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Administração de Empresas em Revista - Unicuritiba

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Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni<br />

ADMINISTRAÇÃO DE<br />

EMPRESAS EM<br />

REVISTA<br />

FACULDADES INTEGRADAS CURITIBA<br />

FACULDADE DE CIÊNCIAS<br />

ADMINISTRATIVAS DE CURITIBA<br />

ISSN 1676-9457<br />

<strong>Administração</strong> <strong>de</strong> <strong>Empresas</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong> Curitiba a. 4<br />

n. 4 p. 1-138 2005<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

1


2<br />

EXPEDIENTE<br />

ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS EM REVISTA é uma publicação das Faculda<strong>de</strong>s<br />

Integradas Curitiba (FIC)<br />

Diretor Institucional<br />

Luís Cesar Esmanhotto<br />

Diretor-Geral<br />

Ubiratan <strong>de</strong> Mattos<br />

Diretor Acadêmico<br />

Rainer Czajkowski<br />

Comissão Editorial<br />

Cristina Luiza C. Surek, Carlos Luiz Strapazzon, Bortolo Vale, Gisela Maria Bester<br />

Benitez, Rosane Beyer, Fabiano C. Pucci do Nascimento, Marlus Vinicius Forigo,<br />

Mônica <strong>de</strong> Faria Mascarenhas e L<strong>em</strong>os<br />

Revisão: Antonio Carlos Amaral Lincoln<br />

Diagramação: Tatiane Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oliveira<br />

Impressão: Associação <strong>de</strong> Ensino Novo Ateneu (AENA)<br />

Tirag<strong>em</strong>: 200 ex<strong>em</strong>plares<br />

Data: nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2005<br />

En<strong>de</strong>reço: Rua Chile, 1.678 – CEP 80220-181 – Curitiba, PR – Brasil<br />

Telefone: (41) 3213-8700<br />

Site: www.faculda<strong>de</strong>scuritiba.br<br />

E-mail: npesquisa.fic@aena.br<br />

Dados Internacionais <strong>de</strong> Catalogação na Publicação (CIP)<br />

Biblioteca das Faculda<strong>de</strong>s Integradas Curitiba<br />

<strong>Administração</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> revista / Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Administrativas<br />

<strong>de</strong> Curitiba. – Ano 1, n. 1, 2002 - . – Curitiba : Faculda<strong>de</strong>s Integradas Curitiba,<br />

2002 - .<br />

v. ; 24 cm.<br />

Anual.<br />

A partir do ano 3, n. 3, 2004, a revista sofreu reformulações quanto à padronização.<br />

ISSN 1676-9457<br />

1. <strong>Administração</strong> – Periódicos. 2. <strong>Administração</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas – Periódicos.<br />

I. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Administrativas <strong>de</strong> Curitiba.<br />

CDD (21. ed.) – 658.05


CONSELHO CIENTÍFICO<br />

Adriana Machado Casali<br />

Fernando Kulaitis<br />

João Gustavo Ritter<br />

Jorge Luis Marcon<strong>de</strong>s<br />

Isaak Newton Soares<br />

Marcelo Fassina<br />

Marlus Vinicius Forigo<br />

Maurício Reinert do Nascimento<br />

Mônica <strong>de</strong> Faria Mascarenhas e L<strong>em</strong>os<br />

Sandro Aparecido Gonçalves<br />

CONSELHO EDITORIAL<br />

E<strong>de</strong>lvino Razzolini Filho (FCSA/UTP)<br />

Fernando António Gimenez (UNICEMP)<br />

José Augusto Guagliardi (FEA/USP)<br />

Paulo Muller Henrique Prado (UFPR)<br />

Pedro José Steiner Neto (UFPR)<br />

Renato Zancan Marchetti (PUCPR)<br />

EDITOR<br />

Olga Maria Coutinho Pepece<br />

COORDENADOR EDITORIAL<br />

Marlus Vinicius Forigo<br />

3


APRESENTAÇÃO<br />

É com gran<strong>de</strong> prazer que lançamos a quarta edição <strong>de</strong> <strong>Administração</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Empresas</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, das Faculda<strong>de</strong>s Curitiba.<br />

Seguindo a filosofia <strong>de</strong> Heráclito <strong>de</strong> que o Universo se encontra<br />

<strong>em</strong> constante mudança, nossa revista não po<strong>de</strong>ria ser diferente. Nesta<br />

publicação chamamos a atenção para a nova capa, resultado <strong>de</strong> quase<br />

dois anos <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> toda a equipe envolvida com as revistas das<br />

Faculda<strong>de</strong>s Curitiba. Como os leitores po<strong>de</strong>rão observar, a partir do presente<br />

ano, todas as revistas do Curso <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> passarão a ser<br />

ilustradas com pinturas que represent<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s administrativas.<br />

Essa mudança foi proposta no intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a revista com uma<br />

aparência mais mo<strong>de</strong>rna (o que a antiga capa já não oferecia mais) e <strong>de</strong><br />

criar uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> visual, permitindo que <strong>em</strong> qualquer acervo, nossa<br />

revista seja facilmente reconhecida por sua característica diferenciadora<br />

<strong>em</strong> relação às outras publicações da área. A antiga capa, toda azul (representando<br />

a cor do curso) e com o símbolo da <strong>Administração</strong> foi substituída<br />

por uma pintura <strong>de</strong> George Caleb Bingham, intitulada Negociantes<br />

<strong>de</strong> peles no Missouri, <strong>de</strong> 1845.<br />

Esta edição t<strong>em</strong> como primeiro artigo “Adoção do comércio eletrônico<br />

por pequenas <strong>em</strong>presas: implicações para o comércio exterior”, dos<br />

autores Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni. De t<strong>em</strong>a cont<strong>em</strong>porâneo e <strong>de</strong> relevância tanto para<br />

teóricos quanto para <strong>em</strong>presários <strong>de</strong> pequenas <strong>em</strong>presas, esse trabalho<br />

traz para os leitores uma realida<strong>de</strong> ainda pouco explorada teoricamente: a<br />

da inserção e utilização do comércio eletrônico por pequenas <strong>em</strong>presas.<br />

Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yára Lúcia Mazziotti Bulgacov,<br />

no segundo texto, buscam i<strong>de</strong>ntificar se os relacionamentos<br />

interorganizacionais constituídos por cinco <strong>em</strong>presas do Paraná são<br />

mantidos <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com seus respectivos centros <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> e<br />

quais as conseqüências das opções <strong>de</strong> relacionamentos interorganizacionais<br />

para a sustentabilida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

busca por aumento da produtivida<strong>de</strong> e formação <strong>de</strong> conhecimento.<br />

O terceiro artigo, <strong>de</strong> Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes,<br />

apresenta uma análise mercadológica dos bares e casas noturnas da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba, evi<strong>de</strong>nciando-os não apenas como estabelecimentos<br />

<strong>de</strong>stinados ao serviço <strong>de</strong> refeições, mas também como locais <strong>de</strong> lazer<br />

urbano, propícios para relacionamentos interpessoais e favoráveis para a<br />

vivência da sociabilida<strong>de</strong> nas mais diversas formas.<br />

5


6<br />

Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a influência que o ambiente externo<br />

exerce no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão estratégica das organizações e, como<br />

conseqüência, nas mudanças internas necessárias para se a<strong>de</strong>quar às<br />

novas situações, o autor E<strong>de</strong>lcio Pedro Jacomassi escreveu o artigo “Ambiente<br />

externo e processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias organizacionais:<br />

uma revisão e síntese teórica”.<br />

O quinto artigo que encerra esta edição t<strong>em</strong> como título “Orig<strong>em</strong> e<br />

utilização <strong>de</strong> informações <strong>em</strong> <strong>de</strong>cisões organizacionais do setor metalmecânico<br />

brasileiro” trata do t<strong>em</strong>a informação, o que hoje constitui um<br />

recurso estratégico na gestão das organizações e no processo <strong>de</strong>cisório.<br />

O trabalho dos autores Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e Pedro<br />

José Steiner Neto se propõe a verificar qual a relação entre o uso <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />

formais e fonte alternativa <strong>de</strong> informação, no contexto <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas<br />

do setor metal-mecânico brasileiro.<br />

Agra<strong>de</strong>c<strong>em</strong>os a todos que nos enviaram seus trabalhos e damos<br />

os parabéns àqueles que tiveram os trabalhos aceitos.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

Olga Maria Coutinho Pépece<br />

EDITORA


Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni<br />

SUMÁRIO<br />

ADOÇÃO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO POR PEQUENAS<br />

EMPRESAS: IMPLICAÇÕES PARA O COMÉRCIO EXTERIOR ·<br />

Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni .............................................................................. 9<br />

RELAÇÕES INTERORGANIZACIONAIS: ESTUDO EM CINCO<br />

INDÚSTRIAS DE PEQUENO PORTE DO PARANÁ<br />

Angélica Galves, Sergio Bulgacov e<br />

Yára Lúcia Mazziotti Bulgacov .............................................................. 29<br />

OLHARES CONTEMPORÂNEOS SOBRE CONSUMO<br />

EM BARES E CASAS NOTURNAS<br />

Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes ....................................... 55<br />

AMBIENTE EXTERNO E PROCESSO DE DEFINIÇÃO<br />

DE ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS:<br />

UMA REVISÃO E SÍNTESE TEÓRICA<br />

E<strong>de</strong>lcio Pedro Jacomassi ...................................................................... 77<br />

ORIGEM E UTILIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES EM DECISÕES<br />

ORGANIZACIONAIS DO SETOR METAL-MECÂNICO BRASILEIRO<br />

Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto .................................................................... 103<br />

NORMAS EDITORIAIS ........................................................................ 133<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

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8<br />

Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.


Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni<br />

ADOÇÃO DO COMÉRCIO<br />

ELETRÔNICO<br />

POR PEQUENAS EMPRESAS:<br />

IMPLICAÇÕES PARA O<br />

COMÉRCIO EXTERIOR ∗<br />

MARCO AURÉLIO ALVES DE MENDONÇA<br />

___________________________________________________________<br />

Professor da Universida<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá,<br />

Doutorando <strong>em</strong> Engenharia <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>as e Computação (UFRJ)<br />

RICARDO MAZORRA PERES FILHO<br />

___________________________________________________________<br />

Aluno do Curso <strong>de</strong> Relações Internacionais,<br />

da Universida<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá<br />

LUCIANA FRANCO GOLONI<br />

___________________________________________________________<br />

Aluna do Curso <strong>de</strong> Relações Internacionais,<br />

da Universida<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá<br />

( ∗ ) Este trabalho é fruto <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> Iniciação Científica, <strong>de</strong>senvolvido no âmbito do<br />

Curso <strong>de</strong> Relações Internacionais, da Universida<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá (Rio <strong>de</strong> Janeiro).<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

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Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.


Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni<br />

RESUMO<br />

As pequenas <strong>em</strong>presas têm gran<strong>de</strong> importância na economia brasileira.<br />

Com a inovação cada vez maior <strong>de</strong> tecnologias e o surgimento das<br />

tecnologias <strong>de</strong> informação, surgiu a oportunida<strong>de</strong> para as <strong>em</strong>presas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> tamanho, <strong>de</strong> comercializar por re<strong>de</strong>s virtuais. O comércio<br />

eletrônico está firmando-se a cada dia e sua adoção por parte das <strong>em</strong>presas<br />

<strong>de</strong> menor porte po<strong>de</strong> ser oportuna, <strong>em</strong>bora existam riscos. Em termos<br />

<strong>de</strong> exportações, as pequenas <strong>em</strong>presas brasileiras têm participação<br />

satisfatória, e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer uso da internet para exportar<br />

é algo real. Este artigo preten<strong>de</strong> sugerir tópicos para melhor estudo do<br />

assunto.<br />

Palavras-chave: pequena <strong>em</strong>presa, comércio eletrônico, comércio exterior.<br />

ABSTRACT<br />

Small sized enterprises have an important participation in Brazil’s economy.<br />

The information technologies created new opportunities for firms through<br />

the virtual net. The electronic commerce is an important tool and its adoption<br />

by small enterprises is consi<strong>de</strong>red a good <strong>de</strong>al, even though there are<br />

risks to be consi<strong>de</strong>red. In terms of exportation, small firms can improve its<br />

participation if they can use the Internet. This paper suggests issues for<br />

research in this agenda.<br />

Keywords: small enterprises, electronic commerce, foreign tra<strong>de</strong>.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

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1 INTRODUÇÃO<br />

Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

A virada do milênio se revelou um período <strong>de</strong> intensas mudanças,<br />

com muitas inovações <strong>em</strong> produtos, mercados e formas <strong>de</strong> organização<br />

<strong>em</strong>presarial. Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que implicam resistência, elas acarretam<br />

a expansão dos limites <strong>de</strong> conhecimentos existentes. Com a diminuição<br />

<strong>de</strong> distâncias, dá-se o cenário <strong>de</strong> globalização.<br />

Huntington (1994, p. 123) prevê que, com a globalização, a maior<br />

interação e contato entre as civilizações, somados ao processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização<br />

econômica como fator <strong>de</strong> enfraquecimento dos Estados-nação<br />

como base <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local, com o crescimento da consciência<br />

civilizacional e do regionalismo econômico, concorreriam para um novo cenário<br />

internacional.<br />

Embora alguns estudiosos consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong> que as pequenas <strong>em</strong>presas<br />

s<strong>em</strong>pre tiveram sua importância no cenário econômico, há autores<br />

que suger<strong>em</strong> um enfoque diferenciado. Afinal, se com a internacionalização<br />

dos mercados, gran<strong>de</strong>s multinacionais expandiram seus domínios, talvez<br />

seja a hora, para o b<strong>em</strong> e para o mal, <strong>de</strong> os pequenos também <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar<strong>em</strong><br />

seu papel.<br />

Sugerimos, neste trabalho, que os pequenos po<strong>de</strong>m contribuir para<br />

o incr<strong>em</strong>ento do comércio internacional. Acredita-se que as tecnologias<br />

<strong>de</strong> informação e comunicação, <strong>em</strong> especial o comércio eletrônico, são<br />

ferramentas que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> concorrer, sobr<strong>em</strong>aneira, para a melhoria <strong>de</strong>sse<br />

cenário, no Brasil.<br />

Este artigo preten<strong>de</strong> sugerir que a adoção do comércio eletrônico<br />

po<strong>de</strong> ajudar na inserção das pequenas e micro<strong>em</strong>presas no comércio<br />

exterior. Está estruturado <strong>em</strong> três seções, além <strong>de</strong>sta introdução e das<br />

consi<strong>de</strong>rações finais. A primeira preten<strong>de</strong> caracterizar as pequenas firmas,<br />

analisando seu papel e importância na esfera econômica. Na segunda<br />

seção, preten<strong>de</strong>-se evi<strong>de</strong>nciar o comércio eletrônico e suas<br />

potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aproveitamento por pequenas <strong>em</strong>presas. O comércio<br />

exterior será tratado na terceira seção, <strong>em</strong> que se sugere que as pequenas<br />

firmas têm muito a contribuir para o incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>le.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.


Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni<br />

2 PEQUENA E MICROEMPRESA<br />

Qualquer estudo que objetive abordar as pequenas <strong>em</strong>presas <strong>de</strong>para-se<br />

com uma dificulda<strong>de</strong> inicial: como <strong>de</strong>finir as especificida<strong>de</strong>s das<br />

firmas que se enquadram nessa categoria. Na literatura consultada, ficou<br />

clara a ausência <strong>de</strong> um padrão único para <strong>de</strong>fini-las. Exist<strong>em</strong> vários critérios<br />

usados na classificação, e cada um sugere uma abordag<strong>em</strong> distinta.<br />

Tal heterogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> critérios <strong>de</strong> classificação <strong>de</strong>ve-se, <strong>em</strong> parte,<br />

ao fato <strong>de</strong> que o conceito <strong>de</strong> micro ou pequena <strong>em</strong>presa é estabelecido<br />

<strong>em</strong> consonância com as condições gerais do país <strong>em</strong> que essas firmas<br />

estão inseridas. Assim, <strong>em</strong>preendimentos consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> pequeno<br />

porte <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado país po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como <strong>de</strong> médio porte<br />

<strong>em</strong> outros.<br />

Dois são os critérios básicos que dimensionam a pequena firma: o<br />

faturamento e o número <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregados.<br />

Neste trabalho, será <strong>em</strong>pregada a <strong>de</strong>finição do Instituto Brasileiro<br />

<strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE) e do Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às<br />

Micro e Pequenas <strong>Empresas</strong> (Sebrae), que utiliza como parâmetro o número<br />

<strong>de</strong> funcionários 1 , <strong>em</strong>bora o governo fe<strong>de</strong>ral consi<strong>de</strong>re critério <strong>de</strong><br />

faturamento para fins <strong>de</strong> enquadramento tributário. 2<br />

2.1 ESPECIFICIDADES DA PEQUENA E MICROEMPRESA<br />

A relevante participação das pequenas <strong>em</strong>presas no atual cenário<br />

globalizado é <strong>de</strong>scrita por diversos autores. Segundo Montaño (1999,<br />

p. 93), a pequena <strong>em</strong>presa <strong>em</strong>prega, no Brasil, quase 60% da força <strong>de</strong><br />

trabalho e, <strong>em</strong> alguns ramos produtivos, apresenta importante contribuição<br />

na formação do produto interno bruto (PIB).<br />

Solomon (1986, p. 85) afirma que os pequenos negócios são importantes<br />

porque ajustam os níveis <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, <strong>de</strong> acordo com as<br />

1 Segundo o IBGE, micro<strong>em</strong>presa, na área industrial, é aquela dotada <strong>de</strong> até 19 <strong>em</strong>pregados;<br />

pequena, a que possui <strong>de</strong> 20 a 99 funcionários; média, <strong>de</strong> 100 a 499; gran<strong>de</strong>, acima<br />

<strong>de</strong> 500 <strong>em</strong>pregados. No setor <strong>de</strong> comércio e serviços, consi<strong>de</strong>ra-se micro<strong>em</strong>presa a que<br />

possui até 9 <strong>em</strong>pregados; pequena, <strong>de</strong> 10 a 49; média, <strong>de</strong> 50 a 99; gran<strong>de</strong>, acima <strong>de</strong><br />

100.<br />

2 A Lei 9.841, <strong>de</strong> 5/10/1999, <strong>de</strong>fine micro<strong>em</strong>presa <strong>de</strong> acordo com faturamento anual <strong>de</strong> até<br />

R$ 244 mil, enquanto <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> pequeno porte <strong>de</strong>ve faturar anualmente, acima <strong>de</strong>sse<br />

valor, até R$ 1,2 milhão.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

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14<br />

Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

flutuações no comércio. Além disso, ajudam a manter o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra,<br />

<strong>em</strong>pregando trabalhadores ou sendo cliente direto dos produtos das gran<strong>de</strong>s<br />

<strong>em</strong>presas.<br />

Montaño (1999, p. 56) corrobora essa visão ao apontar o fomento<br />

das pequenas <strong>em</strong>presas no Estado neoliberal 3 , por essa i<strong>de</strong>ologia, diante<br />

das novas necessida<strong>de</strong>s do capital que implicam retração do po<strong>de</strong>r sindical.<br />

Com isso, o Estado “promove” <strong>de</strong>missão <strong>em</strong> massa, precarização do<br />

vínculo <strong>de</strong> trabalho, perda dos direitos trabalhistas e terceirização.<br />

Assim, as pequenas <strong>em</strong>presas absorv<strong>em</strong> e <strong>em</strong>pregam parte das<br />

massas excluídas do mercado formal. A promoção <strong>de</strong>sse fenômeno é<br />

feita mediante legislação que <strong>de</strong>sburocratize sua criação e via programas<br />

<strong>de</strong> incentivo à <strong>de</strong>missão voluntária. A pequena <strong>em</strong>presa constitui, por conseqüência,<br />

uma importante alternativa ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego provocado pela<br />

corrente neoliberal.<br />

Para Montaño (1999, p. 13-14), há que se analisar a pequena<br />

<strong>em</strong>presa além <strong>de</strong> suas características intrínsecas, as quais correspon<strong>de</strong>m<br />

à sua pequena dimensão, com poucos trabalhadores, baixo volume <strong>de</strong><br />

produção e menor complexida<strong>de</strong>, possuindo escassa divisão <strong>de</strong> tarefas e<br />

alta centralização. Uma análise acurada exige a observação das dimensões<br />

extrínsecas, inserindo-as no contexto socioeconômico e político para<br />

diferenciá-la <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa.<br />

O autor utiliza-se do conceito <strong>de</strong> “composição orgânica do capital”<br />

4 . Ele afirma que as <strong>em</strong>presas com alto nível tecnológico possu<strong>em</strong> sua<br />

parte constante favorecida via automação da produção, portanto caracterizam-se<br />

como gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas. Em contrapartida, as <strong>em</strong>presas que,<br />

por sua precarieda<strong>de</strong> tecnológica, possu<strong>em</strong> sua composição orgânica com<br />

a parte variável favorecida <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da parte constante, integram as<br />

pequenas <strong>em</strong>presas. Por outro lado, a diferenciação entre gran<strong>de</strong> e pequena<br />

<strong>em</strong>presa, <strong>de</strong> acordo com o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Solomon (1986, p. 54), é<br />

feita consi<strong>de</strong>rando-se seus papéis na economia.<br />

3 Fruto da i<strong>de</strong>ologia econômica que surge como resposta à crise no processo <strong>de</strong> acumulação<br />

capitalista <strong>de</strong>flagrada até 1970, como prática política adotada, sobretudo nos anos<br />

80, por organismos internacionais <strong>de</strong> financiamento, sob heg<strong>em</strong>onia dos países centrais,<br />

<strong>de</strong>stinada a estabelecer programas <strong>de</strong> “ajuste estrutural” também nas economias do<br />

Terceiro Mundo, visando enxugar o Estado, <strong>de</strong>ixando sob sua conduta apenas t<strong>em</strong>as<br />

como educação, segurança e saú<strong>de</strong>.<br />

4 É a relação entre valor constante <strong>de</strong> capital – meios <strong>de</strong> produção – e valor variável <strong>de</strong><br />

capital – força <strong>de</strong> trabalho.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.


Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni<br />

Os dois tipos <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas aten<strong>de</strong>m a diferentes mercados, e a<br />

gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa direciona-se para mercados nos quais a pequena <strong>em</strong>presa<br />

não se interessa ou não t<strong>em</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazê-lo. Os mercados<br />

explorados pelos pequenos negócios são mínimos, instáveis ou aten<strong>de</strong>m<br />

a uma <strong>de</strong>manda marginal e flutuante. Além disso, os recursos utilizados<br />

são distintos, com as gran<strong>de</strong>s companhias fazendo uso <strong>de</strong> recursos primários<br />

mais procurados, enquanto as pequenas faz<strong>em</strong> maior uso <strong>de</strong> recursos<br />

secundários <strong>de</strong> capital e <strong>de</strong> recursos humanos.<br />

Apesar da contribuição das pequenas <strong>em</strong>presas, principalmente,<br />

no que tange à diminuição do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, é imprescindível que se <strong>de</strong>staque<br />

sua fragilida<strong>de</strong>, para que se apont<strong>em</strong> soluções e alternativa a seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Montaño (1999, p. 93) <strong>de</strong>screve meios <strong>de</strong> produção e tecnologia<br />

obsoletos, gerando <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong> entre t<strong>em</strong>po e custos. Conseqüent<strong>em</strong>ente,<br />

os pequenos <strong>em</strong>presários praticam preços mais altos, reduzindo volume<br />

<strong>de</strong> vendas ou diminuindo a marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> lucro. Desse modo, não é<br />

possível a acumulação <strong>de</strong> capital. O autor aponta sugestões ao isolamento<br />

político das pequenas <strong>em</strong>presas, as quais não possu<strong>em</strong> organizações<br />

representativas perante o Estado. Sugere a criação <strong>de</strong> uma câmara <strong>de</strong><br />

comércio e indústria voltada para as pequenas <strong>em</strong>presas, além <strong>de</strong> suporte<br />

via políticas públicas.<br />

2.2 PEQUENA EMPRESA: NOVO PAPEL NO CENÁRIO<br />

CONTEMPORÂNEO<br />

A conjuntura político-econômica responsável pelo fortalecimento<br />

das pequenas <strong>em</strong>presas, a partir da década <strong>de</strong> 70, é explicada por David<br />

Harvey. Em 1973, o sist<strong>em</strong>a capitalista vivia época <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> recessão,<br />

agravada com a crise do petróleo, que resultou no <strong>de</strong>saparecimento do<br />

fordismo. O fordismo, segundo Harvey (1992, p. 135), caracterizava-se<br />

por rigi<strong>de</strong>z nos mercados e nos contratos <strong>de</strong> trabalho, <strong>em</strong> um cenário no<br />

qual o Estado, <strong>de</strong> acordo com o keynesianismo que figurava até então,<br />

estava comprometido com os programas <strong>de</strong> assistência social e gasto<br />

público.<br />

O único instrumento flexível na economia era a impressão <strong>de</strong> moeda,<br />

responsável por uma onda inflacionária, que afundaria a expansão do<br />

pós-guerra. Esse quadro foi agravado com a <strong>de</strong>cisão da OPEP <strong>de</strong> aumentar<br />

os preços do petróleo e <strong>em</strong>bargar suas exportações para o Oci<strong>de</strong>nte<br />

<strong>em</strong> 1973.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

15


16<br />

Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

Para o autor, ao fordismo seguiu-se um novo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> acumulação<br />

<strong>de</strong> capital <strong>de</strong>nominado acumulação flexível. Esse sist<strong>em</strong>a apóia-se<br />

na flexibilida<strong>de</strong> dos mercados <strong>de</strong> trabalho, dos produtos e dos padrões <strong>de</strong><br />

consumo. A acumulação flexível procura explicar altos níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego,<br />

ganhos mo<strong>de</strong>stos <strong>de</strong> salários e enfraquecimento do po<strong>de</strong>r sindical.<br />

Diante <strong>de</strong>sse contexto, os <strong>em</strong>pregadores impõ<strong>em</strong> regimes e contratos<br />

<strong>de</strong> trabalho mais flexíveis.<br />

Houve, então, uma redução do <strong>em</strong>prego regular <strong>em</strong> favor do trabalho<br />

<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po parcial, t<strong>em</strong>porário ou subcontratado. Desse modo, a<br />

subcontratação organizada, favoreceria o surgimento <strong>de</strong> pequenos <strong>em</strong>presários.<br />

2.3 PEQUENA EMPRESA NA ERA DO CONHECIMENTO<br />

Concomitant<strong>em</strong>ente às mudanças estruturais ocorridas no mundo<br />

oci<strong>de</strong>ntal, <strong>de</strong>senvolveram-se as tecnologias da informação e comunicação<br />

(TIC). Ferramentas <strong>de</strong> informática, <strong>de</strong> comunicação a distância e<br />

processadores cada vez mais rápidos e eficientes contribuíram para r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lar<br />

o mundo dos negócios e o relacionamento entre países.<br />

Ocorria uma revolução informacional, propiciada pelas novas<br />

tecnologias que originariam um novo padrão: o paradigma tecno-econômico<br />

das tecnologias da informação 5 . Com isso, <strong>em</strong>ergiu novo enfoque<br />

sobre o papel das pequenas <strong>em</strong>presas para o <strong>de</strong>senvolvimento econômico.<br />

6<br />

O padrão atual baseia-se nas tecnologias da informação, porque<br />

importantes inovações na área, <strong>em</strong> computação eletrônica, softwares e<br />

telecomunicações reduziram significativamente custos associados aos diferentes<br />

procedimentos relacionados à informação que influenciam a ativida<strong>de</strong><br />

produtiva. Tais tecnologias afetaram setores econômicos madu-<br />

5 De acordo com Dosi (1982), Fre<strong>em</strong>an (1982) e Perez (1983), paradigma tecno-econômico<br />

(PTE) é um conceito que busca elucidar as transformações estruturais periodicamente<br />

enfrentadas pelas socieda<strong>de</strong>s. Para Lastres e Ferraz (1999, p. 32-33), revela o resultado<br />

do processo <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> combinações viáveis <strong>de</strong> inovações que<br />

provocam transformações e influenciam toda a economia. O PTE é resultado <strong>de</strong> avanços<br />

científicos e pressões competitivas e sociais que procuram superar os limites do padrão<br />

anteriormente estabelecido, além <strong>de</strong> possibilitar novas frentes <strong>de</strong> expansão econômica,<br />

b<strong>em</strong> como produtivida<strong>de</strong> e lucrativida<strong>de</strong>.<br />

6 Ainda que a maioria das pequenas firmas opere <strong>em</strong> ambientes <strong>de</strong> baixo conteúdo<br />

tecnológico, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar a parcela que, com intensas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento (P&D), é responsável por importantes inovações.<br />

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Luciana Franco Goloni<br />

ros, como a indústria têxtil, e contribuíram para o surgimento <strong>de</strong> novas<br />

indústrias (como a <strong>de</strong> software) ou serviços (segurança <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as e<br />

comércio eletrônico, por ex<strong>em</strong>plo).<br />

O avanço <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo acarretou o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos<br />

formatos e estratégias <strong>em</strong>presariais, os quais se foram tornando<br />

gradativamente mais intensivos <strong>em</strong> informação e conhecimento, recursos<br />

que passaram a ser consi<strong>de</strong>rados fundamentais, configurando a era<br />

(ou socieda<strong>de</strong>) da informação e do conhecimento. Com isso, surgiram<br />

setores produtivos, serviços financeiros e até mercados.<br />

As elevadas taxas <strong>de</strong> inovação comercial, tecnológica e<br />

organizacional não implicaram o fim da produção <strong>em</strong> massa, mas a<br />

reestruturação do sist<strong>em</strong>a industrial que permite a coexistência com um<br />

padrão <strong>de</strong> especialização flexível, <strong>em</strong> que as micro e pequenas <strong>em</strong>presas<br />

têm papel relevante.<br />

Na era do conhecimento, observar-se-á que as pequenas firmas<br />

possu<strong>em</strong> algumas vantagens, se comparadas às gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas, <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong>s daquelas. Estruturas menos hierárquicas,<br />

recursos humanos escassos, especialização e flexibilida<strong>de</strong> – peculiarida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>ssas <strong>em</strong>presas comumente apontadas – são características<br />

marcantes do novo mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong> acordo com Harvey (1992, p. 140), por<br />

meio do conceito <strong>de</strong> acumulação flexível, que se apóia na “[...] flexibilida<strong>de</strong><br />

dos processos <strong>de</strong> trabalho, dos mercados <strong>de</strong> trabalho, dos produtos e<br />

padrões <strong>de</strong> consumo.”<br />

3 COMÉRCIO ELETRÔNICO COMO NOVO MODELO DE NEGÓCIO<br />

A literatura relacionada ao comércio eletrônico esclarece que a<br />

adoção <strong>de</strong>le por <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> menor porte po<strong>de</strong> ser um el<strong>em</strong>ento que dê<br />

maior fôlego às ativida<strong>de</strong>s, possibilitando queda nos custos e expandindo<br />

o espectro <strong>de</strong> seu mercado consumidor.<br />

Segundo Legey (2001, p. 260), o comércio eletrônico é conseqüência<br />

da utilização das TIC, e, <strong>em</strong>bora muitos acredit<strong>em</strong> que o comércio eletrônico<br />

é recente, essa modalida<strong>de</strong> já v<strong>em</strong> sendo efetuada entre <strong>em</strong>presas<br />

há mais <strong>de</strong> duas décadas, a partir <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s proprietárias <strong>de</strong> intercâmbio<br />

eletrônico <strong>de</strong> dados (eletronic data interchange – EDI).<br />

Embora o termo “comércio eletrônico” não tenha nenhuma <strong>de</strong>finição<br />

amplamente aceita, acredita-se que ele não se limita apenas à compra<br />

e venda <strong>de</strong> produtos por meio <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s eletrônicas, mas uma ativida<strong>de</strong><br />

que inclui os diversos processos necessários a essas transações, e<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

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18<br />

Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

sua adoção está condicionada à reestruturação dos processos internos<br />

das <strong>em</strong>presas.<br />

No âmbito do comércio eletrônico po<strong>de</strong>m-se caracterizar diversas<br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transação. Quando as primeiras aplicações <strong>de</strong> transferência<br />

eletrônica <strong>de</strong> fundos (electronic funds tranfers – EFT) e intercâmbio<br />

eletrônico <strong>de</strong> dados (electronic data interchange – EDI) 7 começaram a<br />

ser adotadas pelas <strong>em</strong>presas, configurando o que se po<strong>de</strong>ria consi<strong>de</strong>rar<br />

primórdios do comércio eletrônico, esse se limitava exclusivamente ao<br />

relacionamento entre <strong>em</strong>presas, segmento <strong>de</strong>nominado Business-to-<br />

Business (B2B), que é responsável por cerca <strong>de</strong> 90% dos negócios realizados<br />

nesse meio.<br />

Com a chegada da internet, mais serviços foram criados,<br />

objetivando atingir compradores domésticos. Daí surgiu o Business-to-<br />

Consumer (B2C), ou seja, segmento <strong>em</strong> que se realizam negócios, pela<br />

internet, entre <strong>em</strong>presa e consumidor final. Isso significa que, por meio <strong>de</strong><br />

um computador, po<strong>de</strong>-se realizar compras, s<strong>em</strong> que se precise ter qualquer<br />

contato físico com a <strong>em</strong>presa ou ven<strong>de</strong>dor. É importante notar que<br />

exist<strong>em</strong> outras modalida<strong>de</strong>s que consist<strong>em</strong> na transação entre consumidores<br />

(leilões virtuais, etc.), b<strong>em</strong> como as relacionadas ao governo (pagamento<br />

<strong>de</strong> impostos, troca <strong>de</strong> informações e dados, etc.)<br />

O B2B e o B2C são apontados pela Organização <strong>de</strong> Cooperação<br />

para o Desenvolvimento Econômico (OCDE) como modalida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>verão<br />

causar profundos impactos nas <strong>em</strong>presas, mercados e nível <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>prego pelos efeitos nos custos <strong>de</strong> transações e a criação <strong>de</strong> novos<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios.<br />

O comércio eletrônico envolve funções que traz<strong>em</strong> inovações para<br />

o tradicional processo <strong>de</strong> vendas. Com ele, há a mudança da comunicação<br />

e a forma <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> informações ou documentos, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> conseguir mais rapi<strong>de</strong>z no relacionamento comercial, tornando<br />

a transação mais fácil. Com isso, há significativa melhoria nos processos<br />

<strong>de</strong> negócios, uma vez que automatiza e melhora o atendimento a<br />

clientes, parceiros e fornecedores.<br />

Além disso, o gerenciamento <strong>de</strong> serviços se torna mais efetivo, o<br />

que po<strong>de</strong> contribuir sobr<strong>em</strong>aneira para tornar a clientela fiel, já que ela<br />

po<strong>de</strong> dirimir dúvidas ou obter informações on-line. Esse é um fator <strong>de</strong><br />

extr<strong>em</strong>a importância para as pequenas <strong>em</strong>presas que têm como caracte-<br />

7 Tecnologia <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> dados numa <strong>em</strong>presa ou entre diferentes <strong>em</strong>presas, por<br />

meio <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s eletrônicas.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.


Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni<br />

rística administrativa a centralização da execução <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s nas mãos<br />

do <strong>em</strong>presário que, por falta <strong>de</strong> estrutura, exerce várias funções ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po. Assim, parte <strong>de</strong> seu trabalho fica facilitada.<br />

3.1 DIFUSÃO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO<br />

Tigre (2000, p. 18) <strong>de</strong>staca que, <strong>em</strong> algumas áreas, esse tipo <strong>de</strong><br />

modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócios já se <strong>de</strong>senvolveu. Ex<strong>em</strong>plos são os softwares<br />

(com 16% do total <strong>de</strong> vendas na re<strong>de</strong>), livros (com 14%), hardware, música<br />

e eletrodomésticos. A posição <strong>de</strong> softwares na li<strong>de</strong>rança não causa<br />

nenhuma estranheza, pois num meio tão dinâmico, <strong>em</strong> que a cada dia<br />

surg<strong>em</strong> novida<strong>de</strong>s, nada melhor do que vendê-las pela internet.<br />

Já a posição <strong>de</strong> livros <strong>em</strong> segundo, <strong>em</strong>bora não seja <strong>de</strong> se estranhar<br />

muito, <strong>de</strong>monstra um dos gran<strong>de</strong>s benefícios <strong>de</strong> se trabalhar virtualmente.<br />

A Amazon, maior ven<strong>de</strong>dora <strong>de</strong> livros do mundo, pela internet, já<br />

assusta muitas das gran<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> livrarias, porque, além <strong>de</strong> não haver<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possuir estoque (os pedidos são encaminhados diretamente<br />

à editora), agrega valor ao serviço <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> livros por intermédio<br />

<strong>de</strong> resenhas feitas por profissionais amantes <strong>de</strong> literatura e contratados<br />

pela Amazon.<br />

Embora o comércio eletrônico se tenha <strong>de</strong>senvolvido b<strong>em</strong> nessas<br />

áreas, isso não ocorreu <strong>em</strong> áreas <strong>em</strong> que o consumo é também uma<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lazer (por ex<strong>em</strong>plo, vestuário), no qual o consumidor gosta<br />

<strong>de</strong> ter contato com o produto, assim como na área <strong>de</strong> alimentos.<br />

No Brasil, o comércio eletrônico t<strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> potencial. Segundo<br />

o IDC 8 , <strong>em</strong> pesquisa realizada no ano 2000, o País é responsável por<br />

mais <strong>de</strong> 40% do dinheiro movimentado por meio do comércio eletrônico<br />

na América Latina. Estudo realizado <strong>em</strong> parceria com a <strong>em</strong>presa <strong>de</strong><br />

consultoria Valve Partners 9 revelou que o crescimento do comércio eletrônico<br />

t<strong>em</strong> sido b<strong>em</strong> acentuado no Brasil.<br />

Além disso, o Brasil v<strong>em</strong> mantendo-se entre os 20 maiores usuários<br />

da re<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong> 90, e o crescimento anual <strong>de</strong><br />

números <strong>de</strong> usuários é gran<strong>de</strong>. Esses valores <strong>de</strong>monstram um gran<strong>de</strong><br />

crescimento na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usuários da re<strong>de</strong> e, conseqüent<strong>em</strong>ente, no<br />

tamanho <strong>de</strong>sse mercado para o comércio eletrônico.<br />

8 International Development Coorporation.<br />

9 Citado pelo relatório “Internet Comercial”, elaborado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia<br />

e publicado <strong>em</strong> abril <strong>de</strong> 2001.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

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Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

No entanto, <strong>de</strong> acordo com uma pesquisa realizada <strong>em</strong> 2001 pela<br />

Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do Estado <strong>de</strong> São Paulo (Fiesp), apenas 5%<br />

das pequenas firmas paulistas faz<strong>em</strong> transações comerciais pela internet.<br />

O estudo também explicou que 41% das companhias pesquisadas não<br />

preten<strong>de</strong>m realizar investimentos <strong>em</strong> comércio eletrônico. Os números<br />

são baixos, apesar das expectativas <strong>de</strong> crescimento. A pesquisa revela<br />

ainda, que, para essas organizações, os maiores obstáculos para a adoção<br />

<strong>de</strong>ssa aplicação são as dificulda<strong>de</strong>s operacionais e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

realizar reestruturações nos procedimentos que envolv<strong>em</strong> cobrança, compras,<br />

produção e atendimento ao cliente.<br />

Outro levantamento, realizado pela <strong>em</strong>presa IT Mídia 10 , com executivos<br />

<strong>de</strong> 300 <strong>em</strong>presas brasileiras, durante outubro e nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2000,<br />

informou que 39% das firmas que faz<strong>em</strong> negócios eletrônicos estão presentes<br />

no segmento B2B; 33%, no B2C; 28%, <strong>em</strong> ambos. Deve-se ressaltar<br />

que esse estudo não levou <strong>em</strong> conta o porte das <strong>em</strong>presas. Sendo<br />

assim, caso a pesquisa fosse exclusivamente focalizada <strong>em</strong> MPE, os resultados<br />

provavelmente seriam diferentes. Todavia, sabe-se que não apenas<br />

as gran<strong>de</strong>s organizações po<strong>de</strong>m beneficiar-se da tecnologia envolvida<br />

e das potencialida<strong>de</strong>s do comércio eletrônico.<br />

3.2 APROVEITAMENTO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO POR<br />

PEQUENAS EMPRESAS<br />

Exist<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos que favorec<strong>em</strong> o uso do comércio eletrônico<br />

<strong>em</strong> relação à pratica do comércio tradicional, os quais po<strong>de</strong>m beneficiar<br />

as pequenas <strong>em</strong>presas. Dentre eles, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar a expansão do<br />

espaço <strong>de</strong> mercado consumidor para mercados nacionais e internacionais;<br />

a diminuição do custo <strong>de</strong> criar, processar, distribuir, armazenar e<br />

procurar informação com base <strong>em</strong> papel; a redução do t<strong>em</strong>po entre o<br />

<strong>de</strong>linear do capital e a recepção <strong>de</strong> produtos e serviços. A redução <strong>de</strong><br />

custos operacionais e <strong>de</strong> instalação também po<strong>de</strong> atrair a formação ou<br />

inserção <strong>de</strong> pequenas <strong>em</strong>presas nesse mercado, uma vez que muitas<br />

não têm recursos para montar uma loja física.<br />

Outra importante característica do comércio eletrônico é a conseqüente<br />

eliminação <strong>de</strong> intermediários no processo <strong>de</strong> negócios. O fato <strong>de</strong> o<br />

segmento B2B ser o <strong>de</strong> maior parcela no mercado e com maior potencial<br />

10 Citado pelo relatório “Internet Comercial”, elaborado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia<br />

e publicado <strong>em</strong> abril <strong>de</strong> 2001.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.


Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni<br />

<strong>de</strong> crescimento é basicamente resultado <strong>de</strong>ssa eliminação. Acredita-se<br />

que a re<strong>de</strong> po<strong>de</strong> eliminar os intermediários que apenas repass<strong>em</strong> os produtos,<br />

exigindo uma nova espécie <strong>de</strong> intermediário: o que agrega valor ao<br />

produto.<br />

Deve-se ressaltar, entretanto, que as pequenas firmas enfrentam<br />

uma série <strong>de</strong> obstáculos à utilização do comércio eletrônico, por causa da<br />

própria natureza frágil, além <strong>de</strong> elevados custos <strong>de</strong> estruturação, falta <strong>de</strong><br />

visão quanto aos benefícios trazidos pelas tecnologias <strong>de</strong> informação e<br />

comunicação para o negócio, percepção <strong>de</strong>turpada das oportunida<strong>de</strong>s<br />

trazidas pelo comércio eletrônico ou falta <strong>de</strong> produtos a<strong>de</strong>quados. No entanto,<br />

a utilização das tecnologias da informação po<strong>de</strong>ria permitir que muitas<br />

tarefas sejam automatizadas e favorecer a análise dos processos <strong>de</strong> negócio<br />

e a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> erros e resultados antes que eles se efetiv<strong>em</strong>.<br />

Por isso, um projeto <strong>de</strong> comércio eletrônico vai requerer a preparação<br />

do ambiente interno da organização e possivelmente análise acurada<br />

dos procedimentos <strong>de</strong> trabalho, os quais <strong>de</strong>verão estar <strong>em</strong> consonância<br />

com o tamanho da <strong>em</strong>presa e suas peculiarida<strong>de</strong>s. Para muitas firmas, a<br />

aplicação inicial <strong>de</strong> recursos e as mudanças organizacionais transformamse<br />

<strong>em</strong> barreiras à execução <strong>de</strong> um projeto que envolva tecnologia da<br />

informação.<br />

Além disso, segundo Legey (2001, p. 276), a falta <strong>de</strong> padrões<br />

tecnológicos, comerciais, fiscais e legais também dificultam a entrada das<br />

pequenas firmas no ramo, porque inib<strong>em</strong> as iniciativas <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas que<br />

preten<strong>de</strong>m se estabelecer na internet, mas estas relutam <strong>em</strong> investir <strong>em</strong><br />

tecnologias que possam ser substituídas por alternativa que venha a se<br />

tornar padronizada. O probl<strong>em</strong>a po<strong>de</strong> afetar principalmente as transações<br />

<strong>de</strong> comércio exterior. Outros fatores, como medo da insegurança,<br />

questões jurídicas e até probl<strong>em</strong>as culturais, po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados<br />

inibidores do <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong>.<br />

Sendo consi<strong>de</strong>radas as oportunida<strong>de</strong>s que o comércio eletrônico<br />

cria para as pequenas <strong>em</strong>presas, permite-se consi<strong>de</strong>rar que estas <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

ter vantagens comportamentais relacionadas à sua maior flexibilida<strong>de</strong> e<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação a mudanças no mercado, quando comparadas<br />

a uma gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa, po<strong>de</strong>ndo assim operar mais facilmente <strong>em</strong> nichos<br />

que apresentam altas taxas <strong>de</strong> inovação. Além disso, segundo Tigre<br />

(2000), tais <strong>em</strong>presas po<strong>de</strong>m aproveitar externalida<strong>de</strong>s positivas quando<br />

participam <strong>de</strong> “re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas” pelo uso da internet. A facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comunicação introduzida pelas novas tecnologias beneficia a criação <strong>de</strong><br />

re<strong>de</strong>s virtuais, com amplas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> novos conhecimentos.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

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Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

As pequenas firmas também po<strong>de</strong>m aproveitar o movimento <strong>de</strong><br />

terceirização que abre possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contratos com gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas,<br />

para a prestação <strong>de</strong> serviços, mais especificamente no caso <strong>de</strong><br />

micro<strong>em</strong>presas <strong>em</strong> áreas <strong>de</strong> consultoria, software, tradução e edição <strong>de</strong><br />

textos ou engenharia. A difusão da internet abre ainda oportunida<strong>de</strong>s para<br />

produção e venda <strong>de</strong> manufaturados e serviços inteiramente novos, cujo<br />

valor agregado muitas vezes está ligado a informações relevantes, objetivas<br />

ou <strong>de</strong> fácil acesso.<br />

O uso das re<strong>de</strong>s eletrônicas favorece também ao facilitar a inovação<br />

e o aumento da eficiência e acesso a novos mercados, domésticos e<br />

estrangeiros. Pequenas firmas com certo grau <strong>de</strong> capacitação po<strong>de</strong>m i<strong>de</strong>ntificar<br />

e introduzir soluções que utiliz<strong>em</strong> a internet como meio <strong>de</strong> acesso a<br />

mercados, permitindo a supressão <strong>de</strong> barreiras t<strong>em</strong>porais e geográficas<br />

para realizar<strong>em</strong> seus negócios. É importante levar <strong>em</strong> conta que a incorporação<br />

das TIC <strong>de</strong>ntro das pequenas <strong>em</strong>presas não cria apenas oportunida<strong>de</strong>s.<br />

Há benefícios gerados pela troca <strong>de</strong> informações com parceiros<br />

e aperfeiçoamento <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as e rotinas sist<strong>em</strong>áticas, permitindo a essas<br />

firmas uma rápida resposta às mudanças nos padrões <strong>de</strong> consumo.<br />

A melhoria da administração <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> provisão e o maior<br />

controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> são benefícios prováveis, b<strong>em</strong> como o processo <strong>de</strong><br />

distribuição <strong>de</strong> bens e serviços, que implica consi<strong>de</strong>rável redução do t<strong>em</strong>po<br />

entre or<strong>de</strong>m e entrega, aumentando a possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sucesso do<br />

negócio. Atingindo certo nível <strong>de</strong> sucesso, ou produzindo algo atrativo<br />

para mercados externos, uma MPE po<strong>de</strong> exportar sua produção utilizando<br />

o comércio eletrônico.<br />

4 TECNOLOGIA E COMÉRCIO EXTERIOR<br />

A relação entre tecnologia e comercio exterior foi estudada <strong>de</strong> uma<br />

forma pioneira por Posner (1961, p. 34). Mais recent<strong>em</strong>ente, diversos<br />

pesquisadores, li<strong>de</strong>rados pelos ingleses Richard Nelson e Christopher<br />

Fre<strong>em</strong>an, têm sugerido a formação <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as nacionais <strong>de</strong> inovação,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> fomentar os ambientes científico e institucional capazes<br />

<strong>de</strong> promover inovações para a competitivida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas. Tais<br />

estudos mostram como a infra-estrutura educacional e científica, os mecanismos<br />

<strong>de</strong> apoio à inovação e cooperação tecnológica e as estratégias<br />

<strong>em</strong>presariais contribu<strong>em</strong> para criar el<strong>em</strong>entos positivos ao esforço exportador<br />

<strong>em</strong> diferentes países.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.


Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni<br />

Perez e Soete (apud LASTRES; FERRAZ , 1999, p. 29), por ex<strong>em</strong>plo,<br />

<strong>de</strong>stacam que os objetivos dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> inovação <strong>em</strong> países <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>veriam ser distintos dos existentes naqueles já <strong>de</strong>senvolvidos.<br />

Nos países periféricos, a principal tarefa do sist<strong>em</strong>a seria,<br />

<strong>de</strong> acordo com os autores, o aproveitamento <strong>de</strong> “janelas <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>”,<br />

<strong>de</strong> forma a viabilizar a realização <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> catching-up. Isso<br />

inclui não só a transferência <strong>de</strong> tecnologia, mas também a geração <strong>de</strong><br />

capacitação tecnológica capaz <strong>de</strong> conduzir a uma trajetória dinâmica <strong>de</strong><br />

entrada <strong>em</strong> novos mercados. A utilização do comércio eletrônico para<br />

alcançar o mercado externo po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma “janela <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>”.<br />

Guimarães (2002, p. 455) afirma que as pequenas <strong>em</strong>presas s<strong>em</strong><br />

tradição exportadora po<strong>de</strong>m contar com certas facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ingresso<br />

nos mercados externos <strong>em</strong> que as gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas congêneres foram<br />

b<strong>em</strong>-sucedidas. Esses mercados são <strong>de</strong>nominados tradicionais, enquanto<br />

os mercados novos, não tradicionais, faz<strong>em</strong> parte dos planos <strong>de</strong> curto<br />

e médio prazo das gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas exportadoras. Assim, setores produtivos<br />

ou produtos brasileiros com pouca expressivida<strong>de</strong> no cenário internacional<br />

<strong>de</strong>veriam ser orientados preferencialmente para os mercados<br />

externos já conquistados pela gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa.<br />

Não se <strong>de</strong>ve, porém, restringir a atuação externa por <strong>em</strong>presas<br />

brasileiras <strong>em</strong> mercados nas quais nossas gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas ainda não<br />

possu<strong>em</strong> boa reputação. Há casos <strong>em</strong> que o produto a ser exportado t<strong>em</strong><br />

gran<strong>de</strong> potencial no mercado externo, s<strong>em</strong> que haja uma gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa<br />

congênere nacional atuando no exterior. Exist<strong>em</strong> também os casos <strong>de</strong><br />

produtos, típicos ou não, que são <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> uma parcela específica<br />

<strong>de</strong> um mercado. Esses produtos po<strong>de</strong>m ser exportados e têm gran<strong>de</strong><br />

chance <strong>de</strong> manter sua fatia <strong>de</strong> mercado, a qual po<strong>de</strong> não ser gran<strong>de</strong> o<br />

suficiente para interessar a uma média ou gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa.<br />

A participação das pequenas <strong>em</strong>presas na exportação brasileira<br />

era, <strong>em</strong> 2001, <strong>de</strong> acordo com a Fundação Centro <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Comércio<br />

Exterior (FUNCEX), pouco mais <strong>de</strong> 13%, correspon<strong>de</strong>ndo a US$ 7,707<br />

bilhões <strong>de</strong> um valor total exportado <strong>de</strong> US$ 58,139 bilhões. Esse valor<br />

exportado por pequenas firmas 11 cresceu <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 20% <strong>em</strong> quatro<br />

anos. O crescimento da participação das micro e pequenas <strong>em</strong>presas, na<br />

11 Das quase 17 mil <strong>em</strong>presas exportadoras brasileiras, <strong>em</strong> 2001, pouco mais <strong>de</strong> 11 mil<br />

<strong>de</strong>las eram micro ou pequenas <strong>em</strong>presas, representando aproximadamente 65% do<br />

total <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s produtivas.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

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24<br />

Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

pauta <strong>de</strong> exportação brasileira <strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong> 90 até a atualida<strong>de</strong>,<br />

po<strong>de</strong> ser relacionado, até certo ponto com a integração regional.<br />

De acordo com Guimarães (2002, p. 477), existe certa s<strong>em</strong>elhança<br />

<strong>de</strong> características que levaram os países a operar com estruturas produtivas<br />

similares <strong>em</strong> termos tecnológicos, favorecendo um intercâmbio<br />

mais simétrico vis-à-vis do Brasil com os países <strong>de</strong> outros continentes.<br />

Assim, a <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> menor porte, que participava com 1,7% do mercado<br />

do Mercosul 12 <strong>em</strong> 1995, passou para 2,9% <strong>em</strong> 2001, com um crescimento<br />

<strong>de</strong> 71% no período. Nos outros gran<strong>de</strong>s mercados (Aladi 13 , Nafta 14 , Europa<br />

e Ásia), a participação das exportações das pequenas <strong>em</strong>presas pouco<br />

se alterou, valendo registrar que manteve seus espaços competitivos<br />

conquistados.<br />

O acesso a mercados distantes, segundo Guimarães (2002, p. 478),<br />

<strong>de</strong>veria ocorrer por meio <strong>de</strong> especializadas <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> exportação nesses<br />

mercados e não pela agressivida<strong>de</strong> comercial da pequena <strong>em</strong>presa<br />

produtora isoladamente. Dessa maneira, uma <strong>em</strong>presa com alguma estrutura<br />

po<strong>de</strong>ria optar pela tentativa <strong>em</strong> um mercado distante, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

tenha o apoio <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> exportação especializada no mercado<br />

escolhido, levando <strong>em</strong> conta as práticas comerciais nesse local, assim<br />

como as diferenças comerciais. Talvez nesse nicho estivesse a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> a pequena <strong>em</strong>presa fazer comércio eletrônico.<br />

3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PEQUENA EMPRESA<br />

EXPORTADORA<br />

É importante mencionar as políticas <strong>de</strong> apoio às exportações para<br />

as pequenas firmas. As principais iniciativas <strong>em</strong> curso <strong>de</strong> política<br />

tecnológica para exportações são o Programa <strong>de</strong> Apoio Tecnológico à<br />

Exportação (Progex), o Programa Novos Pólos Exportadores (PNPE) e<br />

as ações da Agência <strong>de</strong> Promoção <strong>de</strong> Exportações (Apex).<br />

O Progex t<strong>em</strong> por objetivo prestar assistência tecnológica às<br />

micro<strong>em</strong>presas que queiram tornar-se exportadoras ou àquelas que já<br />

exportam e <strong>de</strong>sejam melhorar seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho nos mercados externos.<br />

12 Mercado Comum do Sul, constituído inicialmente por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.<br />

13 Associação Latino-Americana <strong>de</strong> Integração, constituída por Uruguai, Argentina, Paraguai,<br />

Chile, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela e México.<br />

14 Tratado <strong>de</strong> Livre Comércio da América do Norte, constituído por México, Estados Unidos<br />

e Canadá.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.


Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni<br />

O programa conta com recursos <strong>de</strong> vários fundos setoriais, apoiando<br />

melhorias da qualida<strong>de</strong> e do processo produtivo e redução <strong>de</strong> custos,<br />

entre outros incentivos.<br />

O PNPE t<strong>em</strong> por objetivo <strong>de</strong>senvolver mediante estímulo e apoio<br />

tecnológico e comercial a <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> setores com propensão exportadora,<br />

sobretudo as <strong>de</strong> menor porte, visando <strong>de</strong>sconcentrar as exportações<br />

brasileiras <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> produtos, <strong>em</strong>presas e mercados <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino.<br />

Já a Apex <strong>de</strong>senvolve parcerias com entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe <strong>em</strong>presariais<br />

e outras instituições s<strong>em</strong> fins lucrativos, para a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong><br />

programas <strong>de</strong> promoção comercial <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> pequeno porte. É<br />

responsável por apoiar pela a<strong>de</strong>quação dos produtos e preparação para<br />

a exportação, trabalhando com projetos <strong>de</strong> cunho setorial, horizontal, consórcios<br />

ou cooperativas, e isoladamente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as <strong>em</strong>presas se comprometam<br />

com metas <strong>de</strong> exportação e com a geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos.<br />

Os três programas são direcionados a <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> pequeno porte,<br />

com intuito <strong>de</strong> exportar<strong>em</strong>, as quais necessit<strong>em</strong> <strong>de</strong> maior capacitação<br />

tecnológica e <strong>de</strong> capacitação do produto <strong>em</strong> termos das normas técnicas<br />

internacionais. A capacitação tecnológica po<strong>de</strong> ser a informatização da<br />

<strong>em</strong>presa, para que esta possa usufruir os benefícios gerados não só pela<br />

informatização, mas também se inserindo no mundo virtual, po<strong>de</strong>ndo ter<br />

maior contato com fornecedores pela re<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sfrutar do comércio eletrônico,<br />

voltado para a exportação.<br />

Embora esse apoio seja incipiente, ele <strong>de</strong>monstra que há uma<br />

iniciativa no sentido <strong>de</strong> incentivar as exportações por parte dos pequenos<br />

<strong>em</strong>preendimentos, levando <strong>em</strong> conta suas necessida<strong>de</strong>s e fragilida<strong>de</strong>s.<br />

Por causa <strong>de</strong>ssas fragilida<strong>de</strong>s, Lima e Carvalho Junior (2000, apud<br />

LASTRES; FERRAZ , 1999, p. 38), acreditam que seria <strong>de</strong>sejável “ensinar”<br />

as firmas a trabalhar<strong>em</strong> <strong>em</strong> conjunto. Segundo esses autores, a experiência<br />

internacional <strong>de</strong>monstra que as menores <strong>em</strong>presas obtêm melhores<br />

condições para alcançar sucesso nos seus processos <strong>de</strong><br />

internacionalização. É preciso que pass<strong>em</strong> a operar <strong>em</strong> ambiente cooperativo<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento ou a absorção <strong>de</strong> tecnologia, a elaboração<br />

<strong>de</strong> novos produtos ou o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> processos, a conquista <strong>de</strong><br />

mercados, o compartilhamento <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> uso comum como <strong>em</strong>presas<br />

<strong>de</strong> distribuição internacional e <strong>de</strong> logística, a captação <strong>de</strong> recursos<br />

creditícios, etc. Os autores afirmam que uma estratégia <strong>de</strong> capacitação<br />

<strong>em</strong>presarial para exportações <strong>de</strong>finida com base nesses princípios seria<br />

mais eficaz para fortalecer e ampliar a participação <strong>de</strong> exportadores já<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

25


26<br />

Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

atuantes, assim como para estimular a entrada <strong>de</strong> novas <strong>em</strong>presas, ambas<br />

condições necessárias para a expansão das exportações.<br />

No entanto, <strong>de</strong> acordo com Tigre (2000, p. 25), o crescimento das<br />

exportações por parte das pequenas firmas brasileiras é, <strong>em</strong> curto prazo,<br />

limitado, tendo poucas perspectivas <strong>de</strong> exercer impacto sobre a balança<br />

comercial, uma vez que não são <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s produtores, cujo<br />

volume <strong>de</strong> exportação certamente é maior. Existe, porém, o lado positivo<br />

<strong>de</strong> se incentivar as exportações por parte das <strong>em</strong>presas menores. Elas<br />

geralmente exportam produtos diferentes das gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas, alguns<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor agregado, como, por ex<strong>em</strong>plo, software, diversificando a<br />

pauta nacional <strong>de</strong> exportação.<br />

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

No Brasil, a pequena <strong>em</strong>presa perfaz um papel muito especial e<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a economia. São esses <strong>em</strong>preendimentos<br />

que absorv<strong>em</strong> e <strong>em</strong>pregam as massas do mercado <strong>de</strong> trabalho formal,<br />

excluídas por conta das ações aintrozidas pelo Estado neoliberal.<br />

Com a difusão das novas tecnologias <strong>de</strong> informação, essas firmas<br />

passaram a ter mais relevância, porque a natureza ágil <strong>de</strong> tais aplicações<br />

permite e facilita o relacionamento com fornecedores ou parceiros, além<br />

<strong>de</strong> criar a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua utilização para fins comerciais. A adoção<br />

do comércio eletrônico po<strong>de</strong>, portanto, gerar diversos benefícios, <strong>de</strong>ntre<br />

os quais se <strong>de</strong>staca a ampliação do mercado consumidor. Todavia, essas<br />

implicações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser abordadas <strong>de</strong> forma cuidadosa e, se possível, <strong>de</strong><br />

forma setorial.<br />

Embora o comércio eletrônico tenha um gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> aproveitamento,<br />

e, até mesmo, vantagens sobre o comércio tradicional, <strong>de</strong>vese<br />

levar <strong>em</strong> conta a existência <strong>de</strong> riscos. Para ser b<strong>em</strong>-sucedido, um<br />

pequeno <strong>em</strong>presário <strong>de</strong>ve investigar a aceitação <strong>de</strong> seu produto, já que<br />

há aqueles que não geram resultados positivos no âmbito virtual (o mercado<br />

consumidor e a concorrência), além <strong>de</strong> utilizar as ferramentas corretas<br />

<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e propaganda.<br />

O comércio eletrônico também po<strong>de</strong> ser um meio <strong>de</strong> incr<strong>em</strong>ento<br />

das exportações e talvez uma janela <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para a inserção das<br />

pequenas e micro<strong>em</strong>presas nesse cenário. Contudo, há que se consi<strong>de</strong>rar<br />

que o comércio internacional é ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> risco. A inserção no mercado<br />

externo exige o conhecimento das tradições e culturas locais. Além<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.


Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça, Ricardo Mazorra Peres Filho e<br />

Luciana Franco Goloni<br />

disso, <strong>de</strong>ve-se estar apto a aten<strong>de</strong>r a um aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda por seu<br />

produto.<br />

O pequeno <strong>em</strong>presário muitas vezes não t<strong>em</strong> como adquirir e<br />

manusear tais informações. Num mundo globalizado (e digitalizado), ven<strong>de</strong>r<br />

produtos ou serviços para outras <strong>em</strong>presas maiores, ou mesmo consumidores<br />

finais, <strong>em</strong> outros países, por meio da internet ou outra re<strong>de</strong>,<br />

requer capacitação, conhecimento e informação.<br />

Tudo indica que esse processo está <strong>em</strong> crescimento e se consolidando<br />

como alternativa viável para a negociação <strong>de</strong> produtos e serviços.<br />

Nesse sentido, trata-se <strong>de</strong> uma opção consi<strong>de</strong>rável para pequenos<br />

produtores ou reven<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> produtos típicos que tenham estrutura<br />

suficiente para manter uma loja virtual, ou fornecedores <strong>de</strong> serviços<br />

especializados que visam ampliar seu mercado consumidor <strong>de</strong> uma<br />

maneira menos custosa.<br />

Supondo que o pequeno <strong>em</strong>presário consi<strong>de</strong>re a utilização do comércio<br />

eletrônico <strong>em</strong> seu <strong>em</strong>preendimento, acredita-se <strong>em</strong> possíveis benefícios<br />

advindos <strong>de</strong>ssa aplicação, o que justificaria uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> investimento<br />

com boa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retorno, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das condições<br />

<strong>em</strong> que está inserida da ativida<strong>de</strong> produtiva.<br />

REFERÊNCIAS<br />

FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR. Relatório<br />

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Acesso <strong>em</strong>: abr. 2004.<br />

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pequenas e médias <strong>em</strong>presas. In: Desafio das exportações. BNDES.<br />

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Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.<br />

27


28<br />

Adoção do Comércio Eletrônico por Pequenas <strong>Empresas</strong> ...<br />

LEGEY, Liz-Rejane. A dinâmica e o ambiente do comércio eletrônico. In:<br />

PEREIRA, M. N. F.; PINHEIRO, L. V. R. (Org.). O sonho <strong>de</strong> Otlet: aventura<br />

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LASTRES, H. M. M.; ALBAGLI, S. Informação e globalização na era do<br />

conhecimento. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Campus, 1999.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 9-28, 2005.


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

RELAÇÕES<br />

INTERORGANIZACIONAIS:<br />

ESTUDO EM CINCO<br />

INDÚSTRIAS DE PEQUENO<br />

PORTE DO PARANÁ<br />

ANGÉLICA GALVES<br />

___________________________________________________________<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

29<br />

Mestre pela UFPR<br />

DR. SERGIO BULGACOV<br />

___________________________________________________________<br />

Professor do Programa <strong>de</strong> Mestrado<br />

e Doutorado <strong>em</strong> <strong>Administração</strong> da UFPR<br />

DRA. YÁRA LÚCIA MAZZIOTTI BULGACOV<br />

___________________________________________________________<br />

Professora do Curso <strong>de</strong> Mestrado<br />

<strong>em</strong> <strong>Administração</strong> da UnicenP


30<br />

Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

RESUMO<br />

Levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração os estudos sobre relações interorgani-zacionais<br />

na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção e sobre o foco das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios, procurou-se<br />

i<strong>de</strong>ntificar, neste trabalho, se os relacionamentos interorganizacionais<br />

constituídos por cinco <strong>em</strong>presas do Paraná são mantidos <strong>em</strong><br />

conformida<strong>de</strong> com seus respectivos centros <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>. Procura-se<br />

verificar também quais as conseqüências das opções <strong>de</strong> relacionamentos<br />

interorganizacionais para a sustentabilida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> termos<br />

<strong>de</strong> busca por aumento da produtivida<strong>de</strong> e formação <strong>de</strong> conhecimento.<br />

Utilizando-se <strong>de</strong> investigação multicaso, com abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong>scritiva e<br />

qualitativa, os dados permit<strong>em</strong> concluir que as relações interorganizacionais<br />

das cinco <strong>em</strong>presas industriais pesquisadas segu<strong>em</strong> a lógica<br />

da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, assim como há forte <strong>de</strong>pendência das organizações,<br />

<strong>em</strong> relação às características pessoais e comportamentais dos dirigentes.<br />

Prevalec<strong>em</strong> os acordos informais, e a busca pela segurança é o<br />

que preserva os relacionamentos, <strong>de</strong> acordo com suas configurações. Os<br />

dirigentes não estão cientes ou orientados para as possibilida<strong>de</strong>s situadas<br />

no fluxo abaixo das ca<strong>de</strong>ias. Não há coerência nas ações orientadas<br />

para o fortalecimento da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, entre outras consi<strong>de</strong>rações.<br />

Palavras-chave: relações interorganizacionais, centro estratégico <strong>de</strong><br />

gravida<strong>de</strong>.<br />

ABSTRACT<br />

Consi<strong>de</strong>ring the studies on inter-organisational relations in the production<br />

chain, with focus of the business-oriented activities, this research inten<strong>de</strong>d<br />

to i<strong>de</strong>ntify if the interorganizations relationships of five companies in the<br />

Parana state are kept in compliance with its strategy centers of gravity.<br />

The research also inclu<strong>de</strong>d the study of the consequences of options in<br />

the interorganisations relationships for the sustentabilida<strong>de</strong> of the<br />

companies in terms of increase of productivity and knowledge. Using of<br />

multi case research, with <strong>de</strong>scriptive and qualitative approach. The data<br />

allow us to conclu<strong>de</strong> that the inter-organisational relations of the five<br />

companies followed the logic of the production chain, as well a strong<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce in the personal characteristics of the controllers; the informal<br />

agre<strong>em</strong>ents prevail, among other consi<strong>de</strong>rations.<br />

Keywords: interorganisation relationship, strategic center of gravity.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

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32<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />

Estudos clássicos dos relacionamentos interorganizacionais têm<br />

tido <strong>de</strong>staque, principalmente com a abordag<strong>em</strong> da interação interpessoal<br />

e da abordag<strong>em</strong> sistêmica das re<strong>de</strong>s formais e informais e suas relações<br />

<strong>de</strong> troca. Pesquisas recentes <strong>de</strong>monstram que a maioria das organizações<br />

ainda não se <strong>de</strong>u conta <strong>de</strong> que o relacionamento <strong>em</strong> re<strong>de</strong>s, estrategicamente<br />

direcionado, po<strong>de</strong> ser forte aliado das pequenas <strong>em</strong>presas na<br />

busca pela competitivida<strong>de</strong> sustentável (PECI, 1999; ALMEIDA; FERREIRA<br />

DA SILVA; ALMEIDA JUNIOR, 1998; CASAROTTO FILHO; PIRES, 1998).<br />

A busca por mo<strong>de</strong>los que expliqu<strong>em</strong> o relacionamento<br />

interorganizacional e suas conseqüências para as organizações t<strong>em</strong> conquistado<br />

espaço entre os pesquisadores. Há várias tentativas <strong>de</strong> entendimento<br />

do como e do porquê dos relacionamentos, assim como dos resultados<br />

socioeconômicos daí auferidos para a <strong>em</strong>presa e para o contexto<br />

<strong>em</strong> que está inserida. Dentro <strong>de</strong>ssa mesma preocupação, este trabalho<br />

busca a junção <strong>de</strong> duas abordagens: a teoria do relacionamento<br />

interorganizacional e o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção para a explicação<br />

das relações das organizações pesquisadas.<br />

Enten<strong>de</strong>-se o conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento interorganizacional<br />

como o conjunto <strong>de</strong> organizações, cujos relacionamentos sociais<br />

estão engajados <strong>em</strong> conduzir ações socioeconômicas que tenham significado<br />

para as partes e que persistam, ao longo do t<strong>em</strong>po, preservando a<br />

autonomia <strong>de</strong> cada uma das <strong>em</strong>presas participantes. A ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção,<br />

por sua vez, representa todo o processo do setor, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a extração<br />

da matéria-prima até a venda ao consumidor final, envolvendo diferentes<br />

ativida<strong>de</strong>s focais <strong>de</strong> negócios (GALBRAITH, 2001).<br />

A busca pelo entendimento <strong>em</strong>pírico recai sobre o seguinte probl<strong>em</strong>a<br />

<strong>de</strong> investigação: <strong>de</strong> que forma as relações interorganizacionais <strong>de</strong> cinco<br />

industriais do Paraná segu<strong>em</strong> a lógica <strong>de</strong> suas ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> produção?<br />

Os objetivos específicos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>finidos como:<br />

a) i<strong>de</strong>ntificar o posicionamento no centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> das cinco<br />

<strong>em</strong>presas pesquisadas;<br />

b) i<strong>de</strong>ntificar os critérios utilizados para a seleção dos atores da<br />

estrutura <strong>de</strong> relacionamento;<br />

c) i<strong>de</strong>ntificar os relacionamentos interorganizacionais existentes nas<br />

<strong>em</strong>presas pesquisadas;<br />

d) verificar a congruência entre o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> e os relacionamentos<br />

<strong>em</strong> re<strong>de</strong> e seus efeitos sobre a sustentabilida<strong>de</strong> das<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

<strong>em</strong>presas participantes, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E EMPÍRICOS<br />

Na perspectiva contingencial e na visão baseada <strong>em</strong> recursos, as<br />

exigências <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> para as <strong>em</strong>presas suger<strong>em</strong> a interação<br />

interorganizacional para suprimento conjunto das <strong>de</strong>ficiências internas <strong>de</strong><br />

recursos como forma <strong>de</strong> ganho <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e aprendizag<strong>em</strong> para a<br />

competitivida<strong>de</strong> (BARNEY; HESTERLY, 1996; KAY, 1996), assim como<br />

as exigências do mercado, muitas vezes, inviabilizam a <strong>em</strong>presa pela<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle sobre todas as etapas do processo produtivo,<br />

o que conduz ao estabelecimento <strong>de</strong> parcerias com a formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s<br />

interorganizacionais (LOPES; MORAES, 2000; RYNGELBLUM, 1999).<br />

Seguindo essa pr<strong>em</strong>issa, Schommer (2000) ressalta a importância<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> algumas condições favoráveis para que as<br />

virtu<strong>de</strong>s das relações <strong>de</strong> cooperação interorganizacional se torn<strong>em</strong> ótimas<br />

e potencializadas. Nesse sentido, i<strong>de</strong>ntifica-se que os aspectos mais<br />

evi<strong>de</strong>ntes do ambiente <strong>de</strong> uma organização são as outras organizações<br />

“[...] que influ<strong>em</strong> sobre ela, como concorrentes, fornecedores, clientes,<br />

sindicatos ou órgãos controladores” (PERROW, 1981, p. 150). Essa teia<br />

<strong>de</strong> inter-relacionamento é ampla e complexa, mas constitui tentativa <strong>de</strong><br />

se atenuar à insegurança. Assim, na busca pela sustentabilida<strong>de</strong> e tendo<br />

<strong>em</strong> vista a inter<strong>de</strong>pendência organizacional crescente, as organizações<br />

ampliam as relações interorganizacionais à procura <strong>de</strong> cooperação mútua.<br />

