alimentação constitu<strong>em</strong> atualmente espaços <strong>de</strong> lazer <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância,<br />
parece ser uma mudança fundamental não apenas para a compreensão<br />
da relevância <strong>de</strong>stes estabelecimentos na atualida<strong>de</strong>, mas principalmente<br />
um gran<strong>de</strong> passo <strong>em</strong> relação às novas formas <strong>de</strong> formatação<br />
e operacionalização <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>ssa natureza.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 55-75, 2005.<br />
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74<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 55-75, 2005.<br />
Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />
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Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 55-75, 2005.<br />
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Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
AMBIENTE EXTERNO E<br />
PROCESSO DE DEFINIÇÃO<br />
DE ESTRATÉGIAS<br />
ORGANIZACIONAIS:<br />
UMA REVISÃO E SÍNTESE TEÓRICA<br />
EDELCIO PEDRO JACOMASSI<br />
___________________________________________________________<br />
Mestre <strong>em</strong> <strong>Administração</strong> pela UFSC<br />
Especialista <strong>em</strong> Planejamento Empresarial<br />
Professor das Faculda<strong>de</strong>s Integradas Curitiba<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
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Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
RESUMO<br />
O presente estudo t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a influência que o ambiente<br />
externo exerce no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão estratégica das organizações<br />
e, como conseqüência, nas mudanças internas necessárias para<br />
se a<strong>de</strong>quar às novas situações. Toda <strong>de</strong>cisão implica escolha da melhor<br />
alternativa para aproveitar as oportunida<strong>de</strong>s e diminuir as ameaças do<br />
ambiente externo <strong>em</strong> busca do sucesso <strong>em</strong>presarial, s<strong>em</strong> se esquecer <strong>de</strong><br />
reavaliar as condições internas, fortalecendo os pontos fortes e corrigindo<br />
os probl<strong>em</strong>as e pontos fracos da organização. Com base na correta<br />
avaliação do cenário externo, as organizações se obrigam planejar e <strong>de</strong>finir<br />
as mudanças que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ocorrer internamente e como fazê-las <strong>de</strong><br />
forma a minimizar as resistências e s<strong>em</strong> ocasionar uma queda no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho<br />
organizacional.<br />
Palavras-chave: ambiente externo, cenários, mudanças organizacionais,<br />
gestão estratégica, planejamento estratégico, ambiente<br />
interno.<br />
ABSTRACT<br />
The present study wants to <strong>de</strong>monstrate the influence of the external<br />
environment in the strategic process of <strong>de</strong>cision on organizations and as<br />
consequence in the internal changes to be prepared at new situations. All<br />
<strong>de</strong>cision implies in the choice of the best alternative to advantage the<br />
chances and to diminish the threats of the external environment in search<br />
of the enterprise success, without forgetting to reevaluate the internal<br />
conditions, fortifying the strong points and correcting the probl<strong>em</strong>s and<br />
weak points of the organization. From the correct evaluation of the external<br />
scene the organizations must plan and <strong>de</strong>fine which changes are necessary<br />
and the way to make th<strong>em</strong> minimize the difficulties and without causing a<br />
fall in the organizational performance.<br />
Keywords: external ambience, scenes, organizational changes, strategic<br />
manag<strong>em</strong>ent, strategic planning, internal ambience.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
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1 INTRODUÇÃO<br />
Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />
As transformações cada vez mais rápidas e as turbulências<br />
ambientais freqüentes exig<strong>em</strong> das organizações mais profissionalismo e<br />
competência para interpretar, planejar e agir rapidamente, principalmente<br />
<strong>em</strong> mercados competitivos.<br />
O entendimento quanto aos motivos provenientes do ambiente<br />
externo que influenciam as organizações é <strong>de</strong>terminante na escolha das<br />
estratégias <strong>em</strong>presariais. Essa <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias a<strong>de</strong>quadas, além<br />
<strong>de</strong> se constituir <strong>em</strong> um fator <strong>de</strong> sobrevivência da <strong>em</strong>presa, justifica a existência<br />
<strong>de</strong>sta a todos os que com ela interag<strong>em</strong> (a comunida<strong>de</strong>, os acionistas,<br />
a política e os fornecedores) e permite que se obtenha uma vantag<strong>em</strong><br />
competitiva perante as <strong>de</strong>mais concorrentes do mercado.<br />
As mudanças do ambiente externo são <strong>de</strong>cisivas na busca do sucesso<br />
<strong>em</strong>presarial, para aquelas organizações que escolh<strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> gestão proativa e compatível com uma nova realida<strong>de</strong>, facilitando a<br />
escolha da estratégia i<strong>de</strong>al para atingir melhores resultados.<br />
A <strong>em</strong>presa vivencia a busca do sucesso a partir <strong>de</strong> uma boa idéia,<br />
<strong>de</strong> uma missão e objetivos b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidos, visão <strong>de</strong> futuro, leitura <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<br />
e ameaças, persistência e, principalmente, da forma com que<br />
conduz seus negócios.<br />
Este artigo procura <strong>de</strong>monstrar como uma organização necessita<br />
dispor <strong>de</strong> conhecimento e ferramentas para análise e interpretação do<br />
ambiente externo como direcionador <strong>de</strong> estratégias competitivas e <strong>de</strong><br />
mudanças internas.<br />
2 VISÃO SISTÊMICA E CONCEPÇÃO SOBRE AMBIENTES<br />
O enfoque da visão sistêmica das organizações estuda e relaciona<br />
a perspectiva <strong>de</strong> ambientes externo e interno <strong>de</strong> qualquer organização<br />
social e sua inter<strong>de</strong>pendência. As organizações são vistas como um sist<strong>em</strong>a<br />
integrado e indivisível, no qual as <strong>de</strong>cisões tomadas <strong>em</strong> um dos<br />
setores da <strong>em</strong>presa reflet<strong>em</strong> <strong>em</strong> atitu<strong>de</strong>s e resultados <strong>de</strong> <strong>de</strong>mais áreas.<br />
Segundo Oliveira (1991, p. 38), sist<strong>em</strong>a é “[...] um conjunto <strong>de</strong><br />
partes integrantes e inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes que, conjuntamente, formam um<br />
todo unitário com <strong>de</strong>terminado objetivo e efetuando uma função.”<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
Os el<strong>em</strong>entos componentes <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a são: objetivos, entradas<br />
(insumos), processo <strong>de</strong> transformação, saídas (resultados), controles<br />
e retroalimentação.<br />
FIGURA 1 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE UM SISTEMA<br />
FONTE: Valeriano (1998, p. 7).<br />
Na visão sistêmica fica evi<strong>de</strong>nte a inter<strong>de</strong>pendência que as organizações<br />
possu<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação ao ambiente externo, principalmente se<br />
analisadas com as entradas e as saídas <strong>de</strong>sejadas, <strong>em</strong> função dos objetivos<br />
propostos.<br />
3 EVOLUÇÃO DO ESTUDO DOS AMBIENTES<br />
Pesquisando sobre os primeiros trabalhos nessa área, po<strong>de</strong>-se<br />
citar Chandler (1962) como o responsável pelo gran<strong>de</strong> trabalho que faz a<br />
análise das inter-relações entre o ambiente externo <strong>de</strong> uma organização,<br />
a estratégia <strong>em</strong>presarial adotada e a estrutura organizacional. O autor<br />
<strong>de</strong>senvolveu sua pesquisa <strong>em</strong> 50 gran<strong>de</strong>s organizações norte-americanas;<br />
observou as mudanças no ambiente externo e as relacionou às mudanças<br />
na estratégia <strong>em</strong>presarial, no sentido <strong>de</strong> buscar um novo<br />
posicionamento <strong>em</strong> função da nova realida<strong>de</strong>.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />
Lawrence e Lorsch (1973, p. 28) verificaram que o ambiente afeta<br />
os subsist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> uma organização <strong>de</strong> diversas formas, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a<br />
idéia <strong>de</strong> que não existe apenas uma única, ou, ainda, a melhor maneira<br />
<strong>de</strong> organização interna. A compreensão quanto à função da organização,<br />
sua caracterização jurídica, suas origens e forma <strong>de</strong> atuação é essencial<br />
para se perceber a importância e necessida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> mudança.<br />
Como a organização está <strong>em</strong> contínuo processo <strong>de</strong> mudanças, é importante<br />
que haja um monitoramento das ações e dos respectivos resultados<br />
para se acompanhar e direcionar as novas mudanças <strong>em</strong> função dos objetivos<br />
e estratégias planejadas.<br />
Na análise <strong>de</strong> diversos autores, entre eles Kotler (1996, p. 34), as<br />
gran<strong>de</strong>s forças macroambientais que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser i<strong>de</strong>ntificadas e analisadas<br />
com freqüência são as <strong>de</strong>mográficas, econômicas, naturais, tecnológicas<br />
e políticas. Cada uma <strong>de</strong>ssas forças do ambiente interfere <strong>de</strong> forma<br />
significativa e intensamente sobre qualquer organização e po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>cisiva<br />
para se i<strong>de</strong>ntificar oportunida<strong>de</strong>s e ameaças.<br />
A dinâmica do mercado, com a ameaça <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> novos concorrentes,<br />
a mudança <strong>de</strong> cenário voltada para uma melhor qualida<strong>de</strong> e<br />
competitivida<strong>de</strong>, o processo <strong>de</strong> privatização <strong>de</strong> instituições públicas, a<br />
<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> ações e boa vonta<strong>de</strong> política e, principalmente, a visão<br />
<strong>de</strong> cliente, com suas necessida<strong>de</strong>s e expectativas, que nesse caso insere<br />
a comunida<strong>de</strong> como agente integrante, com julgamentos quanto à forma<br />
<strong>de</strong> atuação da organização, formam uma gama <strong>de</strong> fatores críticos que<br />
impulsionaram o processo <strong>de</strong> mudança. A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>ssas variáveis<br />
e o monitoramento constante permit<strong>em</strong> ao gestor interagir <strong>de</strong> forma efetiva<br />
com o meio externo e adotar um estilo <strong>de</strong> gestão proativo, buscando<br />
antecipar algumas <strong>de</strong>cisões e <strong>de</strong>finir melhor as opções disponíveis e estratégias<br />
a ser<strong>em</strong> adotadas, mesmo <strong>em</strong> situações adversas.<br />
De uma maneira geral, a correta avaliação <strong>de</strong> um cenário atual e<br />
futuro permite que se julgu<strong>em</strong> quais as prováveis <strong>de</strong>cisões a ser<strong>em</strong><br />
adotadas, impactando diretamente sobre as mudanças internas e, principalmente,<br />
sobre a própria forma <strong>de</strong> condução dos negócios.<br />
4 ORGANIZAÇÃO E AMBIENTE EXTERNO<br />
Uma das características que se perceb<strong>em</strong> atualmente no<br />
direcionamento <strong>de</strong> estudos referentes às organizações é a <strong>de</strong> enfocar a<br />
análise sobre alguns fatores pontuais e muitas vezes dissociados. Na<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
realida<strong>de</strong> das organizações, observa-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens<br />
avaliadas e analisadas sob a ótica <strong>de</strong> suas inter<strong>de</strong>pendências e principalmente<br />
por meio <strong>de</strong> fatores causais interagentes e inter-relacionados, com<br />
leitura freqüente <strong>de</strong> ambiente e construção <strong>de</strong> cenários, conectada ao<br />
planejamento das ações da <strong>em</strong>presa, <strong>em</strong> todas as suas competências<br />
como sendo parte integrante <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> que as mudanças externas<br />
e internas faz<strong>em</strong> parte do cotidiano.<br />
Esse enfoque permite que a visão e a interpretação <strong>de</strong> cenários<br />
assumam uma nova postura, <strong>de</strong> maior importância nas <strong>em</strong>presas, como<br />
instrumento <strong>de</strong> influência tanto no planejamento como nas mudanças<br />
organizacionais, envolvendo fatores <strong>de</strong> estrutura, cultura e processo internos.<br />
O ambiente externo é consi<strong>de</strong>rado o conjunto <strong>de</strong> todos os fatores<br />
que têm influência sobre a operação do sist<strong>em</strong>a. Entre os fatores mais<br />
conhecidos estão a concorrência, os consumidores, a comunida<strong>de</strong>, o governo,<br />
os fornecedores, o sist<strong>em</strong>a financeiro e o mercado <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra.<br />
No conceito <strong>de</strong> Stoner (1999, p. 46), enten<strong>de</strong>-se como ambiente<br />
externo, o conjunto <strong>de</strong> todos os el<strong>em</strong>entos que atuam fora <strong>de</strong> uma organização<br />
e que são relevantes para sua operação. A análise das mudanças<br />
no ambiente externo po<strong>de</strong> proporcionar um arcabouço <strong>de</strong> informações<br />
que ajudam a melhor compreendê-las e interagir <strong>de</strong> uma forma mais efetiva,<br />
aproveitando as oportunida<strong>de</strong>s e minimizando os riscos <strong>de</strong> qualquer<br />
ativida<strong>de</strong> econômica.<br />
Tachizawa (2000, p. 12) enfatiza a importância <strong>de</strong> se examinar as<br />
ativida<strong>de</strong>s relacionadas à análise ambiental, as quais <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />
consubstanciar o <strong>de</strong>lineamento da conjuntura ou meio ambiente <strong>em</strong> que<br />
a organização está inserida, partindo-se do pressuposto <strong>de</strong> que qualquer<br />
<strong>em</strong>presa se encontra <strong>em</strong> um contexto ambiental composto <strong>de</strong> variáveis<br />
controláveis e incontroláveis. Para essa análise ambiental, o autor ainda<br />
adota um critério <strong>de</strong> segmentação que abrange o macroambiente clima,<br />
enfatizando os aspectos políticos; o macroambiente solo, que avalia as<br />
questões pertinentes à população e suas características; o macroambiente<br />
operacional, que procura avaliar os fornecedores, concorrentes, clientes<br />
e evolução tecnológica; o ambiente interno, que procura i<strong>de</strong>ntificar as<br />
aspirações dos funcionários e gestores.<br />
Segundo Kotler (1996, p. 142), muitas <strong>em</strong>presas não consi<strong>de</strong>ram<br />
as mudanças ambientais como oportunida<strong>de</strong>s, ignoram-nas ou resist<strong>em</strong><br />
a elas até quando já for tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais. Suas estratégias, estruturas, sist<strong>em</strong>as<br />
e cultura <strong>em</strong>presarial cresc<strong>em</strong> obsoleta e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
83
84<br />
Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />
Muitas organizações, consi<strong>de</strong>radas inabaláveis, foram sucumbindo<br />
ao longo do t<strong>em</strong>po por não perceber<strong>em</strong> que o ambiente exigia mudanças<br />
<strong>de</strong> produtos, serviços, tecnologia ou até mesmo <strong>de</strong> novos nichos <strong>de</strong><br />
mercado. Aquelas que resist<strong>em</strong> à necessida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> mudança<br />
contínua reag<strong>em</strong> mais lentamente às mudanças, adotando um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
gestão reativo, no qual o resgate do t<strong>em</strong>po perdido po<strong>de</strong> ser fatal para a<br />
sobrevivência <strong>de</strong>las.<br />
Para o melhor entendimento <strong>de</strong> ambiente externo, é importante a<br />
abordag<strong>em</strong> sobre a leitura <strong>de</strong> cenários, que nada mais é do que a i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> seqüências hipotéticas <strong>de</strong> eventos construídos com o propósito<br />
<strong>de</strong> focalizar a atenção sobre processos causais. Cada evento no ambiente<br />
interfere <strong>de</strong> alguma forma sobre a organização, e esta, por sua vez, <strong>de</strong>ve<br />
planejar suas ações. Nesse sentido é importante salientar que uma leitura<br />
ina<strong>de</strong>quada do ambiente externo po<strong>de</strong> induzir à construção <strong>de</strong> um cenário<br />
futuro distorcido, ocasionando uma tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão errada.<br />
FIGURA 2 - LEITURA E PROJEÇÃO DE CENÁRIOS<br />
FONTE: Elaborado pelo autor.<br />
Para se buscar a excelência organizacional, é fundamental a avaliação<br />
da influência que as tendências mundiais e do macroambitente<br />
exerc<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação às mudanças nas organizações, constituindo-se <strong>em</strong><br />
fatores condicionantes <strong>de</strong> sucesso no futuro. É importante salientar que o<br />
ambiente é constituído <strong>de</strong> três aspectos distintos: ambiente geral,<br />
operacional e interno, os quais se relacionam, interag<strong>em</strong> e se compl<strong>em</strong>entam<br />
e, ainda, possu<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> influência distintos nas organizações.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
O ambiente geral se refere às questões mais amplas, as quais as<br />
organizações individualmente pouco consegu<strong>em</strong> influenciar, mas que influenciam<br />
diretamente as <strong>em</strong>presas. Esse ambiente, segundo Certo (1993,<br />
p. 42), é composto <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos que têm amplo escopo e pouca aplicação<br />
imediata para administrar uma organização, porém, conforme é apresentado<br />
por Kotler (1996, p. 142), <strong>em</strong>presas b<strong>em</strong>-sucedidas são as que<br />
po<strong>de</strong>m reconhecer e respon<strong>de</strong>r rentavelmente às necessida<strong>de</strong>s não resolvidas<br />
e às tendências do macroambiente.<br />
Esse ambiente reflete questões estruturais ao sist<strong>em</strong>a, as quais<br />
mudam <strong>de</strong> tendência somente <strong>em</strong> longo prazo, <strong>de</strong> forma lenta e gradual,<br />
criando oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> novos negócios <strong>em</strong> função da mudança <strong>de</strong> hábitos,<br />
para as <strong>em</strong>presas que consegu<strong>em</strong> fazer uma leitura a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong><br />
cenário. Nesse sentido, é importante que os gestores <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas investigu<strong>em</strong>,<br />
compreendam e cri<strong>em</strong> cenários atuais e futuros das variáveis que<br />
interfer<strong>em</strong> diretamente sobre seu setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>.<br />
Componente<br />
Social<br />
Componente<br />
Político<br />
FIGURA 3 - ESTRUTURA AMBIENTAL.<br />
Componente<br />
Internacional<br />
Componente<br />
Mão-<strong>de</strong>-Obra<br />
AMBIENTE<br />
GERAL<br />
AMBIENTE<br />
OPERACIONAL<br />
A ORGANIZAÇÃO<br />
AMBIENTE<br />
INTERNO<br />
FONTE: Certo (1993, p. 47 – adaptação).<br />
Componente<br />
econômico<br />
Componente<br />
fornecedor<br />
Aspectos organizacionais<br />
Aspectos <strong>de</strong> marketing<br />
Aspectos financeiros<br />
Aspectos pessoais<br />
Aspectos <strong>de</strong> precaução Componente<br />
Tecnológico<br />
Componente<br />
concorrência<br />
Componente<br />
cliente<br />
Componente<br />
Legal<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />
Segundo Kotler (1996, p. 145), as gran<strong>de</strong>s forças macroambientais<br />
que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser analisadas são as seguintes: <strong>de</strong>mográficas, econômicas,<br />
naturais, tecnológicas e políticas.<br />
As forças <strong>de</strong>mográficas diz<strong>em</strong> respeito ao crescimento da população<br />
e suas características (expectativa <strong>de</strong> vida, faixa etária, nível educacional,<br />