Isso contribui para o <strong>de</strong>senvolvimento das transações e com as perspectivas<br />

das possibilida<strong>de</strong>s organizacionais. Geralmente, a ação voltada<br />

para a colaboração po<strong>de</strong> ser tanto reativa, numa tentativa <strong>de</strong> reagir às<br />

pressões ambientais, quanto proativa, procurando antecipar-se à cooperação<br />

(ALMEIDA, SILVA FILHO; ALMEIDA JUNIOR, 1998). Logo, compreen<strong>de</strong>-se<br />

que o campo para a a<strong>de</strong>quada análise das relações<br />

interorganizacionais está no estudo das ca<strong>de</strong>ias produtivas que <strong>de</strong>lineiam,<br />

cada um sua forma, as configurações mais amplas das áreas <strong>de</strong><br />

atuação das <strong>em</strong>presas.<br />

Uma dos mais relevantes conceitos para as organizações está na<br />

i<strong>de</strong>ntificação precisa <strong>de</strong> sua área <strong>de</strong> atuação, ou seja, a essência do negócio<br />

no ambiente produtivo <strong>em</strong> que se situa. A ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, por<br />

sua vez, po<strong>de</strong> representar todo o processo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado setor pro-<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

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34<br />

Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />

dutivo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a extração da matéria-prima até a venda ao consumidor<br />

final. O centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> relacionamentos po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

como o posicionamento da <strong>em</strong>presa na fase <strong>em</strong> que ela se encontra<br />

na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção (GALBRAITH, 2001). O presente estudo<br />

consi<strong>de</strong>ra os seis períodos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção apresentados por<br />

Galbraith (2001) e Normann e Ramirez (1993), como:<br />

a) extração <strong>de</strong> matéria-prima (manufatura primária);<br />

b) produção padronizada;<br />

c) produção <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> material primário, já como produto acabado;<br />

d) produção <strong>de</strong> produtos resultantes do valor agregado, geralmente<br />

por meio do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos, patente e produtos<br />

exclusivos;<br />

e) inclusão <strong>de</strong> marketing, fortalecimento da marca e sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

distribuição;<br />

f) varejistas que contam com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contato direto com<br />

os consumidores finais.<br />

Galbraith (2001) sugere dois pontos <strong>de</strong> referência conceitual na<br />

ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, estabelecendo as características fluxo acima e fluxo<br />

abaixo, metaforicamente <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com o fluxo <strong>de</strong> um rio a partir<br />

<strong>de</strong> sua fonte <strong>em</strong> direção à foz. As organizações <strong>em</strong> cada um dos fluxos<br />

acima, <strong>em</strong> direção à fonte, ou abaixo, direção à foz, são entida<strong>de</strong>s diferentes.<br />

Segundo o autor, os fatores <strong>de</strong> sucesso e a formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

relacionamentos, b<strong>em</strong> como a forma <strong>de</strong> gestão, a estrutura e a cultura,<br />

são completamente diferentes nas <strong>em</strong>presas situadas <strong>em</strong> diferentes etapas<br />

– fluxo acima ou abaixo – da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção.<br />

Os períodos do fluxo acima agregam valor ao reduzir a matériaprima<br />

a produtos padronizados. Em tal fase, a finalida<strong>de</strong> é produzir matérias-primas<br />

flexíveis e previsíveis e intermediar produtos dos quais uma<br />

varieda<strong>de</strong> cada vez maior <strong>de</strong> fluxo abaixo é fabricada. Os períodos do<br />

fluxo abaixo agregam valor por meio <strong>de</strong> produtos que atendam às necessida<strong>de</strong>s<br />

dos mais diversos usuários. O valor fluxo abaixo é agregado por<br />

meio da pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento, do posicionamento do produto, do<br />

acesso por canais <strong>de</strong> marketing e da comunicação (GALBRAITH, 2001).<br />

O centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da posição que a <strong>em</strong>presa ocupa<br />

nos elos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong> acordo com Galbraith (2001, p. 134),<br />

“[...] é a seqüência <strong>de</strong> etapas que, partindo dos insumos, vai agregando<br />

valor até chegar ao produto ou serviço final.”<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

Porter (1989) enten<strong>de</strong> por elos as relações <strong>de</strong> interligação e<br />

inter<strong>de</strong>pendências entre os atores da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. A ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

produção também po<strong>de</strong> ser, genericamente, visualizada no que o mesmo<br />

autor (1989, p. 33) conceitua como ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor, “[...] a reunião <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s que são executadas para projetar, produzir, comercializar, entregar<br />

e sustentar um produto.” Assim, para o a<strong>de</strong>quado direcionamento<br />

do processo é necessário <strong>de</strong>compor as etapas <strong>de</strong> formação do produto,<br />

para que sejam visualizadas as incidências <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> valor. Nenhum<br />

produto ou serviço existe s<strong>em</strong> que tenha feito parte <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s. Isso implica afirmar que uma <strong>em</strong>presa é parte <strong>de</strong> elos complexos<br />

<strong>de</strong> relações e não t<strong>em</strong> condições <strong>de</strong>, isolada, prover todos os recursos<br />

necessários a seu funcionamento.<br />

Dessa forma, o modo como as ativida<strong>de</strong>s do fornecedor são executadas,<br />

afetam o custo e a capacida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s das <strong>de</strong>mais <strong>em</strong>presas<br />

participantes, e vice-versa, pois os fornecedores produz<strong>em</strong> o que<br />

é <strong>em</strong>pregado por outra <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> suas ativida<strong>de</strong>s. Os elos entre as<br />

ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> valores das <strong>em</strong>presas propiciam oportunida<strong>de</strong>s, a fim <strong>de</strong> que<br />

ambas possam conquistar vantagens competitivas. A criação <strong>de</strong> valor, no<br />

produto final, po<strong>de</strong> ocorrer internamente na organização, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esta<br />

possua todas as etapas do processo produtivo.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor, é possível i<strong>de</strong>ntificar os elos mais<br />

frágeis existentes no processo produtivo, possibilitando que se encontre<br />

alternativa que proporcione condições para a manutenção da ca<strong>de</strong>ia, evitando<br />

que se rompa a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção necessária para ultimar o produto<br />

ou serviço (PORTER, 1989; FERNANDES, 2000).<br />

A sugestão <strong>de</strong> Galbraith (2001, p. 136) para a análise <strong>de</strong> opções<br />

e <strong>de</strong>cisões estratégicas po<strong>de</strong> estar na “[...] integração vertical <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

seu setor.” Em <strong>de</strong>terminadas condições, a <strong>em</strong>presa po<strong>de</strong> fortalecer suas<br />

relações para etapas anteriores ou posteriores do negócio, para garantir<br />

fontes <strong>de</strong> suprimento e relacionar-se com ativida<strong>de</strong>s mais próximas<br />

dos clientes finais para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> novas oportunida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> novos produtos. Mover-se nas relações para frente, no<br />

sentido do cliente, po<strong>de</strong> garantir mercado e auto-alimentação com dados<br />

sobre novos produtos, fortalecendo o pensamento <strong>de</strong> investigações<br />

que sustentam o relacionamento interorganizacional como fonte <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong><br />

e aprendizag<strong>em</strong> e, assim, <strong>de</strong> vantag<strong>em</strong> competitiva. Dessa<br />

forma, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionar-se constitui recurso indispensável para<br />

organizações que preten<strong>de</strong>m ter acesso a capacida<strong>de</strong>s e competências<br />

compl<strong>em</strong>entares (LIPPARINI; CAZZOLA; PISTARELLI; BARRUCCI, 2000;<br />

ARAÚJO, 2000).<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

35


36<br />

Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />

As buscas por relacionamentos com fornecedores mais integrados<br />

<strong>em</strong> seus negócios facilitam o processo <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> soluções para a<br />

obtenção <strong>de</strong> melhores resultados <strong>em</strong> seus mercados pela redução <strong>de</strong><br />

custos e diferenciação, <strong>em</strong> face das inúmeras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alternativas<br />

<strong>de</strong> consumo (RIBEIRO; GRISI; SALIBY, 1999).<br />

Várias abordagens das relações interorganizacionais suger<strong>em</strong> que<br />

estas <strong>de</strong>vam ser primordialmente <strong>de</strong> cooperação. Para que haja cooperação,<br />

é necessária a troca <strong>de</strong> informações entre as várias <strong>em</strong>presas dos<br />

elos para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma visão estratégica comum, <strong>de</strong>marcação<br />

das áreas <strong>de</strong> atuação, análise conjunta dos probl<strong>em</strong>as, soluções conjuntas<br />

e <strong>de</strong>finição das contribuições <strong>de</strong> cada um dos atores envolvido<br />

(CASAROTTO FILHO; PIRES, 1999) para o melhor aproveitamento dos<br />

conceitos imbuídos na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor. Um grupo <strong>de</strong> pesquisadores, coor<strong>de</strong>nados<br />

por Trist (1983), conforme refer<strong>em</strong> Cândido e Abreu (2000),<br />

suger<strong>em</strong> que no mundo organizacional a colaboração po<strong>de</strong> ser tão constante<br />

como a competição.<br />

N<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre as parcerias entre os atores da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor ocorr<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> maneira linear e seqüencial. As parcerias po<strong>de</strong>m incidir sobre mais<br />

<strong>de</strong> um elo da ca<strong>de</strong>ia. Na opinião <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s (2000, p. 3): “A partir do<br />

momento que uma <strong>em</strong>presa percebe os benefícios da aliança, é freqüente<br />

que se adote iniciativas <strong>de</strong>sta natureza <strong>em</strong> outros elos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

valor, envolvendo novos parceiros.”<br />

Dessa forma, a estratégia principal <strong>de</strong> uma organização está<br />

centrada na configuração e reconfiguração <strong>de</strong> seus relacionamentos e<br />

sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> negócios (NORMANN; RAMIREZ, 1993). A configuração dos<br />

relacionamentos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da proximida<strong>de</strong> da <strong>em</strong>presa com as ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> seus fornecedores, fornecedores potenciais, clientes e competidores<br />

(MARTINELLI; VICHI, 1999, p. 2). Assim, a vantag<strong>em</strong> competitiva e sua<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, também po<strong>de</strong>m ser provenientes das relações entre os<br />

elos e suas ativida<strong>de</strong>s, da mesma forma que provêm da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada<br />

uma das <strong>em</strong>presas. As habilida<strong>de</strong>s para coor<strong>de</strong>nar os elos <strong>de</strong> relacionamento<br />

<strong>de</strong> uma mesma ca<strong>de</strong>ia geralmente culminam na redução <strong>de</strong> custos<br />

ou aumento da estratégia <strong>de</strong> diferenciação.<br />

Os motivos que levam ao relacionamento não são suficientes para<br />

ajudar a enten<strong>de</strong>r, na totalida<strong>de</strong>, toda a dinâmica socioeconômica que<br />

envolve as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento. Os benefícios auferidos da capacida<strong>de</strong><br />

interna <strong>de</strong> formação e manutenção dos relacionamentos, somados<br />

com a colaboração externa, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser vistos como essenciais para a<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

formação e manutenção das re<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>ndo envolver vantagens para as<br />

organizações: redução <strong>de</strong> custos, compartilhamento <strong>de</strong> recursos e informações<br />

e, até mesmo, facilida<strong>de</strong>s no processo <strong>de</strong> inovação.<br />

A percepção <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> vantagens por parte dos atores é um<br />

dos fatores indispensáveis para a estabilida<strong>de</strong> dos relacionamentos <strong>em</strong><br />

re<strong>de</strong> (LOPES; MORAES, 2000; MARIZ; MEDEIROS, 2000; BULGACOV;<br />

VERDU, 2000). Para que o relacionamento interorganizacional se efetive,<br />

é imprescindível que haja competências específicas que possam ser<br />

compl<strong>em</strong>entares às já existentes: <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> relacionar-se e <strong>de</strong> cooperação,<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orientação, investimentos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e recursos pelas<br />

partes e possível divisão <strong>de</strong> riscos e <strong>de</strong> adaptabilida<strong>de</strong>. Dev<strong>em</strong> existir<br />

características comuns entre os atores, como, por ex<strong>em</strong>plo, objetivos claramente<br />

<strong>de</strong>finidos no que tange ao objeto foco do relacionamento, compreensão<br />

dos diferentes papéis dos atores envolvidos, funções e competências<br />

<strong>de</strong> cada participante, um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> comunicação aberto e transparente<br />

e o compartilhamento <strong>de</strong> valores entre as organizações envolvidas<br />

(SCHOMMER, 2000). Esses fatores presentes perpetuam os relacionamentos<br />

duradouros.<br />

Dessa forma, para efeito <strong>de</strong> investigação, as relações estratégicas<br />

da estrutura <strong>de</strong> relacionamento são consi<strong>de</strong>radas como relacionamentos<br />

sociais e econômicos predispostos à condução <strong>de</strong> ações racionais,<br />

que tenham significado estratégico para as partes e persistam ao<br />

longo do t<strong>em</strong>po, preservando a autonomia individual. O significado<br />

organizacional refere-se aos relacionamentos interorganizacionais mantidos<br />

pelos dirigentes dos diferentes níveis das organizações, cujos efeitos<br />

sejam sentidos por um longo período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e afet<strong>em</strong> a organização<br />

<strong>de</strong> várias maneiras, focalizando e/ou <strong>de</strong>stinando uma porção expressiva<br />

<strong>de</strong> recursos na direção do resultado esperado, procurando criar condição<br />

favorável <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> e, conseqüent<strong>em</strong>ente, melhorar o retorno<br />

sobre o investimento por meio <strong>de</strong> alternativa que explore as competências<br />

essenciais e tornando o crescimento possível (PRAHALAD;<br />

HAMEL, 1998; ALMEIDA; SILVA FILHO; ALMEIDA JUNIOR, 1998;<br />

ANSOFF; McDONNELL, 1993; MINTZBERG, 2001; ANDREWS, 2001).<br />

Para fins <strong>de</strong>ssa investigação serão consi<strong>de</strong>rados os critérios que sustentam<br />

o julgamento para a seleção das <strong>em</strong>presas que faz<strong>em</strong> parte do relacionamento<br />

interorganizacional das industrias investigadas. A seguir, após<br />

a exposição dos fundamentos teóricos, apresenta-se a metodologia <strong>de</strong><br />

pesquisa utilizada para o levantamento <strong>de</strong> dados e para a análise.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

37


38<br />

3 METODOLOGIA<br />

Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />

Este estudo busca i<strong>de</strong>ntificar a existência do relacionamento<br />

interorganizacional <strong>de</strong> cinco <strong>em</strong>presas industriais, procurando <strong>de</strong>tectar<br />

se os relacionamentos existentes estão <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com o<br />

posicionamento estratégico assumido, levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração os estudos<br />

sobre ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor e centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> e<br />

tomando a orientação teórica sobre essas condições, como pr<strong>em</strong>issas<br />

que possam contribuir para a sustentabilida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas.<br />

A investigação po<strong>de</strong> ser caracterizada como pesquisa do tipo<br />

multicaso, com utilização <strong>de</strong> múltiplas fontes <strong>de</strong> evidência e <strong>de</strong> perspectiva<br />

transversal. O levantamento <strong>de</strong> dados foi realizado por meio <strong>de</strong> procedimentos<br />

<strong>de</strong>scritivo-qualitativos para a caracterização dos aspectos subjetivos,<br />

como as percepções e as relações. O <strong>de</strong>senvolvimento da etapa<br />

resultou da análise <strong>de</strong> conteúdo <strong>de</strong> fontes primárias e análise <strong>de</strong><br />

congruência qualitativa do conjunto dos dados utilizados.<br />

A coleta dos dados primários ocorreu por entrevista com uso <strong>de</strong> roteiro<br />

s<strong>em</strong>i-estruturado. A observação no local, on<strong>de</strong> o trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido,<br />

b<strong>em</strong> como as observações das reações dos entrevistados também serviram<br />

como subsídios aos dados <strong>de</strong> análise. O nível <strong>de</strong> análise é o<br />

organizacional e a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise é constituída pelos dirigentes das <strong>em</strong>presas<br />

pesquisadas. Como critério <strong>de</strong> validação dos resultados da pesquisa,<br />

dada a metodologia <strong>em</strong>pregada, limitada aos estudos <strong>de</strong> casos investigados,<br />

foi levada <strong>em</strong> conta apenas a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua transferibilida<strong>de</strong>,<br />

mas não sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> generalização (SELLTIZ et al., 1987).<br />

Uma das principais limitações <strong>de</strong>ssa investigação se assentou nas<br />

diferentes possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação por parte dos respon<strong>de</strong>ntes e<br />

dos pesquisadores. A busca pela redução <strong>de</strong> seus efeitos se <strong>de</strong>u pela<br />

aplicação cuidadosa dos procedimentos metodológicos com a utilização<br />

da triangulação dos dados.<br />

4 CASOS INVESTIGADOS<br />

As <strong>em</strong>presas investigadas estão situadas na região da Associação<br />

dos Municípios do Vale do Ivaí (AMUVI), uma das microrregiões administrativas<br />

<strong>em</strong> que está dividido o Estado do Paraná, localizada no centro-norte<br />

do Estado, composta <strong>de</strong> 26 municípios, ocupando uma região<br />

territorial <strong>de</strong> 109.669,53 km 2 , com uma população estimada <strong>de</strong> 326.562<br />

habitantes (VANZELLA, 2000; IPARDES, 1998).<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

As <strong>em</strong>presas foram escolhidas intencionalmente pela acessibilida<strong>de</strong>,<br />

período <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> cinco anos <strong>de</strong> atuação na área,<br />

possuir mais <strong>de</strong> 30 funcionários e pela representativida<strong>de</strong> social na comunida<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>presarial regional. Investigações <strong>em</strong>píricas no Estado do<br />

Paraná revelam que gran<strong>de</strong> parte das <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> pequeno porte possui<br />

essas mesmas características (IPARDES, 1998).<br />

4.1 APRESENTAÇÃO DOS CASOS E ANÁLISE DOS DADOS<br />

A região da AMUVI não congrega um pólo industrial significativo<br />

para o Estado do Paraná. As <strong>em</strong>presas ali instaladas são todas <strong>de</strong> micro<br />

ou pequeno porte, e a maior concentração é <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas com menos <strong>de</strong><br />

três anos <strong>de</strong> existência. No entanto, representa <strong>em</strong> seu conjunto importante<br />

alternativa <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, geração <strong>de</strong> renda e impostos. Poucas são<br />

as que se enquadram no perfil proposto na metodologia <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>ste<br />

estudo (Fonte: ACIs, prefeituras, li<strong>de</strong>ranças municipais e Sebrae). As<br />

<strong>em</strong>presas pesquisadas possu<strong>em</strong> características comuns que segu<strong>em</strong> os<br />

pré-requisitos <strong>de</strong>finidos na metodologia <strong>de</strong> pesquisa, conforme o quadro<br />

abaixo.<br />

CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS PESQUISADAS<br />

Nº RAMO<br />

A<br />

B<br />

C<br />

D<br />

E<br />

indústria<br />

<strong>de</strong> ração<br />

indústria <strong>de</strong><br />

confecção<br />

indústria <strong>de</strong><br />

aguar<strong>de</strong>nte<br />

indústria<br />

<strong>de</strong> doces<br />

indústria <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>butidos<br />

FUNCIO-<br />

NÁRIOS<br />

43<br />

40<br />

74<br />

34<br />

31<br />

FONTE: dados da pesquisa.<br />

TIPO DE<br />

TECNOLOGIA<br />

EMPREGADA<br />

utilização <strong>de</strong><br />

equipamentos<br />

s<strong>em</strong>i-automáticos<br />

produção <strong>em</strong> série<br />

<strong>em</strong> célula única<br />

utilização <strong>de</strong><br />

equipamentos<br />

s<strong>em</strong>i-automáticos<br />

produção <strong>em</strong> série,<br />

com parte artesanal<br />

produção <strong>em</strong> série,<br />

com parte artesanal<br />

MATÉRIA-PRIMA<br />

PRINCIPAL<br />

TEMPO DE<br />

EXISTÊNCIA<br />

milho e soja 5 anos<br />

tecido<br />

cana-<strong>de</strong>-açúcar<br />

leite e açúcar<br />

carnes bovina<br />

e suína<br />

23 anos<br />

20 anos<br />

5 anos<br />

8 anos<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

39


40<br />

Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />

A fim <strong>de</strong> apresentar os resultados da pesquisa, a análise dos dados<br />

foi <strong>de</strong>lineada pelas seguintes parâmetros: i<strong>de</strong>ntificação do período<br />

que as <strong>em</strong>presas ocupam na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, i<strong>de</strong>ntificação das <strong>em</strong>presas<br />

envolvidas nos relacionamentos interorganizacionais, análise dos<br />

critérios para a seleção das organizações dos relacionamentos preferenciais,<br />

análise da congruência existente entre os relacionamentos interorganizacionais<br />

e o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da <strong>em</strong>presa.<br />

Foram substituídos os nomes originais das <strong>em</strong>presas pesquisadas<br />

por indicações fictícias e classificadas como <strong>em</strong>presa A, B, C, D e E. A<br />

verificação dos dados ocorreu individualmente, seguindo as perguntas <strong>de</strong><br />

pesquisa <strong>de</strong> cada um dos objetivos específicos. Para efeito da <strong>de</strong>scrição<br />

<strong>de</strong>ste trabalho, é apresentada a analise comparativa <strong>de</strong> forma sumarizada<br />

entre todas as <strong>em</strong>presas pesquisadas.<br />

COMPARATIVO DOS RELACIONAMENTOS ESTRATÉGICOS<br />

DAS EMPRESAS PESQUISADAS<br />

Nº<br />

A<br />

B<br />

C<br />

D<br />

E<br />

RELACIONAMENTOS<br />

FLUXO ACIMA<br />

37,50%<br />

42,12%<br />

52,94%<br />

22,22%<br />

42,85%<br />

FONTE: dados da pesquisa.<br />

RELACIONAMENTOS<br />

FLUXO ABAIXO<br />

31,35%<br />

47,36%<br />

70,58%<br />

55,58%<br />

14,30%<br />

Os dados quantitativos <strong>de</strong>monstram a não-existência <strong>de</strong> evidências<br />

<strong>de</strong> que existam características comuns que permitam explicar as formas<br />

<strong>de</strong> relacionamento interorganizacional adotada pelas <strong>em</strong>presas. Essa<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> direcionamento dos relacionamentos interorganizacionais<br />

sugere que não existe mo<strong>de</strong>lo único seguido pelas <strong>em</strong>presas pesquisadas.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

RELACIONAMENTOS FORA<br />

DA CADEIA DE SUPRIMENTOS<br />

31,25%<br />

10,52%<br />

11,76%<br />

22,22%<br />

42,85%


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

Comparando-se os resultados, buscou-se i<strong>de</strong>ntificar um perfil que<br />

pu<strong>de</strong>sse estar influenciando a forma <strong>de</strong> relacionamento encontrada. Observando-se<br />

a ida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas, constata-se que duas <strong>de</strong>las possu<strong>em</strong><br />

mais <strong>de</strong> 20 anos, e a similarida<strong>de</strong> encontrada, quanto aos relacionamentos,<br />

está no direcionamento <strong>de</strong>sses para <strong>em</strong>presas que façam parte da<br />

ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. Esse fato leva à conclusão <strong>de</strong> que <strong>em</strong>presas mais<br />

antigas procuram se relacionar mais fort<strong>em</strong>ente com as que faz<strong>em</strong> parte<br />

da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. Essas duas <strong>em</strong>presas relacionam-se somente<br />

com o elo imediatamente inferior ou superior da ca<strong>de</strong>ia, assim como as<br />

<strong>de</strong>mais <strong>em</strong>presas, o que <strong>de</strong>monstra a pouca importância dada à ca<strong>de</strong>ia<br />

como um todo, não acusando a influência que os <strong>de</strong>mais elos da ca<strong>de</strong>ia<br />

possam exercer sobre os resultados da <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> questão.<br />

Os dados qualitativos obtidos por intermédio <strong>de</strong> entrevistas e observações<br />

permitiram i<strong>de</strong>ntificar evidências <strong>de</strong> que não há outras variáveis<br />

relacionadas às características organizacionais que estejam afetando<br />

as formas <strong>de</strong> relacionamento, além das condições cognitivas dos dirigentes<br />

pela ausência <strong>de</strong> instrumentos burocráticos e <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> relacionamento.<br />

Sendo assim, a base dos relacionamentos das <strong>em</strong>presas está<br />

enraizada no comportamento e nas ações <strong>de</strong> seus dirigentes, cujo perfil<br />

está diretamente ligado à forma <strong>de</strong> atuação e ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> relacionamento<br />

interorganizacional mantido.<br />

4.2 CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA SELEÇÃO DOS ATORES DA<br />

ESTRUTURA DE RELACIONAMENTO<br />

Conforme estabelecido nos procedimentos <strong>de</strong> pesquisa, a seguir<br />

<strong>de</strong>monstram-se os critérios utilizados para a seleção das <strong>em</strong>presas que<br />

constitu<strong>em</strong> a estrutura <strong>de</strong> relacionamento das organizações pesquisadas.<br />

Os motivos foram i<strong>de</strong>ntificados como expectativas e situações potenciais<br />

<strong>de</strong> relacionamentos que possam influenciar na ampliação do valor da produção<br />

da <strong>em</strong>presa focalizada na investigação. A freqüência geral <strong>de</strong>termina<br />

a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importância dada à organização e seu posicionamento<br />

<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> fluxo acima ou fluxo abaixo na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor. I<strong>de</strong>ntificaram-se<br />

também os relacionamentos fora da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

41


42<br />

Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />

MOTIVOS DOS RELACIONAMENTOS INTERORGANIZACIONAIS<br />

DAS EMPRESAS PESQUISADAS<br />

EXPECTATIVAS<br />

E SITUAÇÕES<br />

POTENCIAIS<br />

PARA AMPLIAÇÃO<br />

DO VALOR<br />

integração com<br />

a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

produção para<br />

garantir suprimento<br />

e volume<br />

relação com<br />

clientes e<br />

intermediários<br />

no mercado<br />

FREQÜÊNCIA<br />

GERAL<br />

FREQÜÊNCIA<br />

NOS RELACIO-<br />

NAMENTOS COM<br />

FLUXO ACIMA<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

FREQÜÊNCIA<br />

NOS RELACIO-<br />

NAMENTOS COM<br />

FLUXO ABAIXO<br />

16 14 2*<br />

13 13<br />

FREQÜÊNCIA<br />

NOS RELACIO-<br />

NAMENTOS FORA<br />

DA CADEIA<br />

redução <strong>de</strong> custo 12 9 3<br />

comercialização<br />

<strong>em</strong> volume<br />

geração <strong>de</strong><br />

conhecimento<br />

aumento da<br />

marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> lucro<br />

aumento do po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> barganha /<br />

negociação<br />

aumento do<br />

potencial <strong>de</strong><br />

obtenção <strong>de</strong><br />

informações<br />

(facilitar o acesso<br />

a informações)<br />

compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> recursos<br />

financeiros<br />

utilização a<br />

capacida<strong>de</strong> ociosa<br />

integração vertical<br />

com a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

produção para<br />

obtenção <strong>de</strong><br />

informações <strong>em</strong><br />

forma <strong>de</strong> feedback<br />

solução para<br />

soluções<br />

específicas<br />

11 9<br />

2<br />

11 7 3<br />

1<br />

11<br />

8 3<br />

7 1 5<br />

1<br />

7<br />

5 2<br />

5 3 1<br />

1<br />

4 2 1<br />

1<br />

4<br />

4<br />

3 1<br />

2 1


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

EXPECTATIVAS<br />

E SITUAÇÕES<br />

POTENCIAIS<br />

PARA AMPLIAÇÃO<br />

DO VALOR<br />

aquisição com<br />

ganho <strong>em</strong> escala<br />

compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> competências<br />

específicas<br />

aumento da<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

inovação<br />

viabilização<br />

<strong>de</strong> promoções<br />

conjuntas<br />

facilitar acesso<br />

à assistência<br />

técnica<br />

otimização dos<br />

recursos do<br />

marketing<br />

diluição/divisão<br />

<strong>de</strong> riscos<br />

aproveitamento<br />

<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong><br />

enfrentamento<br />

<strong>de</strong> ameaças<br />

ambientais<br />

fortalecimento<br />

da marca<br />

ampliação do<br />

potencial <strong>de</strong><br />

percepção <strong>de</strong><br />

oportunida<strong>de</strong>s e<br />

ameaças<br />

melhoria da<br />

qualida<strong>de</strong><br />

dos produtos<br />

obtenção <strong>de</strong><br />

representativida<strong>de</strong><br />

redução <strong>de</strong> custo<br />

pela aquisição <strong>de</strong><br />

mercadoria<br />

FREQÜÊNCIA<br />

GERAL<br />

FONTE: dados da pesquisa.<br />

3<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

FREQÜÊNCIA<br />

NOS RELACIO-<br />

NAMENTOS COM<br />

FLUXO ACIMA<br />

(*) Empresa “C” que se relaciona com atores que ao mesmo t<strong>em</strong>po são clientes e<br />

fornecedores<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

3<br />

1 1<br />

2<br />

2<br />

1<br />

1<br />

FREQÜÊNCIA<br />

NOS RELACIO-<br />

NAMENTOS COM<br />

FLUXO ABAIXO<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

FREQÜÊNCIA<br />

NOS RELACIO-<br />

NAMENTOS FORA<br />

DA CADEIA<br />

2<br />

1<br />

1<br />

43


44<br />

Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />

Os dados <strong>de</strong>monstram, quantitativamente, os principais motivos<br />

que conduz<strong>em</strong> os relacionamentos interorganizacionais das <strong>em</strong>presas<br />

pesquisadas. As interações com as <strong>em</strong>presas da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção,<br />

orientada para garantir as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suprimento, foi i<strong>de</strong>ntificada<br />

16 vezes durante as entrevistas, revelando que existe a preocupação por<br />

parte dos dirigentes com a continuida<strong>de</strong> dos relacionamentos para a manutenção<br />

do fornecimento <strong>de</strong> insumos. Esse fato po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

óbvio, quando se constata a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> suprimento por<br />

todas as <strong>em</strong>presas.<br />

As relações com o mercado e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar ótima a<br />

ação <strong>em</strong>presa nos intermediários com o mercado são o segundo motivo<br />

que impulsiona os relacionamentos interorganizacionais. Observou-se,<br />

no entanto, qualitativamente, que os gestores não perceb<strong>em</strong>, nos relacionamentos<br />

com os agentes fluxo abaixo, todas as oportunida<strong>de</strong>s para<br />

o melhor aproveitamento da proximida<strong>de</strong> com o mercado ou absorção<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los ou ferramentas que possibilitam melhorar sua atuação no<br />

mercado.<br />

Quanto à relação <strong>de</strong> importância dos motivos dos relacionamentos,<br />

na seqüência surgiram a redução <strong>de</strong> custo, a comercialização <strong>em</strong><br />

volume e o aumento da marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> lucro, <strong>de</strong>monstrando que há pouca<br />

absorção dos benefícios a ser<strong>em</strong> obtidos com a melhoria das relações<br />

próximas com o mercado. Entretanto, percebe-se orientação restrita para<br />

os relacionamentos dirigidos a ganhos imediatos, que serão auferidos<br />

com os fornecedores fluxo acima, buscando possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ganhos <strong>de</strong><br />

curto prazo com a redução <strong>de</strong> custos, aumento do volume <strong>de</strong> produção e<br />

comercialização.<br />

A geração <strong>de</strong> conhecimento foi <strong>de</strong>stacada 11 vezes, o que <strong>de</strong>monstra<br />

a percepção dos dirigentes <strong>em</strong> tornar ótimo o conhecimento já<br />

existente na ca<strong>de</strong>ia e <strong>em</strong> buscar absorvê-lo por meio dos relacionamentos<br />

com atores <strong>de</strong>ntro e fora da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. Das 11 vezes <strong>em</strong><br />

que foi mencionada a geração <strong>de</strong> conhecimento, 5 referiam-se a relacionamentos<br />

com atores que estão fora da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, como cursos<br />

profissionalizantes e participação <strong>em</strong> feiras e associações <strong>de</strong> classe.<br />

Os principais critérios <strong>de</strong> escolha são, mais uma vez, tipicamente<br />

direcionados para o fluxo na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. É o caso dos relacionamentos<br />

motivados pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração vertical com a ca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> produção para garantir suprimento e volume, sendo essa uma preocupação<br />

típica <strong>de</strong> relacionamento fluxo acima. Observou-se que, por duas<br />

vezes, foram mencionados como fluxo abaixo. É que se trata da <strong>em</strong>presa<br />

pesquisada, <strong>em</strong> que o mesmo ator exerce o papel <strong>de</strong> fornecedor e <strong>de</strong><br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

cliente. Em conformida<strong>de</strong> com os propósitos do trabalho, na seqüência<br />

apresenta-se o quadro com os critérios <strong>de</strong> seleção e as respectivas freqüências<br />

verificadas.<br />

CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DOS ATORES DO RELACIONAMENTO<br />

INTERORGANIZACIONAL DAS EMPRESAS<br />

CRITÉRIOS PARA<br />

SELEÇÃO DOS<br />

ATORES DO<br />

RELACIONAMENTO<br />

INTERORGANIZACIONAL<br />

FREQÜÊNCIA<br />

9 lealda<strong>de</strong> 32<br />

12 15 5<br />

12 compartilhamento <strong>de</strong> cultura 10<br />

2 8<br />

1 <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> cooperar 8<br />

3 4<br />

FONTE: dados da pesquisa.<br />

RELACIONA-<br />

MENTOS<br />

FLUXO<br />

ACIMA<br />

RELACIONA-<br />

MENTOS<br />

FLUXO<br />

ABAIXO<br />

RELACIONA-<br />

MENTOS<br />

FORA DA<br />

CADEIA<br />

5 confiança 26<br />

13 5 8<br />

comunicação aberta e<br />

4<br />

transparente<br />

14<br />

4 8 2<br />

14 reputação 14<br />

6 2 6<br />

16<br />

histórico <strong>de</strong> relacionamentos<br />

interorganizacionais<br />

duradouros ao longo do<br />

t<strong>em</strong>po (conhecimento mútuo)<br />

14<br />

5 9<br />

2 comunicação/contato/acesso 12<br />

3 9<br />

3<br />

metas claras e comuns<br />

baseadas no benefício mútuo<br />

12<br />

5 7<br />

8 comprometimento 12<br />

3 5 4<br />

15 inter<strong>de</strong>pendência 12<br />

1 10<br />

participação da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

18<br />

produção – cliente<br />

11<br />

11<br />

nível <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>cisão<br />

7 10 2 8<br />

s<strong>em</strong>elhantes<br />

participação da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

17 8 8<br />

produção – fornecedores<br />

10 reciprocida<strong>de</strong><br />

5<br />

1 2<br />

existência <strong>de</strong> características<br />

11 4 2 1 1<br />

comuns<br />

13 conhecimento mútuo<br />

2<br />

1 1<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

1<br />

2<br />

45


46<br />

Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />

Quanto aos critérios utilizados para a seleção dos atores dos relacionamentos<br />

interorganizacionais, percebe-se que a lealda<strong>de</strong> foi mencionada<br />

32 vezes durante as entrevistas, o que <strong>de</strong>monstra que essa é uma<br />

exigência imprescindível para os relacionamentos. Os dados da pesquisa<br />

<strong>de</strong>monstram que a lealda<strong>de</strong> é exigência para os relacionamentos fluxo<br />

acima como para os <strong>de</strong> fluxo abaixo e nos relacionamentos mantidos fora<br />

da ca<strong>de</strong>ia.<br />

A confiança é o segundo critério <strong>de</strong> escolha para seleção dos atores<br />

dos relacionamentos interorganizacionais, principalmente nos fluxo<br />

acima, nos quais a confiança foi mencionada 13 vezes. Em seguida foi 8<br />

vezes nos relacionamentos com atores não pertencentes à ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção.<br />