etc.) ou ao movimento <strong>de</strong>mográfico no mercado <strong>em</strong> que a <strong>em</strong>presa<br />
atua.<br />
As forças econômicas representam o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra existente<br />
<strong>em</strong> uma economia <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da renda atual, do nível dos preços, da<br />
formação <strong>de</strong> poupança e da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crédito.<br />
As forças naturais representam a influência da socieda<strong>de</strong> no sentido<br />
<strong>de</strong> cobrar das <strong>em</strong>presas a utilização racional e or<strong>de</strong>nada dos recursos<br />
naturais escassos ou ainda <strong>de</strong> processos produtivos que não sejam<br />
poluentes ou que possam agredir a natureza e o meio ambiente.<br />
As forças tecnológicas não se limitam ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
processos produtivos ou do produto, mas influenciam o comportamento<br />
das pessoas e as relações sociais e laborais, como, por ex<strong>em</strong>plo, a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, cada vez mais, se po<strong>de</strong>r trabalhar <strong>em</strong> escritórios virtuais<br />
nas residências, participar <strong>de</strong> reuniões e cursos a distância, entre<br />
outras comodida<strong>de</strong>s.<br />
As forças políticas representam o processo governamental <strong>de</strong><br />
uma nação e influenciam o nível <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, por meio <strong>de</strong> barreiras ou<br />
incentivos, <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado segmento <strong>de</strong> mercado. A i<strong>de</strong>ntificação,<br />
acompanhamento e filtro das tendências da política nacional proporcionam<br />
perspectivas das ações <strong>de</strong> governo que influenciarão as ativida<strong>de</strong>s<br />
da <strong>em</strong>presa, i<strong>de</strong>ntificando oportunida<strong>de</strong>s e ameaças e influindo na<br />
competitivida<strong>de</strong> do setor.<br />
As variáveis do ambiente macro são aquelas <strong>em</strong> que as organizações,<br />
isoladamente e <strong>em</strong> estruturas <strong>de</strong> mercado competitivo, pouco<br />
po<strong>de</strong>m influenciar ou modificar. As organizações, apesar <strong>de</strong> adotar<strong>em</strong><br />
uma postura reativa, <strong>de</strong>verão s<strong>em</strong>pre tentar a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> ameaças<br />
e oportunida<strong>de</strong>s, preparando-se para interagir com essas variáveis, quando<br />
surgir<strong>em</strong>.<br />
Certo (1993, p. 44) conceituou o ambiente operacional como o<br />
nível do ambiente externo composto <strong>de</strong> setores com implicações específicas<br />
e relativamente imediatas na administração da organização. Ansoff<br />
(1977, p. 127) <strong>de</strong>senvolve a idéia da importância <strong>de</strong> diagnosticar o am-<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
biente operacional <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa. Para este autor, a análise externa<br />
é a verificação das oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produto e mercado disponíveis à<br />
<strong>em</strong>presa. O foco do ambiente operacional é o mercado <strong>em</strong> que a <strong>em</strong>presa<br />
está inserida.<br />
Os fatores analisados quanto ao ambiente operacional das organizações,<br />
segundo Certo (1993, p. 44), são: componente cliente,<br />
componente concorrência, componente fornecedor e o componente internacional.<br />
O componente cliente representa a análise das características<br />
daqueles que compram mercadorias e serviços fornecidos pela organização,<br />
ou seja, seus clientes atuais e potenciais.<br />
Para Contador (1995, p. 46), o principal componente da análise<br />
externa <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa é o perfil dos clientes, <strong>em</strong> função da pressão<br />
crescente que exerc<strong>em</strong> quanto à qualida<strong>de</strong> e preços dos produtos<br />
ofertados no mercado. Os clientes se tornam muito mais dinâmicos no<br />
processo <strong>de</strong> escolha por um produto ou serviço, pela rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> informação<br />
e tecnologia disponíveis. O entendimento do comportamento do<br />
cliente, aliado à análise dos produtos ou serviços ofertados, revela o<br />
real atendimento <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s e expectativas.<br />
O componente concorrência, segundo Certo (1993, p. 44), consiste<br />
naquilo <strong>em</strong> que a organização t<strong>em</strong> <strong>de</strong> combater para conseguir<br />
recursos. Analisar os concorrentes, i<strong>de</strong>ntificar seus pontos fortes e fracos<br />
e sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atingir os consumidores são fatores fundamentais<br />
para o <strong>de</strong>senvolvimento estratégico <strong>de</strong> uma organização.<br />
Nesse sentido, é importante i<strong>de</strong>ntificar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concorrentes<br />
diretos ou por similarida<strong>de</strong>, sua capacida<strong>de</strong> e nível <strong>de</strong> utilização,<br />
a participação <strong>de</strong>les no mercado, expectativas e planos futuros, estilos<br />
<strong>de</strong> gestão estratégica, novos produtos ou serviços, po<strong>de</strong>ndo até representar<br />
a diferença entre sucesso e fracasso no mercado.<br />
Em relação ao componente internacional, com a influência da<br />
globalização cada vez mais sentida nos mercados, a <strong>em</strong>presa precisa<br />
competir, estabelecendo referências internacionais <strong>de</strong> comparação, para<br />
não per<strong>de</strong>r competitivida<strong>de</strong> no mercado. Nessa fase, é feita a avaliação<br />
<strong>de</strong> fatores internos da <strong>em</strong>presa, evi<strong>de</strong>nciando seus pontos fortes e fracos,<br />
analisados diante da atual situação no mercado e envolvendo todas<br />
as áreas da organização, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua estrutura <strong>de</strong> trabalho até os<br />
aspectos organizacionais e financeiros.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
87
88<br />
Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />
5 AMBIENTE INTERNO DAS ORGANIZAÇÕES<br />
Certo (1993, p. 47) consi<strong>de</strong>ra o ambiente interno como o que t<strong>em</strong><br />
implicação imediata e específica na administração da <strong>em</strong>presa. Já na<br />
visão <strong>de</strong> Oliveira (1991, p. 77), “A análise interna <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa inicia a<br />
partir do diagnóstico das gran<strong>de</strong>s funções da organização”, conforme se<br />
po<strong>de</strong> observar no quadro 1.<br />
QUADRO 1 - IDENTIFICAÇÃO DAS FUNÇÕES ORGANIZACIONAIS<br />
FUNÇÃO FATOR DE ANÁLISE<br />
marketing<br />
financeira<br />
produção<br />
recursos<br />
humanos<br />
outros<br />
fatores<br />
sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> comunicação, satisfação dos clientes internos e<br />
externos, novos produtos ou serviços, estrutura <strong>de</strong> preços<br />
indicadores econômico-financeiros, estrutura <strong>de</strong> capitais,<br />
planejamento e controle financeiro, registro e análise contábil<br />
instalações, equipamentos, processos, PCP, qualida<strong>de</strong>,<br />
suprimentos, pesquisa <strong>de</strong> novos produtos<br />
motivação, treinamento, absenteísmo, rotação dos<br />
funcionários, clima organizacional<br />
relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações, cultura,<br />
valores, visão, nível <strong>de</strong> preparo <strong>de</strong> seus dirigentes, etc.<br />
FONTE: OLIVEIRA (1991, p. 8).<br />
Zaccarelli (1995, p. 49) afirma que qualquer ação interna na organização<br />
e que não for sentida pelos clientes como vantag<strong>em</strong> competitiva<br />
da <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> relação aos concorrentes não <strong>de</strong>verá ter significado para<br />
a <strong>em</strong>presa. Assim, os fatores a ser<strong>em</strong> analisados estarão imediatamente<br />
relacionados com o que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como apresentável aos<br />
clientes. Quanto a esses fatores, observa-se, diferent<strong>em</strong>ente do que diz o<br />
autor, que n<strong>em</strong> todas as ações <strong>de</strong>senvolvidas na <strong>em</strong>presa são sentidas<br />
diretamente pelos consumidores. Parte <strong>de</strong>las é internalizada, para, <strong>em</strong><br />
seguida, apresentar<strong>em</strong>-se perante o mercado.<br />
Ainda, algumas ações <strong>em</strong>presariais são imprescindíveis para o<br />
bom <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho organizacional, mas, caso não sejam efetuadas, po<strong>de</strong>rão<br />
ocasionar reações negativas e tais reações serão sentidas pelos consumidores,<br />
transformando-se numa <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> competitiva. Ex<strong>em</strong>plos<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
claros <strong>de</strong>ssa situação são as ações relacionadas ao grau <strong>de</strong> motivação<br />
dos <strong>em</strong>pregados pela estruturação <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> cargos e salários. A<br />
introdução não ocasiona uma vantag<strong>em</strong> competitiva diretamente sentida<br />
pelo mercado, mas sua não-adoção correspon<strong>de</strong>rá a uma reação negativa<br />
na <strong>em</strong>presa, o que po<strong>de</strong>rá ocasionar baixo <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos funcionários<br />
e, <strong>em</strong> conseqüência, qualida<strong>de</strong> inferior do produto final. Essa percepção<br />
é fundamental para os colaboradores, principalmente no que diz respeito<br />
ao acesso às informações internas necessárias, o que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />
é conseguido, pois muitas organizações não se sent<strong>em</strong> à vonta<strong>de</strong> para<br />
fornecer indicadores essenciais <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho, por medo <strong>de</strong> que estejam<br />
disponíveis aos concorrentes.<br />
Nessa fase, também, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser i<strong>de</strong>ntificados fatores subjetivos e<br />
culturais das organizações, tais como filosofia da <strong>em</strong>presa, relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,<br />
processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e clima organizacional, entre outros.<br />
O probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ve ser superado, pela sensibilização das pessoas<br />
envolvidas <strong>em</strong> relação aos benefícios que o processo <strong>de</strong> planejamento<br />
po<strong>de</strong>rá trazer para a organização. O processo <strong>de</strong> análise interna estará<br />
completo com a organização <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates a respeito dos principais fatores<br />
<strong>de</strong>tectados, com um plano <strong>de</strong> ação e com uma visão crítica e futurista,<br />
construindo os cenários futuros da <strong>em</strong>presa.<br />
6 RELAÇÃO ENTRE AMBIENTES EXTERNO E INTERNO DA<br />
ORGANIZAÇÃO<br />
Exist<strong>em</strong> um elo principal e um inter-relacionamento entre o ambiente<br />
e as organizações, os quais consist<strong>em</strong> nas estratégias, ou seja, como<br />
as organizações se preparam para atuar no cenário <strong>em</strong> que estão inseridas.<br />
6.1 ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS<br />
Silveira Júnior (1998, p. 31) consi<strong>de</strong>ra que estratégia nada mais é<br />
do que o universo-meio para se atingir um universo-fim. No contexto<br />
organizacional, a estratégia correspon<strong>de</strong> à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se trabalhar contínua<br />
e sist<strong>em</strong>aticamente o ajustamento às condições ambientais <strong>em</strong> mutação,<br />
tendo <strong>em</strong> mente a visão <strong>de</strong> futuro e a perpetuida<strong>de</strong> organizacional.<br />
Para Porter (1996, p. 68), estratégia é a criação <strong>de</strong> uma posição<br />
única e valiosa, envolvendo um conjunto diferente <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong> qualquer<br />
organização. O processo <strong>de</strong> formulação <strong>de</strong> uma estratégia envolve<br />
análise, planejamento e seleção das melhores estratégias gerais, para<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
89
90<br />
Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />
que sejam aumentadas as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alcance dos objetivos<br />
organizacionais.<br />
De acordo com Certo (1993, p. 114), as estratégias organizacionais<br />
são formuladas pela alta administração e projetadas para alcançar os objetivos<br />
globais da <strong>em</strong>presa. Nesse sentido, as estratégias gerais <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />
ser avaliadas, selecionadas e <strong>de</strong>senvolvidas para se estabelecer as linhas<br />
<strong>de</strong> negócios ou <strong>de</strong> produtos, constituindo, assim, a carteira <strong>de</strong> negócios<br />
da <strong>em</strong>presa. Essas <strong>de</strong>finições permit<strong>em</strong> que organização atue <strong>de</strong><br />
forma diferente <strong>em</strong> cada produto ou segmento, conforme o objetivo da<br />
<strong>em</strong>presa.<br />
A análise das condições <strong>de</strong> mercado e dos fatores internos à organização<br />
representa o ponto <strong>de</strong> partida para a <strong>de</strong>terminação da melhor<br />
estratégia para uma <strong>em</strong>presa. A formulação <strong>de</strong> estratégias <strong>em</strong>presariais,<br />
na abordag<strong>em</strong> do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Porter (1992, p. 23), analisa cinco forças<br />
competitivas: po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha dos fornecedores, po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha<br />
dos clientes, existência <strong>de</strong> produtos substitutos, ameaças <strong>de</strong> novos concorrentes<br />
e rivalida<strong>de</strong> do ramo.<br />
Com base nessa análise, po<strong>de</strong>m-se <strong>de</strong>tectar três estratégias competitivas:<br />
a li<strong>de</strong>rança global <strong>de</strong> custos, a estratégia da diferenciação e a<br />
estratégia <strong>de</strong> enfoque.<br />
FIGURA 3 - MODELO DE ANÁLISE DA CONCORRÊNCIA DE PORTER<br />
Fator <strong>de</strong> barganha<br />
dos fornecedores<br />
Novos concorrentes<br />
<strong>em</strong> potencial<br />
CONCORRENTES<br />
INDUSTRIAIS<br />
Fornecedores Compradores<br />
Rivalida<strong>de</strong> entre<br />
<strong>em</strong>presas concorrentes<br />
Substitutos<br />
FONTE: PORTER (1992, p. 23).<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
Risco <strong>de</strong> novos concorrentes<br />
Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha<br />
dos compradores<br />
Riscos <strong>de</strong> produtos ou<br />
serviços substitutos
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
As estratégias <strong>de</strong>senvolvidas por uma organização baseiam-se<br />
<strong>em</strong> dois fatos. O primeiro fato fundamental é conhecer o ambiente <strong>em</strong><br />
que a <strong>em</strong>presa atua, com os consumidores e concorrentes da organização.<br />
O segundo fato a ressaltar é que as estratégias <strong>em</strong>presariais são<br />
estabelecidas com o firme propósito <strong>de</strong> satisfazer as necessida<strong>de</strong>s do<br />
mercado e apresentar aos consumidores vantagens <strong>em</strong> relação aos concorrentes,<br />
para conquistar melhores posições no mercado.<br />
O mercado no qual as organizações estão inseridas, correspon<strong>de</strong><br />
a um processo dinâmico e cercado <strong>de</strong> variáveis incontroláveis, o que possibilita<br />
riscos e oportunida<strong>de</strong>s <strong>em</strong>ergentes, exigindo da <strong>em</strong>presa uma<br />
postura <strong>de</strong> formulação <strong>de</strong> estratégias, para não ser tomada <strong>de</strong> surpresa<br />
pelo andamento do mercado. É relevante salientar que a formulação das<br />
estratégias <strong>em</strong>presariais é baseada na i<strong>de</strong>ntificação das oportunida<strong>de</strong>s e<br />
nas ameaças reveladas quando da análise ambiental.<br />
Cada setor ou área funcional <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa formula suas estratégias<br />
que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar vinculadas às estratégias <strong>de</strong> negócios ou às estratégias<br />
gerais da <strong>em</strong>presa. No entanto, para que uma organização possa<br />
atingir seus objetivos, não basta apenas formular uma estratégia, mas<br />
também estruturá-la <strong>de</strong> maneira efetiva e planejada.<br />
Na visão <strong>de</strong> Mintzberg (1996, p. 17), exist<strong>em</strong> cinco abordagens<br />
fundamentais <strong>de</strong> estratégia: plano, manobra, padrão, posição e perspectiva.<br />
Como plano, ela é percebida <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> um método <strong>de</strong> ação para<br />
diferentes tipos <strong>de</strong> situações. Como manobra, ela é específica e po<strong>de</strong> ser<br />
<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> para intimidar os competidores. Como padrão, a estratégia é<br />
o próprio arquétipo <strong>de</strong> comportamento adotado pela organização, sendo<br />
este consciente ou não. Como posição, i<strong>de</strong>ntifica qual a situação da <strong>em</strong>presa<br />
no mercado ou, ainda, seu posicionamento no ambiente externo.<br />
Finalmente, como perspectiva, se caracteriza <strong>em</strong> função da visão ou perspectiva<br />
<strong>de</strong> mundo e <strong>de</strong> atuação que a <strong>em</strong>presa t<strong>em</strong>.<br />
As abordagens diferentes sobre as questões estratégias levam<br />
aos distintos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> análise, que conforme o objeto <strong>de</strong> estudo po<strong>de</strong>m<br />
ser avaliados e proporcionar resultados sob óticas diversas.<br />
Segundo Oliveira (1991, p. 21), planejamento é um processo pelo<br />
qual se prevê e se estabelece no presente os resultados que se quer ver<br />
realizados no futuro. Também se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que planejamento é o<br />
estabelecimento, <strong>de</strong> forma sist<strong>em</strong>ática, do que se <strong>de</strong>seja para um <strong>de</strong>terminado<br />
período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po futuro, as ações e medidas a ser<strong>em</strong> tomadas,<br />
sua forma <strong>de</strong> execução, controle e avaliação, b<strong>em</strong> como a <strong>de</strong>finição dos<br />
recursos necessários para se atingir o que foi estabelecido.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
91
92<br />
Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />
No processo <strong>de</strong> planejamento <strong>em</strong>presarial, <strong>de</strong>ve-se estabelecer<br />
que diretrizes e objetivos <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> linhas <strong>de</strong> ação e os recursos a ser<strong>em</strong><br />
usados para atingi-los, b<strong>em</strong> como a estratégia que orientará a obtenção,<br />
uso e disposição <strong>de</strong>sses recursos, <strong>em</strong> nível estratégico, tático e<br />
operacional.<br />
Já o planejamento estratégico po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um processo<br />
formal <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a missão da organização, analisar seus ambientes externos<br />
e internos, fixar diretrizes e objetivos globais, para um período<br />
plurianual, consi<strong>de</strong>rando e selecionando estratégias para a consecução<br />
dos objetivos. Seu produto constituir-se-á no plano estratégico, fornecendo<br />
os el<strong>em</strong>entos fundamentais para o <strong>de</strong>senvolvimento das fases seguintes.<br />
No <strong>de</strong>senvolvimento do planejamento estratégico, a fase <strong>de</strong> análise<br />
ambiental e construção <strong>de</strong> cenários se constitui numa das principais etapas,<br />
pois seu monitoramento po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar riscos e oportunida<strong>de</strong>s para<br />
a <strong>em</strong>presa.<br />
Antes <strong>de</strong> aprofundar o estudo nas questões estratégicas voltadas<br />
às organizações, é importante salientar que exist<strong>em</strong> algumas diferenças<br />
entre os conceitos <strong>de</strong> administração estratégica e planejamento estratégico,<br />
mesmo que trat<strong>em</strong> <strong>de</strong> iguais objetivos e utiliz<strong>em</strong> idênticos princípios,<br />
diferenciando-se apenas no nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento estrutural e gerencial<br />
das <strong>em</strong>presas.<br />
A diferenciação entre os conceitos, origina-se do fato <strong>de</strong> que a<br />
administração estratégica não se preocupa <strong>em</strong> <strong>de</strong>masia com a estruturação<br />
formal do processo <strong>de</strong> planejamento, voltando a <strong>em</strong>presa para os processos<br />
ocorridos no ambiente, s<strong>em</strong> a maior preocupação <strong>em</strong> formalizar os<br />
estudos <strong>de</strong>senvolvidos com base na análise ambiental. Desenvolve-se<br />
mais no campo do pensamento estratégico e <strong>de</strong> operar mudanças na<br />
organização, para que ela se torne mais ágil <strong>em</strong> resposta às modificações<br />
ambientais.<br />
Já o planejamento estratégico, consi<strong>de</strong>rado como a etapa inicial<br />
do processo <strong>de</strong> administração estratégica, busca sist<strong>em</strong>atizar o pensamento<br />
operacional, formalizar processos e procedimentos, para que as<br />
<strong>em</strong>presas saibam exatamente os caminhos a ser<strong>em</strong> seguidos. Para Vasconcelos<br />
(1982; p. 181), o principal fator do planejamento estratégico é o<br />
processo <strong>de</strong> planejar e não o produto final no encaminhamento da organização<br />
e daqueles que nela atuam à cultura do pensamento estratégico.<br />
De acordo com Certo (1993, p. 467), administração estratégica é<br />
“[...] um processo contínuo e interativo que visa manter uma organização<br />
como um conjunto apropriadamente integrado com o seu ambiente.” Oli-<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
veira (1991, p. 21) consi<strong>de</strong>ra o planejamento estratégico como “[...] o estabelecimento<br />
<strong>de</strong> providências a ser<strong>em</strong> tomadas pelo administrador para<br />
a situação <strong>em</strong> que o futuro ten<strong>de</strong> a ser diferente do passado.”<br />
Segundo a visão <strong>de</strong> Ansoff (1977), planejamento estratégico é “uma<br />
abordag<strong>em</strong> essencialmente cartesiana’’. Resume a questão da diferenciação<br />
entre o planejamento estratégico e a administração estratégica, como<br />
uma forma <strong>de</strong> ver os dois conceitos pelo prisma da facilida<strong>de</strong> e agilida<strong>de</strong><br />
proporcionadas à organização. Credita-se à administração estratégica o<br />
benefício <strong>de</strong> maior agilida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> rumos que a<br />
<strong>em</strong>presa necessitaria tomar <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> uma variação no ambiente,<br />
enquanto o planejamento estratégico proporciona uma estrutura mais<br />
amarrada, presa no que foi <strong>de</strong>finido pelo planejamento e oficializado<br />
documentalmente por meio dos planos da <strong>em</strong>presa.<br />
Tanto o enfoque <strong>de</strong> planejamento estratégico como o <strong>de</strong> administração<br />
estratégica se <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>, principalmente, no campo da análise<br />
ambiental e das relações do ambiente com a organização <strong>em</strong>presarial.<br />
Nesse sentido, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que o primeiro passo para o estudo do<br />
planejamento estratégico é a análise ambiental.<br />
O diagnóstico estratégico envolve a análise externa, incluindo a<br />
construção <strong>de</strong> cenários e revelando as oportunida<strong>de</strong>s e ameaças às organizações<br />
participantes <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada indústria, enquanto a análise<br />
interna <strong>de</strong> um a organização abrange, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a concepção <strong>de</strong> produto<br />
e serviços agregados (portfólio, ciclo <strong>de</strong> vida), pontos fracos e fortes da<br />
<strong>em</strong>presa.<br />
A análise das diretrizes organizacionais, que é elaborada após a<br />
leitura do cenário e do ambiente interno e que exige maior criativida<strong>de</strong>,<br />
permite a <strong>de</strong>finição do ramo <strong>de</strong> negócio da <strong>em</strong>presa, estabelecimento da<br />
missão e visão, os objetivos e metas organizacionais e funcionais.<br />
Com as mudanças no ambiente externo, é importante a reavaliação<br />
freqüente da missão da organização, tendo <strong>em</strong> vista a mudança <strong>de</strong> mercado<br />
ou <strong>de</strong> produtos e serviços. Afirma Peter Drucker (1973, p. 15), há<br />
mais <strong>de</strong> 30 anos:<br />
Qual é o nosso negócio? [...] a questão é que tão raramente perguntamos<br />
<strong>de</strong> forma clara e direta e tão raramente <strong>de</strong>dicamos t<strong>em</strong>po a<br />
uma reflexão sobre o assunto, que esta talvez seja a mais importante<br />
causa do fracasso das <strong>em</strong>presas.<br />
A <strong>de</strong>terminação do negócio ou <strong>de</strong> sua missão organizacional orienta<br />
a <strong>em</strong>presa quanto aos rumos que <strong>de</strong>ve tomar, tendo <strong>em</strong> vista a visão<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />
que se t<strong>em</strong> do futuro, para que seja ratificada a cultura estabelecida <strong>de</strong>ntro<br />
da organização, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua criação até o momento atual. A <strong>de</strong>terminação<br />
da missão <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa é baseada nos valores e crenças das<br />
pessoas que nela atuam. Desse modo, é imprescindível formar e estruturar<br />
a visão do negócio da <strong>em</strong>presa, i<strong>de</strong>ntificando os fatores que compõ<strong>em</strong> a<br />
estrutura filosófica da organização.<br />
Segundo Vasconcelos (1992, p. 42), <strong>de</strong>ve-se estabelecer a missão<br />
<strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa com base nas respostas às perguntas a seguir.<br />
O que a <strong>em</strong>presa <strong>de</strong>ve fazer?<br />
Para qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve fazer?<br />
Para que <strong>de</strong>ve fazer?<br />
Como <strong>de</strong>ve fazer?<br />
On<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve fazer?<br />
Qual a responsabilida<strong>de</strong> social que <strong>de</strong>ve ter?<br />
A resposta a esses questionamentos serve para revelar a missão<br />
<strong>de</strong> qualquer organização.<br />
No sentido <strong>de</strong> auxiliar a respon<strong>de</strong>r a tais questões, faz-se necessária<br />
a análise <strong>de</strong> cinco fatores principais:<br />
a) sua história;<br />
(Todas as <strong>em</strong>presas têm uma história <strong>de</strong> propósitos, políticas e<br />
realizações.)<br />
b) preferências atuais – tanto dos proprietários como dos gestores,<br />
dos interesses <strong>de</strong> participação <strong>de</strong>la no mercado;<br />
c) ambiente <strong>de</strong> mercado que afetam a missão e as <strong>de</strong>cisões da<br />
<strong>em</strong>presa;<br />
d) recursos da organização – financeiros, materiais e humanos;<br />
e) competências distintas – focalizar <strong>em</strong> produtos que possuam<br />
condições <strong>de</strong> concorrer no mercado.<br />
Prahalad e Hamel (1990, p. 79) utilizam a metáfora <strong>de</strong> uma árvore<br />
<strong>de</strong>ntro do setor automotivo para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> alguns termos, conforme<br />
quadro 3.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
QUADRO 3 - TERMOS UTILIZADOS NO NEGÓCIO DA EMPRESA<br />
ÁRVORE TERMOS SETORES<br />
raízes<br />
galhos<br />
folhas<br />
competências centrais<br />
unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios<br />
produtos finais<br />
FONTE: Prahalad e Hamel (1990, p. 79).<br />
motores<br />
carros, motocicletas<br />
Accord, Civic<br />
Quando uma <strong>em</strong>presa <strong>de</strong>termina sua missão, procura fazê-lo <strong>em</strong><br />
função <strong>de</strong> uma visão, que representa uma expectativa futura baseada <strong>em</strong><br />
um <strong>de</strong>sejo, algo maior. Depois <strong>de</strong> sedimentada a missão da <strong>em</strong>presa,<br />
cabe <strong>de</strong>senvolver um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> comunicação que permita aos <strong>de</strong>mais<br />
funcionários conhecer e i<strong>de</strong>ntificar-se com a missão estabelecida. Com<br />
apoio nessa experiência, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser provocados mais encontros para a<br />
i<strong>de</strong>ntificação das oportunida<strong>de</strong>s e ameaças que se apresentam à <strong>em</strong>presa<br />
e estabelecidos os objetivos da organização diante dos fatores i<strong>de</strong>ntificados.<br />
Para Vasconcelos (1992, p. 245), objetivos são resultados quantitativos<br />
e qualitativos que a <strong>em</strong>presa precisa alcançar <strong>em</strong> prazo <strong>de</strong>terminado,<br />
no contexto <strong>de</strong> seu ambiente, para cumprir sua missão. Por sua<br />
vez, Certo (1993, p. 77) consi<strong>de</strong>ra objetivos organizacionais como uma<br />
meta para qual a organização direciona seus esforços.<br />
A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> objetivos direciona a <strong>em</strong>presa a um caminho a ser<br />
seguido e orienta os colaboradores aon<strong>de</strong> se quer chegar, além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
estabelecer pontos <strong>de</strong> referência, para que os gestores da <strong>em</strong>presa possam<br />
encaminhar os esforços. A elaboração e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> objetivos<br />
permit<strong>em</strong> que a <strong>em</strong>presa possa avaliar seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho e sua eficiência<br />
organizacional, no sentido <strong>de</strong> comparar o previsto e o que se está conseguindo<br />
atingir.<br />
De uma forma geral, os objetivos organizacionais são uma tradução<br />
dos valores principais <strong>de</strong> uma organização, que, por sua vez, espelha<br />
os valores e objetivos pessoais, ou percepções <strong>de</strong> seus sócios, dirigentes<br />
ou colaboradores com mais influência, seja por conhecimento ou po<strong>de</strong>r.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />
É importante ressaltar que os objetivos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser apresentados<br />
<strong>em</strong> todos os níveis da <strong>em</strong>presa. No estratégico, são <strong>de</strong> caráter mais genérico,<br />
refletindo até mesmo os princípios e a missão da <strong>em</strong>presa, fornecendo<br />
aos funcionários uma visão <strong>de</strong> aon<strong>de</strong> se preten<strong>de</strong> chegar <strong>em</strong> curto,<br />
médio ou longo prazo. No nível funcional, ou para cada área, são mais<br />
<strong>de</strong> curto ou médio prazo e mais <strong>de</strong>talhados. Os objetivos po<strong>de</strong>m, também,<br />
ser <strong>de</strong>terminados <strong>em</strong> nível <strong>de</strong>partamental.<br />
As metas, na realida<strong>de</strong>, são os <strong>de</strong>sdobramentos dos objetivos,<br />
po<strong>de</strong>m ser elaboradas nas diversas áreas ou <strong>de</strong>partamentos da <strong>em</strong>presa<br />
e representam as etapas a ser<strong>em</strong> cumpridas para atingir<strong>em</strong>-se os objetivos<br />
elaborados <strong>em</strong> curto prazo. As metas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser quantificáveis, para<br />
que se possa avaliar e monitorar os resultados, visando à concretização<br />
do objetivo proposto.<br />
Os planos <strong>de</strong> ação serv<strong>em</strong> para o <strong>de</strong>talhamento <strong>de</strong> ações, sua<br />
seqüência, prazos, orçamentos, a fim <strong>de</strong> que possa haver acompanhamento<br />
e controle efetivos das ativida<strong>de</strong>s propostas. Pelos planos <strong>de</strong> ação,<br />
po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificadas as principais dificulda<strong>de</strong>s que vão ocorrer na consecução<br />
dos objetivos propostos.<br />
Dando continuida<strong>de</strong> ao processo <strong>de</strong> planejamento estratégico, a administração<br />
envolve os aspectos <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> políticas <strong>em</strong>presariais,<br />
projetos e planos <strong>de</strong> ação, ou seja, o <strong>de</strong>talhamento das estratégias num<br />
nível quantitativo e estruturado <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> cronograma, i<strong>de</strong>ntificando as<br />
ativida<strong>de</strong>s a ser<strong>em</strong> elaboradas e os responsáveis por etapa.<br />
Finalmente, a elaboração <strong>de</strong> controles e procedimentos <strong>de</strong> avaliação<br />
do planejamento estratégico envolve a criação <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações<br />
internas para coletar os dados necessários, que servirão <strong>de</strong><br />
parâmetros <strong>de</strong> medição da eficácia das estratégias aplicadas, possibilitando-se<br />
a comparação dos resultados obtidos com aqueles previstos<br />
quando da elaboração dos objetivos da <strong>em</strong>presa e das metas a ser<strong>em</strong><br />
atingidas. A comparação entre o previsto e o realizado é essencial para<br />
alimentar o processo <strong>de</strong> planejamento estratégico, com o propósito <strong>de</strong><br />
que os erros não sejam repetidos e, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong> que os acertos<br />
possam aperfeiçoar o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão existente na organização.<br />
AMBIENTE<br />
EXTERNO<br />
FIGURA 5 - RELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS<br />
ESTRATÉGIAS<br />
EMPRESARIAIS<br />
MUDANÇAS<br />
ORGANIZACIONAIS<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
FORMA DE<br />
GESTÃO
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
Nessa análise, a variável in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é o ambiente externo, tendo<br />
<strong>em</strong> vista que as mudanças ocorridas no ambiente não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> sofrer<br />
influências da organização, apesar <strong>de</strong> algumas variáveis ser<strong>em</strong> controláveis<br />
e outras incontroláveis, e direcionarão todo o processo <strong>de</strong> análise<br />
das mudanças. Tanto as estratégias escolhidas quanto o conteúdo das<br />
mudanças organizacionais po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como as variáveis<br />
intervenientes, já que <strong>de</strong>terminam os fatores internos da organização <strong>de</strong>finindo<br />
os direcionamentos dos estilos <strong>de</strong> gestão e produtos. Sendo assim,<br />
o estilo <strong>de</strong> gestão a ser adotado passa a ser a variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />
que será <strong>de</strong>terminada <strong>em</strong> função das mudanças organizacionais adotadas.<br />
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES<br />
A mudança <strong>de</strong> ambiente, que é contínua, proporciona uma avaliação<br />
freqüente da estratégia adotada e uma busca <strong>de</strong> alternativa <strong>de</strong> solução<br />
que possibilit<strong>em</strong> melhores resultados futuros.<br />
As turbulências ambientais e as mudanças <strong>de</strong> cenário, cada vez<br />
mais velozes, passam a exigir das organizações mais competência para<br />
interpretar, avaliar e tomar <strong>de</strong>cisões mais rápidas e profundas. No entanto,<br />
o que se percebe é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que as organizações tom<strong>em</strong> <strong>de</strong>cisões<br />
mais planejadas e mais rápidas com antecedência à concretização<br />
dos fatos, para que possam se antecipar à concorrência.<br />
O novo paradigma passa a representar um <strong>de</strong>safio inevitável, que<br />
é o das organizações passar<strong>em</strong> <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> gestão reativo, ou seja,<br />
somente <strong>de</strong>cidindo ou agindo <strong>de</strong>pois que ocorr<strong>em</strong> as mudanças<br />
ambientais, para um estilo <strong>de</strong> gestão proativo. Isso representa não apenas<br />
se antecipar<strong>em</strong> os fatos, mas também se tornar<strong>em</strong> agentes<br />
participativo e interagindo com o meio ambiente na tentativa <strong>de</strong> construir<br />
um cenário favorável.<br />
Analisando-se sob esse prisma, a percepção <strong>de</strong> interpretar o ambiente<br />
externo, antecipar fatos e construir cenários futuros <strong>em</strong> função <strong>de</strong><br />
tendências <strong>de</strong> forma científica passa a ser <strong>de</strong>cisiva na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias<br />
organizacionais e conseqüent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> mudanças organizacionais,<br />
no sentido <strong>de</strong> obter uma vantag<strong>em</strong> competitiva perante as <strong>de</strong>mais concorrentes<br />
no mercado.<br />
Iniciando com os primeiros estudos da área com Chandler (1962)<br />
e Lawrence e Lorsch (1967), até os mais recentes, entre muitos, Mintzberg<br />
(2000), Silveira Júnior e Vivacqua (1998) e Wood (2000), ( Referências<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />
<strong>de</strong> estudos, não <strong>de</strong> citações <strong>de</strong> autores), percebe-se que o estudo das<br />
mudanças ambientais na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias planejadas e nas mudanças<br />
organizacionais passa a ganhar uma importância significativa na<br />
gestão das organizações, sejam estas públicas ou privadas.<br />
Percebe-se que, quando a organização não se preocupa com as<br />
mudanças ocorridas no ambiente externo, apenas reage às situações,<br />
que muitas vezes ocasionam crises internas e ameaças a sua própria<br />
existência, atuando <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada que, na visão <strong>de</strong> Silveira Júnior<br />
e Vivacqua (1999, p. 25), se constitu<strong>em</strong> <strong>em</strong> “mudanças induzidas”. Nessa<br />
mesma abordag<strong>em</strong>, percebe-se que basicamente são originadas <strong>de</strong> dois<br />
fatores principais: um interno e outro externo à <strong>em</strong>presa. A mudança interna<br />
surge quando a organização age proativamente, <strong>em</strong> função das<br />
mudanças nas necessida<strong>de</strong>s sinalizadas no ambiente, tomando a iniciativa<br />
e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando o processo. A mudança externa ocorre quando a<br />
organização não percebe as alterações no ambiente e adota uma postura<br />
reativa, sendo mais traumática, <strong>em</strong>ergencial e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada.<br />
Tais influências do ambiente externo, ocasionadas pela dinâmica<br />
na mudança <strong>de</strong> cenários e tendências <strong>de</strong> forma contínua, faz<strong>em</strong> com<br />
que as mudanças organizacionais, atualmente, sejam diferentes das do<br />
passado <strong>em</strong> dois aspectos fundamentais: a velocida<strong>de</strong> e a profundida<strong>de</strong>.<br />
Com a evolução e melhoria nos meios <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong> um<br />
sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações gerenciais internos e externos, há uma boa percepção<br />
da realida<strong>de</strong> e geração <strong>de</strong> conhecimento, favorecendo a tomada<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões.<br />
De uma forma geral, exist<strong>em</strong> algumas causas <strong>de</strong> mudanças mais<br />
freqüentes: crises externas e internas da organização, fatores econômicos<br />
e sociais, tecnologia; re<strong>de</strong>finição do negócio e adoção <strong>de</strong> novos processos<br />
e expansão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s.<br />
A gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>ssas tendências <strong>de</strong> cenários avaliadas no<br />
ambiente externo se constituía <strong>em</strong> ameaças à sobrevivência da própria<br />
organização. Outras po<strong>de</strong>riam ser analisadas como sendo algumas oportunida<strong>de</strong>s<br />
a ser<strong>em</strong> aproveitadas. Uma gran<strong>de</strong> ameaça po<strong>de</strong> se tornar uma<br />
gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>.<br />
Na visão <strong>de</strong> Stoner (1999, p. 46), o ambiente externo é o conjunto<br />
<strong>de</strong> todos os el<strong>em</strong>entos que atuam fora <strong>de</strong> uma organização e são relevantes<br />
para a operação <strong>de</strong>la. A análise das mudanças no ambiente externo<br />
po<strong>de</strong> proporcionar um arcabouço <strong>de</strong> informações que ajudam a melhor<br />
compreendê-las e interagir <strong>de</strong> uma forma mais efetiva, aproveitando as<br />
oportunida<strong>de</strong>s e minimizando os riscos <strong>de</strong> qualquer ativida<strong>de</strong> econômica.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.