Por fim, foi mencionada 5 vezes nos com o fluxo abaixo, totalizando<br />

26 menções exaltando a confiança como um dos critérios relevantes para<br />

a existência <strong>de</strong> tais relacionamentos. Assim a lealda<strong>de</strong> e a confiança foram<br />

os principais critérios utilizados como base para o relacionamento.<br />

Como as relações ten<strong>de</strong>m a manter-se informais, pela ausência<br />

significativa <strong>de</strong> condições burocráticas para sua formalização, <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> e<br />

evi<strong>de</strong>nciam a exigência da lealda<strong>de</strong> e da confiança como principal atributo<br />

e expectativa das relações interorganizacionais. Na seqüência, aparec<strong>em</strong><br />

a comunicação aberta, a reputação e a vivência <strong>de</strong> relacionamentos<br />

duradouros ao longo do t<strong>em</strong>po como critérios <strong>de</strong> escolha dos atores dos<br />

relacionamentos estratégicos, confirmando os atributos anteriores. Os três<br />

critérios foram mencionados 14 vezes, sendo a comunicação aberta exigida<br />

mais freqüent<strong>em</strong>ente nos relacionamentos fluxo abaixo; a reputação<br />

exigida com mais ênfase nos relacionamentos fluxo acima e fora da ca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> produção e a vivência <strong>de</strong> relacionamentos duradouros foi mais<br />

exigida nos relacionamentos fluxo abaixo. A comunicação, o contato, o<br />

acesso, a existência <strong>de</strong> metas claras e comuns baseadas no benefício<br />

mútuo, os comprometimentos e as inter<strong>de</strong>pendências foram mencionados<br />

12 vezes cada.<br />

Como nos motivos que impulsionam os relacionamentos, os critérios<br />

<strong>de</strong> escolha também possu<strong>em</strong> alguns itens que são tipicamente<br />

direcionados para um <strong>de</strong>terminado sentido do fluxo na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção,<br />

tais como “participação na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção como fornecedor/<br />

cliente”. A confiança é o critério mais mencionado entre os relacionamentos<br />

fluxo acima, sendo l<strong>em</strong>brado 13 vezes, seguido da lealda<strong>de</strong>. Já nos<br />

relacionamento fluxo abaixo, a lealda<strong>de</strong> é evi<strong>de</strong>nciada, seguida da<br />

inter<strong>de</strong>pendência e da participação da <strong>em</strong>presa na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção<br />

na condição <strong>de</strong> cliente.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES<br />

Levando-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração os estudos sobre ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção,<br />

centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> e ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor, procurou-se i<strong>de</strong>ntificar se os<br />

relacionamentos interorganizacionais são mantidos <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com<br />

o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> ocupado na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção e seus efeitos<br />

sobre a sustentabilida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas.<br />

As análises dos dados permit<strong>em</strong> concluir, quantitativamente, que<br />

as relações interorganizacionais das cinco pequenas <strong>em</strong>presas industriais<br />

pesquisadas, segu<strong>em</strong> a lógica da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. No entanto, as<br />

verificações qualitativas dos dados permitiram constatar a superficialida<strong>de</strong><br />

do perfil das relações, quando se observou, como referência, o mo<strong>de</strong>lo<br />

ampliado <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção e ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor e suas diferentes<br />

dimensões <strong>de</strong> gestão. Observou-se que os relacionamentos<br />

interorganizacionais estão direcionados apenas para as <strong>em</strong>presas dos<br />

elos mais próximos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção e pertencentes à dimensão<br />

fluxo acima. Constatou-se que as cinco <strong>em</strong>presas pesquisadas estão na<br />

etapa 3 da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, ou seja, orientadas para a produção <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> material primário, já como produto acabado. Estão situadas<br />

no meio da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> valor – posição privilegiada e <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> relacionamento com o fluxo acima e o fluxo abaixo da<br />

ca<strong>de</strong>ia. Verificou-se, no entanto, que as relações constituídas enfatizam<br />

suas tendências <strong>de</strong> relações com a dimensão fluxo acima.<br />

Quantitativamente, a integração fluxo acima na ca<strong>de</strong>ia é orientada<br />

para garantir suprimento e volume, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar ótimo o mercado,<br />

redução <strong>de</strong> custos, comercialização <strong>em</strong> volume, aumento da marg<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> lucro e a geração <strong>de</strong> conhecimento estão entre os motivos mais<br />

impulsionadores dos relacionamentos. Esses aspectos caminham <strong>em</strong><br />

conformida<strong>de</strong> com as buscas por relacionamentos com fornecedores mais<br />

integrados <strong>em</strong> seus negócios e com a facilida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> busca <strong>de</strong><br />

soluções para a obtenção <strong>de</strong> melhores resultados <strong>em</strong> seus mercados pela<br />

redução <strong>de</strong> custos e diferenciação, <strong>em</strong> face das inúmeras possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> consumo (RIBEIRO; GRISI; SALIBY, 1999). Todavia,<br />

qualitativamente, para as cinco <strong>em</strong>presas esses motivos estão claramente<br />

orientados para fatores <strong>de</strong> curto prazo e não <strong>de</strong> relacionamentos duradouros<br />

e <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> novos conhecimentos.<br />

Essas orientações caminham contrariamente às possibilida<strong>de</strong>s<br />

mais amplas <strong>de</strong> relações interorganizacionais <strong>de</strong> Galbraith (2001, p. 136)<br />

com as opções permitidas por toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. As preferências<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

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48<br />

Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />

das parcerias são lineares e seqüenciais, incidindo mais sobre um elo da<br />

ca<strong>de</strong>ia, restringindo as relações comerciais e <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> conhecimento<br />

e as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e fortalecimento da ca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> valor. Para Fernan<strong>de</strong>s, (2000, p. 3): “A partir do momento<br />

que uma <strong>em</strong>presa percebe os benefícios dos relacionamentos<br />

potencializados, é possível que se adot<strong>em</strong> iniciativas <strong>em</strong> outros elos da<br />

ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor, envolvendo novos parceiros.” De acordo com Martinelli e<br />

Vichi (1999): “A configuração dos relacionamentos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da proximida<strong>de</strong><br />

da <strong>em</strong>presa com as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus fornecedores, fornecedores<br />

potenciais, clientes e competidores.”<br />

Portanto, a vantag<strong>em</strong> competitiva e sua sustentabilida<strong>de</strong> também<br />

po<strong>de</strong>m ser provenientes das relações entre os elos e suas ativida<strong>de</strong>s, da<br />

mesma forma que provêm da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada uma das <strong>em</strong>presas. As<br />

habilida<strong>de</strong>s para coor<strong>de</strong>nar os elos <strong>de</strong> relacionamento <strong>de</strong> uma mesma<br />

ca<strong>de</strong>ia geralmente culminam na redução <strong>de</strong> custos ou aumento da diferenciação<br />

como mecanismos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Dessa forma, as ações <strong>de</strong> relacionamentos principais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar<br />

centradas na configuração e reconfiguração <strong>de</strong> seus relacionamentos e<br />

sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> negócios (NORMANN; RAMIREZ, 1993). Nesse sentido, as<br />

<strong>em</strong>presas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> fortalecer suas relações para períodos anteriores e posteriores<br />

da produção, a fim <strong>de</strong> garantir relacionamentos com fornecedores<br />

para suprimentos quantitativos e qualitativos. Dev<strong>em</strong> relacionar-se<br />

com ativida<strong>de</strong>s mais próximas dos clientes finais para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />

novas oportunida<strong>de</strong>s com aprendizag<strong>em</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos<br />

produtos e serviços que garantam sustentabilida<strong>de</strong> para a organização.<br />

As relações com as <strong>em</strong>presas do fluxo abaixo ou para frente, no<br />

sentido do consumidor final, po<strong>de</strong>m garantir aprendizag<strong>em</strong> e sustentabilida<strong>de</strong><br />

com a renovação do conhecimento com dados sobre novas necessida<strong>de</strong>s,<br />

fortalecendo o pensamento <strong>de</strong> investigações que sustentam<br />

os relacionamentos interorganizacionais como fonte <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e<br />

aprendizag<strong>em</strong> e, assim, <strong>de</strong> vantag<strong>em</strong> competitiva. Dessa forma, a gestão<br />

dos relacionamentos constitui condição fundamental para as pequenas<br />

<strong>em</strong>presas que preten<strong>de</strong>m ampliar ou reforçar suas participações nas<br />

ca<strong>de</strong>ias produtivas e garantias futuras <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Para que haja cooperação efetiva é necessária a troca <strong>de</strong> informações<br />

entre as várias <strong>em</strong>presas dos elos para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma<br />

visão estratégica comum, facilmente i<strong>de</strong>ntificada com a <strong>de</strong>marcação das<br />

áreas <strong>de</strong> atuação na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor (PORTER, 1989) e com análise conjunta<br />

dos probl<strong>em</strong>as, soluções conjuntas e <strong>de</strong>finição das contribuições <strong>de</strong><br />

cada um dos atores envolvidos (CASAROTTO FILHO; PIRES, 1999).<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

Os critérios utilizados para a seleção das <strong>em</strong>presas, enquanto<br />

expectativa e situações potenciais <strong>de</strong> relacionamentos orientados para a<br />

ampliação do valor da produção, constituindo a estrutura social dos relacionamentos<br />

das <strong>em</strong>presas pesquisadas, <strong>de</strong>monstram que a lealda<strong>de</strong> e<br />

a confiança entre os dirigentes das <strong>em</strong>presas <strong>de</strong>terminam os fundamentos<br />

das relações. Esse aspecto é explicado parcialmente, quando se constata<br />

a total ausência, nas cinco <strong>em</strong>presas, <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a eficiente, quantitativo<br />

e qualitativo <strong>de</strong> controle das relações, refletindo, assim, na <strong>de</strong>pendência<br />

das expectativas e exigências <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong> e confiança interpessoal<br />

e não organizacional. Á medida que se observam os dados individuais<br />

das <strong>em</strong>presas, é possível encontrar aspectos comuns significativos, além<br />

dos já apresentados, tais como os relacionados a seguir.<br />

I - A ausência <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as organizacionais <strong>de</strong> gestão das relações<br />

implica forte <strong>de</strong>pendência das características pessoais e<br />

cognitivas dos dirigentes. Se o dirigente dispõe <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s<br />

e características que lev<strong>em</strong> ao relacionamento interorganizacional,<br />

a <strong>em</strong>presa ten<strong>de</strong> a relacionar-se mais amplamente<br />

na ca<strong>de</strong>ia produtiva. Caso o gestor não possua essas características,<br />

a organização ten<strong>de</strong> a restringir suas relações.<br />

II - Prevalec<strong>em</strong> os acordos informais firmados nos relacionamentos<br />

interorganizacionais, mesmo por ocasião <strong>de</strong> relacionamentos<br />

estratégicos.<br />

III - A segurança é o atributo mais esperado nos relacionamentos<br />

interpessoais. Po<strong>de</strong>-se, aqui, relacionar segurança implicitamente<br />

com confiança, conforme consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Mariz;<br />

Me<strong>de</strong>iros (2000); Schommer (2000); Child (1999); Bulgacov;<br />

Verdu (2000); Peci (1999). Os dados coletados revelam a lealda<strong>de</strong><br />

como critério primordial para a existência dos relacionamentos<br />

interpessoais e, como no caso, interorganizacionais,<br />

mantidos pelos dirigentes e <strong>em</strong>presas pesquisadas.<br />

IV - Os dirigentes reduz<strong>em</strong>, pelos limites cognitivos, o potencial<br />

i<strong>de</strong>ntificado nos fundamentos das relações interorganizacionais<br />

fluxo acima e fluxo abaixo (GALBRAITH, 2001), reduzindo<br />

os limites da ca<strong>de</strong>ia para relacionamentos sociais dos<br />

parceiros imediatos.<br />

V - Os relacionamentos interorganizacionais, cujo motivo é a geração<br />

<strong>de</strong> conhecimento, são mantidos mais intensamente com<br />

os atores fluxo acima, o que evi<strong>de</strong>ncia que as <strong>em</strong>presas<br />

pesquisadas procuram obter informações <strong>em</strong> maior profusão<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.<br />

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50<br />

Relações Interorganizacionais: estudo <strong>em</strong> cinco indústrias ...<br />

com seus fornecedores. Essa afirmação se mostra contraditória<br />

com os fundamentos, uma vez que a expectativa é <strong>de</strong> que<br />

os gestores busqu<strong>em</strong> informações preferencialmente com os<br />

clientes finais para que possam a<strong>de</strong>quar-se às suas necessida<strong>de</strong>s<br />

e não às dos fornecedores.<br />

VI - Constata-se, nas <strong>em</strong>presas pesquisadas, todas pertencentes<br />

a setores competitivos, <strong>em</strong> que se constatam pressão por preço<br />

e custo, que a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção mantém relações predatórias<br />

entre os participantes, nas quais o elo da corrente fluxo<br />

abaixo pressiona os elos fluxo acima, num processo <strong>de</strong> redução<br />

da marg<strong>em</strong> e <strong>de</strong> investimento e, por conseqüência, <strong>de</strong><br />

sustentabilida<strong>de</strong>. Verifica-se forte pressão para que as <strong>em</strong>presas<br />

fluxo abaixo forneçam insumos <strong>em</strong> condições impostas.<br />

Caso contrário, busca-se outro fornecedor que as substitua.<br />

I<strong>de</strong>ntificam-se, nas <strong>em</strong>presas pesquisadas, outros fatores predatórios.<br />

As <strong>em</strong>presas, cuja condição financeira apresenta maior<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>em</strong> relação às suas parcerias, são forçadas a<br />

negociar seus insumos com fornecedores que lhes concedam<br />

crédito, <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com os preços estabelecidos pelos<br />

compradores (pressão do comprador). Esse aspecto também<br />

explica, parcialmente, a preocupação imediatista da orientação<br />

principal para o fluxo acima.<br />

VII - Em nenhum caso se constatou o propósito <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> joint<br />

ventures, arranjos produtivos locais e just-in-time.<br />

Diante <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações, apreen<strong>de</strong>-se que o relacionamento<br />

interorganizacional é um dos fatores presentes e condicionantes para a<br />

compreensão das <strong>de</strong>pendências das <strong>em</strong>presas investigadas. Este estudo<br />

confirma a relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência existente entre as organizações<br />

que compõ<strong>em</strong> uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> sua sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Dessa forma, não se po<strong>de</strong> negar que uma organização possa exercer,<br />

<strong>em</strong> maior ou menor grau, influência sobre as <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>ntro da ca<strong>de</strong>ia.<br />

Na perspectiva contingencial e na visão baseada <strong>em</strong> recursos, as<br />

exigências <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, no caso das <strong>em</strong>presas pesquisadas, suger<strong>em</strong><br />

a insuficiência na interação interorganizacional (BARNEY;<br />

HESTERLY, 1996; KAY, 1996) na busca conjunta à redução das <strong>de</strong>ficiências<br />

<strong>de</strong> recursos como forma <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> interna, com ampliação<br />

da produtivida<strong>de</strong> e da aprendizag<strong>em</strong>. Há fortes indícios <strong>de</strong> que o afastamento<br />

das exigências do mercado das <strong>em</strong>presas pesquisadas po<strong>de</strong><br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 29-54, 2005.


Angélica Galves, Sergio Bulgacov e Yara Lucia Mazziotti Bulgacov<br />

inviabilizá-las pela redução das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controle sobre as etapas<br />

mais significativas do processo produtivo.<br />

Futuros estudos sobre os relacionamentos interorganizacionais<br />

po<strong>de</strong>m abranger diferentes aspectos: os fatores promotores e dificultadores<br />

encontrados para a abertura <strong>de</strong> novos negócios, a efetivida<strong>de</strong> econômica<br />

e social nas parcerias e os mecanismos <strong>de</strong> governança dos arranjos instituídos.<br />

Outra sugestão para estudo futuro está <strong>em</strong> pesquisar o grau <strong>de</strong><br />

influência e o impacto da <strong>em</strong>presa sobre as <strong>de</strong>mais organizações. Outras<br />

contribuições <strong>de</strong> forma compl<strong>em</strong>entar são: a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> produção, possibilitando i<strong>de</strong>ntificar todos os elos que a <strong>de</strong>fin<strong>em</strong>,<br />

as características predominantes <strong>de</strong> cada elo, <strong>de</strong> modo a verificar as <strong>de</strong>scrições<br />

dos elos fluxo acima e abaixo, e a relação entre a posição no<br />

centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>. Relações mais estreitas entre os pesquisadores da<br />

área <strong>de</strong> estratégia e organizações po<strong>de</strong>riam contribuir significativamente<br />

para a busca do conhecimento, exigindo a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um conjunto<br />

<strong>de</strong> pesquisadores dispostos a <strong>em</strong>penhar-se no entendimento das relações<br />

interorganizacionais.<br />

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Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />

OLHARES CONTEMPORÂNEOS<br />

SOBRE CONSUMO EM<br />

BARES E CASAS NOTURNAS<br />

MARIA HENRIQUETA SPERANDIO GARCIA GIMENES<br />

___________________________________________________________<br />

Mestre <strong>em</strong> Sociologia pela UFPR<br />

Especialista <strong>em</strong> Planejamento e Gestão do Turismo pela UFPR<br />

Professora do Curso <strong>de</strong> Turismo da UFPR<br />

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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...


Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />

RESUMO<br />

Enten<strong>de</strong>r o consumo <strong>de</strong> bares e casas noturnas nas socieda<strong>de</strong>s cont<strong>em</strong>porâneas<br />

<strong>de</strong>manda compreen<strong>de</strong>r a própria complexida<strong>de</strong> que envolve a<br />

freqüência a esses estabelecimentos na atualida<strong>de</strong>. Nesse sentido, este<br />

artigo discute as especificida<strong>de</strong>s do consumo <strong>de</strong> tais espaços pautandose<br />

<strong>em</strong> entrevistas realizadas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba (PR) e buscando evi<strong>de</strong>nciar<br />

bares e casas noturnas não apenas como estabelecimentos voltados<br />

ao serviço <strong>de</strong> refeições, mas também como locais <strong>de</strong> lazer urbano,<br />

propícios para relacionamentos interpessoais e favoráveis para a vivência<br />

da sociabilida<strong>de</strong> nas mais diversas formas.<br />

Palavras-chave: bares, casas noturnas, consumo, lazer, sociabilida<strong>de</strong>.<br />

ABSTRACT<br />

In or<strong>de</strong>r to un<strong>de</strong>rstand bar and night club consumption in cont<strong>em</strong>porary<br />

societies it is necessary to un<strong>de</strong>rstand the complexity involved in the<br />

frequentation of such establishments nowadays. This article therefore<br />

discusses the specificities of said consumption. The discussion is based<br />

on interviews conducted in the city of Curitiba (Brazil), with an eye toward<br />

evi<strong>de</strong>nce that bars and night clubs are not only establishments that serve<br />

food and drink, but also spaces of urban leisure, where interpersonal<br />

relationships thrive and sociability can be experienced in various different<br />

forms.<br />

Keywords: bars, night-clubs, consumption, leisure, sociability.<br />

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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />

RÉSUMÉ<br />

Pour comprendre la consommation eu égard aux bars et discothèques<br />

dans nos sociétés cont<strong>em</strong>poraines, il faut saisir la complexité même du<br />

phénomène <strong>de</strong> fréquentation <strong>de</strong> ces établiss<strong>em</strong>ents aujourd’hui. Nous<br />

discutons donc, dans cet article, <strong>de</strong>s spécificités <strong>de</strong> cette consommation,<br />

en s’appuyant sur les résultats d’entrevues menées dans la ville <strong>de</strong> Curitiba<br />

(au Brésil), cherchant à mettre à jour la nature <strong>de</strong>s bars et discothèques,<br />

non seul<strong>em</strong>ent comme <strong>de</strong>s établiss<strong>em</strong>ents dévolus au service <strong>de</strong> boissons<br />

et repas, mais aussi en tant qu’espaces <strong>de</strong> loisir urbain et endroits propices<br />

au foisonn<strong>em</strong>ent <strong>de</strong>s relations interpersonnelles, favorables à l’expérience<br />

<strong>de</strong> la sociabilité sous ses formes les plus variées.<br />

Mots clés: bars, discothèques, consommation, loisir, sociabilité.


Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A alimentação e as <strong>de</strong>cisões a ela relacionadas (formas <strong>de</strong> produção<br />

<strong>de</strong> matéria-prima, condicionamento, distribuição e serviço) figuram<br />

no cerne das preocupações humanas. Tendo <strong>em</strong> vista que os hábitos<br />

alimentares “[...] se traduz<strong>em</strong> na forma <strong>de</strong> seleção, preparo e ingestão <strong>de</strong><br />

alimentos, que não são o espelho, mas se constitu<strong>em</strong> na própria imag<strong>em</strong><br />

da socieda<strong>de</strong>” (BONIN; ROLIM, 1997, p. 76), t<strong>em</strong>-se clara não apenas a<br />

íntima relação que se estabelece entre a alimentação e a cultura <strong>de</strong> uma<br />

socieda<strong>de</strong>, mas até a influência <strong>de</strong> variáveis econômicas, sociais e<br />

tecnológicas que moldam a alimentação <strong>de</strong> acordo com o momento histórico<br />

vivido.<br />

Analisando a dinâmica das refeições cont<strong>em</strong>porâneas, nota-se<br />

que elas, inicialmente restritas a casa e ao âmbito familiar, marcadas<br />

pela comensalida<strong>de</strong>, por horários <strong>de</strong>finidos e pela atuação da mulher na<br />

produção e serviço das iguarias, foram sofrendo alterações gradativas,<br />

impulsionadas não apenas inserção da mulher no mercado <strong>de</strong> trabalho,<br />

mas também pelas novas formas <strong>de</strong> produção, armazenamento e distribuição<br />

<strong>de</strong> matéria-prima; pelos avanços tecnológicos convertidos <strong>em</strong><br />

comodida<strong>de</strong>s domésticas (gela<strong>de</strong>ira, freezer, microondas, forno elétrico,<br />

processadores, entre outros); pela separação nos gran<strong>de</strong>s centros das<br />

áreas <strong>de</strong> residência das <strong>de</strong> trabalho aliadas à redução do horário para<br />

refeições; b<strong>em</strong> como pela alteração na estrutura familiar (número cada<br />

vez maior <strong>de</strong> pessoas morando sozinhas, diminuição do número <strong>de</strong> filhos),<br />

apenas para mencionar alguns dos inúmeros fatores.<br />

Na nova dinâmica social, que se reflete diretamente na dinâmica<br />

do mercado <strong>de</strong> alimentação, as refeições foram gradativamente ganhando<br />

espaços públicos e tornando-se, como pontuam Bonin e Rolim (1991,<br />

p. 78): “[...] in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do espaço e do t<strong>em</strong>po, isto é, tendo-se meios,<br />

é possível consumir qualquer coisa, a qualquer momento, <strong>em</strong> qualquer<br />

lugar e <strong>em</strong> qualquer quantida<strong>de</strong>.”<br />

O serviço comercial <strong>de</strong> alimentação tal como é praticado começou<br />

a ser <strong>de</strong>senhado <strong>em</strong> meados <strong>de</strong> 1700 na França. Ao longo dos anos,<br />

aprimorou-se e multiplicou, incorporando características, especializandose<br />

<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas iguarias, ambientes e públicos. Criou a vasta tipologia<br />

<strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentos que se t<strong>em</strong> hoje (casas noturnas, danceterias, lojas<br />

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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />

<strong>de</strong> fast-food 1 , restaurantes típicos, churrascarias, pizzarias, <strong>de</strong>liveries 2 ,<br />

entre outros), compondo com diversida<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nte o setor <strong>de</strong>nominado<br />

alimentos e bebidas ou ainda food service. 3<br />

Apesar <strong>de</strong> tal segmento ocupar espaços cada vez maiores na economia,<br />

encontra-se plenamente incorporado no cotidiano <strong>de</strong> inúmeras<br />

pessoas. I<strong>de</strong>ntifica-se nele uma enorme carência no tratamento teóricocientífico<br />

dado a esses estabelecimentos, principalmente no que tange<br />

aos enfoques que transcendam os aspectos administrativos e econômicos<br />

a eles vinculados e que sinaliz<strong>em</strong> para os novos papéis que foram<br />

incorporados por esses estabelecimentos.<br />

Justamente essa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhor compreensão do consumo<br />

<strong>de</strong> bares e casas noturnas motivou a realização da dissertação <strong>de</strong><br />

Mestrado intitulada “Lazer e prazer: o consumo simbólico e a vivência da<br />

sociabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> bares e casas noturnas no início do século XXI na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Curitiba, Paraná” 4 . Tendo como objetivo central a investigação <strong>de</strong><br />

como se estabelec<strong>em</strong> os laços entre pessoas ao vivenciar<strong>em</strong> a sociabilida<strong>de</strong><br />

freqüentando (e consumindo) bares e casas noturnas <strong>em</strong> Curitiba,<br />

tal pesquisa <strong>de</strong>stacou esses estabelecimentos enquanto espaços <strong>de</strong> lazer<br />

urbanos, trazendo resultados que norteiam a elaboração <strong>de</strong>ste artigo.<br />

Acerca da metodologia que direcionou a investigação, observa-se<br />

que, atendo-se às peculiarida<strong>de</strong>s e objetivos da pesquisa e à certeza <strong>de</strong><br />

privilegiar informações <strong>de</strong> caráter qualitativo, o grupo <strong>de</strong> consumidores<br />

foi abordado por entrevistas não diretivas, meio <strong>de</strong> aprofundamento qualitativo<br />

<strong>de</strong> investigação. Esse processo t<strong>em</strong> como principal característica,<br />

conforme observa Thiollent (1982), a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong><br />

uma maior profundida<strong>de</strong> nas respostas, graças à gran<strong>de</strong> abertura das<br />

1 Fast-food: serviço <strong>de</strong> refeições rápidas com base <strong>em</strong> opções previamente <strong>de</strong>finidas que<br />

inclu<strong>em</strong> geralmente sanduíches e snacks (iguarias para rápido consumo). É bastante<br />

difundido no Brasil por meio <strong>de</strong> franquias internacionais, como o McDonald’s, e nacionais,<br />

como o Bob’s.<br />

2 Estabelecimentos especializados na entrega <strong>de</strong> lanches ou refeições prontas que po<strong>de</strong>m<br />

ser requisitadas pelo telefone e via internet. Observa-se a existência <strong>de</strong> estabelecimentos<br />

que trabalham somente nesse sist<strong>em</strong>a, b<strong>em</strong> como outros <strong>em</strong> que o sist<strong>em</strong>a<br />

<strong>de</strong>livery é compl<strong>em</strong>entar aos serviços <strong>de</strong> um restaurante convencional.<br />

3 Setor da economia que envolve toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas ligadas à preparação <strong>de</strong><br />

alimentos fora do lar, incluindo bares, restaurantes e similares.<br />

4 Dissertação <strong>de</strong> Mestrado apresentada ao Programa <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Sociologia, área<br />

<strong>de</strong> Sociologia das Organizações, do Setor <strong>de</strong> Ciências Humanas, Letras e Artes da<br />

UFPR, <strong>de</strong>fendida <strong>em</strong> maio <strong>de</strong> 2003.


Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />

perguntas, aplicadas <strong>em</strong> número reduzido. Abordando-se um número<br />

pequeno <strong>de</strong> pessoas, como sustenta Thiollent (1982, p. 85),<br />

[...] o indivíduo é consi<strong>de</strong>rado como portador <strong>de</strong> cultura (ou subcultura)<br />

que a entrevista não-diretiva po<strong>de</strong> explorar a partir das verbalizações,<br />

inclusive as <strong>de</strong> conteúdo afetivo. Nelas são procurados sintomas dos<br />

mo<strong>de</strong>los culturais que se manifestam na vivência dos indivíduos ou<br />

grupos consi<strong>de</strong>rados.<br />

Como critérios da amostra foram estabelecidos os seguintes aspectos:<br />

os indivíduos entrevistados <strong>de</strong>veriam ter ida<strong>de</strong> igual ou superior a<br />

21 anos e inferior a 65, <strong>de</strong> ambos os sexos, resi<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> Curitiba há<br />

mais <strong>de</strong> um ano e ser<strong>em</strong> freqüentadores <strong>de</strong> bares e casas noturnas, com<br />

assiduida<strong>de</strong> igual ou superior a duas vezes por s<strong>em</strong>ana. Dentro da perspectiva<br />

<strong>de</strong> uma pesquisa sociológica, Deslan<strong>de</strong>s (1998) e Thiollent (1982)<br />

foram fundamentais na reflexão que <strong>de</strong>finiu o dimensionamento da amostra.<br />

Sobre a questão da <strong>de</strong>finição da amostrag<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma pesquisa qualitativa,<br />

Deslan<strong>de</strong>s (1998, p. 43) comenta:<br />

A pesquisa qualitativa não se baseia no critério numérico para garantir<br />

sua representativida<strong>de</strong>. Uma pergunta importante neste it<strong>em</strong> é<br />

“quais indivíduos sociais têm vinculação mais significativa para o probl<strong>em</strong>a<br />

a ser investigado?” A amostrag<strong>em</strong> boa é aquela que possibilita<br />

abranger a totalida<strong>de</strong> do probl<strong>em</strong>a investigado <strong>em</strong> suas múltiplas<br />

dimensões.<br />

Em um raciocínio s<strong>em</strong>elhante, Thiollent (1982, p. 34) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que,<br />

ao tratar-se <strong>de</strong> entrevistas <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong>, a seleção dos indivíduos a<br />

ser<strong>em</strong> entrevistados “[...] supõe a disponibilida<strong>de</strong> do entrevistado, a qual<br />

não é previsível antes <strong>de</strong> um primeiro contato.” Em uma pesquisa qualitativa,<br />

só um pequeno número <strong>de</strong> pessoas é interrogado, escolhidas <strong>em</strong><br />

função <strong>de</strong> critérios não probabilísticos e que não possu<strong>em</strong>, <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência<br />

disso, uma amostra representativa no sentido estatístico. Tendo <strong>em</strong><br />

vista que o objetivo é utilizar as particularida<strong>de</strong>s das experiências sociais<br />

dos indivíduos enquanto reveladores da cultura tal como é vivida, os entrevistados<br />

são escolhidos por sua representativida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação ao t<strong>em</strong>a<br />

tratado. Esse raciocínio <strong>de</strong>finiu o número <strong>de</strong> entrevistados: 21.<br />

Nesse contexto, o artigo objetiva discutir bares e casas noturnas<br />

como espaços <strong>de</strong> comercialização <strong>de</strong> alimentos e bebidas, dando <strong>de</strong>staque<br />

a esses estabelecimentos como espaços <strong>de</strong> lazer e sociabilida<strong>de</strong> e<br />

procurando lançar reflexões que contribuam para melhor compreensão<br />

<strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos que não po<strong>de</strong>m ser omitidos nos processos <strong>de</strong> concepção<br />

e gerenciamento <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentos <strong>de</strong> tal natureza.<br />

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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />

2 COMIDA, BEBIDA, LAZER E SOCIABILIDADE: NOVAS<br />

PERCEPÇÕES DE OFERTA DE BARES E CASAS NOTURNAS<br />

Antes que a discussão sobre o consumo vinculado a bares e casas<br />

noturnas avance e justamente por enten<strong>de</strong>r que as <strong>de</strong>cisões vinculadas<br />

ao âmbito da alimentação se inscrev<strong>em</strong> <strong>em</strong> um contexto cultural muito<br />

maior, torna-se imprescindível realizar algumas reflexões acerca da<br />

dinâmica das relações cont<strong>em</strong>porâneas <strong>de</strong> consumo. Nota-se que nas<br />

socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais, mais do que nunca, as formas e os critérios <strong>de</strong><br />

aquisição <strong>de</strong> produtos e serviços transcen<strong>de</strong>m à mera satisfação das necessida<strong>de</strong>s<br />

utilitárias. O consumo <strong>de</strong> fato, aquele relacionado com as características<br />

objetivas <strong>de</strong> um objeto, e o consumo simbólico, aquele que<br />

se relaciona ao valor simbólico atribuído culturalmente a um objeto, se un<strong>em</strong><br />

e se confun<strong>de</strong>m. Isso caracteriza o ato <strong>de</strong> consumir como um modo <strong>de</strong><br />

relação ativa não só com o objeto <strong>em</strong> si, mas também, como pontua<br />

Baudrillard (1991), com a coletivida<strong>de</strong> e com o mundo, estando intimamente<br />

ligada ao sist<strong>em</strong>a cultural <strong>em</strong> que <strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong> se insere.<br />

Dessa forma, produtos materiais não são mais apenas objetos <strong>de</strong><br />

consumo, mas principalmente instrumentos, um canal <strong>de</strong> satisfação <strong>de</strong><br />

outras necessida<strong>de</strong>s dos indivíduos, que consom<strong>em</strong> não mais os objetos<br />

<strong>em</strong> si, mas principalmente as relações que se estabelec<strong>em</strong> no e por meio<br />

do objeto, evi<strong>de</strong>nciando a idéia <strong>de</strong> mercadoria-signo <strong>de</strong> objeto carregado<br />

<strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> e simbolismo, proposta por Baudrillard (1991).<br />

Reproduzindo seu habitus <strong>de</strong> classe 5 e utilizando os bens e serviços<br />

consumidos como extensão <strong>de</strong> sua própria personalida<strong>de</strong>, o consumidor<br />

procura construir um universo inteligível com as mercadorias que elege,<br />

criando, pelo exercício <strong>de</strong> seu gosto 6 e limitado pelas possibilida<strong>de</strong>s e<br />

impossibilida<strong>de</strong>s econômicas <strong>de</strong> cada um, uma coerência entre suas escolhas<br />

e acabando por constituir uma fonte <strong>de</strong> diferenciação. Essa fonte <strong>de</strong><br />

diferenciação se constrói, pois, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m Bourdieu (1988) e<br />

Featherstone (1990), as preferências <strong>de</strong> consumo envolv<strong>em</strong> julgamentos<br />

discriminantes que i<strong>de</strong>ntificam o próprio julgamento <strong>de</strong> gosto e ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po o tornam passível <strong>de</strong> ser reconhecido e classificado pelos outros.<br />

5 Segundo Bourdieu (2000), habitus <strong>de</strong> classe é uma série <strong>de</strong> esqu<strong>em</strong>as gerados pela<br />

prática comum a todos os indivíduos que compartilham a mesma realida<strong>de</strong> e que acabam<br />

por influenciar, expressar e reforçar as práticas culturais <strong>de</strong> um grupo.<br />

6 Gosto significa, pela expressão da preferência pessoal, o exercício do estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong><br />

cada um.


Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />

Assim, a cultura é corporificada, e estilos <strong>de</strong> vida são impressos<br />

<strong>em</strong> concepções estéticas do corpo, marcando, juntamente com o uso <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminados bens, a entrada ou permanência <strong>de</strong> um indivíduo <strong>em</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado grupo social. Isso faz com que o indivíduo termine por comunicar-se<br />

com os outros e com o próprio mundo por meio <strong>de</strong> seu próprio<br />

corpo e pela forma com que se veste, corta seu cabelo, seleciona e utiliza<br />

sua casa, seu mobiliário e seu carro. Há ainda outras escolhas, como as<br />

ativida<strong>de</strong>s que realiza <strong>em</strong> seus momentos <strong>de</strong> lazer e as próprias companhias<br />

que escolhe para esses momentos.<br />

Com a pesquisa realizada, perceberam-se algumas nuances do<br />

consumo <strong>de</strong> bares e casas noturnas que <strong>de</strong>stacam a estreita relação entre<br />

o consumo <strong>de</strong> fato e o consumo simbólico nesses espaços. Freqüentados<br />

nos momentos livres <strong>de</strong> obrigações laborais e/ou familiares, bares<br />

e casas noturnas possu<strong>em</strong> algumas peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo que merec<strong>em</strong><br />

ser comentadas <strong>de</strong> maneira pormenorizada.<br />

Diferent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> um objeto que possa ser previamente avaliado<br />

<strong>em</strong> um ponto <strong>de</strong> venda, ser comprado ou consumido no próprio local <strong>de</strong><br />

residência, o consumo <strong>de</strong> bares, casas noturnas e similares se dá in loco.<br />

Isso pressupõe o <strong>de</strong>slocamento do indivíduo e a imersão <strong>em</strong> todo o contexto<br />

do bar ou da casa noturna, incluindo sua ambientação, <strong>de</strong>coração e<br />

convívio com os <strong>de</strong>mais freqüentadores. A prévia avaliação <strong>de</strong>sses espaços<br />

po<strong>de</strong> ocorrer apenas parcialmente, por meio da opinião <strong>de</strong> amigos ou<br />

<strong>de</strong> algum veículo <strong>de</strong> informação. Entretanto, o consumo só se efetiva simultaneamente<br />

ao processo <strong>de</strong> compra. Igualmente, <strong>de</strong>ve-se observar<br />

que freqüentar bares e casas noturnas pressupõe estar entre pessoas,<br />

mesmo que não se vá estabelecer contato com todos os presentes. Esse<br />

aspecto torna a freqüência a bares e casas noturnas, antes <strong>de</strong> mais nada,<br />

uma ativida<strong>de</strong> social.<br />

As motivações relacionadas com o consumo <strong>de</strong> bares e casas<br />

noturnas, <strong>em</strong> sua maioria, se mostram voltadas não apenas aos aspectos<br />

tangíveis, mas também aos aspectos simbólicos inerentes a esses estabelecimentos.<br />

Nesse sentido, consome-se não só a bebida e a comida,<br />

mas ainda, <strong>em</strong> um nível simbólico, a atmosfera criada nesse espaço, a<br />

diversão, o relaxamento e as relações que são ali entabuladas entre seus<br />

freqüentadores. Aspectos concretos como <strong>de</strong>coração, cardápio e som ambiente<br />

se un<strong>em</strong> aos estados <strong>de</strong> humor e às intenções dos freqüentadores<br />

para criar o “clima” do lugar, a “alma” da casa, o conjunto <strong>de</strong> atrativos que<br />

faz<strong>em</strong> com que <strong>de</strong>terminados estabelecimentos se torn<strong>em</strong> interessantes<br />

aos olhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados consumidores, evi<strong>de</strong>nciando assim, no processo<br />

<strong>de</strong> escolha, o exercício do gosto <strong>de</strong> cada um.<br />

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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />

De acordo com os entrevistados, freqüentam-se bares e casas<br />

noturnas para “relaxar, fugir do estresse, divertir-se, reencontrar os amigos,<br />

paquerar” 7 ou ainda “ver e ser visto”. O consumo <strong>de</strong> comidas e<br />

bebidas é notadamente <strong>de</strong>ixado <strong>em</strong> segundo plano (muitas vezes tido<br />

como um compl<strong>em</strong>ento e não oferta principal do estabelecimento), diante<br />

da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usufruir um ambiente <strong>de</strong>scontraído, prazeroso e<br />

propício para o contato entre pessoas. Nesse contexto, freqüentar bares<br />

e casas noturnas também po<strong>de</strong> significar, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da intenção<br />

do consumidor, uma forma <strong>de</strong> aproximar-se, inserir-se ou ainda manterse<br />

integrado a um <strong>de</strong>terminado grupo, seja este primário, secundário ou<br />

<strong>de</strong> referência. 8<br />

2.1 IMAGENS VINCULADAS A BARES E CASAS NOTURNAS<br />

As imagens 9 <strong>de</strong> bares e casas noturnas <strong>de</strong>scritas pelos entrevistados<br />

<strong>de</strong>ixam transparecer as novas “funções” incorporadas por esses estabelecimentos.<br />

Bares foram fort<strong>em</strong>ente associados às conversas informais,<br />

ou bate-papo, e ao encontro entre amigos, sendo l<strong>em</strong>brados ainda<br />

como pontos <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> bebidas alcoólicas. As casas noturnas foram<br />

associadas ao flerte e à dança. A música também esteve presente nas<br />

imagens dos dois tipos <strong>de</strong> estabelecimento, sendo a diferença apontada<br />

pelos entrevistados justamente o volume da execução, pois, enquanto a<br />

música “<strong>de</strong> bar” é uma “música ambiente”, a executada nas casas noturnas<br />

t<strong>em</strong> volume mais alto, contribuindo para criar um ambiente mais agitado,<br />

se comparado ao <strong>de</strong> um bar.<br />

7 Gíria relacionada à idéia <strong>de</strong> flerte, <strong>de</strong> ação ou tentativa <strong>de</strong> busca por companhia amorosa.<br />

8 Grupo primário: o relacionamento entre indivíduos é mais pessoal, marcado por contatos<br />

mais íntimos. Grupo secundário: há convivência, mas os contatos são mais impessoais,<br />

superficiais. Grupo <strong>de</strong> referência: formado por pessoas que o indivíduo respeita e admira<br />

e que po<strong>de</strong>m ou não pertencer a seu círculo <strong>de</strong> convivência (GADE, 1998).<br />

9 Imag<strong>em</strong>: utiliza-se a idéia <strong>de</strong> imag<strong>em</strong> pautando-se na idéia <strong>de</strong> “imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> marca”. Para<br />

Karsaklian (2000, p. 181), a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> marca constitui-se no “[...] conjunto <strong>de</strong> percepções<br />

que o consumidor t<strong>em</strong> <strong>de</strong> um produto, uma pessoa ou uma idéia. Estruturalmente,<br />

a imag<strong>em</strong> toma a forma <strong>de</strong> constelações, <strong>de</strong> associações entre o estímulo e um número<br />

variável <strong>de</strong> atributos discriminatórios.”


Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />

Com exceção <strong>de</strong> três entrevistados, todos os homens que associaram<br />

a casa noturna a uma imag<strong>em</strong> <strong>de</strong>preciativa, tratando-a como “um<br />

estabelecimento voltado ao sexo” ou ainda um espaço <strong>de</strong>dicado ao “lazer<br />

masculino”. Tanto bares quanto casas noturnas foram consi<strong>de</strong>rados pelos<br />

<strong>de</strong>mais como espaços agradáveis, <strong>de</strong>scontraídos e freqüentados por<br />

pessoas <strong>de</strong> ambos os sexos. Se parece não haver consenso quanto às<br />

concepções e <strong>de</strong>finições <strong>de</strong>sses dois tipos <strong>de</strong> estabelecimento, tendo <strong>em</strong><br />

vista a confusão <strong>de</strong> muitos entrevistados no momento <strong>de</strong> caracterizar e<br />

diferenciar bares <strong>de</strong> casas noturnas (confusão agravada pelas próprias<br />

publicações especializadas que ten<strong>de</strong>m a tratar tais estabelecimentos<br />

como sinônimos), não houve divergências no momento <strong>de</strong> associar bares<br />

e casas noturnas ao prazer.<br />

As diferentes formas <strong>de</strong> prazer, como o encontro entre amigos,<br />

dos jogos <strong>de</strong> sedução, da <strong>de</strong>gustação <strong>de</strong> comidas e bebidas e <strong>de</strong> uma<br />

atmosfera <strong>de</strong> diversão e <strong>de</strong>scontração, terminaram por evi<strong>de</strong>nciar bares<br />

e casas noturnas como lugares agradáveis, propícios para ser<strong>em</strong> freqüentados<br />

nos momentos liberados do trabalho, tornando-os também espaços<br />

<strong>de</strong> lazer.<br />

Dumazedier (1989, p. 169) acredita que “[...] o espaço <strong>de</strong> lazer,<br />

tanto quanto espaço cultural, é um espaço social on<strong>de</strong> se entabulam relações<br />

específicas entre seres, grupos, meios e classes.” Isso permite a<br />

prática <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s livr<strong>em</strong>ente escolhidas <strong>em</strong> um ambiente que propicia<br />

o contato entre as pessoas. Sobre a idéia do lazer <strong>em</strong> si, o mesmo autor<br />

(2000, p. 34) escreve:<br />

O lazer é um conjunto <strong>de</strong> ocupações às quais o indivíduo po<strong>de</strong> entregar-se<br />

<strong>de</strong> livre vonta<strong>de</strong>, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se,<br />

entreter-se ou, ainda, para <strong>de</strong>senvolver sua informação ou<br />

formação <strong>de</strong>sinteressada, sua participação social voluntária ou a sua<br />

livre capacida<strong>de</strong> criadora após livrar-se ou <strong>de</strong>s<strong>em</strong>baraçar-se das<br />

obrigações profissionais, familiares e sociais.<br />

Embora historicamente o lazer tenha sido consi<strong>de</strong>rado durante muito<br />

t<strong>em</strong>po um antagonista do trabalho, atualmente importantes estudiosos do<br />

fenômeno lazer, como Dumazedier (1989), Marcellino (1995) e Camargo<br />

(1998), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o fim <strong>de</strong>ssa dicotomia. Enfatizam o lazer como uma<br />

forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do indivíduo, não apenas um momento <strong>de</strong> recuperação<br />

<strong>de</strong> força física, mas também mental, representando a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s pessoais que o individuo não<br />

exercita habitualmente <strong>em</strong> suas ativida<strong>de</strong>s laborais.<br />

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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />

Dumazedier (1989) abordando a importância da prática do lazer<br />

na vida <strong>de</strong> todo indivíduo, ressalta que o lazer possui como funções o<br />

<strong>de</strong>scanso (forma <strong>de</strong> recuperação das energias físicas e mentais do indivíduo),<br />

o divertimento (afastamento do tédio e da rotina que auxilia os<br />

processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso e <strong>de</strong>senvolvimento humano). Possui também o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento voltado justamente ao exercício <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s individuais<br />

ou <strong>em</strong> grupo que auxiliarão o indivíduo, inclusive <strong>em</strong> suas ativida<strong>de</strong>s<br />

profissionais.<br />

Tratando especificamente <strong>de</strong> bares e casas noturnas, verifica-se<br />

que a freqüência a esses lugares permite o exercício <strong>de</strong> diferentes facetas<br />

do lazer. A idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso é ilustrada pelos vários <strong>de</strong>poimentos que<br />

i<strong>de</strong>ntificam na ida a bares e casas noturnas uma forma <strong>de</strong> manter a saú<strong>de</strong><br />

mental, relaxar e “<strong>de</strong>sestressar”. A idéia <strong>de</strong> divertimento aparece nas contribuições<br />

que afirmam que freqüentar tais espaços t<strong>em</strong> como objetivo<br />

sair da rotina, fugir dos probl<strong>em</strong>as do cotidiano e fugir do programa “casa,<br />

trabalho, casa, banho e cama”. No caso específico <strong>de</strong> casas noturnas, o<br />

objetivo é praticar a dança. A função do <strong>de</strong>senvolvimento, citada por<br />

Dumazedier (1989), influenciada positivamente pelo <strong>de</strong>scanso e divertimento,<br />

po<strong>de</strong> ser exercida <strong>em</strong> bares e casas noturnas por meio da prática<br />

da própria dança (aperfeiçoamento ou aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> dança)<br />

ou ainda das mais diversas conversas ou “bate-papos” que ganham<br />

força nesses espaços.<br />

O pensamento <strong>de</strong> que um bar areja as conversas mais sérias ou<br />

<strong>de</strong> que <strong>em</strong> bares e casas noturnas surg<strong>em</strong> conversas que não surgiriam<br />

<strong>em</strong> outro lugar sintetiza o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> vários entrevistados. Eles <strong>de</strong>clararam<br />

utilizar bares e casas noturnas (essas com menor incidência,<br />

tendo <strong>em</strong> vista o volume da música) para entabular conversas mais<br />

<strong>de</strong>scontraídas e até <strong>de</strong>scompromissadas, mas muitas vezes abordando<br />

conteúdos consi<strong>de</strong>rados mais sérios. Nesse sentido, enfatiza-se a inscrição<br />

<strong>de</strong> bares e casas noturnas nos domínios do s<strong>em</strong>ilazer – transição<br />

entre as obrigações do dia e o t<strong>em</strong>po liberado do trabalho, quando assuntos<br />

“<strong>de</strong> trabalho” se misturam à <strong>de</strong>scontração. Isso comumente ocorre<br />

durante o happy hour ou quando pessoas que trabalham juntas terminam<br />

por tratar <strong>de</strong> assuntos profissionais <strong>em</strong> bares e casas noturnas.<br />

Outro aspecto relacionado às conversas realizadas nesses espaços é<br />

justamente a troca <strong>de</strong> informações. Vários entrevistados consi<strong>de</strong>ram bares<br />

e casas noturnas como lugares on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> ficar sabendo o que<br />

está acontecendo na cida<strong>de</strong>, principalmente <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> eventos e realizações<br />

culturais.


Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />

2.2 PREFERÊNCIAS DE CONSUMO EM BARES E CASAS NOTURNAS<br />

O consumo <strong>de</strong> bares e casas noturnas pressupõe a imersão do<br />

indivíduo no ambiente do estabelecimento, na atmosfera criada por aspectos<br />

físicos e pelo próprio grupo <strong>de</strong> freqüentadores. Tendo <strong>em</strong> vista<br />

que freqüentar bares e casas noturnas é uma ativida<strong>de</strong> marcadamente<br />

social, pois esses espaços permit<strong>em</strong> a concentração e o contato entre<br />

pessoas, muitos dos entrevistados <strong>de</strong>clararam ser os freqüentadores os<br />

responsáveis pelo “clima” do estabelecimento.<br />

Nesse contexto, ao ser<strong>em</strong> indagados sobre quais são as características<br />

mais importantes <strong>de</strong> tais estabelecimentos, no momento <strong>de</strong> escolher<br />

aon<strong>de</strong> ir, os entrevistados apontaram os <strong>de</strong>mais freqüentadores e a<br />

música executada como el<strong>em</strong>entos essenciais. As referências relacionadas<br />

aos freqüentadores foram justificadas como “o público cria o ambiente”<br />

e ainda “as pessoas sa<strong>em</strong> para ver<strong>em</strong> e ser<strong>em</strong> vistas”. A música, por<br />

sua vez, foi mencionada com intensida<strong>de</strong>, inclusive como um el<strong>em</strong>ento<br />

seletor dos próprios freqüentadores. A questão da localização, notadamente<br />

associada às preocupações relacionadas com a violência urbana; b<strong>em</strong><br />

como a dos valores financeiros cobrados pelos estabelecimentos (tendo<br />

<strong>em</strong> vista a limitação <strong>de</strong> caráter financeiro que um preço elevado po<strong>de</strong><br />

significar) também mereceu a atenção dos entrevistados.<br />

A preocupação com o perfil dos <strong>de</strong>mais freqüentadores e com a<br />

música executada no momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir aon<strong>de</strong> ir, <strong>de</strong>veras transparente<br />

nos <strong>de</strong>poimentos coletados, parece estar pautada, <strong>de</strong> forma significativa,<br />

no autoconceito 10 do indivíduo e nas afinida<strong>de</strong>s eletivas 11 que se estabelec<strong>em</strong><br />

entre os indivíduos por meio do mútuo reconhecimento do estilo <strong>de</strong><br />

vida <strong>de</strong> cada um. A i<strong>de</strong>ntificação com a proposta do estabelecimento, b<strong>em</strong><br />

como com os <strong>de</strong>mais freqüentadores, mostrou-se fundamental no momento<br />

<strong>de</strong> escolher aon<strong>de</strong> ir. Pelo gosto, o consumidor elege o estabelecimento<br />

por consi<strong>de</strong>rá-lo compatível com a personalida<strong>de</strong> e estilo <strong>de</strong> vida<br />

do cliente, criando certa sensação <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> e até intimida<strong>de</strong> com<br />

os ambientes freqüentados, tornando-os quase um prolongamento do<br />

modo <strong>de</strong> ser.<br />

10 Autoconceito: a imag<strong>em</strong> que o indivíduo t<strong>em</strong> <strong>de</strong> si mesmo.<br />

11 Segundo Bourdieu (1998, p. 23), a idéia <strong>de</strong> afinida<strong>de</strong>s eletivas r<strong>em</strong>ete às simpatias e<br />

antipatias que se estabelec<strong>em</strong> entre as pessoas, fruto do mútuo reconhecimento do<br />

habitus e do estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> cada um.<br />

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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />

Justamente sobre a questão da familiarida<strong>de</strong> ou fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a esses<br />

estabelecimentos, verificou-se durante a pesquisa a predisposição<br />

dos entrevistados <strong>em</strong> conhecer novos estabelecimentos ou <strong>em</strong> continuar<br />

freqüentando os já conhecidos e aprovados. A maioria dos entrevistados<br />

afirmou preferir lugares já conhecidos ou recomendados por amigos, reforçando<br />

o caráter hedonístico do lazer, no sentido <strong>de</strong> aproveitar da forma<br />

mais agradável possível o t<strong>em</strong>po disponível, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> buscar proteger-se,<br />

pelo processo <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lização, das eventuais frustrações que possam<br />

ser causadas pelas novas experiências. Observa-se que alguns dos<br />

entrevistados afirmaram que até po<strong>de</strong>riam ir a um local <strong>de</strong>sconhecido e<br />

sobre o qual tivess<strong>em</strong> pouca ou nenhuma referência. Entretanto, se valeriam<br />

da companhia <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> amigos para tal intento, por acreditar<strong>em</strong><br />

que os freqüentadores são responsáveis pela atmosfera <strong>de</strong> um bar<br />

ou casa noturna.<br />

Poucos entrevistados se mostraram <strong>de</strong>liberadamente interessados<br />

<strong>em</strong> freqüentar um novo estabelecimento. Os que mantiveram esse<br />

posicionamento justificaram sua opção por conta <strong>de</strong> características da<br />

própria personalida<strong>de</strong> ou pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conhecer o que está na moda 12 .<br />

A idéia <strong>de</strong> freqüentar um estabelecimento que está sendo prestigiado pela<br />

mídia ou por um <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> freqüentadores parece <strong>de</strong>spertar<br />

um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> integração não só com os <strong>de</strong>mais freqüentadores, mas também<br />

com os valores (glamour, riqueza, mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, intelectualida<strong>de</strong>,<br />

in<strong>de</strong>pendência,..) incorporados por aquele estabelecimento.<br />

Deve-se observar, porém, um movimento <strong>de</strong> muitos bares e casas<br />

noturnas que, mesmo voltados para um perfil específico <strong>de</strong> freqüentares,<br />

procuram diversificar suas ofertas <strong>de</strong> produtos e atrativos ao longo da<br />

s<strong>em</strong>ana, dando uma nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ao estabelecimento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do<br />

dia. Acompanhando a própria diversida<strong>de</strong> dos estabelecimentos, os consumidores<br />

terminam por <strong>de</strong>senvolver preferências, freqüentando certo estabelecimento<br />

<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado dia da s<strong>em</strong>ana. Apesar <strong>de</strong> três entrevistados<br />

<strong>de</strong>clarar<strong>em</strong> que essa preferência vinculada ao dia da s<strong>em</strong>ana não<br />

<strong>de</strong>va ser consi<strong>de</strong>rada no caso dos bares, a maioria as elabora com base<br />

12 Para Lipovestsky (2001, p. 39-40) moda é “[...] um sist<strong>em</strong>a original <strong>de</strong> regulação e <strong>de</strong><br />

pressão sociais: suas mudanças apresentam um caráter constrangedor, são<br />

acompanhadas <strong>de</strong> “<strong>de</strong>ver” <strong>de</strong> adoção e <strong>de</strong> assimilação, impõ<strong>em</strong>-se mais ou menos<br />

obrigatoriamente a um meio social <strong>de</strong>terminado – tal é o “<strong>de</strong>spotismo” da moda tão<br />

freqüent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>nunciado ao longo dos séculos. Despotismo muito particular já que<br />

s<strong>em</strong> sanção maior, a não ser o riso, a zombaria e a reprovação dos cont<strong>em</strong>porâneos.


Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />

na própria experiência ou na opinião <strong>de</strong> amigos e pauta-se nela no momento<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir aon<strong>de</strong> ir. Nota-se, inclusive, que esse tipo <strong>de</strong> relação dia<br />

da s<strong>em</strong>ana-<strong>de</strong>terminado estabelecimento se norteia principalmente pelo<br />

tipo <strong>de</strong> música e pelo perfil <strong>de</strong> freqüentadores mais predominantes <strong>em</strong><br />

certos dias da s<strong>em</strong>ana.<br />

Observando que todos os integrantes da amostra possuíam ida<strong>de</strong><br />

igual ou superior a 21 anos (apenas uma entrevistada possuía 21 anos na<br />

ocasião da entrevista), faz-se constar que muitos <strong>de</strong>clararam preferir sair<br />

durante a s<strong>em</strong>ana, quando a presença é mais adulta, o movimento é menor<br />

e as chances <strong>de</strong> brigas e bebe<strong>de</strong>iras são reduzidas, o que <strong>de</strong>staca a<br />

preocupação com o perfil dos <strong>de</strong>mais freqüentadores e com o ambiente<br />

por estes gerado. Todavia, paradoxalmente, muitos continuam freqüentando<br />

bares e casas noturnas às sextas-feiras e sábados, tendo <strong>em</strong> vista<br />

que no dia seguinte não há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se cumprir uma rotina <strong>de</strong><br />

trabalho e po<strong>de</strong>-se sair s<strong>em</strong> a obrigação <strong>de</strong> voltar cedo ou não consumir<br />

bebidas alcoólicas.<br />

Nota-se inclusive que a carga exaustiva <strong>de</strong> trabalho, um dos el<strong>em</strong>entos<br />

impulsionadores <strong>de</strong> mais necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lazer, ten<strong>de</strong> a ser um<br />

importante fator limitante. Entre os fatores limitantes <strong>de</strong> uma maior assiduida<strong>de</strong><br />

a bares e casas noturnas, revelados pelos entrevistados, o excesso<br />

<strong>de</strong> trabalho e a falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po disponível para freqüentar esses<br />

locais mereceram especial referência. É preciso que se consi<strong>de</strong>re que<br />

esses estabelecimentos são freqüentados no período noturno, após um<br />

dia <strong>de</strong> trabalho e outras obrigações. Justamente por se concentrar no<br />

período noturno, é necessário que exista um equilíbrio entre os horários<br />

<strong>em</strong> que se freqüentam bares e casas noturnas e os horários dos compromissos<br />

do dia seguinte, <strong>em</strong> especial daqueles que se realizam logo pela<br />

manhã.<br />

Outro aspecto que mereceu <strong>de</strong>staque nas contribuições foram as<br />

limitações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m financeira. Consi<strong>de</strong>rando que muitos <strong>de</strong>sses estabelecimentos<br />

cobram, além do que é efetivamente consumido no seu interior,<br />

uma taxa <strong>de</strong> acesso (a “entrada”) e também estipulam uma taxa <strong>de</strong><br />

consumação mínima 13 . Freqüentar bares e casas noturnas ten<strong>de</strong> a ser<br />

13 Consumação mínima é uma taxa cobrada por alguns bares e casas noturnas. Refere-se<br />

a um valor mínimo que <strong>de</strong>verá ser consumido no estabelecimento. Caso o cliente não<br />

consuma a totalida<strong>de</strong> do valor expresso <strong>em</strong> produtos, <strong>de</strong>verá arcar com a quantia estipulada<br />

da mesma forma.<br />

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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />

um it<strong>em</strong> dispendioso no orçamento do consumidor mais assíduo. Como<br />

outras modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> entretenimento, a freqüência a bares e casas noturnas<br />

é bastante sensível às possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> corte do orçamento familiar<br />

ou pessoal.<br />

Os valores cobrados pela casa, b<strong>em</strong> como o tipo <strong>de</strong> música e o<br />

perfil dos <strong>de</strong>mais freqüentadores, foram as informações que os entrevistados<br />

<strong>de</strong>clararam privilegiar quando buscam dados sobre bares e casas<br />

noturnas. Novamente o cerne da preocupação revelou-se ser o perfil dos<br />

freqüentadores, tendo <strong>em</strong> vista que os valores cobrados pela casa e a<br />

música executada foram apontados como seletores da freqüência. Devese<br />

observar que três entrevistados <strong>de</strong>clararam não buscar informações<br />

sobre estes lugares, pois, segundo eles, freqüentam apenas os lugares<br />

que já conhec<strong>em</strong>. A maioria dos entrevistados <strong>de</strong>clarou procurar informações<br />

eventualmente, s<strong>em</strong> que a ação se torne um compromisso, dividindo<br />

com outros amigos esta tarefa.<br />

Diante dos <strong>de</strong>poimentos dos entrevistados po<strong>de</strong>-se perceber que<br />

amigos e colegas são as principais fontes <strong>de</strong> informações sobre bares e<br />

casas noturnas, <strong>em</strong>bora muitos dos entrevistados tenham <strong>de</strong>clarado que<br />

costumam buscar mais <strong>de</strong> uma fonte <strong>de</strong> informação. Sites, revistas e colunas<br />

especializadas também são consultadas, mas quando a intenção é construir<br />

um conceito sobre <strong>de</strong>terminado estabelecimento, os referenciais pessoais<br />

são privilegiados, sendo que as fontes mais impessoais, como publicações,<br />

sites e até mesmo o próprio estabelecimento, são consultadas <strong>em</strong> busca<br />

<strong>de</strong> informações compl<strong>em</strong>entares, mais operacionais, quando já se conhece<br />

o estabelecimento ou já se possui um referencial a respeito.<br />

2.3 BARES E CASAS NOTURNAS COMO ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE<br />

Outro aspecto que se evi<strong>de</strong>nciou ao longo das entrevistas e pesquisas<br />

é o fato <strong>de</strong> que, justamente por ser<strong>em</strong> tomados enquanto espaços<br />

<strong>de</strong> lazer, bares e casas noturnas propiciam o contato e o encontro entre<br />

pessoas <strong>de</strong> forma espontânea, possibilitando a vivência da sociabilida<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong> várias configurações. A sociabilida<strong>de</strong> é vista, segundo BAECHLER<br />

(1995), como a capacida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> estabelecer re<strong>de</strong>s, através das<br />

quais as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s sejam estas individuais ou coletivas, faz<strong>em</strong><br />

circular as informações que exprim<strong>em</strong> seus interesses, gostos, paixões<br />

e opiniões, passíveis <strong>de</strong> acontecer nos mais diferentes espaços,<br />

conectando, mesmo que momentaneamente, os indivíduos envolvidos.


Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />

A gran<strong>de</strong> tônica da vivência da sociabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> bares e casas<br />

noturnas é, s<strong>em</strong> dúvida, o encontro entre amigos e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

reforçar laços criados <strong>em</strong> outros espaços que, por conta dos diferentes<br />

ritmos <strong>de</strong> vida das pessoas, muitas vezes não encontram espaço para<br />

ser<strong>em</strong> alimentados no cotidiano. Durante as entrevistas realizadas, todos<br />

os entrevistados <strong>de</strong>clararam buscar contatos, trocas que ornass<strong>em</strong>, completass<strong>em</strong><br />

ou compensass<strong>em</strong> as relações cotidianas impostas pelo trabalho,<br />

pelos <strong>de</strong>veres sociais ou familiares, buscando um quadro <strong>de</strong> relações<br />

sociais livr<strong>em</strong>ente escolhidas.<br />

Apenas dois entrevistados, ambos do sexo masculino, <strong>de</strong>clararam<br />

freqüentar eventualmente bares e casas noturnas sozinhos, sendo que<br />

todos os outros <strong>de</strong>clararam freqüentar estes espaços com amigos, namorado,<br />

namorada ou cônjuge, procurando justamente usufruir a companhia<br />

<strong>de</strong>stes <strong>em</strong> um ambiente agradável e <strong>de</strong>scontraído. Apesar <strong>de</strong> não constituir<br />

uma unanimida<strong>de</strong>, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer pessoas novas também<br />

foi apontada. Em linhas gerais verificou-se que, apesar da maioria<br />

dos relacionamentos surgidos <strong>em</strong> bares e casas noturnas ter<strong>em</strong> sido apontados<br />

como fulgazes, ocasionais e s<strong>em</strong> aprofundamento, marcas da própria<br />

sociabilida<strong>de</strong>, alguns entrevistados afirmaram, tendo como base a<br />

própria experiência, alguns relacionamentos iniciados <strong>em</strong> bares e casas<br />

noturnas po<strong>de</strong>m e são aprofundados posteriormente, estabelecendo laços<br />

mais fortes como amiza<strong>de</strong>s ou relacionamentos amorosos propriamente<br />

ditos.<br />

Entretanto, segundo os <strong>de</strong>poimentos, existe maior probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> incorporação <strong>de</strong> um novo indivíduo a um grupo quando este v<strong>em</strong><br />

intermediado, ou seja, apresentado por um amigo ou conhecido <strong>em</strong> comum,<br />

pois <strong>de</strong>sta forma o estabelecimento <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> segurança<br />

e afinida<strong>de</strong> é incentivado pela aprovação do grupo ou amigo intermediador.<br />

Da mesma forma, os entrevistados <strong>de</strong>clararam ser mais fácil entabular<br />

uma relação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> ou amorosa com alguém “intermediado”, tendo<br />

<strong>em</strong> vista a existência <strong>de</strong> afinida<strong>de</strong>s e amigos <strong>em</strong> comum, fazendo com<br />

que os laços se sobreponham e sejam reforçados entre estas pessoas.<br />

Existe ainda a idéia <strong>de</strong> “relacionamento <strong>de</strong> bar”, que se refere aos<br />

laços que ficam circunscritos ao espaço do estabelecimento. Neste caso,<br />

as pessoas têm um mínimo conhecimento sobre as <strong>de</strong>mais e conviv<strong>em</strong><br />

com certa freqüência <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminados estabelecimentos, freqüência esta<br />

que é alimentada pela fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao próprio estabelecimento, mas que<br />

não pressupõe que estes laços sejam fortalecidos ou ainda cultivados<br />

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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />

fora <strong>de</strong>stes ambientes. Um aspecto interessante é que muitos bares, restaurantes<br />

e casas noturnas, como observa ROLIM (1997) <strong>em</strong> sua pesquisa,<br />

ao ser<strong>em</strong> freqüentados com certa assiduida<strong>de</strong>, acabam sendo tomados<br />

como continuida<strong>de</strong> do lar <strong>de</strong> cada um, a segunda casa, consistindo<br />

<strong>em</strong> locais públicos que são tratados como espaços privados.<br />

A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer novas pessoas muitas vezes é<br />

alimentada pelo flerte, uma iniciativa <strong>de</strong> aproximação cujo principal objetivo<br />

é o envolvimento amoroso ou sensual, aspecto apontado por gran<strong>de</strong><br />

parte dos entrevistados que não possuíam na ocasião relacionamentos<br />

estáveis. Nota-se que muitas vezes a sedução se estabelece como<br />

um jogo estimulante propício para ser praticado nesses espaços, caracterizando-se<br />

como um gran<strong>de</strong> incentivo para a freqüência e permanência<br />

<strong>de</strong> pessoas s<strong>em</strong> relacionamento amoroso fixo <strong>em</strong> bares e casas<br />

noturnas.<br />

Deve-se observar que alguns entrevistados <strong>de</strong>clararam não conhecer<br />

novas pessoas justamente por centrar<strong>em</strong> suas atenções no próprio<br />

grupo <strong>de</strong> amigos com qu<strong>em</strong> freqüentam esses espaços, enquanto<br />

outros <strong>de</strong>clararam que, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do próprio humor e nível <strong>de</strong> cansaço,<br />

po<strong>de</strong>m se sentir mais à vonta<strong>de</strong> para estabelecer novos contatos.<br />

Três entrevistadas, no entanto, <strong>de</strong>clararam acreditar que a gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><br />

para conhecer novas pessoas <strong>em</strong> Curitiba resi<strong>de</strong> justamente no<br />

comportamento distante e pouco receptivo que as mesmas atribu<strong>em</strong> aos<br />

curitibanos. Entretanto, mesmo os que <strong>de</strong>clararam não conhecer pessoas<br />

<strong>em</strong> bares e casas noturnas freqüentam estes estabelecimentos acompanhados,<br />

não ampliando seus contatos, mas vivenciando a sociabilida<strong>de</strong><br />

entre seus acompanhantes.<br />

Logicamente, por tratar-se <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong> caráter comercial,<br />

<strong>de</strong>ve-se enfatizar que, <strong>em</strong>bora a sociabilida<strong>de</strong> estabeleça uma<br />

igualda<strong>de</strong> forjada entre os envolvidos <strong>de</strong>ixando t<strong>em</strong>porariamente<br />

suspensas as características objetivas <strong>de</strong> cada um, bares e casas noturnas<br />

continuam sendo espaços <strong>de</strong> lazer privados. Mesmo sendo o lazer<br />

resultado <strong>de</strong> uma livre escolha, ele também é marcado por condicionamentos<br />

socioeconômicos, aspecto este que, justamente por interferir no<br />

acesso a <strong>de</strong>terminados estabelecimentos comerciais e influenciar diretamente<br />

o perfil dos freqüentadores, <strong>de</strong>ve ser analisado <strong>de</strong> forma criteriosa<br />

durante a concepção dos <strong>em</strong>preendimentos <strong>em</strong> questão.


Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes<br />

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Os serviços <strong>de</strong> alimentação, antes intimamente relacionados ao<br />

lar e à mulher, constitu<strong>em</strong> atualmente objeto <strong>de</strong> relações comerciais, sendo<br />

oferecidos <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> escala a um gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> consumidores,<br />

que procuram a praticida<strong>de</strong>, a rapi<strong>de</strong>z, as facilida<strong>de</strong>s e até mesmo a segurança<br />

<strong>de</strong> uma alimentação equilibrada (ou pelo menos não contaminada)<br />

fora <strong>de</strong> seus locais <strong>de</strong> residência.<br />

Neste panorama, aliados à comida e à bebida (el<strong>em</strong>entos fundamentais<br />

da oferta), possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> entretenimento (música, dança,<br />

ambientes t<strong>em</strong>áticos, ...) e <strong>de</strong> interação entre pessoas (por meio da conversa,<br />

do flerte, ..) vêm ganhando <strong>de</strong>staque e figurando <strong>de</strong>ntre as principais<br />

motivações <strong>de</strong> freqüência <strong>de</strong> bares e casas noturnas. Nos gran<strong>de</strong>s<br />

centros urbanos, on<strong>de</strong> há uma tendência <strong>de</strong> isolamento das pessoas <strong>em</strong><br />

suas respectivas residências, b<strong>em</strong> como uma ausência quase total <strong>de</strong><br />

espaços <strong>de</strong> lazer que po<strong>de</strong>m ser freqüentados no período noturno <strong>em</strong><br />

segurança, muitos estabelecimentos <strong>de</strong> alimentos e bebidas são tomados<br />

como verda<strong>de</strong>iras extensões da residência <strong>de</strong> seus clientes.<br />

Desta forma, além das preocupações associadas à formatação do<br />

cardápio e <strong>de</strong>finição da proposta da casa, a criação <strong>de</strong> um ambiente a<strong>de</strong>quado<br />

e atrativo para o público que se preten<strong>de</strong> atrair configura-se hoje<br />

como uma das principais <strong>de</strong>cisões estratégicas no negócio <strong>de</strong> Alimentos<br />

e Bebidas. Ambientação não apenas no sentido <strong>de</strong> ocupação estética do<br />

espaço ou <strong>de</strong> provimento <strong>de</strong> conforto para os freqüentadores, mas principalmente<br />

como criação <strong>de</strong> uma atmosfera acolhedora e que comunique<br />

aos clientes a proposta e os diferenciais da casa, criando um sentimento<br />

<strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rá ser convertido <strong>em</strong> fi<strong>de</strong>lização.<br />

Em um mercado altamente competitivo e catalisado pelo aparecimento<br />

freqüente <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>s, a conexão entre clientes e estabelecimento<br />

talvez seja a chave para o sucesso e bom <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho financeiro<br />

<strong>de</strong> um estabelecimento. Neste sentido, a ampliação do foco do negócio<br />

<strong>de</strong> alimentos e bebidas, envolvendo a pr<strong>em</strong>issa <strong>de</strong> que os espaços <strong>de</strong><br />

alimentação constitu<strong>em</strong> atualmente espaços <strong>de</strong> lazer <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância,<br />

parece ser uma mudança fundamental não apenas para a compreensão<br />

da relevância <strong>de</strong>stes estabelecimentos na atualida<strong>de</strong>, mas principalmente<br />

um gran<strong>de</strong> passo <strong>em</strong> relação às novas formas <strong>de</strong> formatação<br />

e operacionalização <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>ssa natureza.<br />

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Olhares Cont<strong>em</strong>porâneos sobre Consumo <strong>em</strong> Bares ...<br />

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Edélcio Pedro Jacomassi<br />

AMBIENTE EXTERNO E<br />

PROCESSO DE DEFINIÇÃO<br />

DE ESTRATÉGIAS<br />

ORGANIZACIONAIS:<br />

UMA REVISÃO E SÍNTESE TEÓRICA<br />

EDELCIO PEDRO JACOMASSI<br />

___________________________________________________________<br />

Mestre <strong>em</strong> <strong>Administração</strong> pela UFSC<br />

Especialista <strong>em</strong> Planejamento Empresarial<br />

Professor das Faculda<strong>de</strong>s Integradas Curitiba<br />

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Edélcio Pedro Jacomassi<br />

RESUMO<br />

O presente estudo t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a influência que o ambiente<br />

externo exerce no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão estratégica das organizações<br />

e, como conseqüência, nas mudanças internas necessárias para<br />

se a<strong>de</strong>quar às novas situações. Toda <strong>de</strong>cisão implica escolha da melhor<br />

alternativa para aproveitar as oportunida<strong>de</strong>s e diminuir as ameaças do<br />

ambiente externo <strong>em</strong> busca do sucesso <strong>em</strong>presarial, s<strong>em</strong> se esquecer <strong>de</strong><br />

reavaliar as condições internas, fortalecendo os pontos fortes e corrigindo<br />

os probl<strong>em</strong>as e pontos fracos da organização. Com base na correta<br />

avaliação do cenário externo, as organizações se obrigam planejar e <strong>de</strong>finir<br />

as mudanças que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ocorrer internamente e como fazê-las <strong>de</strong><br />

forma a minimizar as resistências e s<strong>em</strong> ocasionar uma queda no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho<br />

organizacional.<br />

Palavras-chave: ambiente externo, cenários, mudanças organizacionais,<br />

gestão estratégica, planejamento estratégico, ambiente<br />

interno.<br />

ABSTRACT<br />

The present study wants to <strong>de</strong>monstrate the influence of the external<br />

environment in the strategic process of <strong>de</strong>cision on organizations and as<br />

consequence in the internal changes to be prepared at new situations. All<br />

<strong>de</strong>cision implies in the choice of the best alternative to advantage the<br />

chances and to diminish the threats of the external environment in search<br />

of the enterprise success, without forgetting to reevaluate the internal<br />

conditions, fortifying the strong points and correcting the probl<strong>em</strong>s and<br />

weak points of the organization. From the correct evaluation of the external<br />

scene the organizations must plan and <strong>de</strong>fine which changes are necessary<br />

and the way to make th<strong>em</strong> minimize the difficulties and without causing a<br />

fall in the organizational performance.<br />

Keywords: external ambience, scenes, organizational changes, strategic<br />

manag<strong>em</strong>ent, strategic planning, internal ambience.<br />

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1 INTRODUÇÃO<br />

Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />

As transformações cada vez mais rápidas e as turbulências<br />

ambientais freqüentes exig<strong>em</strong> das organizações mais profissionalismo e<br />

competência para interpretar, planejar e agir rapidamente, principalmente<br />

<strong>em</strong> mercados competitivos.<br />

O entendimento quanto aos motivos provenientes do ambiente<br />

externo que influenciam as organizações é <strong>de</strong>terminante na escolha das<br />

estratégias <strong>em</strong>presariais. Essa <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias a<strong>de</strong>quadas, além<br />

<strong>de</strong> se constituir <strong>em</strong> um fator <strong>de</strong> sobrevivência da <strong>em</strong>presa, justifica a existência<br />

<strong>de</strong>sta a todos os que com ela interag<strong>em</strong> (a comunida<strong>de</strong>, os acionistas,<br />

a política e os fornecedores) e permite que se obtenha uma vantag<strong>em</strong><br />

competitiva perante as <strong>de</strong>mais concorrentes do mercado.<br />

As mudanças do ambiente externo são <strong>de</strong>cisivas na busca do sucesso<br />

<strong>em</strong>presarial, para aquelas organizações que escolh<strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> gestão proativa e compatível com uma nova realida<strong>de</strong>, facilitando a<br />

escolha da estratégia i<strong>de</strong>al para atingir melhores resultados.<br />

A <strong>em</strong>presa vivencia a busca do sucesso a partir <strong>de</strong> uma boa idéia,<br />

<strong>de</strong> uma missão e objetivos b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidos, visão <strong>de</strong> futuro, leitura <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<br />

e ameaças, persistência e, principalmente, da forma com que<br />

conduz seus negócios.<br />

Este artigo procura <strong>de</strong>monstrar como uma organização necessita<br />

dispor <strong>de</strong> conhecimento e ferramentas para análise e interpretação do<br />

ambiente externo como direcionador <strong>de</strong> estratégias competitivas e <strong>de</strong><br />

mudanças internas.<br />

2 VISÃO SISTÊMICA E CONCEPÇÃO SOBRE AMBIENTES<br />

O enfoque da visão sistêmica das organizações estuda e relaciona<br />

a perspectiva <strong>de</strong> ambientes externo e interno <strong>de</strong> qualquer organização<br />

social e sua inter<strong>de</strong>pendência. As organizações são vistas como um sist<strong>em</strong>a<br />

integrado e indivisível, no qual as <strong>de</strong>cisões tomadas <strong>em</strong> um dos<br />

setores da <strong>em</strong>presa reflet<strong>em</strong> <strong>em</strong> atitu<strong>de</strong>s e resultados <strong>de</strong> <strong>de</strong>mais áreas.<br />

Segundo Oliveira (1991, p. 38), sist<strong>em</strong>a é “[...] um conjunto <strong>de</strong><br />

partes integrantes e inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes que, conjuntamente, formam um<br />

todo unitário com <strong>de</strong>terminado objetivo e efetuando uma função.”<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.


Edélcio Pedro Jacomassi<br />

Os el<strong>em</strong>entos componentes <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a são: objetivos, entradas<br />

(insumos), processo <strong>de</strong> transformação, saídas (resultados), controles<br />

e retroalimentação.<br />

FIGURA 1 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE UM SISTEMA<br />

FONTE: Valeriano (1998, p. 7).<br />

Na visão sistêmica fica evi<strong>de</strong>nte a inter<strong>de</strong>pendência que as organizações<br />

possu<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação ao ambiente externo, principalmente se<br />

analisadas com as entradas e as saídas <strong>de</strong>sejadas, <strong>em</strong> função dos objetivos<br />

propostos.<br />

3 EVOLUÇÃO DO ESTUDO DOS AMBIENTES<br />

Pesquisando sobre os primeiros trabalhos nessa área, po<strong>de</strong>-se<br />

citar Chandler (1962) como o responsável pelo gran<strong>de</strong> trabalho que faz a<br />

análise das inter-relações entre o ambiente externo <strong>de</strong> uma organização,<br />

a estratégia <strong>em</strong>presarial adotada e a estrutura organizacional. O autor<br />

<strong>de</strong>senvolveu sua pesquisa <strong>em</strong> 50 gran<strong>de</strong>s organizações norte-americanas;<br />

observou as mudanças no ambiente externo e as relacionou às mudanças<br />

na estratégia <strong>em</strong>presarial, no sentido <strong>de</strong> buscar um novo<br />

posicionamento <strong>em</strong> função da nova realida<strong>de</strong>.<br />

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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />

Lawrence e Lorsch (1973, p. 28) verificaram que o ambiente afeta<br />

os subsist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> uma organização <strong>de</strong> diversas formas, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a<br />

idéia <strong>de</strong> que não existe apenas uma única, ou, ainda, a melhor maneira<br />

<strong>de</strong> organização interna. A compreensão quanto à função da organização,<br />

sua caracterização jurídica, suas origens e forma <strong>de</strong> atuação é essencial<br />

para se perceber a importância e necessida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> mudança.<br />

Como a organização está <strong>em</strong> contínuo processo <strong>de</strong> mudanças, é importante<br />

que haja um monitoramento das ações e dos respectivos resultados<br />

para se acompanhar e direcionar as novas mudanças <strong>em</strong> função dos objetivos<br />

e estratégias planejadas.<br />

Na análise <strong>de</strong> diversos autores, entre eles Kotler (1996, p. 34), as<br />

gran<strong>de</strong>s forças macroambientais que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser i<strong>de</strong>ntificadas e analisadas<br />

com freqüência são as <strong>de</strong>mográficas, econômicas, naturais, tecnológicas<br />

e políticas. Cada uma <strong>de</strong>ssas forças do ambiente interfere <strong>de</strong> forma<br />

significativa e intensamente sobre qualquer organização e po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>cisiva<br />

para se i<strong>de</strong>ntificar oportunida<strong>de</strong>s e ameaças.<br />

A dinâmica do mercado, com a ameaça <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> novos concorrentes,<br />

a mudança <strong>de</strong> cenário voltada para uma melhor qualida<strong>de</strong> e<br />

competitivida<strong>de</strong>, o processo <strong>de</strong> privatização <strong>de</strong> instituições públicas, a<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> ações e boa vonta<strong>de</strong> política e, principalmente, a visão<br />

<strong>de</strong> cliente, com suas necessida<strong>de</strong>s e expectativas, que nesse caso insere<br />

a comunida<strong>de</strong> como agente integrante, com julgamentos quanto à forma<br />

<strong>de</strong> atuação da organização, formam uma gama <strong>de</strong> fatores críticos que<br />

impulsionaram o processo <strong>de</strong> mudança. A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>ssas variáveis<br />

e o monitoramento constante permit<strong>em</strong> ao gestor interagir <strong>de</strong> forma efetiva<br />

com o meio externo e adotar um estilo <strong>de</strong> gestão proativo, buscando<br />

antecipar algumas <strong>de</strong>cisões e <strong>de</strong>finir melhor as opções disponíveis e estratégias<br />

a ser<strong>em</strong> adotadas, mesmo <strong>em</strong> situações adversas.<br />

De uma maneira geral, a correta avaliação <strong>de</strong> um cenário atual e<br />

futuro permite que se julgu<strong>em</strong> quais as prováveis <strong>de</strong>cisões a ser<strong>em</strong><br />

adotadas, impactando diretamente sobre as mudanças internas e, principalmente,<br />

sobre a própria forma <strong>de</strong> condução dos negócios.<br />

4 ORGANIZAÇÃO E AMBIENTE EXTERNO<br />

Uma das características que se perceb<strong>em</strong> atualmente no<br />

direcionamento <strong>de</strong> estudos referentes às organizações é a <strong>de</strong> enfocar a<br />

análise sobre alguns fatores pontuais e muitas vezes dissociados. Na<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.


Edélcio Pedro Jacomassi<br />

realida<strong>de</strong> das organizações, observa-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens<br />

avaliadas e analisadas sob a ótica <strong>de</strong> suas inter<strong>de</strong>pendências e principalmente<br />

por meio <strong>de</strong> fatores causais interagentes e inter-relacionados, com<br />

leitura freqüente <strong>de</strong> ambiente e construção <strong>de</strong> cenários, conectada ao<br />

planejamento das ações da <strong>em</strong>presa, <strong>em</strong> todas as suas competências<br />

como sendo parte integrante <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> que as mudanças externas<br />

e internas faz<strong>em</strong> parte do cotidiano.<br />

Esse enfoque permite que a visão e a interpretação <strong>de</strong> cenários<br />

assumam uma nova postura, <strong>de</strong> maior importância nas <strong>em</strong>presas, como<br />

instrumento <strong>de</strong> influência tanto no planejamento como nas mudanças<br />

organizacionais, envolvendo fatores <strong>de</strong> estrutura, cultura e processo internos.<br />

O ambiente externo é consi<strong>de</strong>rado o conjunto <strong>de</strong> todos os fatores<br />

que têm influência sobre a operação do sist<strong>em</strong>a. Entre os fatores mais<br />

conhecidos estão a concorrência, os consumidores, a comunida<strong>de</strong>, o governo,<br />

os fornecedores, o sist<strong>em</strong>a financeiro e o mercado <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra.<br />

No conceito <strong>de</strong> Stoner (1999, p. 46), enten<strong>de</strong>-se como ambiente<br />

externo, o conjunto <strong>de</strong> todos os el<strong>em</strong>entos que atuam fora <strong>de</strong> uma organização<br />

e que são relevantes para sua operação. A análise das mudanças<br />

no ambiente externo po<strong>de</strong> proporcionar um arcabouço <strong>de</strong> informações<br />

que ajudam a melhor compreendê-las e interagir <strong>de</strong> uma forma mais efetiva,<br />

aproveitando as oportunida<strong>de</strong>s e minimizando os riscos <strong>de</strong> qualquer<br />

ativida<strong>de</strong> econômica.<br />

Tachizawa (2000, p. 12) enfatiza a importância <strong>de</strong> se examinar as<br />

ativida<strong>de</strong>s relacionadas à análise ambiental, as quais <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

consubstanciar o <strong>de</strong>lineamento da conjuntura ou meio ambiente <strong>em</strong> que<br />

a organização está inserida, partindo-se do pressuposto <strong>de</strong> que qualquer<br />

<strong>em</strong>presa se encontra <strong>em</strong> um contexto ambiental composto <strong>de</strong> variáveis<br />

controláveis e incontroláveis. Para essa análise ambiental, o autor ainda<br />

adota um critério <strong>de</strong> segmentação que abrange o macroambiente clima,<br />

enfatizando os aspectos políticos; o macroambiente solo, que avalia as<br />

questões pertinentes à população e suas características; o macroambiente<br />

operacional, que procura avaliar os fornecedores, concorrentes, clientes<br />

e evolução tecnológica; o ambiente interno, que procura i<strong>de</strong>ntificar as<br />

aspirações dos funcionários e gestores.<br />

Segundo Kotler (1996, p. 142), muitas <strong>em</strong>presas não consi<strong>de</strong>ram<br />

as mudanças ambientais como oportunida<strong>de</strong>s, ignoram-nas ou resist<strong>em</strong><br />

a elas até quando já for tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais. Suas estratégias, estruturas, sist<strong>em</strong>as<br />

e cultura <strong>em</strong>presarial cresc<strong>em</strong> obsoleta e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente.<br />

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Muitas organizações, consi<strong>de</strong>radas inabaláveis, foram sucumbindo<br />

ao longo do t<strong>em</strong>po por não perceber<strong>em</strong> que o ambiente exigia mudanças<br />

<strong>de</strong> produtos, serviços, tecnologia ou até mesmo <strong>de</strong> novos nichos <strong>de</strong><br />

mercado. Aquelas que resist<strong>em</strong> à necessida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> mudança<br />

contínua reag<strong>em</strong> mais lentamente às mudanças, adotando um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

gestão reativo, no qual o resgate do t<strong>em</strong>po perdido po<strong>de</strong> ser fatal para a<br />

sobrevivência <strong>de</strong>las.<br />

Para o melhor entendimento <strong>de</strong> ambiente externo, é importante a<br />

abordag<strong>em</strong> sobre a leitura <strong>de</strong> cenários, que nada mais é do que a i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong> seqüências hipotéticas <strong>de</strong> eventos construídos com o propósito<br />

<strong>de</strong> focalizar a atenção sobre processos causais. Cada evento no ambiente<br />

interfere <strong>de</strong> alguma forma sobre a organização, e esta, por sua vez, <strong>de</strong>ve<br />

planejar suas ações. Nesse sentido é importante salientar que uma leitura<br />

ina<strong>de</strong>quada do ambiente externo po<strong>de</strong> induzir à construção <strong>de</strong> um cenário<br />

futuro distorcido, ocasionando uma tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão errada.<br />

FIGURA 2 - LEITURA E PROJEÇÃO DE CENÁRIOS<br />

FONTE: Elaborado pelo autor.<br />

Para se buscar a excelência organizacional, é fundamental a avaliação<br />

da influência que as tendências mundiais e do macroambitente<br />

exerc<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação às mudanças nas organizações, constituindo-se <strong>em</strong><br />

fatores condicionantes <strong>de</strong> sucesso no futuro. É importante salientar que o<br />

ambiente é constituído <strong>de</strong> três aspectos distintos: ambiente geral,<br />

operacional e interno, os quais se relacionam, interag<strong>em</strong> e se compl<strong>em</strong>entam<br />

e, ainda, possu<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> influência distintos nas organizações.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.


Edélcio Pedro Jacomassi<br />

O ambiente geral se refere às questões mais amplas, as quais as<br />

organizações individualmente pouco consegu<strong>em</strong> influenciar, mas que influenciam<br />

diretamente as <strong>em</strong>presas. Esse ambiente, segundo Certo (1993,<br />

p. 42), é composto <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos que têm amplo escopo e pouca aplicação<br />

imediata para administrar uma organização, porém, conforme é apresentado<br />

por Kotler (1996, p. 142), <strong>em</strong>presas b<strong>em</strong>-sucedidas são as que<br />

po<strong>de</strong>m reconhecer e respon<strong>de</strong>r rentavelmente às necessida<strong>de</strong>s não resolvidas<br />

e às tendências do macroambiente.<br />

Esse ambiente reflete questões estruturais ao sist<strong>em</strong>a, as quais<br />

mudam <strong>de</strong> tendência somente <strong>em</strong> longo prazo, <strong>de</strong> forma lenta e gradual,<br />

criando oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> novos negócios <strong>em</strong> função da mudança <strong>de</strong> hábitos,<br />

para as <strong>em</strong>presas que consegu<strong>em</strong> fazer uma leitura a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong><br />

cenário. Nesse sentido, é importante que os gestores <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas investigu<strong>em</strong>,<br />

compreendam e cri<strong>em</strong> cenários atuais e futuros das variáveis que<br />

interfer<strong>em</strong> diretamente sobre seu setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>.<br />

Componente<br />

Social<br />

Componente<br />

Político<br />

FIGURA 3 - ESTRUTURA AMBIENTAL.<br />

Componente<br />

Internacional<br />

Componente<br />

Mão-<strong>de</strong>-Obra<br />

AMBIENTE<br />

GERAL<br />

AMBIENTE<br />

OPERACIONAL<br />

A ORGANIZAÇÃO<br />

AMBIENTE<br />

INTERNO<br />

FONTE: Certo (1993, p. 47 – adaptação).<br />

Componente<br />

econômico<br />

Componente<br />

fornecedor<br />

Aspectos organizacionais<br />

Aspectos <strong>de</strong> marketing<br />

Aspectos financeiros<br />

Aspectos pessoais<br />

Aspectos <strong>de</strong> precaução Componente<br />

Tecnológico<br />

Componente<br />

concorrência<br />

Componente<br />

cliente<br />

Componente<br />

Legal<br />

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Segundo Kotler (1996, p. 145), as gran<strong>de</strong>s forças macroambientais<br />

que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser analisadas são as seguintes: <strong>de</strong>mográficas, econômicas,<br />

naturais, tecnológicas e políticas.<br />

As forças <strong>de</strong>mográficas diz<strong>em</strong> respeito ao crescimento da população<br />

e suas características (expectativa <strong>de</strong> vida, faixa etária, nível educacional,<br />

etc.) ou ao movimento <strong>de</strong>mográfico no mercado <strong>em</strong> que a <strong>em</strong>presa<br />

atua.<br />

As forças econômicas representam o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra existente<br />

<strong>em</strong> uma economia <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da renda atual, do nível dos preços, da<br />

formação <strong>de</strong> poupança e da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crédito.<br />

As forças naturais representam a influência da socieda<strong>de</strong> no sentido<br />

<strong>de</strong> cobrar das <strong>em</strong>presas a utilização racional e or<strong>de</strong>nada dos recursos<br />

naturais escassos ou ainda <strong>de</strong> processos produtivos que não sejam<br />

poluentes ou que possam agredir a natureza e o meio ambiente.<br />

As forças tecnológicas não se limitam ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

processos produtivos ou do produto, mas influenciam o comportamento<br />

das pessoas e as relações sociais e laborais, como, por ex<strong>em</strong>plo, a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, cada vez mais, se po<strong>de</strong>r trabalhar <strong>em</strong> escritórios virtuais<br />

nas residências, participar <strong>de</strong> reuniões e cursos a distância, entre<br />

outras comodida<strong>de</strong>s.<br />

As forças políticas representam o processo governamental <strong>de</strong><br />

uma nação e influenciam o nível <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, por meio <strong>de</strong> barreiras ou<br />

incentivos, <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado segmento <strong>de</strong> mercado. A i<strong>de</strong>ntificação,<br />

acompanhamento e filtro das tendências da política nacional proporcionam<br />

perspectivas das ações <strong>de</strong> governo que influenciarão as ativida<strong>de</strong>s<br />

da <strong>em</strong>presa, i<strong>de</strong>ntificando oportunida<strong>de</strong>s e ameaças e influindo na<br />

competitivida<strong>de</strong> do setor.<br />

As variáveis do ambiente macro são aquelas <strong>em</strong> que as organizações,<br />

isoladamente e <strong>em</strong> estruturas <strong>de</strong> mercado competitivo, pouco<br />

po<strong>de</strong>m influenciar ou modificar. As organizações, apesar <strong>de</strong> adotar<strong>em</strong><br />

uma postura reativa, <strong>de</strong>verão s<strong>em</strong>pre tentar a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> ameaças<br />

e oportunida<strong>de</strong>s, preparando-se para interagir com essas variáveis, quando<br />

surgir<strong>em</strong>.<br />

Certo (1993, p. 44) conceituou o ambiente operacional como o<br />

nível do ambiente externo composto <strong>de</strong> setores com implicações específicas<br />

e relativamente imediatas na administração da organização. Ansoff<br />

(1977, p. 127) <strong>de</strong>senvolve a idéia da importância <strong>de</strong> diagnosticar o am-<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.


Edélcio Pedro Jacomassi<br />

biente operacional <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa. Para este autor, a análise externa<br />

é a verificação das oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produto e mercado disponíveis à<br />

<strong>em</strong>presa. O foco do ambiente operacional é o mercado <strong>em</strong> que a <strong>em</strong>presa<br />

está inserida.<br />

Os fatores analisados quanto ao ambiente operacional das organizações,<br />

segundo Certo (1993, p. 44), são: componente cliente,<br />

componente concorrência, componente fornecedor e o componente internacional.<br />

O componente cliente representa a análise das características<br />

daqueles que compram mercadorias e serviços fornecidos pela organização,<br />

ou seja, seus clientes atuais e potenciais.<br />

Para Contador (1995, p. 46), o principal componente da análise<br />

externa <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa é o perfil dos clientes, <strong>em</strong> função da pressão<br />

crescente que exerc<strong>em</strong> quanto à qualida<strong>de</strong> e preços dos produtos<br />

ofertados no mercado. Os clientes se tornam muito mais dinâmicos no<br />

processo <strong>de</strong> escolha por um produto ou serviço, pela rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> informação<br />

e tecnologia disponíveis. O entendimento do comportamento do<br />

cliente, aliado à análise dos produtos ou serviços ofertados, revela o<br />

real atendimento <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s e expectativas.<br />

O componente concorrência, segundo Certo (1993, p. 44), consiste<br />

naquilo <strong>em</strong> que a organização t<strong>em</strong> <strong>de</strong> combater para conseguir<br />

recursos. Analisar os concorrentes, i<strong>de</strong>ntificar seus pontos fortes e fracos<br />

e sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atingir os consumidores são fatores fundamentais<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento estratégico <strong>de</strong> uma organização.<br />

Nesse sentido, é importante i<strong>de</strong>ntificar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concorrentes<br />

diretos ou por similarida<strong>de</strong>, sua capacida<strong>de</strong> e nível <strong>de</strong> utilização,<br />

a participação <strong>de</strong>les no mercado, expectativas e planos futuros, estilos<br />

<strong>de</strong> gestão estratégica, novos produtos ou serviços, po<strong>de</strong>ndo até representar<br />

a diferença entre sucesso e fracasso no mercado.<br />

Em relação ao componente internacional, com a influência da<br />

globalização cada vez mais sentida nos mercados, a <strong>em</strong>presa precisa<br />

competir, estabelecendo referências internacionais <strong>de</strong> comparação, para<br />

não per<strong>de</strong>r competitivida<strong>de</strong> no mercado. Nessa fase, é feita a avaliação<br />

<strong>de</strong> fatores internos da <strong>em</strong>presa, evi<strong>de</strong>nciando seus pontos fortes e fracos,<br />

analisados diante da atual situação no mercado e envolvendo todas<br />

as áreas da organização, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua estrutura <strong>de</strong> trabalho até os<br />

aspectos organizacionais e financeiros.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />

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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />

5 AMBIENTE INTERNO DAS ORGANIZAÇÕES<br />

Certo (1993, p. 47) consi<strong>de</strong>ra o ambiente interno como o que t<strong>em</strong><br />

implicação imediata e específica na administração da <strong>em</strong>presa. Já na<br />

visão <strong>de</strong> Oliveira (1991, p. 77), “A análise interna <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa inicia a<br />

partir do diagnóstico das gran<strong>de</strong>s funções da organização”, conforme se<br />

po<strong>de</strong> observar no quadro 1.<br />

QUADRO 1 - IDENTIFICAÇÃO DAS FUNÇÕES ORGANIZACIONAIS<br />

FUNÇÃO FATOR DE ANÁLISE<br />

marketing<br />

financeira<br />

produção<br />

recursos<br />

humanos<br />

outros<br />

fatores<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> comunicação, satisfação dos clientes internos e<br />

externos, novos produtos ou serviços, estrutura <strong>de</strong> preços<br />

indicadores econômico-financeiros, estrutura <strong>de</strong> capitais,<br />

planejamento e controle financeiro, registro e análise contábil<br />

instalações, equipamentos, processos, PCP, qualida<strong>de</strong>,<br />

suprimentos, pesquisa <strong>de</strong> novos produtos<br />

motivação, treinamento, absenteísmo, rotação dos<br />

funcionários, clima organizacional<br />

relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações, cultura,<br />

valores, visão, nível <strong>de</strong> preparo <strong>de</strong> seus dirigentes, etc.<br />

FONTE: OLIVEIRA (1991, p. 8).<br />

Zaccarelli (1995, p. 49) afirma que qualquer ação interna na organização<br />

e que não for sentida pelos clientes como vantag<strong>em</strong> competitiva<br />

da <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> relação aos concorrentes não <strong>de</strong>verá ter significado para<br />

a <strong>em</strong>presa. Assim, os fatores a ser<strong>em</strong> analisados estarão imediatamente<br />

relacionados com o que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como apresentável aos<br />

clientes. Quanto a esses fatores, observa-se, diferent<strong>em</strong>ente do que diz o<br />

autor, que n<strong>em</strong> todas as ações <strong>de</strong>senvolvidas na <strong>em</strong>presa são sentidas<br />

diretamente pelos consumidores. Parte <strong>de</strong>las é internalizada, para, <strong>em</strong><br />

seguida, apresentar<strong>em</strong>-se perante o mercado.<br />

Ainda, algumas ações <strong>em</strong>presariais são imprescindíveis para o<br />

bom <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho organizacional, mas, caso não sejam efetuadas, po<strong>de</strong>rão<br />

ocasionar reações negativas e tais reações serão sentidas pelos consumidores,<br />

transformando-se numa <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> competitiva. Ex<strong>em</strong>plos<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.


Edélcio Pedro Jacomassi<br />

claros <strong>de</strong>ssa situação são as ações relacionadas ao grau <strong>de</strong> motivação<br />

dos <strong>em</strong>pregados pela estruturação <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> cargos e salários. A<br />

introdução não ocasiona uma vantag<strong>em</strong> competitiva diretamente sentida<br />

pelo mercado, mas sua não-adoção correspon<strong>de</strong>rá a uma reação negativa<br />

na <strong>em</strong>presa, o que po<strong>de</strong>rá ocasionar baixo <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos funcionários<br />

e, <strong>em</strong> conseqüência, qualida<strong>de</strong> inferior do produto final. Essa percepção<br />

é fundamental para os colaboradores, principalmente no que diz respeito<br />

ao acesso às informações internas necessárias, o que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />

é conseguido, pois muitas organizações não se sent<strong>em</strong> à vonta<strong>de</strong> para<br />

fornecer indicadores essenciais <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho, por medo <strong>de</strong> que estejam<br />

disponíveis aos concorrentes.<br />

Nessa fase, também, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser i<strong>de</strong>ntificados fatores subjetivos e<br />

culturais das organizações, tais como filosofia da <strong>em</strong>presa, relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,<br />

processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e clima organizacional, entre outros.<br />

O probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ve ser superado, pela sensibilização das pessoas<br />

envolvidas <strong>em</strong> relação aos benefícios que o processo <strong>de</strong> planejamento<br />

po<strong>de</strong>rá trazer para a organização. O processo <strong>de</strong> análise interna estará<br />

completo com a organização <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates a respeito dos principais fatores<br />

<strong>de</strong>tectados, com um plano <strong>de</strong> ação e com uma visão crítica e futurista,<br />

construindo os cenários futuros da <strong>em</strong>presa.<br />

6 RELAÇÃO ENTRE AMBIENTES EXTERNO E INTERNO DA<br />

ORGANIZAÇÃO<br />

Exist<strong>em</strong> um elo principal e um inter-relacionamento entre o ambiente<br />

e as organizações, os quais consist<strong>em</strong> nas estratégias, ou seja, como<br />

as organizações se preparam para atuar no cenário <strong>em</strong> que estão inseridas.<br />

6.1 ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS<br />

Silveira Júnior (1998, p. 31) consi<strong>de</strong>ra que estratégia nada mais é<br />

do que o universo-meio para se atingir um universo-fim. No contexto<br />

organizacional, a estratégia correspon<strong>de</strong> à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se trabalhar contínua<br />

e sist<strong>em</strong>aticamente o ajustamento às condições ambientais <strong>em</strong> mutação,<br />

tendo <strong>em</strong> mente a visão <strong>de</strong> futuro e a perpetuida<strong>de</strong> organizacional.<br />

Para Porter (1996, p. 68), estratégia é a criação <strong>de</strong> uma posição<br />

única e valiosa, envolvendo um conjunto diferente <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong> qualquer<br />

organização. O processo <strong>de</strong> formulação <strong>de</strong> uma estratégia envolve<br />

análise, planejamento e seleção das melhores estratégias gerais, para<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />

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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />

que sejam aumentadas as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alcance dos objetivos<br />

organizacionais.<br />

De acordo com Certo (1993, p. 114), as estratégias organizacionais<br />

são formuladas pela alta administração e projetadas para alcançar os objetivos<br />

globais da <strong>em</strong>presa. Nesse sentido, as estratégias gerais <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

ser avaliadas, selecionadas e <strong>de</strong>senvolvidas para se estabelecer as linhas<br />

<strong>de</strong> negócios ou <strong>de</strong> produtos, constituindo, assim, a carteira <strong>de</strong> negócios<br />

da <strong>em</strong>presa. Essas <strong>de</strong>finições permit<strong>em</strong> que organização atue <strong>de</strong><br />

forma diferente <strong>em</strong> cada produto ou segmento, conforme o objetivo da<br />

<strong>em</strong>presa.<br />

A análise das condições <strong>de</strong> mercado e dos fatores internos à organização<br />

representa o ponto <strong>de</strong> partida para a <strong>de</strong>terminação da melhor<br />

estratégia para uma <strong>em</strong>presa. A formulação <strong>de</strong> estratégias <strong>em</strong>presariais,<br />

na abordag<strong>em</strong> do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Porter (1992, p. 23), analisa cinco forças<br />

competitivas: po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha dos fornecedores, po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha<br />

dos clientes, existência <strong>de</strong> produtos substitutos, ameaças <strong>de</strong> novos concorrentes<br />

e rivalida<strong>de</strong> do ramo.<br />

Com base nessa análise, po<strong>de</strong>m-se <strong>de</strong>tectar três estratégias competitivas:<br />

a li<strong>de</strong>rança global <strong>de</strong> custos, a estratégia da diferenciação e a<br />

estratégia <strong>de</strong> enfoque.<br />

FIGURA 3 - MODELO DE ANÁLISE DA CONCORRÊNCIA DE PORTER<br />

Fator <strong>de</strong> barganha<br />

dos fornecedores<br />

Novos concorrentes<br />

<strong>em</strong> potencial<br />

CONCORRENTES<br />

INDUSTRIAIS<br />

Fornecedores Compradores<br />

Rivalida<strong>de</strong> entre<br />

<strong>em</strong>presas concorrentes<br />

Substitutos<br />

FONTE: PORTER (1992, p. 23).<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />

Risco <strong>de</strong> novos concorrentes<br />

Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha<br />

dos compradores<br />

Riscos <strong>de</strong> produtos ou<br />

serviços substitutos


Edélcio Pedro Jacomassi<br />

As estratégias <strong>de</strong>senvolvidas por uma organização baseiam-se<br />

<strong>em</strong> dois fatos. O primeiro fato fundamental é conhecer o ambiente <strong>em</strong><br />

que a <strong>em</strong>presa atua, com os consumidores e concorrentes da organização.<br />

O segundo fato a ressaltar é que as estratégias <strong>em</strong>presariais são<br />

estabelecidas com o firme propósito <strong>de</strong> satisfazer as necessida<strong>de</strong>s do<br />

mercado e apresentar aos consumidores vantagens <strong>em</strong> relação aos concorrentes,<br />

para conquistar melhores posições no mercado.<br />

O mercado no qual as organizações estão inseridas, correspon<strong>de</strong><br />

a um processo dinâmico e cercado <strong>de</strong> variáveis incontroláveis, o que possibilita<br />

riscos e oportunida<strong>de</strong>s <strong>em</strong>ergentes, exigindo da <strong>em</strong>presa uma<br />

postura <strong>de</strong> formulação <strong>de</strong> estratégias, para não ser tomada <strong>de</strong> surpresa<br />

pelo andamento do mercado. É relevante salientar que a formulação das<br />

estratégias <strong>em</strong>presariais é baseada na i<strong>de</strong>ntificação das oportunida<strong>de</strong>s e<br />

nas ameaças reveladas quando da análise ambiental.<br />

Cada setor ou área funcional <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa formula suas estratégias<br />

que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar vinculadas às estratégias <strong>de</strong> negócios ou às estratégias<br />

gerais da <strong>em</strong>presa. No entanto, para que uma organização possa<br />

atingir seus objetivos, não basta apenas formular uma estratégia, mas<br />

também estruturá-la <strong>de</strong> maneira efetiva e planejada.<br />

Na visão <strong>de</strong> Mintzberg (1996, p. 17), exist<strong>em</strong> cinco abordagens<br />

fundamentais <strong>de</strong> estratégia: plano, manobra, padrão, posição e perspectiva.<br />

Como plano, ela é percebida <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> um método <strong>de</strong> ação para<br />

diferentes tipos <strong>de</strong> situações. Como manobra, ela é específica e po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> para intimidar os competidores. Como padrão, a estratégia é<br />

o próprio arquétipo <strong>de</strong> comportamento adotado pela organização, sendo<br />

este consciente ou não. Como posição, i<strong>de</strong>ntifica qual a situação da <strong>em</strong>presa<br />

no mercado ou, ainda, seu posicionamento no ambiente externo.<br />

Finalmente, como perspectiva, se caracteriza <strong>em</strong> função da visão ou perspectiva<br />

<strong>de</strong> mundo e <strong>de</strong> atuação que a <strong>em</strong>presa t<strong>em</strong>.<br />

As abordagens diferentes sobre as questões estratégias levam<br />

aos distintos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> análise, que conforme o objeto <strong>de</strong> estudo po<strong>de</strong>m<br />

ser avaliados e proporcionar resultados sob óticas diversas.<br />

Segundo Oliveira (1991, p. 21), planejamento é um processo pelo<br />

qual se prevê e se estabelece no presente os resultados que se quer ver<br />

realizados no futuro. Também se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que planejamento é o<br />

estabelecimento, <strong>de</strong> forma sist<strong>em</strong>ática, do que se <strong>de</strong>seja para um <strong>de</strong>terminado<br />

período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po futuro, as ações e medidas a ser<strong>em</strong> tomadas,<br />

sua forma <strong>de</strong> execução, controle e avaliação, b<strong>em</strong> como a <strong>de</strong>finição dos<br />

recursos necessários para se atingir o que foi estabelecido.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />

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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />

No processo <strong>de</strong> planejamento <strong>em</strong>presarial, <strong>de</strong>ve-se estabelecer<br />

que diretrizes e objetivos <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> linhas <strong>de</strong> ação e os recursos a ser<strong>em</strong><br />

usados para atingi-los, b<strong>em</strong> como a estratégia que orientará a obtenção,<br />

uso e disposição <strong>de</strong>sses recursos, <strong>em</strong> nível estratégico, tático e<br />

operacional.<br />

Já o planejamento estratégico po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um processo<br />

formal <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a missão da organização, analisar seus ambientes externos<br />

e internos, fixar diretrizes e objetivos globais, para um período<br />

plurianual, consi<strong>de</strong>rando e selecionando estratégias para a consecução<br />

dos objetivos. Seu produto constituir-se-á no plano estratégico, fornecendo<br />

os el<strong>em</strong>entos fundamentais para o <strong>de</strong>senvolvimento das fases seguintes.<br />

No <strong>de</strong>senvolvimento do planejamento estratégico, a fase <strong>de</strong> análise<br />

ambiental e construção <strong>de</strong> cenários se constitui numa das principais etapas,<br />

pois seu monitoramento po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar riscos e oportunida<strong>de</strong>s para<br />

a <strong>em</strong>presa.<br />

Antes <strong>de</strong> aprofundar o estudo nas questões estratégicas voltadas<br />

às organizações, é importante salientar que exist<strong>em</strong> algumas diferenças<br />

entre os conceitos <strong>de</strong> administração estratégica e planejamento estratégico,<br />

mesmo que trat<strong>em</strong> <strong>de</strong> iguais objetivos e utiliz<strong>em</strong> idênticos princípios,<br />

diferenciando-se apenas no nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento estrutural e gerencial<br />

das <strong>em</strong>presas.<br />

A diferenciação entre os conceitos, origina-se do fato <strong>de</strong> que a<br />

administração estratégica não se preocupa <strong>em</strong> <strong>de</strong>masia com a estruturação<br />

formal do processo <strong>de</strong> planejamento, voltando a <strong>em</strong>presa para os processos<br />

ocorridos no ambiente, s<strong>em</strong> a maior preocupação <strong>em</strong> formalizar os<br />

estudos <strong>de</strong>senvolvidos com base na análise ambiental. Desenvolve-se<br />

mais no campo do pensamento estratégico e <strong>de</strong> operar mudanças na<br />

organização, para que ela se torne mais ágil <strong>em</strong> resposta às modificações<br />

ambientais.<br />

Já o planejamento estratégico, consi<strong>de</strong>rado como a etapa inicial<br />

do processo <strong>de</strong> administração estratégica, busca sist<strong>em</strong>atizar o pensamento<br />

operacional, formalizar processos e procedimentos, para que as<br />

<strong>em</strong>presas saibam exatamente os caminhos a ser<strong>em</strong> seguidos. Para Vasconcelos<br />

(1982; p. 181), o principal fator do planejamento estratégico é o<br />

processo <strong>de</strong> planejar e não o produto final no encaminhamento da organização<br />

e daqueles que nela atuam à cultura do pensamento estratégico.<br />

De acordo com Certo (1993, p. 467), administração estratégica é<br />

“[...] um processo contínuo e interativo que visa manter uma organização<br />

como um conjunto apropriadamente integrado com o seu ambiente.” Oli-<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.