Edélcio Pedro Jacomassi<br />
Os fatores i<strong>de</strong>ntificados no ambiente macroexterno faz<strong>em</strong> com<br />
que as organizações <strong>de</strong> pequeno e médio porte adot<strong>em</strong> uma postura mais<br />
reativa, por não po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> influenciar nessa realida<strong>de</strong>. Assim, isoladamente,<br />
as organizações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar atentas às mudanças externas e buscar<strong>em</strong><br />
uma adaptação rápida, com maior flexibilida<strong>de</strong>.<br />
Já no ambiente operacional (clientes, concorrência, fornecedor e<br />
internacional), as <strong>em</strong>presas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> utilizar suas <strong>de</strong>finições estratégicas<br />
para adotar medidas proativas, tendo <strong>em</strong> vista que po<strong>de</strong>m mudar suas<br />
relações nesse ambiente, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>cisões e ações.<br />
Abordando as questões estratégicas <strong>de</strong>finidas, ficam evi<strong>de</strong>nciados<br />
alguns aspectos <strong>de</strong> vital importância para o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho e<br />
posicionamento da organização do mercado. Segundo a própria <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição<br />
<strong>de</strong> Silveira Júnior (1998, p. 31), a estratégia correspon<strong>de</strong> à capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> trabalhar contínua e sist<strong>em</strong>aticamente o ajustamento às condições<br />
ambientais <strong>em</strong> mutação, tendo <strong>em</strong> mente a visão <strong>de</strong> futuro e a perpetuida<strong>de</strong><br />
organizacional.<br />
A mudança organizacional valoriza o aspecto <strong>de</strong> se trabalhar para<br />
uma orientação estratégica clara e <strong>de</strong>finida, com uma visão <strong>de</strong> futuro.<br />
Essa busca enfatiza ainda mais o conceito da contínua adaptação ao<br />
futuro e ao ambiente externo da organização, pelo qual <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> tomar<br />
<strong>de</strong>cisões confortáveis no presente, po<strong>de</strong>ndo comprometer o futuro da organização.<br />
As <strong>de</strong>finições estratégicas da organização <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar <strong>em</strong><br />
consonância com sua missão e visão.<br />
Entre algumas observações finais, percebe-se que as organizações<br />
buscam alguma mudança alterando tecnologia, rotinas, procedimentos,<br />
normas e regras, ou seja, somente nos aspectos superficiais da mudança,<br />
ou, então, quando ocorr<strong>em</strong> as crises nas organizações, frutos <strong>de</strong><br />
probl<strong>em</strong>as do ambiente externo. Na visão <strong>de</strong> Silveira Junior (1998, p. 24),<br />
quando se realizam <strong>em</strong> função da pressão <strong>de</strong> fatores externos, são <strong>de</strong>nominadas<br />
“mudanças induzidas”.<br />
No mundo do conhecimento, a tecnologia facilita as informações<br />
e, com a comunicação, produz novos conhecimentos. O conhecimento<br />
cresce <strong>em</strong> uma velocida<strong>de</strong> exponencial e é colocado <strong>em</strong> uso com uma<br />
velocida<strong>de</strong> muito maior. Com base nessa pr<strong>em</strong>issa, po<strong>de</strong>-se notar que o<br />
processo <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong>ve ocorrer na mesma proporção da obtenção<br />
<strong>de</strong> novos conhecimentos, que não têm um fim <strong>em</strong> si. “Todas as mudanças<br />
têm um início, mas não têm prazo para terminar”.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />
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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />
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Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
ORIGEM E UTILIZAÇÃO<br />
DE INFORMAÇÕES EM<br />
DECISÕES ORGANIZACIONAIS<br />
DO SETOR METAL-MECÂNICO<br />
BRASILEIRO<br />
GUSTAVO ABIB<br />
___________________________________________________________<br />
103<br />
Mestre <strong>em</strong> <strong>Administração</strong><br />
CARLOS GABRIEL EGGERT BOEHS<br />
___________________________________________________________<br />
Mestre <strong>em</strong> <strong>Administração</strong><br />
DR. PEDRO JOSÉ STEINER NETO<br />
___________________________________________________________<br />
Professor do Programa <strong>de</strong> Mestrado<br />
Doutorado <strong>em</strong> <strong>Administração</strong> da UFPR<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
104<br />
Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
RESUMO<br />
Atualmente, a informação constitui um recurso estratégico na gestão das<br />
organizações e no processo <strong>de</strong>cisório. Para tanto, as organizações estão<br />
preocupadas <strong>em</strong> estruturar, visando à manutenção <strong>de</strong> sua<br />
competitivida<strong>de</strong>, sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação que proporcion<strong>em</strong> agilida<strong>de</strong> no<br />
acesso à informação, tanto <strong>em</strong> questões operacionais quanto ao apoio a<br />
ativida<strong>de</strong>s gerenciais. Por outro lado, a efetivida<strong>de</strong> no uso <strong>de</strong>sses sist<strong>em</strong>as<br />
po<strong>de</strong> ser questionada, quando se verifica que seus usuários não<br />
adotam integralmente seus recursos, buscando fontes <strong>de</strong> informações<br />
paralelas para o auxílio no processo <strong>de</strong>cisório, tornando o sist<strong>em</strong>a<br />
<strong>de</strong>satualizado e ineficaz às pretensões estratégicas <strong>de</strong> gestão da informação.<br />
Esta pesquisa propõe verificar qual a relação entre o uso <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />
formais e fonte alternativa <strong>de</strong> informação, no contexto <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas<br />
do setor metal-mecânico brasileiro. Utilizou-se uma pesquisa <strong>de</strong> levantamento,<br />
com uma amostra <strong>de</strong> 174 <strong>em</strong>presas <strong>de</strong>sse setor. Os resultados<br />
<strong>de</strong>monstram que mesmo <strong>em</strong> fases avançadas <strong>de</strong> informatização e <strong>em</strong><br />
níveis hierárquicos mais elevados, b<strong>em</strong> como <strong>em</strong> organizações maiores,<br />
o uso <strong>de</strong> fontes alternativas aos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação é significativo,<br />
questionando-se a eficiência dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação e da<br />
movimentação das organizações rumo à integração <strong>de</strong> seus sist<strong>em</strong>as.<br />
Palavras-chave: informação, processo <strong>de</strong>cisório, sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação.<br />
ABSTRACT<br />
Nowadays the information constitutes a strategic resource in the<br />
organizational manag<strong>em</strong>ent and in the <strong>de</strong>cision making process.<br />
Companies have been concerned on the impl<strong>em</strong>entation of information<br />
syst<strong>em</strong>s in or<strong>de</strong>r to achieve information access agility and to keep their<br />
competitiveness. Otherwise the effectiveness on the use of these syst<strong>em</strong>s<br />
has been questioned when their users don’t adopt all the available<br />
resources. When the users start to use alternative information sources<br />
such as electronic spread sheets, the formal information syst<strong>em</strong>s become<br />
outdated and inefficiently to the strategic <strong>de</strong>mands of the information<br />
manag<strong>em</strong>ent. This study intends to verify the relation between the use of<br />
formal syst<strong>em</strong>s and alternative sources of information in the Brazilian Metal-<br />
Mechanic Industry. A survey with 174 companies of this industry constitutes<br />
105<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
106<br />
Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />
the sample of this research. The results of the study <strong>de</strong>monstrate that the<br />
use of alternative sources of information is significant in tree cases: in<br />
large companies; in companies with a high level of information technology<br />
adoption and by <strong>em</strong>ployees located in high hierarchical levels. Based on<br />
these results the information syst<strong>em</strong>s efficiency and their integration<br />
process are discussed.<br />
Keywords: information, <strong>de</strong>cision process, information syst<strong>em</strong>s.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A velocida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que ocorre, mais do que a mudança <strong>em</strong> si, t<strong>em</strong><br />
sido um fator marcante vivido pelas organizações, resultando na necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> operar e crescer num ambiente muito instável e dinâmico. A união<br />
<strong>de</strong> mercados, a globalização, a transferência <strong>de</strong> informações, a tecnologia<br />
e a entrada <strong>de</strong> novos concorrentes estão tornando o mundo mais competitivo.<br />
Há mudanças significativas nos hábitos das pessoas, na estrutura<br />
dos países, no perfil da força <strong>de</strong> trabalho, e as organizações precisam<br />
estar preparadas para se adaptar a tais fatos (MILES; SNOW, 1986).<br />
Embora a informação não compreenda novida<strong>de</strong> no campo <strong>de</strong><br />
pesquisa, seu foco <strong>de</strong> estudo t<strong>em</strong> se alterado. Nos momentos iniciais, o<br />
interesse central no estudo da informação foi sobre seu armazenamento,<br />
transmissão e manutenção. Surgiu então o interesse pela tecnologia da<br />
informação e seus atributos. Recent<strong>em</strong>ente, o foco <strong>de</strong> estudo sobre a<br />
informação t<strong>em</strong> dado atenção sobre a importância e a inteligência no seu<br />
uso (BROADBENT; KOENIG, 1996).<br />
Des<strong>de</strong> que a tecnologia da informação foi <strong>em</strong>pregada <strong>de</strong> forma<br />
sistêmica ou sist<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> meados da década <strong>de</strong> 50 (século XX), a<br />
forma que as organizações operam, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> seus produtos e a<br />
comercialização dos mesmos mudou radicalmente (McGEE; PRUSAK,<br />
1994). Atualmente as organizações perceberam que suas fronteiras e seus<br />
limites <strong>de</strong>sapareceram e o mercado tornou-se único e global tanto para<br />
fornecedores como para consumidores.<br />
Nesse ambiente global, o gerenciamento e o processo <strong>de</strong>cisório<br />
constitu<strong>em</strong> fatores-chave para a sobrevivência no mercado. Em tal contexto,<br />
os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação apresentam um importante papel no<br />
sentido <strong>de</strong> coletar, armazenar, organizar e tornar disponíveis informações<br />
que servirão como subsídio nas <strong>de</strong>cisões <strong>em</strong>presariais.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
Se o contexto social mo<strong>de</strong>rno sustenta-se na força motriz da informação,<br />
reconstituída metaforicamente <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação,<br />
cogitar o estabelecimento da informação, enquanto parâmetro <strong>de</strong> resistência<br />
e até <strong>de</strong> sobrevivência, significa i<strong>de</strong>ntificar seu dispositivo <strong>de</strong> segurança<br />
que, intrinsecamente, é reafirmado como redutor <strong>de</strong> incertezas<br />
(CASTRO, 2002).<br />
Sob essa ótica, este artigo t<strong>em</strong> por objetivo analisar o nível <strong>de</strong><br />
informatização <strong>em</strong> que as organizações se encontram, como as informações<br />
estão sendo utilizadas nas <strong>de</strong>cisões organizacionais e qual sua orig<strong>em</strong>.<br />
Para este estudo, selecionou-se o setor metal-mecânico brasileiro<br />
por ser ao mesmo t<strong>em</strong>po representativo na economia brasileira e por sofrer<br />
um processo <strong>de</strong> atualização e massificação relativo ao uso da informação,<br />
<strong>de</strong> seus sist<strong>em</strong>as e <strong>de</strong> tecnologias <strong>em</strong> suas <strong>de</strong>cisões cotidianas.<br />
A parte final do artigo traz ainda uma agenda <strong>de</strong> pesquisa para continuida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> estudos correlatos.<br />
2 INFORMAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA NO CONTEXTO DO<br />
SÉCULO XXI<br />
Marchand (2000) afirma que nos últimos 15 a 20 anos, a maioria<br />
dos gestores consi<strong>de</strong>ram que os fatores-chave <strong>em</strong>pregados para o<br />
gerenciamento das mudanças nos negócios foram a estratégia, a estrutura<br />
organizacional, os processos e as pessoas. Juntos, esses fatores-chave<br />
<strong>em</strong>pregados se tornaram o mo<strong>de</strong>lo lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> gerenciamento das mudanças<br />
nos negócios nas <strong>em</strong>presas, assim como por gerar serviços para<br />
as <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> consultoria. Então, a questão é: o que está errado <strong>em</strong><br />
continuar a encarar a mudança nos negócios <strong>de</strong>ssa forma, neste novo<br />
milênio?<br />
Esse mo<strong>de</strong>lo, utilizado ainda hoje, focaliza um mundo <strong>de</strong> negócios<br />
que r<strong>em</strong>onta às origens da ida<strong>de</strong> industrial, no gerenciamento <strong>de</strong> ativos<br />
tangíveis. No entanto, inúmeras organizações estão expandindo seus negócios<br />
por todo o mundo, rompendo as barreiras físicas, ven<strong>de</strong>ndo, comprando,<br />
utilizando instalações <strong>de</strong> produção globalizada para fabricar ou<br />
montar seus produtos, levantando recursos <strong>em</strong> mercados mundiais <strong>de</strong><br />
capital, formando alianças com parceiros globais e competindo com concorrentes<br />
<strong>em</strong> toda parte do planeta (O´BRIEN, 2002). Deixaram, <strong>em</strong> suma,<br />
essa visão meramente fabril e física e passaram a viver (e sobreviver) <strong>em</strong><br />
um mundo mais in<strong>de</strong>finido e virtual. Isso, porém, seria impossível <strong>de</strong> se<br />
107<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
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Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />
realizar, caso não houvesse informação disponível <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real, tanto<br />
para informar sobre os processos como para criar uma inteligência<br />
organizacional necessária para o efetivo gerenciamento <strong>de</strong>ssas mudanças<br />
e para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. Dessa forma, segundo McGee e Prusak<br />
(1994), nas próximas décadas, a informação, mais do que a terra ou o<br />
capital será a força motriz na criação <strong>de</strong> riquezas e prosperida<strong>de</strong>.<br />
O antigo mo<strong>de</strong>lo que reflete uma era industrial enfatizando o<br />
gerenciamento <strong>de</strong> ativos físicos, tais como capital, trabalho, equipamentos<br />
e prédios, hoje parece não estar mais a<strong>de</strong>quado para o virtual criado<br />
com o surgimento da informação (MARCHAND, 2000). Esta é a era da<br />
informação. O uso da tecnologia da informação e seus sist<strong>em</strong>as para a<br />
globalização e a reengenharia <strong>de</strong> processos <strong>em</strong>presariais muitas vezes<br />
resultam no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação que ajudam a<br />
<strong>em</strong>presa a obter uma vantag<strong>em</strong> competitiva no mercado. Esses sist<strong>em</strong>as<br />
<strong>de</strong> informação estratégicos, segundo O´Brien (2002), utilizam a tecnologia<br />
da informação para <strong>de</strong>senvolver produtos, serviços, processos e capacida<strong>de</strong>s<br />
que confer<strong>em</strong> a uma <strong>em</strong>presa vantag<strong>em</strong> estratégica sobre as forças<br />
competitivas que ela enfrenta <strong>em</strong> seu ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s. Um resultado<br />
importante <strong>de</strong>ssas mudanças é que a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acessar e utilizar<br />
eficazmente a informação tornou-se importante fonte <strong>de</strong> vantag<strong>em</strong><br />
competitiva <strong>em</strong> praticamente todos os setores (McGEE; PRUSAK, 1994).<br />
O conceito sobre informação e seus sist<strong>em</strong>as é paulatinamente<br />
ampliado com o avanço das pesquisas nesse campo. Inicialmente,<br />
conceituava-se informação como o resultado da análise <strong>de</strong> dados que,<br />
por sua vez, compreendia quaisquer el<strong>em</strong>entos i<strong>de</strong>ntificados <strong>em</strong> sua forma<br />
bruta, os quais por si só não conduz<strong>em</strong> a uma compreensão <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado<br />
fato ou situação (LAUDON; LAUDON, 1996).<br />
É interessante salientar que os tipos <strong>de</strong> informação abordados<br />
neste artigo são formais e informais. A informação formal é aquela que se<br />
encontra no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações que a <strong>em</strong>presa utiliza. Essa informação<br />
é proveniente das transações ocorridas na <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> seu dia-adia.<br />
Já a informal é aquela que não é encontrada no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações<br />
da <strong>em</strong>presa, mas proveniente <strong>de</strong> diversas outras fontes, como mercado,<br />
internet, jornais, revistas, relatórios manualmente produzidos e<br />
planilhas eletrônicas isoladas. Esse entendimento é importante para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do artigo.<br />
Adicionando outro conceito <strong>de</strong> informação, agora proposto por<br />
Masuda (1982), a informação é uma relação situacional observada entre<br />
um sujeito e um objeto que torna possível a seleção da ação pela qual o<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
próprio sujeito po<strong>de</strong> atingir alguma espécie <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> uso. Já Shapiro e<br />
Varian (1999) afirmam que os economistas consi<strong>de</strong>ram a informação como<br />
um b<strong>em</strong> – um b<strong>em</strong> da experiência se os consumidores tiver<strong>em</strong> que<br />
experimentá-la para atribuir-lhe valor. Percebe-se a dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> se tentar<br />
conceituar o termo informação, pois ele po<strong>de</strong> ter muitos sentidos.<br />
Atrelada à expansão <strong>de</strong>sse conceito, a informação passou a ser<br />
um ativo que precisa ser administrado. Segundo McGee e Prusak (1994),<br />
a informação é infinitamente reutilizável, não se <strong>de</strong>teriora n<strong>em</strong> se <strong>de</strong>precia,<br />
e seu valor é <strong>de</strong>terminado exclusivamente pelo usuário.<br />
Na visão <strong>de</strong> Auster e Choo (1996), a informação torna-se um recurso<br />
estratégico único para muitas organizações, tão vital quanto a terra,<br />
o trabalho ou o capital. Para Parsons (1996), a informação é<br />
referenciada como o “quarto recurso” <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> capital, pessoas e equipamentos<br />
– e ainda é composta <strong>de</strong> suas próprias e especiais proprieda<strong>de</strong>s<br />
que aumentam sua importância. Trabalho ou capital são ativos exauríveis:<br />
quanto mais são utilizados menor sua disponibilida<strong>de</strong>. Informação,<br />
por outro lado, é um recurso regenerativo que não apenas cresce com o<br />
uso, mas po<strong>de</strong> ser utilizado várias vezes <strong>em</strong> diferentes contextos para<br />
criar valores <strong>de</strong> várias formas. A informação também apresenta riscos,<br />
pois muita informação po<strong>de</strong> estar disponível s<strong>em</strong> que seja garantida sua<br />
total integrida<strong>de</strong> e confiabilida<strong>de</strong>.<br />
As pesquisas sobre informações nas organizações têm pelo menos<br />
duas linhas relacionadas: uma situada na teoria organizacional e outra,<br />
mais recente, na teoria gerencial e nos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação<br />
(AUSTER; CHOO, 1996). Deve-se consi<strong>de</strong>rar que as informações são<br />
adquiridas e processadas por m<strong>em</strong>bros individuais que estão sujeitos a<br />
limitações cognitivas e preferências pessoais, assim como preconceitos<br />
que são formados como resultado <strong>de</strong> suas convivências na organização.<br />
O uso das informações pelas organizações se dá por diversos motivos;<br />
sua riqueza e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações utilizadas difer<strong>em</strong>, <strong>de</strong> acordo<br />
com os níveis hierárquicos internos da organização.<br />
Segundo Choo (1996), as organizações processam e utilizam as<br />
informações para reduzir a incerteza e o equívoco. A incerteza consiste<br />
na ausência ou falta <strong>de</strong> informação, que é necessária para a tomada <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisão ou para a seleção <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> ação apropriado. O equívoco é<br />
a ambivalência nas informações provenientes do ambiente, as quais são<br />
legadas a múltiplas e conflitantes interpretações.<br />
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Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
110<br />
Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />
O papel da informação, no que tange a reduzir as incertezas, constitui<br />
uma função do nível hierárquico, conforme ex<strong>em</strong>plificado por Daft e<br />
Lengel (1996) na figura 1. Para esses autores, no topo da organização, o<br />
ambiente é incerto e subjetivo; os probl<strong>em</strong>as são complexos e <strong>de</strong> difícil<br />
compreensão. A função da informação é a redução <strong>de</strong> incertezas, na proporção<br />
<strong>em</strong> que sua riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes e volume são ampliados. Nos<br />
níveis mais baixos da organização, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> incertezas<br />
é mínima. Então, a tarefa da informação é objetiva e coor<strong>de</strong>nativa,<br />
pois o pessoal <strong>de</strong>ssas áreas trabalha com os objetivos gerais já <strong>de</strong>finidos<br />
e estabelecidos. A informação transmitida para os níveis mais baixos da<br />
organização é menos complexa, visto que é trabalhada e estruturada pelo<br />
nível institucional, preparando-a para ser diss<strong>em</strong>inada e entendida por<br />
toda a organização.<br />
FIGURA 1 - DIFERENÇAS DE USO DE INFORMAÇÕES<br />
ENTRE OS NÍVEIS HIERÁRQUICOS<br />
níveis<br />
hierárquicos<br />
institucional<br />
gerencial<br />
operacional<br />
tarefa <strong>de</strong> processamento<br />
das informações<br />
subjetiva, sugestões externas<br />
redução <strong>de</strong> incertezas <strong>de</strong>cisão<br />
estratégica, objetivos,<br />
produtos e estruturas<br />
misto <strong>de</strong> objetivos e funções<br />
sociais alocação <strong>de</strong> recursos,<br />
monitoração coor<strong>de</strong>nação.<br />
objetiva e b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finida, fatores<br />
internos regras e hierarquias<br />
FONTE: Daft e Lengel (1996, p. 191 – adaptação e ampliação)<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.<br />
quantida<strong>de</strong> e<br />
riqueza da<br />
informação<br />
utilizada
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
O eventual uso das informações po<strong>de</strong> perseguir objetivos racionais<br />
e não racionais. Além do processo <strong>de</strong>cisório, solução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as<br />
e aprendizag<strong>em</strong> organizacional, a informação po<strong>de</strong> ser <strong>em</strong>pregada como<br />
um símbolo cultural ou social, como um recurso político, como meio <strong>de</strong><br />
legitimar a existência <strong>de</strong> uma organização, entre outros. Essa riqueza e<br />
complexida<strong>de</strong> é que criam especificida<strong>de</strong>s no gerenciamento e no uso<br />
das informações nas organizações.<br />
3 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM<br />
DECISÕES ORGANIZACIONAIS<br />
Segundo Braga (1987), o processo <strong>de</strong>cisório po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />
como o pensamento e a ação que resultam <strong>em</strong> uma escolha. Tal escolha<br />
consiste <strong>em</strong> selecionar entre cursos alternativos <strong>de</strong> ação ou mesmo<br />
aceitar ou rejeitar uma <strong>de</strong>terminada ação. O processo <strong>de</strong>cisório é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
importância para o gerenciamento eficaz das organizações, influenciando<br />
tanto os papéis <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança como o efetivo <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho administrativo<br />
e organizacional. Na visão <strong>de</strong> Silva (1989), o processo <strong>de</strong>cisório po<strong>de</strong><br />
ser caracterizado por três mo<strong>de</strong>los distintos.<br />
Mo<strong>de</strong>lo racional: o processo <strong>de</strong>cisório <strong>de</strong>ve ser baseado na<br />
racionalida<strong>de</strong> buscando s<strong>em</strong>pre a melhor alternativa com base no cálculo<br />
<strong>de</strong> benefício.<br />
Mo<strong>de</strong>lo organizacional: as <strong>de</strong>cisões na organização são influenciadas<br />
pelo grupo e visam perseguir a <strong>de</strong>cisão mais satisfatória <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado<br />
momento.<br />
Mo<strong>de</strong>lo político: a <strong>de</strong>cisão é resultado da negociação entre grupos<br />
<strong>de</strong> interesse distintos.<br />
Sob a ótica <strong>de</strong> Hitt e Tyler (1991), os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão estratégica<br />
variam <strong>de</strong> acordo com o nível hierárquico do indivíduo na organização.<br />
Afirmam que gerentes <strong>em</strong> diferentes níveis apresentam percepções<br />
distintas das forças e fraquezas da incerteza ambiental. Uma das<br />
razões para isso, segundo os autores, po<strong>de</strong> ter orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> diferenças no<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão adotado, com base no tipo e montante <strong>de</strong> informação<br />
disponível para cada nível gerencial na organização.<br />
111<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
112<br />
Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />
Para Cl<strong>em</strong>en (1996), o processo <strong>de</strong>cisório muitas vezes conta<br />
com um conjunto incompleto <strong>de</strong> informações que serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> subsídio ao<br />
processo <strong>de</strong>cisório. Nesses casos, os indivíduos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar atentos, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, às previsões meteorológicas, ainda que elas sejam passíveis <strong>de</strong><br />
enganos. Nesse sentido, consciente da imperfeição das informações disponíveis,<br />
o agente <strong>de</strong>cisor <strong>de</strong>ve utilizar o maior número possível <strong>de</strong> recursos<br />
informacionais para minimizar os efeitos <strong>de</strong> uma escolha prejudicial.<br />
Braga (1988) consi<strong>de</strong>ra que os sist<strong>em</strong>as organizacionais são<br />
estruturados para gerar informações e para compartilhá-las com aqueles<br />
que <strong>de</strong>las necessitam para formular e resolver probl<strong>em</strong>as na organização.<br />
Este processo se dá por meio do procedimento pelo qual os gerentes<br />
receb<strong>em</strong> e enviam informação a outros m<strong>em</strong>bros da organização.<br />
Segundo Hammond, Keeney e Raiffa (1999), uma série <strong>de</strong> comportamentos<br />
humanos baseados <strong>em</strong> seu processo cognitivo po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar<br />
a escolha <strong>em</strong> um processo <strong>de</strong>cisório e, <strong>em</strong> muitos casos, <strong>em</strong> direção<br />
oposta à melhor opção, ainda que esta seja a escolha <strong>de</strong>sejada. Uma<br />
<strong>de</strong>ssas “armadilhas psicológicas” consiste na tendência dos seres humanos<br />
<strong>em</strong> prever as chances <strong>de</strong> que <strong>de</strong>terminado evento ocorra com base<br />
<strong>em</strong> sua própria experiência. Dessa maneira, caso o indivíduo tenha experimentado<br />
situações extr<strong>em</strong>as, como um aci<strong>de</strong>nte aéreo, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
haverá a tendência <strong>de</strong> que ele exagere ao afirmar a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ocorrência <strong>de</strong>sse evento, fundamentado <strong>em</strong> sua própria experiência. Para<br />
minimizar as conseqüências <strong>de</strong> tais comportamentos, os autores recomendam<br />
que, ao tentar prever ou estimar algo, <strong>de</strong>ve ser examinado o<br />
maior número <strong>de</strong> informações estatísticas a respeito. Os autores afirmam<br />
ainda que ignorar qualquer dado relevante po<strong>de</strong> causar uma compreensão<br />
errônea <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>a, conduzindo a um processo <strong>de</strong> escolha na<br />
<strong>de</strong>cisão contrário àquela consi<strong>de</strong>rada i<strong>de</strong>al.<br />
Um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações, <strong>em</strong> muitos casos, po<strong>de</strong> ser uma fonte,<br />
mediante relatórios, <strong>de</strong> dados estatísticos sobre eventos organizacionais<br />
e <strong>de</strong> mercado, po<strong>de</strong>ndo auxiliar na estimativa e previsão <strong>de</strong> outros eventos.<br />
Esses sist<strong>em</strong>as, por ser<strong>em</strong> ferramentas impessoais que coletam dados<br />
com objetivo <strong>de</strong> processá-los e, posteriormente, tornar disponíveis a<br />
seus usuários, entre eles <strong>de</strong>cisores organizacionais, reduz<strong>em</strong> o risco <strong>de</strong><br />
basear essas <strong>de</strong>cisões <strong>em</strong> critérios subjetivos <strong>de</strong>terminados pelos indivíduos.<br />
No entanto, sua eficácia estará condicionada ao grau <strong>de</strong> atualização<br />
dos dados inseridos <strong>em</strong> tais sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
Hoch e Kunreuchter (2001), ao apresentar<strong>em</strong> o caso do escritório<br />
da Barings <strong>em</strong> Cingapura, <strong>em</strong> que um negociador <strong>de</strong> ações foi <strong>de</strong>mitido<br />
por causar um grave erro <strong>de</strong> compra e venda <strong>de</strong> títulos, mencionam a<br />
insuficiência <strong>de</strong> tecnologias <strong>de</strong> informação a<strong>de</strong>quadas para apoio à <strong>de</strong>cisão<br />
como uma <strong>de</strong> suas possíveis causas. Afirmam os autores que a falta<br />
<strong>de</strong> preocupação da <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> adotar sist<strong>em</strong>as computacionais que possibilitass<strong>em</strong><br />
à gestão central <strong>em</strong> Londres saber a posição real da <strong>em</strong>presa<br />
<strong>em</strong> qualquer parte do mundo, b<strong>em</strong> como a falta <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong><br />
tecnologia da informação aplicada à gestão <strong>de</strong> risco, foram possíveis causas<br />
do probl<strong>em</strong>a ocorrido. Isso <strong>de</strong>monstra o papel dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação<br />
como fontes <strong>de</strong> comunicação estratégica e <strong>de</strong> apoio à <strong>de</strong>cisão.<br />
De acordo com O´Brien (2002), o tipo <strong>de</strong> informação exigida pelos<br />
tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão está diretamente relacionado com o nível gerencial<br />
e com o grau <strong>de</strong> estruturação nas situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão que enfrentam.<br />
Portanto, o autor consi<strong>de</strong>ra que se po<strong>de</strong> distinguir a estrutura<br />
organizacional <strong>em</strong> três níveis: estratégico, tático e operacional. No nível<br />
operacional, o grau <strong>de</strong> estruturação da tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão é maior, e o<br />
sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações <strong>de</strong>ve prover ao <strong>de</strong>cisor operacional formulários e<br />
relatórios internos com uma prévia especificação-padrão. À medida que<br />
se alcança o nível estratégico, a estruturação do processo <strong>de</strong>cisório se<br />
torna cada vez menos pre<strong>de</strong>terminada, exigindo relatórios internos resumidos<br />
e não programados que irão servir ao conselho <strong>de</strong> diretores e executivos<br />
ligados à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> metas, estratégias e outros aspectos globais<br />
da organização.<br />
Os três níveis organizacionais – estratégico, tático e operacional –<br />
adotam, <strong>em</strong> conjunto, os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação que são alimentados<br />
com dados por esses níveis, sob condições distintas, <strong>de</strong> acordo com as<br />
características <strong>de</strong> cada um. Portanto, a efetivida<strong>de</strong> no uso <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a<br />
<strong>de</strong> informação, está diretamente relacionada com o grau <strong>de</strong> comprometimento<br />
dos níveis organizacionais com a sua atualização. Isso quer dizer<br />
que, se o nível operacional não estiver comprometido, por ex<strong>em</strong>plo, com<br />
a atualização <strong>de</strong> dados relativos ao controle estatístico <strong>de</strong> produção, no<br />
chão <strong>de</strong> fábrica, o executivo não po<strong>de</strong>rá tomar nenhuma <strong>de</strong>cisão eficaz<br />
com os relatórios analisados por ele sobre tal processo produtivo. Deverá<br />
recorrer, na maioria das vezes, a informações compl<strong>em</strong>entares coletadas<br />
<strong>em</strong> fonte alternativa <strong>de</strong> informações.<br />
113<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
114<br />
Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />
4 NÍVEIS DE INFORMATIZAÇÃO E SUA RELAÇÃO<br />
COM A INFORMAÇÃO<br />
O processo atual <strong>de</strong> transformação tecnológica expan<strong>de</strong>-se<br />
exponencialmente, <strong>em</strong> razão <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar uma interface<br />
entre os campos tecnológicos por uma linguag<strong>em</strong> comum na qual a informação<br />
é gerada, recuperada e transmitida (CASTELLS, 2003). Percebese<br />
que todas as <strong>em</strong>presas estão paulatinamente integrando seus processos<br />
com o auxílio da tecnologia. Segundo Meirelles (1994), a evolução<br />
dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação v<strong>em</strong> ocorrendo <strong>em</strong> várias dimensões. Estas<br />
dimensões compreen<strong>de</strong>m questões cronológicas, os estágios <strong>de</strong><br />
informatização da organização e aspectos relativos a conflitos e consensos<br />
quanto à terminologia. Dentre estas três questões, os estágios <strong>de</strong><br />
informatização e as mudanças organizacionais estruturam a evolução e a<br />
utilização dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação nas <strong>em</strong>presas. Castells (2003)<br />
afirma que as novas tecnologias da informação b<strong>em</strong> como os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />
informação não são simplesmente ferramentas a ser<strong>em</strong> aplicadas, mas<br />
processos a ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvidos.<br />
De acordo com a figura 2, Meirelles (1994) apresenta as etapas do<br />
processo <strong>de</strong> informatização nas organizações. É interessante ressaltar<br />
que, para o autor apresentar as três fases distintas, baseou-se nos períodos<br />
<strong>de</strong> informatização <strong>de</strong>senvolvidos por Diebold, <strong>em</strong> 1969, e nos <strong>de</strong>senvolvidos<br />
por Nolan, <strong>em</strong> 1974 e 1979. Para este artigo <strong>de</strong>cidiu-se pelo uso<br />
das etapas apresentadas na figura 2, por ser<strong>em</strong> três fases distintas e <strong>de</strong><br />
fácil i<strong>de</strong>ntificação por parte dos respon<strong>de</strong>ntes da pesquisa.<br />
FIGURA 2 - ETAPAS DO PROCESSO DE INFORMATIZAÇÃO<br />
MANUAL<br />