Edélcio Pedro Jacomassi<br />

veira (1991, p. 21) consi<strong>de</strong>ra o planejamento estratégico como “[...] o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> providências a ser<strong>em</strong> tomadas pelo administrador para<br />

a situação <strong>em</strong> que o futuro ten<strong>de</strong> a ser diferente do passado.”<br />

Segundo a visão <strong>de</strong> Ansoff (1977), planejamento estratégico é “uma<br />

abordag<strong>em</strong> essencialmente cartesiana’’. Resume a questão da diferenciação<br />

entre o planejamento estratégico e a administração estratégica, como<br />

uma forma <strong>de</strong> ver os dois conceitos pelo prisma da facilida<strong>de</strong> e agilida<strong>de</strong><br />

proporcionadas à organização. Credita-se à administração estratégica o<br />

benefício <strong>de</strong> maior agilida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> rumos que a<br />

<strong>em</strong>presa necessitaria tomar <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> uma variação no ambiente,<br />

enquanto o planejamento estratégico proporciona uma estrutura mais<br />

amarrada, presa no que foi <strong>de</strong>finido pelo planejamento e oficializado<br />

documentalmente por meio dos planos da <strong>em</strong>presa.<br />

Tanto o enfoque <strong>de</strong> planejamento estratégico como o <strong>de</strong> administração<br />

estratégica se <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>, principalmente, no campo da análise<br />

ambiental e das relações do ambiente com a organização <strong>em</strong>presarial.<br />

Nesse sentido, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que o primeiro passo para o estudo do<br />

planejamento estratégico é a análise ambiental.<br />

O diagnóstico estratégico envolve a análise externa, incluindo a<br />

construção <strong>de</strong> cenários e revelando as oportunida<strong>de</strong>s e ameaças às organizações<br />

participantes <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada indústria, enquanto a análise<br />

interna <strong>de</strong> um a organização abrange, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a concepção <strong>de</strong> produto<br />

e serviços agregados (portfólio, ciclo <strong>de</strong> vida), pontos fracos e fortes da<br />

<strong>em</strong>presa.<br />

A análise das diretrizes organizacionais, que é elaborada após a<br />

leitura do cenário e do ambiente interno e que exige maior criativida<strong>de</strong>,<br />

permite a <strong>de</strong>finição do ramo <strong>de</strong> negócio da <strong>em</strong>presa, estabelecimento da<br />

missão e visão, os objetivos e metas organizacionais e funcionais.<br />

Com as mudanças no ambiente externo, é importante a reavaliação<br />

freqüente da missão da organização, tendo <strong>em</strong> vista a mudança <strong>de</strong> mercado<br />

ou <strong>de</strong> produtos e serviços. Afirma Peter Drucker (1973, p. 15), há<br />

mais <strong>de</strong> 30 anos:<br />

Qual é o nosso negócio? [...] a questão é que tão raramente perguntamos<br />

<strong>de</strong> forma clara e direta e tão raramente <strong>de</strong>dicamos t<strong>em</strong>po a<br />

uma reflexão sobre o assunto, que esta talvez seja a mais importante<br />

causa do fracasso das <strong>em</strong>presas.<br />

A <strong>de</strong>terminação do negócio ou <strong>de</strong> sua missão organizacional orienta<br />

a <strong>em</strong>presa quanto aos rumos que <strong>de</strong>ve tomar, tendo <strong>em</strong> vista a visão<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />

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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />

que se t<strong>em</strong> do futuro, para que seja ratificada a cultura estabelecida <strong>de</strong>ntro<br />

da organização, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua criação até o momento atual. A <strong>de</strong>terminação<br />

da missão <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa é baseada nos valores e crenças das<br />

pessoas que nela atuam. Desse modo, é imprescindível formar e estruturar<br />

a visão do negócio da <strong>em</strong>presa, i<strong>de</strong>ntificando os fatores que compõ<strong>em</strong> a<br />

estrutura filosófica da organização.<br />

Segundo Vasconcelos (1992, p. 42), <strong>de</strong>ve-se estabelecer a missão<br />

<strong>de</strong> uma <strong>em</strong>presa com base nas respostas às perguntas a seguir.<br />

O que a <strong>em</strong>presa <strong>de</strong>ve fazer?<br />

Para qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve fazer?<br />

Para que <strong>de</strong>ve fazer?<br />

Como <strong>de</strong>ve fazer?<br />

On<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve fazer?<br />

Qual a responsabilida<strong>de</strong> social que <strong>de</strong>ve ter?<br />

A resposta a esses questionamentos serve para revelar a missão<br />

<strong>de</strong> qualquer organização.<br />

No sentido <strong>de</strong> auxiliar a respon<strong>de</strong>r a tais questões, faz-se necessária<br />

a análise <strong>de</strong> cinco fatores principais:<br />

a) sua história;<br />

(Todas as <strong>em</strong>presas têm uma história <strong>de</strong> propósitos, políticas e<br />

realizações.)<br />

b) preferências atuais – tanto dos proprietários como dos gestores,<br />

dos interesses <strong>de</strong> participação <strong>de</strong>la no mercado;<br />

c) ambiente <strong>de</strong> mercado que afetam a missão e as <strong>de</strong>cisões da<br />

<strong>em</strong>presa;<br />

d) recursos da organização – financeiros, materiais e humanos;<br />

e) competências distintas – focalizar <strong>em</strong> produtos que possuam<br />

condições <strong>de</strong> concorrer no mercado.<br />

Prahalad e Hamel (1990, p. 79) utilizam a metáfora <strong>de</strong> uma árvore<br />

<strong>de</strong>ntro do setor automotivo para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> alguns termos, conforme<br />

quadro 3.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.


Edélcio Pedro Jacomassi<br />

QUADRO 3 - TERMOS UTILIZADOS NO NEGÓCIO DA EMPRESA<br />

ÁRVORE TERMOS SETORES<br />

raízes<br />

galhos<br />

folhas<br />

competências centrais<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios<br />

produtos finais<br />

FONTE: Prahalad e Hamel (1990, p. 79).<br />

motores<br />

carros, motocicletas<br />

Accord, Civic<br />

Quando uma <strong>em</strong>presa <strong>de</strong>termina sua missão, procura fazê-lo <strong>em</strong><br />

função <strong>de</strong> uma visão, que representa uma expectativa futura baseada <strong>em</strong><br />

um <strong>de</strong>sejo, algo maior. Depois <strong>de</strong> sedimentada a missão da <strong>em</strong>presa,<br />

cabe <strong>de</strong>senvolver um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> comunicação que permita aos <strong>de</strong>mais<br />

funcionários conhecer e i<strong>de</strong>ntificar-se com a missão estabelecida. Com<br />

apoio nessa experiência, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser provocados mais encontros para a<br />

i<strong>de</strong>ntificação das oportunida<strong>de</strong>s e ameaças que se apresentam à <strong>em</strong>presa<br />

e estabelecidos os objetivos da organização diante dos fatores i<strong>de</strong>ntificados.<br />

Para Vasconcelos (1992, p. 245), objetivos são resultados quantitativos<br />

e qualitativos que a <strong>em</strong>presa precisa alcançar <strong>em</strong> prazo <strong>de</strong>terminado,<br />

no contexto <strong>de</strong> seu ambiente, para cumprir sua missão. Por sua<br />

vez, Certo (1993, p. 77) consi<strong>de</strong>ra objetivos organizacionais como uma<br />

meta para qual a organização direciona seus esforços.<br />

A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> objetivos direciona a <strong>em</strong>presa a um caminho a ser<br />

seguido e orienta os colaboradores aon<strong>de</strong> se quer chegar, além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

estabelecer pontos <strong>de</strong> referência, para que os gestores da <strong>em</strong>presa possam<br />

encaminhar os esforços. A elaboração e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> objetivos<br />

permit<strong>em</strong> que a <strong>em</strong>presa possa avaliar seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho e sua eficiência<br />

organizacional, no sentido <strong>de</strong> comparar o previsto e o que se está conseguindo<br />

atingir.<br />

De uma forma geral, os objetivos organizacionais são uma tradução<br />

dos valores principais <strong>de</strong> uma organização, que, por sua vez, espelha<br />

os valores e objetivos pessoais, ou percepções <strong>de</strong> seus sócios, dirigentes<br />

ou colaboradores com mais influência, seja por conhecimento ou po<strong>de</strong>r.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />

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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />

É importante ressaltar que os objetivos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser apresentados<br />

<strong>em</strong> todos os níveis da <strong>em</strong>presa. No estratégico, são <strong>de</strong> caráter mais genérico,<br />

refletindo até mesmo os princípios e a missão da <strong>em</strong>presa, fornecendo<br />

aos funcionários uma visão <strong>de</strong> aon<strong>de</strong> se preten<strong>de</strong> chegar <strong>em</strong> curto,<br />

médio ou longo prazo. No nível funcional, ou para cada área, são mais<br />

<strong>de</strong> curto ou médio prazo e mais <strong>de</strong>talhados. Os objetivos po<strong>de</strong>m, também,<br />

ser <strong>de</strong>terminados <strong>em</strong> nível <strong>de</strong>partamental.<br />

As metas, na realida<strong>de</strong>, são os <strong>de</strong>sdobramentos dos objetivos,<br />

po<strong>de</strong>m ser elaboradas nas diversas áreas ou <strong>de</strong>partamentos da <strong>em</strong>presa<br />

e representam as etapas a ser<strong>em</strong> cumpridas para atingir<strong>em</strong>-se os objetivos<br />

elaborados <strong>em</strong> curto prazo. As metas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser quantificáveis, para<br />

que se possa avaliar e monitorar os resultados, visando à concretização<br />

do objetivo proposto.<br />

Os planos <strong>de</strong> ação serv<strong>em</strong> para o <strong>de</strong>talhamento <strong>de</strong> ações, sua<br />

seqüência, prazos, orçamentos, a fim <strong>de</strong> que possa haver acompanhamento<br />

e controle efetivos das ativida<strong>de</strong>s propostas. Pelos planos <strong>de</strong> ação,<br />

po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificadas as principais dificulda<strong>de</strong>s que vão ocorrer na consecução<br />

dos objetivos propostos.<br />

Dando continuida<strong>de</strong> ao processo <strong>de</strong> planejamento estratégico, a administração<br />

envolve os aspectos <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> políticas <strong>em</strong>presariais,<br />

projetos e planos <strong>de</strong> ação, ou seja, o <strong>de</strong>talhamento das estratégias num<br />

nível quantitativo e estruturado <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> cronograma, i<strong>de</strong>ntificando as<br />

ativida<strong>de</strong>s a ser<strong>em</strong> elaboradas e os responsáveis por etapa.<br />

Finalmente, a elaboração <strong>de</strong> controles e procedimentos <strong>de</strong> avaliação<br />

do planejamento estratégico envolve a criação <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações<br />

internas para coletar os dados necessários, que servirão <strong>de</strong><br />

parâmetros <strong>de</strong> medição da eficácia das estratégias aplicadas, possibilitando-se<br />

a comparação dos resultados obtidos com aqueles previstos<br />

quando da elaboração dos objetivos da <strong>em</strong>presa e das metas a ser<strong>em</strong><br />

atingidas. A comparação entre o previsto e o realizado é essencial para<br />

alimentar o processo <strong>de</strong> planejamento estratégico, com o propósito <strong>de</strong><br />

que os erros não sejam repetidos e, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong> que os acertos<br />

possam aperfeiçoar o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão existente na organização.<br />

AMBIENTE<br />

EXTERNO<br />

FIGURA 5 - RELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS<br />

ESTRATÉGIAS<br />

EMPRESARIAIS<br />

MUDANÇAS<br />

ORGANIZACIONAIS<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />

FORMA DE<br />

GESTÃO


Edélcio Pedro Jacomassi<br />

Nessa análise, a variável in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é o ambiente externo, tendo<br />

<strong>em</strong> vista que as mudanças ocorridas no ambiente não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> sofrer<br />

influências da organização, apesar <strong>de</strong> algumas variáveis ser<strong>em</strong> controláveis<br />

e outras incontroláveis, e direcionarão todo o processo <strong>de</strong> análise<br />

das mudanças. Tanto as estratégias escolhidas quanto o conteúdo das<br />

mudanças organizacionais po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como as variáveis<br />

intervenientes, já que <strong>de</strong>terminam os fatores internos da organização <strong>de</strong>finindo<br />

os direcionamentos dos estilos <strong>de</strong> gestão e produtos. Sendo assim,<br />

o estilo <strong>de</strong> gestão a ser adotado passa a ser a variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

que será <strong>de</strong>terminada <strong>em</strong> função das mudanças organizacionais adotadas.<br />

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES<br />

A mudança <strong>de</strong> ambiente, que é contínua, proporciona uma avaliação<br />

freqüente da estratégia adotada e uma busca <strong>de</strong> alternativa <strong>de</strong> solução<br />

que possibilit<strong>em</strong> melhores resultados futuros.<br />

As turbulências ambientais e as mudanças <strong>de</strong> cenário, cada vez<br />

mais velozes, passam a exigir das organizações mais competência para<br />

interpretar, avaliar e tomar <strong>de</strong>cisões mais rápidas e profundas. No entanto,<br />

o que se percebe é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que as organizações tom<strong>em</strong> <strong>de</strong>cisões<br />

mais planejadas e mais rápidas com antecedência à concretização<br />

dos fatos, para que possam se antecipar à concorrência.<br />

O novo paradigma passa a representar um <strong>de</strong>safio inevitável, que<br />

é o das organizações passar<strong>em</strong> <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> gestão reativo, ou seja,<br />

somente <strong>de</strong>cidindo ou agindo <strong>de</strong>pois que ocorr<strong>em</strong> as mudanças<br />

ambientais, para um estilo <strong>de</strong> gestão proativo. Isso representa não apenas<br />

se antecipar<strong>em</strong> os fatos, mas também se tornar<strong>em</strong> agentes<br />

participativo e interagindo com o meio ambiente na tentativa <strong>de</strong> construir<br />

um cenário favorável.<br />

Analisando-se sob esse prisma, a percepção <strong>de</strong> interpretar o ambiente<br />

externo, antecipar fatos e construir cenários futuros <strong>em</strong> função <strong>de</strong><br />

tendências <strong>de</strong> forma científica passa a ser <strong>de</strong>cisiva na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias<br />

organizacionais e conseqüent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> mudanças organizacionais,<br />

no sentido <strong>de</strong> obter uma vantag<strong>em</strong> competitiva perante as <strong>de</strong>mais concorrentes<br />

no mercado.<br />

Iniciando com os primeiros estudos da área com Chandler (1962)<br />

e Lawrence e Lorsch (1967), até os mais recentes, entre muitos, Mintzberg<br />

(2000), Silveira Júnior e Vivacqua (1998) e Wood (2000), ( Referências<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />

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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />

<strong>de</strong> estudos, não <strong>de</strong> citações <strong>de</strong> autores), percebe-se que o estudo das<br />

mudanças ambientais na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias planejadas e nas mudanças<br />

organizacionais passa a ganhar uma importância significativa na<br />

gestão das organizações, sejam estas públicas ou privadas.<br />

Percebe-se que, quando a organização não se preocupa com as<br />

mudanças ocorridas no ambiente externo, apenas reage às situações,<br />

que muitas vezes ocasionam crises internas e ameaças a sua própria<br />

existência, atuando <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada que, na visão <strong>de</strong> Silveira Júnior<br />

e Vivacqua (1999, p. 25), se constitu<strong>em</strong> <strong>em</strong> “mudanças induzidas”. Nessa<br />

mesma abordag<strong>em</strong>, percebe-se que basicamente são originadas <strong>de</strong> dois<br />

fatores principais: um interno e outro externo à <strong>em</strong>presa. A mudança interna<br />

surge quando a organização age proativamente, <strong>em</strong> função das<br />

mudanças nas necessida<strong>de</strong>s sinalizadas no ambiente, tomando a iniciativa<br />

e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando o processo. A mudança externa ocorre quando a<br />

organização não percebe as alterações no ambiente e adota uma postura<br />

reativa, sendo mais traumática, <strong>em</strong>ergencial e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada.<br />

Tais influências do ambiente externo, ocasionadas pela dinâmica<br />

na mudança <strong>de</strong> cenários e tendências <strong>de</strong> forma contínua, faz<strong>em</strong> com<br />

que as mudanças organizacionais, atualmente, sejam diferentes das do<br />

passado <strong>em</strong> dois aspectos fundamentais: a velocida<strong>de</strong> e a profundida<strong>de</strong>.<br />

Com a evolução e melhoria nos meios <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong> um<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações gerenciais internos e externos, há uma boa percepção<br />

da realida<strong>de</strong> e geração <strong>de</strong> conhecimento, favorecendo a tomada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões.<br />

De uma forma geral, exist<strong>em</strong> algumas causas <strong>de</strong> mudanças mais<br />

freqüentes: crises externas e internas da organização, fatores econômicos<br />

e sociais, tecnologia; re<strong>de</strong>finição do negócio e adoção <strong>de</strong> novos processos<br />

e expansão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s.<br />

A gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>ssas tendências <strong>de</strong> cenários avaliadas no<br />

ambiente externo se constituía <strong>em</strong> ameaças à sobrevivência da própria<br />

organização. Outras po<strong>de</strong>riam ser analisadas como sendo algumas oportunida<strong>de</strong>s<br />

a ser<strong>em</strong> aproveitadas. Uma gran<strong>de</strong> ameaça po<strong>de</strong> se tornar uma<br />

gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>.<br />

Na visão <strong>de</strong> Stoner (1999, p. 46), o ambiente externo é o conjunto<br />

<strong>de</strong> todos os el<strong>em</strong>entos que atuam fora <strong>de</strong> uma organização e são relevantes<br />

para a operação <strong>de</strong>la. A análise das mudanças no ambiente externo<br />

po<strong>de</strong> proporcionar um arcabouço <strong>de</strong> informações que ajudam a melhor<br />

compreendê-las e interagir <strong>de</strong> uma forma mais efetiva, aproveitando as<br />

oportunida<strong>de</strong>s e minimizando os riscos <strong>de</strong> qualquer ativida<strong>de</strong> econômica.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.


Edélcio Pedro Jacomassi<br />

Os fatores i<strong>de</strong>ntificados no ambiente macroexterno faz<strong>em</strong> com<br />

que as organizações <strong>de</strong> pequeno e médio porte adot<strong>em</strong> uma postura mais<br />

reativa, por não po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> influenciar nessa realida<strong>de</strong>. Assim, isoladamente,<br />

as organizações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar atentas às mudanças externas e buscar<strong>em</strong><br />

uma adaptação rápida, com maior flexibilida<strong>de</strong>.<br />

Já no ambiente operacional (clientes, concorrência, fornecedor e<br />

internacional), as <strong>em</strong>presas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> utilizar suas <strong>de</strong>finições estratégicas<br />

para adotar medidas proativas, tendo <strong>em</strong> vista que po<strong>de</strong>m mudar suas<br />

relações nesse ambiente, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>cisões e ações.<br />

Abordando as questões estratégicas <strong>de</strong>finidas, ficam evi<strong>de</strong>nciados<br />

alguns aspectos <strong>de</strong> vital importância para o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho e<br />

posicionamento da organização do mercado. Segundo a própria <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> Silveira Júnior (1998, p. 31), a estratégia correspon<strong>de</strong> à capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> trabalhar contínua e sist<strong>em</strong>aticamente o ajustamento às condições<br />

ambientais <strong>em</strong> mutação, tendo <strong>em</strong> mente a visão <strong>de</strong> futuro e a perpetuida<strong>de</strong><br />

organizacional.<br />

A mudança organizacional valoriza o aspecto <strong>de</strong> se trabalhar para<br />

uma orientação estratégica clara e <strong>de</strong>finida, com uma visão <strong>de</strong> futuro.<br />

Essa busca enfatiza ainda mais o conceito da contínua adaptação ao<br />

futuro e ao ambiente externo da organização, pelo qual <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> tomar<br />

<strong>de</strong>cisões confortáveis no presente, po<strong>de</strong>ndo comprometer o futuro da organização.<br />

As <strong>de</strong>finições estratégicas da organização <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar <strong>em</strong><br />

consonância com sua missão e visão.<br />

Entre algumas observações finais, percebe-se que as organizações<br />

buscam alguma mudança alterando tecnologia, rotinas, procedimentos,<br />

normas e regras, ou seja, somente nos aspectos superficiais da mudança,<br />

ou, então, quando ocorr<strong>em</strong> as crises nas organizações, frutos <strong>de</strong><br />

probl<strong>em</strong>as do ambiente externo. Na visão <strong>de</strong> Silveira Junior (1998, p. 24),<br />

quando se realizam <strong>em</strong> função da pressão <strong>de</strong> fatores externos, são <strong>de</strong>nominadas<br />

“mudanças induzidas”.<br />

No mundo do conhecimento, a tecnologia facilita as informações<br />

e, com a comunicação, produz novos conhecimentos. O conhecimento<br />

cresce <strong>em</strong> uma velocida<strong>de</strong> exponencial e é colocado <strong>em</strong> uso com uma<br />

velocida<strong>de</strong> muito maior. Com base nessa pr<strong>em</strong>issa, po<strong>de</strong>-se notar que o<br />

processo <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong>ve ocorrer na mesma proporção da obtenção<br />

<strong>de</strong> novos conhecimentos, que não têm um fim <strong>em</strong> si. “Todas as mudanças<br />

têm um início, mas não têm prazo para terminar”.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 77-102, 2005.<br />

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Ambiente Externo e Processo <strong>de</strong> Definição <strong>de</strong> Estratégias ...<br />

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Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

ORIGEM E UTILIZAÇÃO<br />

DE INFORMAÇÕES EM<br />

DECISÕES ORGANIZACIONAIS<br />

DO SETOR METAL-MECÂNICO<br />

BRASILEIRO<br />

GUSTAVO ABIB<br />

___________________________________________________________<br />

103<br />

Mestre <strong>em</strong> <strong>Administração</strong><br />

CARLOS GABRIEL EGGERT BOEHS<br />

___________________________________________________________<br />

Mestre <strong>em</strong> <strong>Administração</strong><br />

DR. PEDRO JOSÉ STEINER NETO<br />

___________________________________________________________<br />

Professor do Programa <strong>de</strong> Mestrado<br />

Doutorado <strong>em</strong> <strong>Administração</strong> da UFPR<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


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Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

RESUMO<br />

Atualmente, a informação constitui um recurso estratégico na gestão das<br />

organizações e no processo <strong>de</strong>cisório. Para tanto, as organizações estão<br />

preocupadas <strong>em</strong> estruturar, visando à manutenção <strong>de</strong> sua<br />

competitivida<strong>de</strong>, sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação que proporcion<strong>em</strong> agilida<strong>de</strong> no<br />

acesso à informação, tanto <strong>em</strong> questões operacionais quanto ao apoio a<br />

ativida<strong>de</strong>s gerenciais. Por outro lado, a efetivida<strong>de</strong> no uso <strong>de</strong>sses sist<strong>em</strong>as<br />

po<strong>de</strong> ser questionada, quando se verifica que seus usuários não<br />

adotam integralmente seus recursos, buscando fontes <strong>de</strong> informações<br />

paralelas para o auxílio no processo <strong>de</strong>cisório, tornando o sist<strong>em</strong>a<br />

<strong>de</strong>satualizado e ineficaz às pretensões estratégicas <strong>de</strong> gestão da informação.<br />

Esta pesquisa propõe verificar qual a relação entre o uso <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />

formais e fonte alternativa <strong>de</strong> informação, no contexto <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas<br />

do setor metal-mecânico brasileiro. Utilizou-se uma pesquisa <strong>de</strong> levantamento,<br />

com uma amostra <strong>de</strong> 174 <strong>em</strong>presas <strong>de</strong>sse setor. Os resultados<br />

<strong>de</strong>monstram que mesmo <strong>em</strong> fases avançadas <strong>de</strong> informatização e <strong>em</strong><br />

níveis hierárquicos mais elevados, b<strong>em</strong> como <strong>em</strong> organizações maiores,<br />

o uso <strong>de</strong> fontes alternativas aos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação é significativo,<br />

questionando-se a eficiência dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação e da<br />

movimentação das organizações rumo à integração <strong>de</strong> seus sist<strong>em</strong>as.<br />

Palavras-chave: informação, processo <strong>de</strong>cisório, sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação.<br />

ABSTRACT<br />

Nowadays the information constitutes a strategic resource in the<br />

organizational manag<strong>em</strong>ent and in the <strong>de</strong>cision making process.<br />

Companies have been concerned on the impl<strong>em</strong>entation of information<br />

syst<strong>em</strong>s in or<strong>de</strong>r to achieve information access agility and to keep their<br />

competitiveness. Otherwise the effectiveness on the use of these syst<strong>em</strong>s<br />

has been questioned when their users don’t adopt all the available<br />

resources. When the users start to use alternative information sources<br />

such as electronic spread sheets, the formal information syst<strong>em</strong>s become<br />

outdated and inefficiently to the strategic <strong>de</strong>mands of the information<br />

manag<strong>em</strong>ent. This study intends to verify the relation between the use of<br />

formal syst<strong>em</strong>s and alternative sources of information in the Brazilian Metal-<br />

Mechanic Industry. A survey with 174 companies of this industry constitutes<br />

105<br />

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106<br />

Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

the sample of this research. The results of the study <strong>de</strong>monstrate that the<br />

use of alternative sources of information is significant in tree cases: in<br />

large companies; in companies with a high level of information technology<br />

adoption and by <strong>em</strong>ployees located in high hierarchical levels. Based on<br />

these results the information syst<strong>em</strong>s efficiency and their integration<br />

process are discussed.<br />

Keywords: information, <strong>de</strong>cision process, information syst<strong>em</strong>s.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A velocida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que ocorre, mais do que a mudança <strong>em</strong> si, t<strong>em</strong><br />

sido um fator marcante vivido pelas organizações, resultando na necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> operar e crescer num ambiente muito instável e dinâmico. A união<br />

<strong>de</strong> mercados, a globalização, a transferência <strong>de</strong> informações, a tecnologia<br />

e a entrada <strong>de</strong> novos concorrentes estão tornando o mundo mais competitivo.<br />

Há mudanças significativas nos hábitos das pessoas, na estrutura<br />

dos países, no perfil da força <strong>de</strong> trabalho, e as organizações precisam<br />

estar preparadas para se adaptar a tais fatos (MILES; SNOW, 1986).<br />

Embora a informação não compreenda novida<strong>de</strong> no campo <strong>de</strong><br />

pesquisa, seu foco <strong>de</strong> estudo t<strong>em</strong> se alterado. Nos momentos iniciais, o<br />

interesse central no estudo da informação foi sobre seu armazenamento,<br />

transmissão e manutenção. Surgiu então o interesse pela tecnologia da<br />

informação e seus atributos. Recent<strong>em</strong>ente, o foco <strong>de</strong> estudo sobre a<br />

informação t<strong>em</strong> dado atenção sobre a importância e a inteligência no seu<br />

uso (BROADBENT; KOENIG, 1996).<br />

Des<strong>de</strong> que a tecnologia da informação foi <strong>em</strong>pregada <strong>de</strong> forma<br />

sistêmica ou sist<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> meados da década <strong>de</strong> 50 (século XX), a<br />

forma que as organizações operam, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> seus produtos e a<br />

comercialização dos mesmos mudou radicalmente (McGEE; PRUSAK,<br />

1994). Atualmente as organizações perceberam que suas fronteiras e seus<br />

limites <strong>de</strong>sapareceram e o mercado tornou-se único e global tanto para<br />

fornecedores como para consumidores.<br />

Nesse ambiente global, o gerenciamento e o processo <strong>de</strong>cisório<br />

constitu<strong>em</strong> fatores-chave para a sobrevivência no mercado. Em tal contexto,<br />

os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação apresentam um importante papel no<br />

sentido <strong>de</strong> coletar, armazenar, organizar e tornar disponíveis informações<br />

que servirão como subsídio nas <strong>de</strong>cisões <strong>em</strong>presariais.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

Se o contexto social mo<strong>de</strong>rno sustenta-se na força motriz da informação,<br />

reconstituída metaforicamente <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação,<br />

cogitar o estabelecimento da informação, enquanto parâmetro <strong>de</strong> resistência<br />

e até <strong>de</strong> sobrevivência, significa i<strong>de</strong>ntificar seu dispositivo <strong>de</strong> segurança<br />

que, intrinsecamente, é reafirmado como redutor <strong>de</strong> incertezas<br />

(CASTRO, 2002).<br />

Sob essa ótica, este artigo t<strong>em</strong> por objetivo analisar o nível <strong>de</strong><br />

informatização <strong>em</strong> que as organizações se encontram, como as informações<br />

estão sendo utilizadas nas <strong>de</strong>cisões organizacionais e qual sua orig<strong>em</strong>.<br />

Para este estudo, selecionou-se o setor metal-mecânico brasileiro<br />

por ser ao mesmo t<strong>em</strong>po representativo na economia brasileira e por sofrer<br />

um processo <strong>de</strong> atualização e massificação relativo ao uso da informação,<br />

<strong>de</strong> seus sist<strong>em</strong>as e <strong>de</strong> tecnologias <strong>em</strong> suas <strong>de</strong>cisões cotidianas.<br />

A parte final do artigo traz ainda uma agenda <strong>de</strong> pesquisa para continuida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> estudos correlatos.<br />

2 INFORMAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA NO CONTEXTO DO<br />

SÉCULO XXI<br />

Marchand (2000) afirma que nos últimos 15 a 20 anos, a maioria<br />

dos gestores consi<strong>de</strong>ram que os fatores-chave <strong>em</strong>pregados para o<br />

gerenciamento das mudanças nos negócios foram a estratégia, a estrutura<br />

organizacional, os processos e as pessoas. Juntos, esses fatores-chave<br />

<strong>em</strong>pregados se tornaram o mo<strong>de</strong>lo lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> gerenciamento das mudanças<br />

nos negócios nas <strong>em</strong>presas, assim como por gerar serviços para<br />

as <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> consultoria. Então, a questão é: o que está errado <strong>em</strong><br />

continuar a encarar a mudança nos negócios <strong>de</strong>ssa forma, neste novo<br />

milênio?<br />

Esse mo<strong>de</strong>lo, utilizado ainda hoje, focaliza um mundo <strong>de</strong> negócios<br />

que r<strong>em</strong>onta às origens da ida<strong>de</strong> industrial, no gerenciamento <strong>de</strong> ativos<br />

tangíveis. No entanto, inúmeras organizações estão expandindo seus negócios<br />

por todo o mundo, rompendo as barreiras físicas, ven<strong>de</strong>ndo, comprando,<br />

utilizando instalações <strong>de</strong> produção globalizada para fabricar ou<br />

montar seus produtos, levantando recursos <strong>em</strong> mercados mundiais <strong>de</strong><br />

capital, formando alianças com parceiros globais e competindo com concorrentes<br />

<strong>em</strong> toda parte do planeta (O´BRIEN, 2002). Deixaram, <strong>em</strong> suma,<br />

essa visão meramente fabril e física e passaram a viver (e sobreviver) <strong>em</strong><br />

um mundo mais in<strong>de</strong>finido e virtual. Isso, porém, seria impossível <strong>de</strong> se<br />

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Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


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Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

realizar, caso não houvesse informação disponível <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real, tanto<br />

para informar sobre os processos como para criar uma inteligência<br />

organizacional necessária para o efetivo gerenciamento <strong>de</strong>ssas mudanças<br />

e para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. Dessa forma, segundo McGee e Prusak<br />

(1994), nas próximas décadas, a informação, mais do que a terra ou o<br />

capital será a força motriz na criação <strong>de</strong> riquezas e prosperida<strong>de</strong>.<br />

O antigo mo<strong>de</strong>lo que reflete uma era industrial enfatizando o<br />

gerenciamento <strong>de</strong> ativos físicos, tais como capital, trabalho, equipamentos<br />

e prédios, hoje parece não estar mais a<strong>de</strong>quado para o virtual criado<br />

com o surgimento da informação (MARCHAND, 2000). Esta é a era da<br />

informação. O uso da tecnologia da informação e seus sist<strong>em</strong>as para a<br />

globalização e a reengenharia <strong>de</strong> processos <strong>em</strong>presariais muitas vezes<br />

resultam no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação que ajudam a<br />

<strong>em</strong>presa a obter uma vantag<strong>em</strong> competitiva no mercado. Esses sist<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> informação estratégicos, segundo O´Brien (2002), utilizam a tecnologia<br />

da informação para <strong>de</strong>senvolver produtos, serviços, processos e capacida<strong>de</strong>s<br />

que confer<strong>em</strong> a uma <strong>em</strong>presa vantag<strong>em</strong> estratégica sobre as forças<br />

competitivas que ela enfrenta <strong>em</strong> seu ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s. Um resultado<br />

importante <strong>de</strong>ssas mudanças é que a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acessar e utilizar<br />

eficazmente a informação tornou-se importante fonte <strong>de</strong> vantag<strong>em</strong><br />

competitiva <strong>em</strong> praticamente todos os setores (McGEE; PRUSAK, 1994).<br />

O conceito sobre informação e seus sist<strong>em</strong>as é paulatinamente<br />

ampliado com o avanço das pesquisas nesse campo. Inicialmente,<br />

conceituava-se informação como o resultado da análise <strong>de</strong> dados que,<br />

por sua vez, compreendia quaisquer el<strong>em</strong>entos i<strong>de</strong>ntificados <strong>em</strong> sua forma<br />

bruta, os quais por si só não conduz<strong>em</strong> a uma compreensão <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado<br />

fato ou situação (LAUDON; LAUDON, 1996).<br />

É interessante salientar que os tipos <strong>de</strong> informação abordados<br />

neste artigo são formais e informais. A informação formal é aquela que se<br />

encontra no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações que a <strong>em</strong>presa utiliza. Essa informação<br />

é proveniente das transações ocorridas na <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> seu dia-adia.<br />

Já a informal é aquela que não é encontrada no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações<br />

da <strong>em</strong>presa, mas proveniente <strong>de</strong> diversas outras fontes, como mercado,<br />

internet, jornais, revistas, relatórios manualmente produzidos e<br />

planilhas eletrônicas isoladas. Esse entendimento é importante para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do artigo.<br />

Adicionando outro conceito <strong>de</strong> informação, agora proposto por<br />

Masuda (1982), a informação é uma relação situacional observada entre<br />

um sujeito e um objeto que torna possível a seleção da ação pela qual o<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

próprio sujeito po<strong>de</strong> atingir alguma espécie <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> uso. Já Shapiro e<br />

Varian (1999) afirmam que os economistas consi<strong>de</strong>ram a informação como<br />

um b<strong>em</strong> – um b<strong>em</strong> da experiência se os consumidores tiver<strong>em</strong> que<br />

experimentá-la para atribuir-lhe valor. Percebe-se a dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> se tentar<br />

conceituar o termo informação, pois ele po<strong>de</strong> ter muitos sentidos.<br />