(racionalização/<br />
estruturação)<br />
AUTOMAÇÃO<br />
FONTE: Meirelles (1994, p. 407).<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.<br />
INTEGRAÇÃO<br />
(banco <strong>de</strong> dados)
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
Meirelles (1994) explica que as organizações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> passar por<br />
uma série <strong>de</strong> fases ou etapas <strong>de</strong> informatização e apresenta aquelas que<br />
consi<strong>de</strong>ra mais importantes. A primeira etapa é racionalização e<br />
estruturação da ativida<strong>de</strong> manual. Deve-se ter <strong>em</strong> mente que s<strong>em</strong> vencer<br />
essa fase torna-se muito difícil atingir a fase seguinte, que consiste na<br />
automação. Nesta etapa, as ativida<strong>de</strong>s costumam ser colocadas <strong>de</strong> início<br />
<strong>em</strong> sist<strong>em</strong>as isolados. A terceira fase consiste na integração, <strong>em</strong> que as<br />
ativida<strong>de</strong>s e os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> cada setor da organização estão integrados,<br />
possibilitando eliminar várias tarefas que eram realizadas <strong>de</strong> maneira<br />
duplicada por diferentes <strong>de</strong>partamentos. A evolução ou a estruturação<br />
<strong>de</strong>ssas etapas causa mudanças organizacionais e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
sist<strong>em</strong>as e pessoas para operacionalizá-las. A pressão rumo à integração<br />
organizacional surgiu no final dos anos 70 e continua até a atualida<strong>de</strong><br />
(McNURLIN; SPRAGUE, 1998). A partir do aumento do valor da informação,<br />
ou seja, quando passa a constituir um ativo valioso para a <strong>em</strong>presa<br />
(MCGEE; PRUSAK, 1994; STAIR; REYNOLDS, 2002; AUSTER; CHOO,<br />
1996) esse processo <strong>de</strong> integração é acelerado. Além do incentivo à<br />
integração, outros fatores que permitiram tal movimento foram as constantes<br />
e gran<strong>de</strong>s evoluções na tecnologia, nas comunicações e nos<br />
softwares. Os mecanismos <strong>de</strong> comunicações (inclui-se aqui a telecomunicação,<br />
entre outras formas) permitiram que os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação<br />
superass<strong>em</strong> barreiras geográficas, físicas, <strong>de</strong> custo e <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po rumo à<br />
integração (O´BRIEN, 2002). Com essas barreiras superadas, os sist<strong>em</strong>as<br />
<strong>de</strong> informação solidificaram seu papel nas organizações, com o objetivo<br />
<strong>de</strong> fornecer informações atualizadas e <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real para suporte<br />
às transações diárias e também para suporte a <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> seus gestores.<br />
De acordo com o referencial teórico anterior, foram propostas cinco<br />
hipóteses principais, sendo que as três primeiras foram subdivididas<br />
<strong>em</strong> duas correlatas. As hipóteses são apresentadas a seguir.<br />
H1a: maior o nível <strong>de</strong> informatização, menor o uso <strong>de</strong> informações<br />
advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e <strong>de</strong> outras fontes, nas <strong>de</strong>cisões<br />
tomadas na área funcional do <strong>de</strong>cisor.<br />
H1b: quanto maior o nível <strong>de</strong> informatização menor o uso <strong>de</strong><br />
informações advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e <strong>de</strong> outras fontes, no fornecimento<br />
<strong>de</strong> informações para <strong>de</strong>cisores <strong>de</strong> outras áreas.<br />
H2a: quanto maior o nível hierárquico menor o uso <strong>de</strong> informações<br />
advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e <strong>de</strong> outras fontes, nas <strong>de</strong>cisões<br />
tomadas na área funcional do <strong>de</strong>cisor.<br />
115<br />
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116<br />
Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />
H2b: quanto maior o nível hierárquico menor o uso <strong>de</strong> informações<br />
advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e <strong>de</strong> outras fontes, no fornecimento<br />
<strong>de</strong> informações para <strong>de</strong>cisores <strong>de</strong> outras áreas.<br />
H3a: quanto maior o tamanho da organização menor o uso <strong>de</strong><br />
informações advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e <strong>de</strong> outras fontes, nas<br />
<strong>de</strong>cisões tomadas na área funcional do <strong>de</strong>cisor.<br />
H3b: quanto maior o tamanho da organização menor o uso <strong>de</strong><br />
informações advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e outras fontes, no fornecimento<br />
<strong>de</strong> informações para <strong>de</strong>cisores <strong>de</strong> outras áreas.<br />
H4: quanto maior o nível <strong>de</strong> informatização menor o impacto<br />
dos fatores que dificultam a adoção dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação.<br />
H5: quanto maior o nível hierárquico menor o impacto dos<br />
fatores que dificultam a adoção dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação.<br />
5 METODOLOGIA<br />
Com base no referencial teórico adotado, a pesquisa <strong>em</strong>pírica se<br />
propõe a i<strong>de</strong>ntificar como as <strong>em</strong>presas do setor metal-mecânico estão<br />
fazendo uso dos sist<strong>em</strong>as internos <strong>de</strong> gestão da informação às organizações,<br />
<strong>de</strong> acordo com o seu perfil específico, formado pelo porte e segmento<br />
<strong>de</strong> mercado <strong>em</strong> que atuam. O método <strong>de</strong> pesquisa adotado é reconhecido<br />
na literatura como levantamento <strong>de</strong> campo ou survey, o qual se<br />
caracteriza pela <strong>de</strong>scrição quantitativa <strong>de</strong> uma população (SELLTIZ;<br />
WRIGHTSMAN; COOK, 2001). Em relação à <strong>de</strong>finição t<strong>em</strong>poral, a pesquisa<br />
possui o corte transversal (cross-sectional), <strong>em</strong> que a coleta dos<br />
dados ocorreu <strong>em</strong> um só período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po (primeiro trimestre <strong>de</strong> 2005)<br />
visando <strong>de</strong>screver uma população nesse <strong>de</strong>terminado momento<br />
(RICHARDSON, 1999). A seleção da amostra <strong>de</strong> <strong>em</strong>presa partiu <strong>de</strong> um<br />
banco <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1.700 <strong>em</strong>presas nacionais do setor metalmecânico.<br />
Esse banco <strong>de</strong> dados integra uma relação <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reços<br />
atualizados periodicamente pelo laboratório responsável pelo projeto:<br />
Centro <strong>de</strong> Informações Metal-Mecânicas (CIMM), do Departamento <strong>de</strong><br />
Engenharia Mecânica da UFSC. O banco <strong>de</strong> dados compreen<strong>de</strong> en<strong>de</strong>reços<br />
eletrônicos dos mais diversos profissionais e interessados do setor<br />
metal-mecânico. Foram, portanto, consi<strong>de</strong>rados apenas os<br />
respon<strong>de</strong>ntes que constituíss<strong>em</strong> representantes <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas brasileiras<br />
inseridas no setor metal-mecânico – filtro realizado nas respostas recebidas.<br />
De acordo com Richardson (1999), pela composição da amostra ter<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
sido escolhida por <strong>de</strong>terminados critérios intencionais ou <strong>de</strong> seleção racional,<br />
é consi<strong>de</strong>rada não probabilística, uma vez que o critério adotado foi a<br />
seleção <strong>de</strong> sujeitos que estivess<strong>em</strong> incluídos no banco <strong>de</strong> dados, por seu<br />
en<strong>de</strong>reço eletrônico, e representass<strong>em</strong> qualquer <strong>em</strong>presa brasileira<br />
do setor metal-mecânico. Como a extensão dos resultados da pesquisa<br />
ao universo das <strong>em</strong>presas exige que se trabalhe com amostras<br />
probabilísticas, as análises e os resultados <strong>de</strong>ssa pesquisa po<strong>de</strong>m ser<br />
generalizados apenas para as <strong>em</strong>presas pesquisadas.<br />
O questionário eletrônico da pesquisa ficou disponível na internet,<br />
e o convite para participação foi enviado à população inicial <strong>de</strong> 1.700<br />
<strong>em</strong>presas que faz<strong>em</strong> parte do CIMM, por meio <strong>de</strong> um boletim s<strong>em</strong>anal<br />
enviado aos respectivos <strong>de</strong>stinatários, durante dois meses. Desse total,<br />
206 respostas retornaram e, após o tratamento, eliminando-se as<br />
duplicida<strong>de</strong>s e questionários parcialmente preenchidos, restaram 174<br />
respostas válidas, o que perfaz 10,23% da população. Todas as respostas<br />
foram obtidas por questionário eletrônico disponível no próprio portal<br />
do CIMM.<br />
6 AMBIENTE DE ESTUDO: SETOR METAL-MECÂNICO BRASILEIRO<br />
O setor metal-mecânico compreen<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s industriais<br />
que, <strong>em</strong> seu conjunto, constitu<strong>em</strong> parte representativa da produção<br />
industrial brasileira, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento,<br />
Indústria e Comércio Exterior (2005). Entre as ativida<strong>de</strong>s industriais<br />
que caracterizam o setor metal-mecânico, <strong>de</strong> acordo com dados do CIMM<br />
(2005), po<strong>de</strong>m ser mencionadas as da área <strong>de</strong> metalurgia, produção <strong>de</strong><br />
máquinas e equipamentos, produção <strong>de</strong> peças e ferramentaria, área <strong>de</strong><br />
componentes e lubrificantes.<br />
Consi<strong>de</strong>rando o estado do setor no contexto econômico brasileiro<br />
na atualida<strong>de</strong>, faz-se relevante o levantamento <strong>de</strong> algumas informações<br />
que caracteriz<strong>em</strong> a situação da produção industrial referente a algumas<br />
das ativida<strong>de</strong>s do setor metal-mecânico. De acordo com a publicação<br />
Usinag<strong>em</strong> Brasil, <strong>de</strong> 12/2/2005, a indústria <strong>de</strong> máquinas e equipamentos<br />
atingiu <strong>em</strong> 2004 seu melhor resultado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1995, quando da introdução<br />
do Plano Real, com faturamento <strong>de</strong> R$ 45,613 bilhões, <strong>em</strong> 2004, o que<br />
representa um crescimento <strong>de</strong> 30% <strong>em</strong> relação a 2003. Indicadores econômicos<br />
(2005) fornecidos pela Associação Brasileira <strong>de</strong> Máquinas e Equipamentos<br />
(Abimaq), do total do faturamento do setor, 56,2% correspon<strong>de</strong>m<br />
117<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
118<br />
Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />
ao mercado interno e 43,8% ao mercado externo. Conforme a Usinag<strong>em</strong><br />
Brasil (12/2/2005), o potencial <strong>de</strong> crescimento é visível, já que o nível <strong>de</strong><br />
utilização da capacida<strong>de</strong> instalada teve um aumento que passou <strong>de</strong><br />
77,15%, <strong>em</strong> 2003, para 81,88%, <strong>em</strong> 2004. Por outro lado, dados (2005)<br />
do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a<br />
produção <strong>de</strong> bens não seriados <strong>de</strong> capital (sob encomenda) cresceu 10,6%<br />
<strong>em</strong> janeiro <strong>em</strong> relação a janeiro <strong>de</strong> 2004, o que previu para o início <strong>de</strong><br />
2005 uma importante tendência para o crescimento sustentado da economia<br />
brasileira. Fabricantes <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> capital sob encomenda estão com<br />
a produção aquecida, operando com maior utilização <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> e<br />
registram aumento nas carteiras <strong>de</strong> pedidos, pelos dados do IBGE. Informações<br />
veiculadas (2005) pela Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do Estado <strong>de</strong><br />
São Paulo (Fiesp) esclarec<strong>em</strong> que os fabricantes <strong>de</strong> autopeças <strong>em</strong>pregam<br />
189,6 mil trabalhadores. A projeção das montadoras, principais clientes<br />
do setor, revelou uma produção <strong>de</strong> 100 mil veículos a mais que <strong>em</strong><br />
2004 (2,1 milhões <strong>de</strong> automóveis). Em janeiro <strong>de</strong> 2005, a indústria <strong>de</strong><br />
autopeças teve faturamento 7,6% superior ao <strong>de</strong> igual mês <strong>de</strong> 2004.<br />
7 RESULTADOS<br />
Para o perfil da amostra <strong>em</strong> relação ao número <strong>de</strong> funcionários, as<br />
<strong>em</strong>presas estão distribuídas <strong>de</strong> acordo com a tabela 1 e a distribuição <strong>de</strong><br />
cargos dos respon<strong>de</strong>ntes na tabela 2.<br />
TABELA 1 - NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS<br />
FONTE: dados da pesquisa.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
TABELA 2 - DISTRIBUIÇÃO DOS CARGOS<br />
CARGO FREQÜÊNCIA PORCENTAGEM CUMULATIVO<br />
operacional<br />
tático<br />
estratégico<br />
72<br />
61<br />
41<br />
FONTE: dados da pesquisa.<br />
Entre as <strong>em</strong>presas pesquisadas, constatou-se que existiam casos<br />
nas três etapas <strong>de</strong> informatização, e a amostra ficou distribuída <strong>de</strong> acordo<br />
com a tabela 3 a seguir.<br />
TABELA 3 - ETAPAS DE INFORMATIZAÇÃO<br />
FONTE: dados da pesquisa.<br />
41,38%<br />
35,06%<br />
23,56%<br />
41,38%<br />
76,44%<br />
100,00%<br />
ETAPA FREQÜÊNCIA PORCENTAGEM CUMULATIVO<br />
manual<br />
41<br />
23,56%<br />
23,56%<br />
automatizada<br />
76<br />
43,68%<br />
67,24%<br />
integrada<br />
57<br />
32,76%<br />
100,00%<br />
Com relação à amostra, é interessante constar que das 174 <strong>em</strong>presas<br />
respon<strong>de</strong>ntes, 132 (aproximadamente 86%) pertenc<strong>em</strong> ao ramo<br />
industrial e o restante 42 (aproximadamente 24%), ao ramo <strong>de</strong> serviços<br />
<strong>de</strong>ntro do setor metal-mecânico. Todas as cinco regiões do Brasil apresentaram<br />
<strong>em</strong>presas respon<strong>de</strong>ntes, com a maior concentração na Região<br />
Su<strong>de</strong>ste (54,6%), seguida pela Região Sul com 29,31%.<br />
119<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
120<br />
Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />
8 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />
Os principais resultados da pesquisa se refer<strong>em</strong> ao uso das informações<br />
“informais”, ou seja, aquelas obtidas <strong>em</strong> fonte alternativa ao sist<strong>em</strong>a<br />
formal adotado, como planilhas eletrônicas <strong>em</strong> organizações do setor<br />
metal-mecânico.<br />
O estudo <strong>de</strong> levantamento compreen<strong>de</strong>u a análise <strong>de</strong> resultados<br />
por meio do uso <strong>de</strong> análises paramétricas e não paramétricas. Foram<br />
testadas e analisadas seis variáveis para comprovação ou rejeição das<br />
hipóteses, i<strong>de</strong>ntificadas no quadro 1:<br />
a) tamanho da <strong>em</strong>presa, com base no número <strong>de</strong> funcionários <strong>de</strong><br />
acordo com a classificação do Sebrae (2004);<br />
b) nível hierárquico compreen<strong>de</strong>ndo os níveis operacional, tático e<br />
estratégico;<br />
c) etapas <strong>de</strong> informatização abrangendo os níveis manual,<br />
automatizado e integrado;<br />
d) fonte <strong>de</strong> informação utilizada pelo <strong>de</strong>cisor <strong>em</strong> sua área;<br />
e) fonte <strong>de</strong> informação <strong>em</strong>pregada para prover <strong>de</strong>cisores <strong>de</strong> outras<br />
áreas;<br />
f) nível <strong>de</strong> impacto, com base <strong>em</strong> fatores dificultadores <strong>de</strong> uso,<br />
que levam à adoção <strong>de</strong> informações não provenientes <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />
formais <strong>de</strong> informação.<br />
A respeito da última variável, faz-se importante salientar os seguintes<br />
aspectos: os respon<strong>de</strong>ntes i<strong>de</strong>ntificaram, por uma escala <strong>de</strong> Likert<br />
<strong>de</strong> cinco pontos, partindo <strong>de</strong> menor para maior intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> influência,<br />
um conjunto <strong>de</strong> fatores relacionados com adoção <strong>de</strong> informações provenientes<br />
<strong>de</strong> fonte alternativa. Os resultados conduziram à i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />
três padrões distintos <strong>de</strong> resposta, <strong>de</strong> acordo com a intensida<strong>de</strong> dos fatores<br />
i<strong>de</strong>ntificada pelos respon<strong>de</strong>ntes.<br />
Para o tratamento da variável “f”, foram realizados alguns procedimentos<br />
metodológicos. Inicialmente, os resultados associados a essa<br />
variável foram submetidos à análise <strong>de</strong> cluster, adotando-se o método<br />
Ward, pela medida <strong>de</strong> distância euclidiana ao quadrado. Esse processo<br />
conduziu à classificação dos resultados associados à variável “f” <strong>em</strong> três<br />
grupos, feita por escolha dos pesquisadores. Após esse processo, os resultados<br />
associados a tal variável sofreram uma análise discriminante.<br />
Como produto <strong>de</strong>sse procedimento, os resultados conduziram à caracte-<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
rização dos três grupos <strong>de</strong> respostas, <strong>de</strong> acordo com a intensida<strong>de</strong> selecionada,<br />
classificados <strong>em</strong>: grupo 1 – baixa dificulda<strong>de</strong> na adoção <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />
formais; grupo 2 – dificulda<strong>de</strong> do uso do sist<strong>em</strong>a formal, <strong>em</strong> função<br />
<strong>de</strong> fatores associados ao conhecimento do sist<strong>em</strong>a; grupo 3 – dificulda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> uso do sist<strong>em</strong>a formal, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> fatores associados ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho<br />
do sist<strong>em</strong>a.<br />
Posteriormente, para a análise <strong>de</strong> resultados, por meio da verificação<br />
das hipóteses H4 e H5, o estudo compreen<strong>de</strong>u o processo <strong>de</strong> análises<br />
cruzadas (crosstabs) e posterior verificação do comportamento da<br />
variável “f” com a aplicação do teste Qui-quadrado, <strong>de</strong> Pearson. Os resultados<br />
<strong>de</strong>sse teste, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> confiança a=0,05%, estão <strong>de</strong>monstrados<br />
na tabela 4.<br />
TABELA 4 - RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO<br />
HIPÓTESES QUI-QUADRADO<br />
H1a<br />
0,000<br />
H1b<br />
0,000<br />
H2a<br />
0,031<br />
H2b<br />
0,850<br />
H3a<br />
0,012<br />
H3b<br />
0,037<br />
H4<br />
0,000<br />
H5<br />
0,031<br />
FONTE: resultados da pesquisa.<br />
121<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
122<br />
Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />
QUADRO 1 - DISTRIBUIÇÃO PORCENTUAL DE<br />
CRUZAMENTOS DAS VARIÁVEIS<br />
H1a Manual Automat.<br />
Pred. Formal<br />
48,0%<br />
26,0%<br />
Pred. Planilhas<br />
9,1%<br />
77,3%<br />
Ambas<br />
2,7%<br />
52,0%<br />
H1b<br />
Pred. Formal<br />
Pred. Planilhas<br />
Ambas<br />
H2a<br />
Pred. Formal<br />
Pred. Planilhas<br />
Ambas<br />
H2b<br />
Pred. Formal<br />
Pred. Planilhas<br />
Ambas<br />
H3a<br />
Pred. Formal<br />
Pred. Planilhas<br />
Ambas<br />
H3b<br />
Pred. Formal<br />
Pred. Planilhas<br />
Ambas<br />
H4<br />
Manual<br />
Automático<br />
Integrado<br />
H5<br />
Op/Tático<br />
Estratégico<br />
Manual<br />
50,7%<br />
9,1%<br />
2,5%<br />
Operac.<br />
44,2%<br />
22,7%<br />
44,0%<br />
Operac.<br />
41,1%<br />
36,4%<br />
43,0%<br />
Micro<br />
29,9%<br />
36,4%<br />
20,0%<br />
Micro<br />
32,9%<br />
27,3%<br />
20,3%<br />
Grupo 1<br />
95,1%<br />
34,2%<br />
45,6%<br />
Grupo 1<br />
56,4%<br />
39,0%<br />
FONTE: dados da pesquisa.<br />
Pequena<br />
31,1%<br />
45,5%<br />
20,0%<br />
Pequena<br />
26,0%<br />
45,5%<br />
25,3%<br />
Automat.<br />
26,0%<br />
81,8%<br />
49,4%<br />
Tático<br />
33,7%<br />
27,3%<br />
38,7%<br />
Tático<br />
34,2%<br />
31,8%<br />
36,7%<br />
Grupo 2<br />
4,9%<br />
29,0%<br />
14,0%<br />
Grupo 2<br />
14,3%<br />
31,7%<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.<br />
Média<br />
23,4%<br />
13,6%<br />
28,0%<br />
Média<br />
26,0%<br />
22,7%<br />
22,8%<br />
Integrada<br />
26,0%<br />
13,6%<br />
45,3%<br />
Integrada<br />
23,3%<br />
9,1%<br />
48,1%<br />
Estratég.<br />
22,1%<br />
50,0%<br />
17,3%<br />
Estratég.<br />
24,7%<br />
31,8%<br />
20,3%<br />
Gran<strong>de</strong><br />
15,6%<br />
4,5%<br />
32,0%<br />
Gran<strong>de</strong><br />
15,1%<br />
4,5%<br />
31,6%<br />
Grupo 3<br />
0,0%<br />
36,8%<br />
40,4%<br />
Grupo 3<br />
29,3%<br />
29,3%
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
Dentre as oito hipóteses apresentadas, somente a H2b não apresenta<br />
diferenças <strong>de</strong> comportamento entre o nível hierárquico e as fontes<br />
<strong>de</strong> informações. Todas as outras apresentam comportamentos diferentes<br />
para situações diferentes, comprovando a influência <strong>de</strong> uma variável sobre<br />
a outra.<br />
Analisando a hipótese H1a, que propõe que quanto maior o nível<br />
<strong>de</strong> informatização menor o uso <strong>de</strong> informações advindas <strong>de</strong> planilhas nas<br />
<strong>de</strong>cisões tomadas na área funcional do <strong>de</strong>cisor, observa-se que há diferenças<br />
<strong>de</strong> uso <strong>de</strong> informações advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e outras<br />
fontes para os diferentes níveis <strong>de</strong> informatização. No entanto, essa diferença<br />
ocorre no sentido oposto ao especificado na hipótese. Pelos resultados,<br />
<strong>em</strong>presas <strong>em</strong> níveis mais avançados <strong>de</strong> informatização<br />
(automatizado e integrado) utilizam mais informações baseadas <strong>em</strong> fonte<br />
alternativa, como planilhas eletrônicas, do que as <strong>de</strong> nível menor <strong>de</strong><br />
informatização (manual).<br />
A hipótese H1b <strong>de</strong>ve ser rejeitada. Os resultados se apresentam<br />
<strong>de</strong> maneira idêntica aos da hipótese H1a, pois, para as situações envolvendo<br />
o fornecimento <strong>de</strong> informações para outras áreas, quanto maior o<br />
estágio <strong>de</strong> informatização maior o uso <strong>de</strong> informações provenientes <strong>de</strong><br />
planilhas eletrônicas e outras fontes.<br />
Esses resultados suger<strong>em</strong> que no estágio <strong>de</strong> informatização manual,<br />
as <strong>em</strong>presas obtêm informação predominant<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />
formais, que na verda<strong>de</strong> constitu<strong>em</strong> a única ou principal fonte <strong>de</strong> informação<br />
para gestão. Já nos casos <strong>em</strong> que o estágio <strong>de</strong> informatização foi<br />
i<strong>de</strong>ntificado como automatizado, a utilização <strong>de</strong> fonte alternativa, como<br />
planilhas eletrônicas, aumentou <strong>em</strong> relação à utilização <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />
informação formais da organização. Isso po<strong>de</strong>ria ser explicado pela falta<br />
<strong>de</strong> integração entre os diversos sist<strong>em</strong>as formais que estão presentes<br />
isoladamente nas áreas funcionais da organização. Para que a informação<br />
possa ser útil na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, os indivíduos recorr<strong>em</strong> ao uso<br />
<strong>de</strong> fontes paralelas <strong>de</strong> informação.<br />
Já nos casos <strong>em</strong> que as <strong>em</strong>presas se encontram no último estágio<br />
<strong>de</strong> informatização (integrado), o probl<strong>em</strong>a entre os sist<strong>em</strong>as está tecnicamente<br />
superado, porém, nesse nível, verificou-se ainda um alto índice<br />
<strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> planilhas e outras fontes paralelas <strong>de</strong> informação. A orig<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>ssa constatação po<strong>de</strong>ria estar atrelada ao <strong>de</strong>sconhecimento, por<br />
parte <strong>de</strong> seus usuários, da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong> informações<br />
pelos sist<strong>em</strong>as formais da <strong>em</strong>presa. Nessa condição, o aperfeiçoamento<br />
dos processos <strong>de</strong> treinamento para capacitação no uso dos sist<strong>em</strong>as<br />
123<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
124<br />
Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />
formais po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminante. Outras possíveis explicações para o uso<br />
<strong>de</strong> fonte alternativa <strong>de</strong> informação no nível integrado po<strong>de</strong>m ser levantadas.<br />
Uma <strong>de</strong>stas explicações compreen<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> uma customização<br />
completa do sist<strong>em</strong>a utilizada nas rotinas e nos procedimentos diários da<br />
<strong>em</strong>presa, ou seja, a estruturação do sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong> sua concepção po<strong>de</strong> ter<br />
<strong>de</strong>scon-si<strong>de</strong>rado aspectos relevantes <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong> informação que<br />
levam seus usuários a suprí-las por meio <strong>de</strong> fontes alternativas ao sist<strong>em</strong>a<br />
formal, como a adoção <strong>de</strong> planilhas eletrônicas. Do mesmo modo,<br />
exist<strong>em</strong> algumas informações que são mantidas e manipuladas com exclusivida<strong>de</strong><br />
pelos <strong>de</strong>cisores <strong>em</strong> suas planilhas eletrônicas pessoais, o<br />
que reflete aspectos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na organização, quanto ao uso da informação.<br />
A hipótese H2a sugere que existe diferença no uso <strong>de</strong> informações<br />
advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas nas <strong>de</strong>cisões tomadas na área<br />
funcional do <strong>de</strong>cisor, <strong>de</strong> acordo com o nível hierárquico. No entanto, quanto<br />
maior o nível hierárquico maior o uso <strong>de</strong> informações oriundas <strong>de</strong> fontes<br />
informais e planilhas eletrônicas, <strong>de</strong>monstrando comportamento oposto<br />
ao proposto pela respectiva hipótese. A comprovação <strong>de</strong>sse resultado<br />
corrobora as afirmações <strong>de</strong> O´Brien (2002), que consi<strong>de</strong>ra que gestores<br />
<strong>de</strong> níveis mais estratégicos obtêm informações para sua tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />
das mais variadas fontes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> planilhas e relatórios avulsos e até<br />
mesmo com orig<strong>em</strong> nas relações sociais. Outra possível explicação para<br />
esse fato é a preocupação do usuário com o sigilo e segurança das informações.<br />
O uso <strong>de</strong> fonte alternativa, como planilhas eletrônicas, pelos níveis<br />
hierárquicos mais altos po<strong>de</strong> ocorrer para evitar que informações<br />
consi<strong>de</strong>radas estratégicas pelos gestores sejam compartilhadas com outros<br />
indivíduos da organização, ameaçando assim interesses próprios dos<br />
usuários <strong>de</strong> informação dos níveis hierárquicos mais altos.<br />
A hipótese H2b passa a ser rejeitada, por não ter sido i<strong>de</strong>ntificada<br />
diferença entre o nível hierárquico e a utilização <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> fontes<br />
diversas nas <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> outros setores.<br />
Na hipóteses H3a e H3b, a proposta é a <strong>de</strong> que quanto maior o<br />
tamanho da organização (pelo critério número <strong>de</strong> funcionários – classificação<br />
do Sebrae, 2004) menor a predominância do uso <strong>de</strong> informações<br />
advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e outras fontes, tanto nas <strong>de</strong>cisões tomadas<br />
na área funcional do <strong>de</strong>cisor (H3a) como no fornecimento <strong>de</strong> informações<br />
para outros ou como m<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> um comitê (H3b). Os resultados<br />
analisados apresentam comportamento oposto às afirmações propostas<br />
por essas hipóteses. Nas micro<strong>em</strong>presas, a fonte predominante das in-<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
formações é formal. Nas pequenas <strong>em</strong>presas, há a predominância <strong>de</strong><br />
uso da fonte formal, apesar <strong>de</strong> ser <strong>em</strong> grau proporcionalmente menor ao<br />
uso nas micro<strong>em</strong>presas. À medida que as organizações vão crescendo,<br />
o sist<strong>em</strong>a formal vai ce<strong>de</strong>ndo espaço para fonte alternativa, utilizada com<br />
o sist<strong>em</strong>a formal, consolidando-se por planilhas eletrônicas e outras fontes.<br />
As micro<strong>em</strong>presas geralmente se encontram no nível manual <strong>de</strong><br />
informatização, enquanto as pequenas e algumas médias, no nível <strong>de</strong><br />
automação, e as médias restantes e gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas no nível <strong>de</strong><br />
integração. Essas duas últimas observações corroboram as duas primeiras<br />
hipóteses (H1a e H1b). Na maioria das vezes, os sist<strong>em</strong>as integrados<br />
são adquiridos por meio <strong>de</strong> pacotes <strong>em</strong> que po<strong>de</strong>m ser parcialmente<br />
parametrizados e customizados.<br />
Algumas <strong>em</strong>presas adotam sist<strong>em</strong>as que não estão totalmente<br />
adaptados às suas realida<strong>de</strong>s, forçando seus usuários a buscar<strong>em</strong> uma<br />
compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> nas manipulações realizadas nas planilhas eletrônicas.<br />
Outras causas po<strong>de</strong>m estar associadas a questões relativas ao <strong>de</strong>sconhecimento<br />
das capacida<strong>de</strong>s do sist<strong>em</strong>a por seus usuários e também<br />
à resistência dos usuários <strong>em</strong> inserir no sist<strong>em</strong>a informações relevantes,<br />
as quais permanec<strong>em</strong> isoladas <strong>em</strong> planilhas e relatórios <strong>de</strong> uso exclusivo<br />
dos <strong>de</strong>cisores.<br />
A hipótese H4, segundo os dados analisados, sugere que existe<br />
diferença entre o nível <strong>de</strong> informatização da <strong>em</strong>presa e os três padrões<br />
<strong>de</strong> respostas associados à variável “f” (baseada nos fatores que influenciam<br />
a adoção <strong>de</strong> informações não provenientes <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as formais). De<br />
acordo com a hipótese H4, quanto maior o nível <strong>de</strong> informatização menor<br />
o impacto dos fatores que dificultam a adoção dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong><br />
informação. O que se verificou foi que, nos níveis mais altos <strong>de</strong><br />
informatização, <strong>em</strong> que a <strong>em</strong>presa se encontra no estágio integrado <strong>de</strong><br />
informatização, o padrão <strong>de</strong> respostas revela maior intensida<strong>de</strong> sobre os<br />
fatores que dificultam a adoção dos sist<strong>em</strong>as formais.<br />
No grupo <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> que o estágio <strong>de</strong> informatização foi<br />
caracterizado pelo nível automatizado, o grupo <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>ntes compreen<strong>de</strong>u<br />
que existe alto impacto dos fatores que dificultam a adoção dos<br />
sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação, com maior intensida<strong>de</strong> sobre fatores<br />
associados ao conhecimento acerca da utilização do sist<strong>em</strong>a: informações<br />
incorretas, relatórios confusos e treinamento insuficiente. Entre os<br />
respon<strong>de</strong>ntes do grupo associado às <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> informatização<br />
integrada, os fatores <strong>de</strong> maior impacto associados à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> adoção<br />
dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação compreen<strong>de</strong>ram aqueles asso-<br />
125<br />
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126<br />
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ciados ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos sist<strong>em</strong>as formais: dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> obtenção,<br />
<strong>de</strong>mora na obtenção e atualização das informações e o não-atendimento<br />
das expectativas pelo sist<strong>em</strong>a. Esses resultados levam a uma possível<br />
conclusão a respeito dos usuários <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as formais.<br />
No contexto <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> estágio <strong>de</strong> informatização integrado,<br />
seus usuários po<strong>de</strong>m apresentar um conhecimento maior sobre os sist<strong>em</strong>as<br />
utilizados do que os usuários <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> estágio <strong>de</strong><br />
informatização automatizado. Isso po<strong>de</strong> ocorrer <strong>em</strong> função <strong>de</strong> que os fatores<br />
<strong>de</strong> maior impacto para as <strong>em</strong>presas do estágio integrado <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />
mais do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos sist<strong>em</strong>as formais do que <strong>de</strong> fatores relativos ao<br />
<strong>de</strong>sconhecimento da utilização <strong>de</strong>sses sist<strong>em</strong>as.<br />
Finalmente, os dados analisados <strong>em</strong> H5 mostram comportamento<br />
contrário à afirmação da hipótese. Entre os três níveis hierárquicos i<strong>de</strong>ntificados,<br />
verificou-se a existência do impacto dos fatores que dificultam a<br />
adoção dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação. No entanto, quanto maior o<br />
nível hierárquico do respon<strong>de</strong>nte maior o impacto <strong>de</strong> fatores: informações<br />
incompletas, informações incorretas e treinamento insuficiente. Os fatores<br />
<strong>de</strong> maior impacto revelados e associados ao nível hierárquico estratégico<br />
po<strong>de</strong>m projetar a falta <strong>de</strong> domínio, por parte dos executivos, do uso<br />
dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação.<br />
Consi<strong>de</strong>rando a falta <strong>de</strong> treinamento como uma das possíveis causas<br />
da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> adoção dos sist<strong>em</strong>as formais, isso po<strong>de</strong> significar,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, uma falta <strong>de</strong> planejamento nos processos <strong>de</strong> treinamento e<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tais ferramentas junto ao corpo <strong>de</strong> executivos das<br />
<strong>em</strong>presas. Outros indícios po<strong>de</strong>m ser levantados e associados aos fatores,<br />
como dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter informações corretas, aten<strong>de</strong>ndo totalmente<br />
às suas necessida<strong>de</strong>s. Tais fatores po<strong>de</strong>m estar relacionados com a falta<br />
<strong>de</strong> um planejamento dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada à necessida<strong>de</strong><br />
real <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> seus usuários <strong>em</strong> nível estratégico.<br />
9 CONCLUSÃO<br />
No contexto do setor metal-mecânico brasileiro, este artigo apresentou<br />
uma pesquisa <strong>de</strong> levantamento, buscando i<strong>de</strong>ntificar a relação<br />
das informações formais e informais no processo <strong>de</strong>cisório por parte dos<br />
indivíduos que atuam nessas <strong>em</strong>presas. A pesquisa teve como principal<br />
motivação a carência <strong>de</strong> estudos sob esse enfoque no referido setor, apesar<br />
da crescente valorização da informação pelas organizações.<br />
Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.
Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />
Pedro José Steiner Neto<br />
O estudo apresentou uma série <strong>de</strong> resultados que conduz<strong>em</strong> à<br />
revisão <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> preconceitos que po<strong>de</strong>m estar permeando as<br />
opiniões dos gestores brasileiros quanto à utilização <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />
computacionais <strong>de</strong> gestão da informação e apoio à <strong>de</strong>cisão. Tamanho<br />
das <strong>em</strong>presas, nível hierárquico e nível <strong>de</strong> informatização constitu<strong>em</strong><br />
alguns dos fatores associados à caracterização do uso <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />
computacionais <strong>de</strong> gestão da informação nas <strong>em</strong>presas, os quais, não<br />
necessariamente, apresentam uma relação diretamente proporcional <strong>em</strong><br />
termos <strong>de</strong> adoção e eficiência. Como ex<strong>em</strong>plo, apesar do movimento<br />
<strong>em</strong> direção à total integração nas <strong>em</strong>presas, tanto <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>partamentos<br />
internos como <strong>de</strong> seus parceiros externos, verificou-se que as informações<br />
utilizadas para tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão na <strong>em</strong>presa são provenientes<br />
tanto <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as formais como <strong>de</strong> fontes alternativas. Constatou-se<br />
também que somente o uso <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as formais não aten<strong>de</strong> totalmente<br />
à necessida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>cisores no que se refere ao fornecimento<br />
<strong>de</strong> informações.<br />
A pesquisa <strong>de</strong>monstrou ainda que, com o aumento do nível hierárquico<br />
ou mesmo o tamanho da <strong>em</strong>presa, alguns resultados se tornam<br />
mais evi<strong>de</strong>nte. Os dados permit<strong>em</strong> verificar que os processos <strong>de</strong><br />
estruturação da informação nas <strong>em</strong>presas, cuja priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria incluir<br />
a substituição total <strong>de</strong> controles paralelos e pessoais, não têm sido eficazes,<br />
recomendando-se a busca <strong>de</strong> razões para essa situação.<br />
Quanto aos fatores consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>terminantes como dificultadores<br />
na adoção <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as formais, os resultados da pesquisa <strong>de</strong>monstram<br />
ainda que po<strong>de</strong>m ocorrer variações nos motivos que conduz<strong>em</strong> à adoção<br />
<strong>de</strong> fonte alternativa <strong>de</strong> informação, sejam esses fatores associados ao<br />
<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho como à falta <strong>de</strong> treinamento e planejamento a<strong>de</strong>quado no<br />
manuseio dos sist<strong>em</strong>as formais.<br />
É imprescindível que as organizações gerenci<strong>em</strong> a informação,<br />
pois ela constitui um recurso importante como vários outros existentes na<br />
<strong>em</strong>presa. A informação auxilia, esclarece, facilita a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e,<br />
se <strong>de</strong>senvolvida <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada, po<strong>de</strong> tornar-se uma vantag<strong>em</strong> competitiva<br />
para a organização.<br />
Enfim, a pesquisa permite a constatação <strong>de</strong> que a gestão da informação<br />
não se satisfaz apenas com a aquisição <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as integrados,<br />
já que se exige a compreensão dos diferentes processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão relacionados<br />
com o sist<strong>em</strong>a adotado e das informações utilizadas.<br />
Para que se possa ampliar esse campo, novas pesquisas que trat<strong>em</strong><br />
especificamente do relacionamento entre os tipos <strong>de</strong> informação com a<br />
127<br />
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tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e seu impacto na organização po<strong>de</strong>riam vir a enriquecer<br />
tal área, contribuindo para que a informação possa ser vista com maior<br />
importância <strong>de</strong>ntro do sist<strong>em</strong>a.<br />
Novos estudos <strong>em</strong> outros setores, além do setor metal-mecânico,<br />
<strong>de</strong>verão compl<strong>em</strong>entar este estudo. Uma agenda <strong>de</strong> pesquisa futura po<strong>de</strong><br />
estar relacionada com a análise da eficiência dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação<br />
formais das organizações.<br />
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1 <strong>Administração</strong> <strong>de</strong> <strong>Empresas</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong> só veicula artigos inéditos,<br />
os quais <strong>de</strong>verão estar <strong>de</strong> acordo com a t<strong>em</strong>ática anunciada para<br />
cada número <strong>em</strong> edital próprio e ser enviados à Editoria da <strong>Revista</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Administração</strong>, <strong>em</strong> meio eletrônico (arquivos para os seguintes en<strong>de</strong>reços:<br />
marlus.forigo@aena.br; npesquisa.fic@aena.br), conforme datas a<br />
ser<strong>em</strong> estipuladas anualmente nas chamadas <strong>de</strong> artigos para a <strong>Revista</strong>.<br />
2 Todos os artigos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> apresentar a seguinte estrutura:<br />
a) como el<strong>em</strong>entos pré-textuais – título (<strong>em</strong> fonte tamanho 14, <strong>em</strong><br />
negrito e centralizado, com versões <strong>em</strong> inglês e <strong>em</strong> algum outro<br />
idioma <strong>de</strong> caráter internacional) seguido, à direita, da i<strong>de</strong>ntificação<br />
da autoria e das cre<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong>sta (nomes completos <strong>de</strong> autores<br />
e co-autores, titulações, vínculos institucionais e ativida<strong>de</strong>s<br />
profissionais atuais), menção às subvenções recebidas, apoios e<br />
financiamentos, sumário (contendo os tópicos <strong>em</strong> que se divi<strong>de</strong> o<br />
artigo, logo abaixo do título e dos nomes dos articulistas), resumo<br />
e palavras-chave <strong>em</strong> língua vernácula, resumo e palavras-chave<br />
<strong>em</strong> inglês;<br />
b) como el<strong>em</strong>entos textuais – introdução, <strong>de</strong>senvolvimento e conclusão;<br />
c) como el<strong>em</strong>entos pós-textuais – lista <strong>de</strong> referências (somente as obras<br />
efetivamente citadas no texto <strong>de</strong>verão constar nas referências).<br />
3 Os trabalhos para a seção “Artigos Científicos” <strong>de</strong>verão ter entre<br />
10 e 25 páginas e ser digitados <strong>em</strong> Word 7.0 ou versão mais atualizada,<br />
formato do papel A4, fonte arial tamanho 12 e com espacejamento 1,5<br />
entre as linhas, para o texto normal, e, para as citações diretas <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />
três linhas, notas <strong>de</strong> rodapé, paginação e legendas <strong>de</strong> ilustrações e tabelas,<br />
o tamanho da fonte passa a ser o 10, e o espacejamento, simples.<br />
4 As páginas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> apresentar marg<strong>em</strong> esquerda e superior <strong>de</strong><br />
3 cm, direita e inferior <strong>de</strong> 2 cm, e as citações diretas <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> três<br />
linhas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>stacadas <strong>em</strong> parágrafo próprio com recuo <strong>de</strong> 4 cm da<br />
marg<strong>em</strong> esquerda e s<strong>em</strong> aspas.<br />
5 No texto, as citações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser indicadas pelo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> chamada<br />
autor-data (ex<strong>em</strong>plo: WARAT, 1985, p. 30), o qual admite somente notas<br />
<strong>de</strong> rodapé explicativas.<br />
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136<br />
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6 As referências bibliográficas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> vir <strong>em</strong> lista única ao final do<br />
trabalho, or<strong>de</strong>nadas pelo sist<strong>em</strong>a alfabético, digitadas <strong>em</strong> espaço simples,<br />
separadas entre si por espaço duplo.<br />
7 As locuções <strong>em</strong> língua estrangeira e os <strong>de</strong>staques <strong>de</strong>verão ser<br />
redigidos <strong>em</strong> itálico.<br />
8 Todos os textos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> seguir as <strong>de</strong>mais normas da Associação<br />
Brasileira <strong>de</strong> Normas Técnicas (ABNT) sobre citações e notas <strong>de</strong> rodapé,<br />
referências <strong>em</strong> documentos e outras especificida<strong>de</strong>s (ver, notadamente a<br />
NBR 14724, a NBR 10520 e a NBR 6023, <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2002).<br />
9 Os artigos <strong>de</strong> ambas as seções <strong>de</strong>verão ter suas introduções antecedidas<br />
por resumos <strong>em</strong> português e correspon<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> inglês<br />
(abstract) <strong>de</strong> até 10 linhas, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> 3 a 6 palavras-chave também<br />
com as correspon<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> inglês (keywords), para fins <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada<br />
in<strong>de</strong>xação.<br />
10 As colaborações para a seção “Resenha” <strong>de</strong>verão conter <strong>de</strong> 2 a<br />
5 páginas, enquadrar-se na t<strong>em</strong>ática da <strong>Revista</strong> e versar sobre obra clássica,<br />
ainda não publicada no Brasil ou muito recente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tenha<br />
impacto na respectiva t<strong>em</strong>ática, nada obstando que a obra reúna mais <strong>de</strong><br />
uma <strong>de</strong>ssas características.<br />
11 Artigos científicos e resenhas não po<strong>de</strong>rão ser assinados por meio<br />
<strong>de</strong> pseudônimos. A i<strong>de</strong>ntificação da autoria das resenhas segue os mesmos<br />
requisitos da dos artigos.<br />
12 Os artigos assinados serão <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> exclusiva <strong>de</strong> seus<br />
autores, não refletindo, necessariamente, a opinião das Faculda<strong>de</strong>s Integradas<br />
Curitiba (FIC).<br />
13 Tanto no caso <strong>de</strong> artigos quanto no <strong>de</strong> resenhas, os autores ou<br />
co-autores <strong>de</strong>verão encaminhar seus trabalhos com ofício datado, contendo<br />
a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> ineditismo do texto, além dos seguintes dados:<br />
título do trabalho, nomes completos, en<strong>de</strong>reços completos (inclusive os<br />
eletrônicos) e telefones. Deverão ainda veicular a autorização para a publicação<br />
e a cedência formal dos direitos <strong>de</strong> publicação, pelo preenchimento<br />
e anexação da Ficha <strong>de</strong> Autorização para Publicação <strong>de</strong> Obra Intelectual,<br />
disponível <strong>em</strong> www.faculda<strong>de</strong>scuritiba.br, link Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa > Publicações<br />
> <strong>Administração</strong> <strong>de</strong> <strong>Empresas</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>.
Conselho Editorial<br />
14 A permissão para o uso <strong>de</strong> ilustrações, imagens, tabelas etc.,<br />
extraídas <strong>de</strong> outras publicações, b<strong>em</strong> como quaisquer outras licenças ou<br />
aprovações perante entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> direitos autorais, é <strong>de</strong> plena<br />
responsabilida<strong>de</strong> dos autores dos artigos e das resenhas.<br />
15 Os artigos ou resenhas internacionais redigidos <strong>em</strong> espanhol<br />
<strong>de</strong>verão ser encaminhados e serão publicados <strong>em</strong> seu idioma original,<br />
caso <strong>em</strong> que, além dos resúmenes e palabras clave traduzidos <strong>em</strong> inglês,<br />
po<strong>de</strong>rão também ter esses correspon<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> língua portuguesa.<br />
15.1 Artigos ou resenhas internacionais redigidos <strong>em</strong> outros idiomas,<br />
que não o espanhol, <strong>de</strong>verão ser encaminhados nos idiomas originais<br />
e terão tradução para o vernáculo (publicação bilíngüe).<br />
16 Artigos ou resenhas escritos por acadêmicos somente serão recebidos<br />
para análise se apresentados <strong>em</strong> co-autoria com professores<br />
orientadores <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong> extensão, <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> conclusão<br />
<strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> graduação ou <strong>de</strong> pós-graduação (especializações,<br />
mestrados, doutorados e pós-doutorados).<br />
17 A publicação das colaborações recebidas estará condicionada à<br />
avaliação do Conselho Científico da <strong>Revista</strong> e <strong>de</strong> eventuais avaliadores<br />
ad hoc, que po<strong>de</strong>rão aprová-las na íntegra, sugerir alterações ou recusálas<br />
<strong>de</strong>finitivamente.<br />
18 A Editoria da <strong>Revista</strong> enviará correspondência eletrônica confirmando<br />
o recebimento dos trabalhos, b<strong>em</strong> como a lista daqueles que for<strong>em</strong><br />
selecionados para a respectiva publicação.<br />
19 A Editoria da <strong>Revista</strong> po<strong>de</strong>rá executar, com ou s<strong>em</strong> recomendação<br />
do Conselho Científico e dos avaliadores ad hoc, pequenas alterações<br />
<strong>de</strong> caráter meramente formal nos textos recebidos, <strong>de</strong> modo a a<strong>de</strong>quálos<br />
aos padrões da ABNT, não sendo admitidas modificações <strong>de</strong> estrutura,<br />
conteúdo ou estilo, s<strong>em</strong> o prévio consentimento dos autores.<br />
20 Os autores <strong>de</strong> artigos e resenhas aprovados para publicação<br />
com sugestões <strong>de</strong> alterações (correções <strong>de</strong> português, a<strong>de</strong>quações à ABNT<br />
etc.) por parte dos avaliadores ou da Editoria da <strong>Revista</strong> serão contatados<br />
pela Instituição para realizá-las e, a partir disso, <strong>em</strong>itir nova autorização<br />
<strong>de</strong> publicação. A Editoria po<strong>de</strong> recusar a publicação dos artigos ou das<br />
resenhas <strong>em</strong> relação aos quais foram feitas ressalvas pelos avaliadores,<br />
caso essas não tenham sido consi<strong>de</strong>radas pelos respectivos autores.<br />
137<br />
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138<br />
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21 O Conselho Editorial, integrado por m<strong>em</strong>bros dotados <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong><br />
científica e seniorida<strong>de</strong> <strong>em</strong> pesquisa, representantes <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um<br />
Estado da Fe<strong>de</strong>ração brasileira, e <strong>de</strong> alguns países – auxilia a Editoria na<br />
<strong>de</strong>finição do projeto editorial (t<strong>em</strong>ática) <strong>de</strong> cada número da <strong>Revista</strong> e na<br />
resolução <strong>de</strong> dúvidas a ele pertinentes.<br />
22 O Conselho Científico – composto <strong>de</strong> professores das FIC e <strong>de</strong><br />
alguns convidados externos – auxilia a Editoria da <strong>Revista</strong> na revisão dos<br />
artigos recebidos (a partir da Ficha <strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong> Artigos), na indicação<br />
<strong>de</strong> avaliadores ad hoc (internos ou externos à Instituição), quando necessário,<br />
e na captação <strong>de</strong> artigos conforme as t<strong>em</strong>áticas da <strong>Revista</strong>. Na<br />
avaliação dos artigos serão mantidas <strong>em</strong> sigilo suas autorias.<br />
23 A <strong>Revista</strong> adota uma política <strong>de</strong> combate à endogenia, seguindo<br />
as diretrizes da CAPES no sentido <strong>de</strong> que seja o menor possível o número<br />
<strong>de</strong> artigos publicados <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> professores da própria Instituição.<br />
24 A publicação não implica nenhuma espécie <strong>de</strong> r<strong>em</strong>uneração, somente<br />
cabendo aos autores <strong>de</strong> artigos e resenhas o encaminhamento,<br />
gratuito, <strong>de</strong> 3 (três) ex<strong>em</strong>plares do número da <strong>Revista</strong> <strong>em</strong> que tiver sido<br />
veiculada sua colaboração, havendo também o encaminhamento <strong>de</strong> 1 (um)<br />
ex<strong>em</strong>plar para cada m<strong>em</strong>bro dos conselhos e aos revisores ad hoc.