Atrelada à expansão <strong>de</strong>sse conceito, a informação passou a ser<br />

um ativo que precisa ser administrado. Segundo McGee e Prusak (1994),<br />

a informação é infinitamente reutilizável, não se <strong>de</strong>teriora n<strong>em</strong> se <strong>de</strong>precia,<br />

e seu valor é <strong>de</strong>terminado exclusivamente pelo usuário.<br />

Na visão <strong>de</strong> Auster e Choo (1996), a informação torna-se um recurso<br />

estratégico único para muitas organizações, tão vital quanto a terra,<br />

o trabalho ou o capital. Para Parsons (1996), a informação é<br />

referenciada como o “quarto recurso” <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> capital, pessoas e equipamentos<br />

– e ainda é composta <strong>de</strong> suas próprias e especiais proprieda<strong>de</strong>s<br />

que aumentam sua importância. Trabalho ou capital são ativos exauríveis:<br />

quanto mais são utilizados menor sua disponibilida<strong>de</strong>. Informação,<br />

por outro lado, é um recurso regenerativo que não apenas cresce com o<br />

uso, mas po<strong>de</strong> ser utilizado várias vezes <strong>em</strong> diferentes contextos para<br />

criar valores <strong>de</strong> várias formas. A informação também apresenta riscos,<br />

pois muita informação po<strong>de</strong> estar disponível s<strong>em</strong> que seja garantida sua<br />

total integrida<strong>de</strong> e confiabilida<strong>de</strong>.<br />

As pesquisas sobre informações nas organizações têm pelo menos<br />

duas linhas relacionadas: uma situada na teoria organizacional e outra,<br />

mais recente, na teoria gerencial e nos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação<br />

(AUSTER; CHOO, 1996). Deve-se consi<strong>de</strong>rar que as informações são<br />

adquiridas e processadas por m<strong>em</strong>bros individuais que estão sujeitos a<br />

limitações cognitivas e preferências pessoais, assim como preconceitos<br />

que são formados como resultado <strong>de</strong> suas convivências na organização.<br />

O uso das informações pelas organizações se dá por diversos motivos;<br />

sua riqueza e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações utilizadas difer<strong>em</strong>, <strong>de</strong> acordo<br />

com os níveis hierárquicos internos da organização.<br />

Segundo Choo (1996), as organizações processam e utilizam as<br />

informações para reduzir a incerteza e o equívoco. A incerteza consiste<br />

na ausência ou falta <strong>de</strong> informação, que é necessária para a tomada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão ou para a seleção <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> ação apropriado. O equívoco é<br />

a ambivalência nas informações provenientes do ambiente, as quais são<br />

legadas a múltiplas e conflitantes interpretações.<br />

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Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

O papel da informação, no que tange a reduzir as incertezas, constitui<br />

uma função do nível hierárquico, conforme ex<strong>em</strong>plificado por Daft e<br />

Lengel (1996) na figura 1. Para esses autores, no topo da organização, o<br />

ambiente é incerto e subjetivo; os probl<strong>em</strong>as são complexos e <strong>de</strong> difícil<br />

compreensão. A função da informação é a redução <strong>de</strong> incertezas, na proporção<br />

<strong>em</strong> que sua riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes e volume são ampliados. Nos<br />

níveis mais baixos da organização, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> incertezas<br />

é mínima. Então, a tarefa da informação é objetiva e coor<strong>de</strong>nativa,<br />

pois o pessoal <strong>de</strong>ssas áreas trabalha com os objetivos gerais já <strong>de</strong>finidos<br />

e estabelecidos. A informação transmitida para os níveis mais baixos da<br />

organização é menos complexa, visto que é trabalhada e estruturada pelo<br />

nível institucional, preparando-a para ser diss<strong>em</strong>inada e entendida por<br />

toda a organização.<br />

FIGURA 1 - DIFERENÇAS DE USO DE INFORMAÇÕES<br />

ENTRE OS NÍVEIS HIERÁRQUICOS<br />

níveis<br />

hierárquicos<br />

institucional<br />

gerencial<br />

operacional<br />

tarefa <strong>de</strong> processamento<br />

das informações<br />

subjetiva, sugestões externas<br />

redução <strong>de</strong> incertezas <strong>de</strong>cisão<br />

estratégica, objetivos,<br />

produtos e estruturas<br />

misto <strong>de</strong> objetivos e funções<br />

sociais alocação <strong>de</strong> recursos,<br />

monitoração coor<strong>de</strong>nação.<br />

objetiva e b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finida, fatores<br />

internos regras e hierarquias<br />

FONTE: Daft e Lengel (1996, p. 191 – adaptação e ampliação)<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.<br />

quantida<strong>de</strong> e<br />

riqueza da<br />

informação<br />

utilizada


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

O eventual uso das informações po<strong>de</strong> perseguir objetivos racionais<br />

e não racionais. Além do processo <strong>de</strong>cisório, solução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as<br />

e aprendizag<strong>em</strong> organizacional, a informação po<strong>de</strong> ser <strong>em</strong>pregada como<br />

um símbolo cultural ou social, como um recurso político, como meio <strong>de</strong><br />

legitimar a existência <strong>de</strong> uma organização, entre outros. Essa riqueza e<br />

complexida<strong>de</strong> é que criam especificida<strong>de</strong>s no gerenciamento e no uso<br />

das informações nas organizações.<br />

3 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM<br />

DECISÕES ORGANIZACIONAIS<br />

Segundo Braga (1987), o processo <strong>de</strong>cisório po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

como o pensamento e a ação que resultam <strong>em</strong> uma escolha. Tal escolha<br />

consiste <strong>em</strong> selecionar entre cursos alternativos <strong>de</strong> ação ou mesmo<br />

aceitar ou rejeitar uma <strong>de</strong>terminada ação. O processo <strong>de</strong>cisório é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

importância para o gerenciamento eficaz das organizações, influenciando<br />

tanto os papéis <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança como o efetivo <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho administrativo<br />

e organizacional. Na visão <strong>de</strong> Silva (1989), o processo <strong>de</strong>cisório po<strong>de</strong><br />

ser caracterizado por três mo<strong>de</strong>los distintos.<br />

Mo<strong>de</strong>lo racional: o processo <strong>de</strong>cisório <strong>de</strong>ve ser baseado na<br />

racionalida<strong>de</strong> buscando s<strong>em</strong>pre a melhor alternativa com base no cálculo<br />

<strong>de</strong> benefício.<br />

Mo<strong>de</strong>lo organizacional: as <strong>de</strong>cisões na organização são influenciadas<br />

pelo grupo e visam perseguir a <strong>de</strong>cisão mais satisfatória <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado<br />

momento.<br />

Mo<strong>de</strong>lo político: a <strong>de</strong>cisão é resultado da negociação entre grupos<br />

<strong>de</strong> interesse distintos.<br />

Sob a ótica <strong>de</strong> Hitt e Tyler (1991), os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão estratégica<br />

variam <strong>de</strong> acordo com o nível hierárquico do indivíduo na organização.<br />

Afirmam que gerentes <strong>em</strong> diferentes níveis apresentam percepções<br />

distintas das forças e fraquezas da incerteza ambiental. Uma das<br />

razões para isso, segundo os autores, po<strong>de</strong> ter orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> diferenças no<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão adotado, com base no tipo e montante <strong>de</strong> informação<br />

disponível para cada nível gerencial na organização.<br />

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Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

Para Cl<strong>em</strong>en (1996), o processo <strong>de</strong>cisório muitas vezes conta<br />

com um conjunto incompleto <strong>de</strong> informações que serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> subsídio ao<br />

processo <strong>de</strong>cisório. Nesses casos, os indivíduos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar atentos, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, às previsões meteorológicas, ainda que elas sejam passíveis <strong>de</strong><br />

enganos. Nesse sentido, consciente da imperfeição das informações disponíveis,<br />

o agente <strong>de</strong>cisor <strong>de</strong>ve utilizar o maior número possível <strong>de</strong> recursos<br />

informacionais para minimizar os efeitos <strong>de</strong> uma escolha prejudicial.<br />

Braga (1988) consi<strong>de</strong>ra que os sist<strong>em</strong>as organizacionais são<br />

estruturados para gerar informações e para compartilhá-las com aqueles<br />

que <strong>de</strong>las necessitam para formular e resolver probl<strong>em</strong>as na organização.<br />

Este processo se dá por meio do procedimento pelo qual os gerentes<br />

receb<strong>em</strong> e enviam informação a outros m<strong>em</strong>bros da organização.<br />

Segundo Hammond, Keeney e Raiffa (1999), uma série <strong>de</strong> comportamentos<br />

humanos baseados <strong>em</strong> seu processo cognitivo po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar<br />

a escolha <strong>em</strong> um processo <strong>de</strong>cisório e, <strong>em</strong> muitos casos, <strong>em</strong> direção<br />

oposta à melhor opção, ainda que esta seja a escolha <strong>de</strong>sejada. Uma<br />

<strong>de</strong>ssas “armadilhas psicológicas” consiste na tendência dos seres humanos<br />

<strong>em</strong> prever as chances <strong>de</strong> que <strong>de</strong>terminado evento ocorra com base<br />

<strong>em</strong> sua própria experiência. Dessa maneira, caso o indivíduo tenha experimentado<br />

situações extr<strong>em</strong>as, como um aci<strong>de</strong>nte aéreo, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

haverá a tendência <strong>de</strong> que ele exagere ao afirmar a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ocorrência <strong>de</strong>sse evento, fundamentado <strong>em</strong> sua própria experiência. Para<br />

minimizar as conseqüências <strong>de</strong> tais comportamentos, os autores recomendam<br />

que, ao tentar prever ou estimar algo, <strong>de</strong>ve ser examinado o<br />

maior número <strong>de</strong> informações estatísticas a respeito. Os autores afirmam<br />

ainda que ignorar qualquer dado relevante po<strong>de</strong> causar uma compreensão<br />

errônea <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>a, conduzindo a um processo <strong>de</strong> escolha na<br />

<strong>de</strong>cisão contrário àquela consi<strong>de</strong>rada i<strong>de</strong>al.<br />

Um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações, <strong>em</strong> muitos casos, po<strong>de</strong> ser uma fonte,<br />

mediante relatórios, <strong>de</strong> dados estatísticos sobre eventos organizacionais<br />

e <strong>de</strong> mercado, po<strong>de</strong>ndo auxiliar na estimativa e previsão <strong>de</strong> outros eventos.<br />

Esses sist<strong>em</strong>as, por ser<strong>em</strong> ferramentas impessoais que coletam dados<br />

com objetivo <strong>de</strong> processá-los e, posteriormente, tornar disponíveis a<br />

seus usuários, entre eles <strong>de</strong>cisores organizacionais, reduz<strong>em</strong> o risco <strong>de</strong><br />

basear essas <strong>de</strong>cisões <strong>em</strong> critérios subjetivos <strong>de</strong>terminados pelos indivíduos.<br />

No entanto, sua eficácia estará condicionada ao grau <strong>de</strong> atualização<br />

dos dados inseridos <strong>em</strong> tais sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

Hoch e Kunreuchter (2001), ao apresentar<strong>em</strong> o caso do escritório<br />

da Barings <strong>em</strong> Cingapura, <strong>em</strong> que um negociador <strong>de</strong> ações foi <strong>de</strong>mitido<br />

por causar um grave erro <strong>de</strong> compra e venda <strong>de</strong> títulos, mencionam a<br />

insuficiência <strong>de</strong> tecnologias <strong>de</strong> informação a<strong>de</strong>quadas para apoio à <strong>de</strong>cisão<br />

como uma <strong>de</strong> suas possíveis causas. Afirmam os autores que a falta<br />

<strong>de</strong> preocupação da <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> adotar sist<strong>em</strong>as computacionais que possibilitass<strong>em</strong><br />

à gestão central <strong>em</strong> Londres saber a posição real da <strong>em</strong>presa<br />

<strong>em</strong> qualquer parte do mundo, b<strong>em</strong> como a falta <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong><br />

tecnologia da informação aplicada à gestão <strong>de</strong> risco, foram possíveis causas<br />

do probl<strong>em</strong>a ocorrido. Isso <strong>de</strong>monstra o papel dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação<br />

como fontes <strong>de</strong> comunicação estratégica e <strong>de</strong> apoio à <strong>de</strong>cisão.<br />

De acordo com O´Brien (2002), o tipo <strong>de</strong> informação exigida pelos<br />

tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão está diretamente relacionado com o nível gerencial<br />

e com o grau <strong>de</strong> estruturação nas situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão que enfrentam.<br />

Portanto, o autor consi<strong>de</strong>ra que se po<strong>de</strong> distinguir a estrutura<br />

organizacional <strong>em</strong> três níveis: estratégico, tático e operacional. No nível<br />

operacional, o grau <strong>de</strong> estruturação da tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão é maior, e o<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informações <strong>de</strong>ve prover ao <strong>de</strong>cisor operacional formulários e<br />

relatórios internos com uma prévia especificação-padrão. À medida que<br />

se alcança o nível estratégico, a estruturação do processo <strong>de</strong>cisório se<br />

torna cada vez menos pre<strong>de</strong>terminada, exigindo relatórios internos resumidos<br />

e não programados que irão servir ao conselho <strong>de</strong> diretores e executivos<br />

ligados à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> metas, estratégias e outros aspectos globais<br />

da organização.<br />

Os três níveis organizacionais – estratégico, tático e operacional –<br />

adotam, <strong>em</strong> conjunto, os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação que são alimentados<br />

com dados por esses níveis, sob condições distintas, <strong>de</strong> acordo com as<br />

características <strong>de</strong> cada um. Portanto, a efetivida<strong>de</strong> no uso <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a<br />

<strong>de</strong> informação, está diretamente relacionada com o grau <strong>de</strong> comprometimento<br />

dos níveis organizacionais com a sua atualização. Isso quer dizer<br />

que, se o nível operacional não estiver comprometido, por ex<strong>em</strong>plo, com<br />

a atualização <strong>de</strong> dados relativos ao controle estatístico <strong>de</strong> produção, no<br />

chão <strong>de</strong> fábrica, o executivo não po<strong>de</strong>rá tomar nenhuma <strong>de</strong>cisão eficaz<br />

com os relatórios analisados por ele sobre tal processo produtivo. Deverá<br />

recorrer, na maioria das vezes, a informações compl<strong>em</strong>entares coletadas<br />

<strong>em</strong> fonte alternativa <strong>de</strong> informações.<br />

113<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


114<br />

Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

4 NÍVEIS DE INFORMATIZAÇÃO E SUA RELAÇÃO<br />

COM A INFORMAÇÃO<br />

O processo atual <strong>de</strong> transformação tecnológica expan<strong>de</strong>-se<br />

exponencialmente, <strong>em</strong> razão <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar uma interface<br />

entre os campos tecnológicos por uma linguag<strong>em</strong> comum na qual a informação<br />

é gerada, recuperada e transmitida (CASTELLS, 2003). Percebese<br />

que todas as <strong>em</strong>presas estão paulatinamente integrando seus processos<br />

com o auxílio da tecnologia. Segundo Meirelles (1994), a evolução<br />

dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação v<strong>em</strong> ocorrendo <strong>em</strong> várias dimensões. Estas<br />

dimensões compreen<strong>de</strong>m questões cronológicas, os estágios <strong>de</strong><br />

informatização da organização e aspectos relativos a conflitos e consensos<br />

quanto à terminologia. Dentre estas três questões, os estágios <strong>de</strong><br />

informatização e as mudanças organizacionais estruturam a evolução e a<br />

utilização dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação nas <strong>em</strong>presas. Castells (2003)<br />

afirma que as novas tecnologias da informação b<strong>em</strong> como os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

informação não são simplesmente ferramentas a ser<strong>em</strong> aplicadas, mas<br />

processos a ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvidos.<br />

De acordo com a figura 2, Meirelles (1994) apresenta as etapas do<br />

processo <strong>de</strong> informatização nas organizações. É interessante ressaltar<br />

que, para o autor apresentar as três fases distintas, baseou-se nos períodos<br />

<strong>de</strong> informatização <strong>de</strong>senvolvidos por Diebold, <strong>em</strong> 1969, e nos <strong>de</strong>senvolvidos<br />

por Nolan, <strong>em</strong> 1974 e 1979. Para este artigo <strong>de</strong>cidiu-se pelo uso<br />

das etapas apresentadas na figura 2, por ser<strong>em</strong> três fases distintas e <strong>de</strong><br />

fácil i<strong>de</strong>ntificação por parte dos respon<strong>de</strong>ntes da pesquisa.<br />

FIGURA 2 - ETAPAS DO PROCESSO DE INFORMATIZAÇÃO<br />

MANUAL<br />

(racionalização/<br />

estruturação)<br />

AUTOMAÇÃO<br />

FONTE: Meirelles (1994, p. 407).<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.<br />

INTEGRAÇÃO<br />

(banco <strong>de</strong> dados)


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

Meirelles (1994) explica que as organizações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> passar por<br />

uma série <strong>de</strong> fases ou etapas <strong>de</strong> informatização e apresenta aquelas que<br />

consi<strong>de</strong>ra mais importantes. A primeira etapa é racionalização e<br />

estruturação da ativida<strong>de</strong> manual. Deve-se ter <strong>em</strong> mente que s<strong>em</strong> vencer<br />

essa fase torna-se muito difícil atingir a fase seguinte, que consiste na<br />

automação. Nesta etapa, as ativida<strong>de</strong>s costumam ser colocadas <strong>de</strong> início<br />

<strong>em</strong> sist<strong>em</strong>as isolados. A terceira fase consiste na integração, <strong>em</strong> que as<br />

ativida<strong>de</strong>s e os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> cada setor da organização estão integrados,<br />

possibilitando eliminar várias tarefas que eram realizadas <strong>de</strong> maneira<br />

duplicada por diferentes <strong>de</strong>partamentos. A evolução ou a estruturação<br />

<strong>de</strong>ssas etapas causa mudanças organizacionais e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

sist<strong>em</strong>as e pessoas para operacionalizá-las. A pressão rumo à integração<br />

organizacional surgiu no final dos anos 70 e continua até a atualida<strong>de</strong><br />

(McNURLIN; SPRAGUE, 1998). A partir do aumento do valor da informação,<br />

ou seja, quando passa a constituir um ativo valioso para a <strong>em</strong>presa<br />

(MCGEE; PRUSAK, 1994; STAIR; REYNOLDS, 2002; AUSTER; CHOO,<br />

1996) esse processo <strong>de</strong> integração é acelerado. Além do incentivo à<br />

integração, outros fatores que permitiram tal movimento foram as constantes<br />

e gran<strong>de</strong>s evoluções na tecnologia, nas comunicações e nos<br />

softwares. Os mecanismos <strong>de</strong> comunicações (inclui-se aqui a telecomunicação,<br />

entre outras formas) permitiram que os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação<br />

superass<strong>em</strong> barreiras geográficas, físicas, <strong>de</strong> custo e <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po rumo à<br />

integração (O´BRIEN, 2002). Com essas barreiras superadas, os sist<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> informação solidificaram seu papel nas organizações, com o objetivo<br />

<strong>de</strong> fornecer informações atualizadas e <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real para suporte<br />

às transações diárias e também para suporte a <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> seus gestores.<br />

De acordo com o referencial teórico anterior, foram propostas cinco<br />

hipóteses principais, sendo que as três primeiras foram subdivididas<br />

<strong>em</strong> duas correlatas. As hipóteses são apresentadas a seguir.<br />

H1a: maior o nível <strong>de</strong> informatização, menor o uso <strong>de</strong> informações<br />

advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e <strong>de</strong> outras fontes, nas <strong>de</strong>cisões<br />

tomadas na área funcional do <strong>de</strong>cisor.<br />

H1b: quanto maior o nível <strong>de</strong> informatização menor o uso <strong>de</strong><br />

informações advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e <strong>de</strong> outras fontes, no fornecimento<br />

<strong>de</strong> informações para <strong>de</strong>cisores <strong>de</strong> outras áreas.<br />

H2a: quanto maior o nível hierárquico menor o uso <strong>de</strong> informações<br />

advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e <strong>de</strong> outras fontes, nas <strong>de</strong>cisões<br />

tomadas na área funcional do <strong>de</strong>cisor.<br />

115<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


116<br />

Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

H2b: quanto maior o nível hierárquico menor o uso <strong>de</strong> informações<br />

advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e <strong>de</strong> outras fontes, no fornecimento<br />

<strong>de</strong> informações para <strong>de</strong>cisores <strong>de</strong> outras áreas.<br />

H3a: quanto maior o tamanho da organização menor o uso <strong>de</strong><br />

informações advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e <strong>de</strong> outras fontes, nas<br />

<strong>de</strong>cisões tomadas na área funcional do <strong>de</strong>cisor.<br />

H3b: quanto maior o tamanho da organização menor o uso <strong>de</strong><br />

informações advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e outras fontes, no fornecimento<br />

<strong>de</strong> informações para <strong>de</strong>cisores <strong>de</strong> outras áreas.<br />

H4: quanto maior o nível <strong>de</strong> informatização menor o impacto<br />

dos fatores que dificultam a adoção dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação.<br />

H5: quanto maior o nível hierárquico menor o impacto dos<br />

fatores que dificultam a adoção dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação.<br />

5 METODOLOGIA<br />

Com base no referencial teórico adotado, a pesquisa <strong>em</strong>pírica se<br />

propõe a i<strong>de</strong>ntificar como as <strong>em</strong>presas do setor metal-mecânico estão<br />

fazendo uso dos sist<strong>em</strong>as internos <strong>de</strong> gestão da informação às organizações,<br />

<strong>de</strong> acordo com o seu perfil específico, formado pelo porte e segmento<br />

<strong>de</strong> mercado <strong>em</strong> que atuam. O método <strong>de</strong> pesquisa adotado é reconhecido<br />

na literatura como levantamento <strong>de</strong> campo ou survey, o qual se<br />

caracteriza pela <strong>de</strong>scrição quantitativa <strong>de</strong> uma população (SELLTIZ;<br />

WRIGHTSMAN; COOK, 2001). Em relação à <strong>de</strong>finição t<strong>em</strong>poral, a pesquisa<br />

possui o corte transversal (cross-sectional), <strong>em</strong> que a coleta dos<br />

dados ocorreu <strong>em</strong> um só período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po (primeiro trimestre <strong>de</strong> 2005)<br />

visando <strong>de</strong>screver uma população nesse <strong>de</strong>terminado momento<br />

(RICHARDSON, 1999). A seleção da amostra <strong>de</strong> <strong>em</strong>presa partiu <strong>de</strong> um<br />

banco <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1.700 <strong>em</strong>presas nacionais do setor metalmecânico.<br />

Esse banco <strong>de</strong> dados integra uma relação <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reços<br />

atualizados periodicamente pelo laboratório responsável pelo projeto:<br />

Centro <strong>de</strong> Informações Metal-Mecânicas (CIMM), do Departamento <strong>de</strong><br />

Engenharia Mecânica da UFSC. O banco <strong>de</strong> dados compreen<strong>de</strong> en<strong>de</strong>reços<br />

eletrônicos dos mais diversos profissionais e interessados do setor<br />

metal-mecânico. Foram, portanto, consi<strong>de</strong>rados apenas os<br />

respon<strong>de</strong>ntes que constituíss<strong>em</strong> representantes <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas brasileiras<br />

inseridas no setor metal-mecânico – filtro realizado nas respostas recebidas.<br />

De acordo com Richardson (1999), pela composição da amostra ter<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

sido escolhida por <strong>de</strong>terminados critérios intencionais ou <strong>de</strong> seleção racional,<br />

é consi<strong>de</strong>rada não probabilística, uma vez que o critério adotado foi a<br />

seleção <strong>de</strong> sujeitos que estivess<strong>em</strong> incluídos no banco <strong>de</strong> dados, por seu<br />

en<strong>de</strong>reço eletrônico, e representass<strong>em</strong> qualquer <strong>em</strong>presa brasileira<br />

do setor metal-mecânico. Como a extensão dos resultados da pesquisa<br />

ao universo das <strong>em</strong>presas exige que se trabalhe com amostras<br />

probabilísticas, as análises e os resultados <strong>de</strong>ssa pesquisa po<strong>de</strong>m ser<br />

generalizados apenas para as <strong>em</strong>presas pesquisadas.<br />

O questionário eletrônico da pesquisa ficou disponível na internet,<br />

e o convite para participação foi enviado à população inicial <strong>de</strong> 1.700<br />

<strong>em</strong>presas que faz<strong>em</strong> parte do CIMM, por meio <strong>de</strong> um boletim s<strong>em</strong>anal<br />

enviado aos respectivos <strong>de</strong>stinatários, durante dois meses. Desse total,<br />

206 respostas retornaram e, após o tratamento, eliminando-se as<br />

duplicida<strong>de</strong>s e questionários parcialmente preenchidos, restaram 174<br />

respostas válidas, o que perfaz 10,23% da população. Todas as respostas<br />

foram obtidas por questionário eletrônico disponível no próprio portal<br />

do CIMM.<br />

6 AMBIENTE DE ESTUDO: SETOR METAL-MECÂNICO BRASILEIRO<br />

O setor metal-mecânico compreen<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s industriais<br />

que, <strong>em</strong> seu conjunto, constitu<strong>em</strong> parte representativa da produção<br />

industrial brasileira, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento,<br />

Indústria e Comércio Exterior (2005). Entre as ativida<strong>de</strong>s industriais<br />

que caracterizam o setor metal-mecânico, <strong>de</strong> acordo com dados do CIMM<br />

(2005), po<strong>de</strong>m ser mencionadas as da área <strong>de</strong> metalurgia, produção <strong>de</strong><br />

máquinas e equipamentos, produção <strong>de</strong> peças e ferramentaria, área <strong>de</strong><br />

componentes e lubrificantes.<br />

Consi<strong>de</strong>rando o estado do setor no contexto econômico brasileiro<br />

na atualida<strong>de</strong>, faz-se relevante o levantamento <strong>de</strong> algumas informações<br />

que caracteriz<strong>em</strong> a situação da produção industrial referente a algumas<br />

das ativida<strong>de</strong>s do setor metal-mecânico. De acordo com a publicação<br />

Usinag<strong>em</strong> Brasil, <strong>de</strong> 12/2/2005, a indústria <strong>de</strong> máquinas e equipamentos<br />

atingiu <strong>em</strong> 2004 seu melhor resultado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1995, quando da introdução<br />

do Plano Real, com faturamento <strong>de</strong> R$ 45,613 bilhões, <strong>em</strong> 2004, o que<br />

representa um crescimento <strong>de</strong> 30% <strong>em</strong> relação a 2003. Indicadores econômicos<br />

(2005) fornecidos pela Associação Brasileira <strong>de</strong> Máquinas e Equipamentos<br />

(Abimaq), do total do faturamento do setor, 56,2% correspon<strong>de</strong>m<br />

117<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


118<br />

Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

ao mercado interno e 43,8% ao mercado externo. Conforme a Usinag<strong>em</strong><br />

Brasil (12/2/2005), o potencial <strong>de</strong> crescimento é visível, já que o nível <strong>de</strong><br />

utilização da capacida<strong>de</strong> instalada teve um aumento que passou <strong>de</strong><br />

77,15%, <strong>em</strong> 2003, para 81,88%, <strong>em</strong> 2004. Por outro lado, dados (2005)<br />

do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a<br />

produção <strong>de</strong> bens não seriados <strong>de</strong> capital (sob encomenda) cresceu 10,6%<br />

<strong>em</strong> janeiro <strong>em</strong> relação a janeiro <strong>de</strong> 2004, o que previu para o início <strong>de</strong><br />

2005 uma importante tendência para o crescimento sustentado da economia<br />

brasileira. Fabricantes <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> capital sob encomenda estão com<br />

a produção aquecida, operando com maior utilização <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> e<br />

registram aumento nas carteiras <strong>de</strong> pedidos, pelos dados do IBGE. Informações<br />

veiculadas (2005) pela Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do Estado <strong>de</strong><br />

São Paulo (Fiesp) esclarec<strong>em</strong> que os fabricantes <strong>de</strong> autopeças <strong>em</strong>pregam<br />

189,6 mil trabalhadores. A projeção das montadoras, principais clientes<br />

do setor, revelou uma produção <strong>de</strong> 100 mil veículos a mais que <strong>em</strong><br />

2004 (2,1 milhões <strong>de</strong> automóveis). Em janeiro <strong>de</strong> 2005, a indústria <strong>de</strong><br />

autopeças teve faturamento 7,6% superior ao <strong>de</strong> igual mês <strong>de</strong> 2004.<br />

7 RESULTADOS<br />

Para o perfil da amostra <strong>em</strong> relação ao número <strong>de</strong> funcionários, as<br />

<strong>em</strong>presas estão distribuídas <strong>de</strong> acordo com a tabela 1 e a distribuição <strong>de</strong><br />

cargos dos respon<strong>de</strong>ntes na tabela 2.<br />

TABELA 1 - NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS<br />

FONTE: dados da pesquisa.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

TABELA 2 - DISTRIBUIÇÃO DOS CARGOS<br />

CARGO FREQÜÊNCIA PORCENTAGEM CUMULATIVO<br />

operacional<br />

tático<br />

estratégico<br />

72<br />

61<br />

41<br />

FONTE: dados da pesquisa.<br />

Entre as <strong>em</strong>presas pesquisadas, constatou-se que existiam casos<br />

nas três etapas <strong>de</strong> informatização, e a amostra ficou distribuída <strong>de</strong> acordo<br />

com a tabela 3 a seguir.<br />

TABELA 3 - ETAPAS DE INFORMATIZAÇÃO<br />

FONTE: dados da pesquisa.<br />

41,38%<br />

35,06%<br />

23,56%<br />

41,38%<br />

76,44%<br />

100,00%<br />

ETAPA FREQÜÊNCIA PORCENTAGEM CUMULATIVO<br />

manual<br />

41<br />

23,56%<br />

23,56%<br />

automatizada<br />

76<br />

43,68%<br />

67,24%<br />

integrada<br />

57<br />

32,76%<br />

100,00%<br />

Com relação à amostra, é interessante constar que das 174 <strong>em</strong>presas<br />

respon<strong>de</strong>ntes, 132 (aproximadamente 86%) pertenc<strong>em</strong> ao ramo<br />

industrial e o restante 42 (aproximadamente 24%), ao ramo <strong>de</strong> serviços<br />

<strong>de</strong>ntro do setor metal-mecânico. Todas as cinco regiões do Brasil apresentaram<br />

<strong>em</strong>presas respon<strong>de</strong>ntes, com a maior concentração na Região<br />

Su<strong>de</strong>ste (54,6%), seguida pela Região Sul com 29,31%.<br />

119<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


120<br />

Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

8 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />

Os principais resultados da pesquisa se refer<strong>em</strong> ao uso das informações<br />

“informais”, ou seja, aquelas obtidas <strong>em</strong> fonte alternativa ao sist<strong>em</strong>a<br />

formal adotado, como planilhas eletrônicas <strong>em</strong> organizações do setor<br />

metal-mecânico.<br />

O estudo <strong>de</strong> levantamento compreen<strong>de</strong>u a análise <strong>de</strong> resultados<br />

por meio do uso <strong>de</strong> análises paramétricas e não paramétricas. Foram<br />

testadas e analisadas seis variáveis para comprovação ou rejeição das<br />

hipóteses, i<strong>de</strong>ntificadas no quadro 1:<br />

a) tamanho da <strong>em</strong>presa, com base no número <strong>de</strong> funcionários <strong>de</strong><br />

acordo com a classificação do Sebrae (2004);<br />

b) nível hierárquico compreen<strong>de</strong>ndo os níveis operacional, tático e<br />

estratégico;<br />

c) etapas <strong>de</strong> informatização abrangendo os níveis manual,<br />

automatizado e integrado;<br />

d) fonte <strong>de</strong> informação utilizada pelo <strong>de</strong>cisor <strong>em</strong> sua área;<br />

e) fonte <strong>de</strong> informação <strong>em</strong>pregada para prover <strong>de</strong>cisores <strong>de</strong> outras<br />

áreas;<br />

f) nível <strong>de</strong> impacto, com base <strong>em</strong> fatores dificultadores <strong>de</strong> uso,<br />

que levam à adoção <strong>de</strong> informações não provenientes <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />

formais <strong>de</strong> informação.<br />

A respeito da última variável, faz-se importante salientar os seguintes<br />

aspectos: os respon<strong>de</strong>ntes i<strong>de</strong>ntificaram, por uma escala <strong>de</strong> Likert<br />

<strong>de</strong> cinco pontos, partindo <strong>de</strong> menor para maior intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> influência,<br />

um conjunto <strong>de</strong> fatores relacionados com adoção <strong>de</strong> informações provenientes<br />

<strong>de</strong> fonte alternativa. Os resultados conduziram à i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />

três padrões distintos <strong>de</strong> resposta, <strong>de</strong> acordo com a intensida<strong>de</strong> dos fatores<br />

i<strong>de</strong>ntificada pelos respon<strong>de</strong>ntes.<br />

Para o tratamento da variável “f”, foram realizados alguns procedimentos<br />

metodológicos. Inicialmente, os resultados associados a essa<br />

variável foram submetidos à análise <strong>de</strong> cluster, adotando-se o método<br />

Ward, pela medida <strong>de</strong> distância euclidiana ao quadrado. Esse processo<br />

conduziu à classificação dos resultados associados à variável “f” <strong>em</strong> três<br />

grupos, feita por escolha dos pesquisadores. Após esse processo, os resultados<br />

associados a tal variável sofreram uma análise discriminante.<br />

Como produto <strong>de</strong>sse procedimento, os resultados conduziram à caracte-<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

rização dos três grupos <strong>de</strong> respostas, <strong>de</strong> acordo com a intensida<strong>de</strong> selecionada,<br />

classificados <strong>em</strong>: grupo 1 – baixa dificulda<strong>de</strong> na adoção <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />

formais; grupo 2 – dificulda<strong>de</strong> do uso do sist<strong>em</strong>a formal, <strong>em</strong> função<br />

<strong>de</strong> fatores associados ao conhecimento do sist<strong>em</strong>a; grupo 3 – dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uso do sist<strong>em</strong>a formal, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> fatores associados ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho<br />

do sist<strong>em</strong>a.<br />

Posteriormente, para a análise <strong>de</strong> resultados, por meio da verificação<br />

das hipóteses H4 e H5, o estudo compreen<strong>de</strong>u o processo <strong>de</strong> análises<br />

cruzadas (crosstabs) e posterior verificação do comportamento da<br />

variável “f” com a aplicação do teste Qui-quadrado, <strong>de</strong> Pearson. Os resultados<br />

<strong>de</strong>sse teste, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> confiança a=0,05%, estão <strong>de</strong>monstrados<br />

na tabela 4.<br />

TABELA 4 - RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO<br />

HIPÓTESES QUI-QUADRADO<br />

H1a<br />

0,000<br />

H1b<br />

0,000<br />

H2a<br />

0,031<br />

H2b<br />

0,850<br />

H3a<br />

0,012<br />

H3b<br />

0,037<br />

H4<br />

0,000<br />

H5<br />

0,031<br />

FONTE: resultados da pesquisa.<br />

121<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


122<br />

Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

QUADRO 1 - DISTRIBUIÇÃO PORCENTUAL DE<br />

CRUZAMENTOS DAS VARIÁVEIS<br />

H1a Manual Automat.<br />

Pred. Formal<br />

48,0%<br />

26,0%<br />

Pred. Planilhas<br />

9,1%<br />

77,3%<br />

Ambas<br />

2,7%<br />

52,0%<br />

H1b<br />

Pred. Formal<br />

Pred. Planilhas<br />

Ambas<br />

H2a<br />

Pred. Formal<br />

Pred. Planilhas<br />

Ambas<br />

H2b<br />

Pred. Formal<br />

Pred. Planilhas<br />

Ambas<br />

H3a<br />

Pred. Formal<br />

Pred. Planilhas<br />

Ambas<br />

H3b<br />

Pred. Formal<br />

Pred. Planilhas<br />

Ambas<br />

H4<br />

Manual<br />

Automático<br />

Integrado<br />

H5<br />

Op/Tático<br />

Estratégico<br />

Manual<br />

50,7%<br />

9,1%<br />

2,5%<br />

Operac.<br />

44,2%<br />

22,7%<br />

44,0%<br />

Operac.<br />

41,1%<br />

36,4%<br />

43,0%<br />

Micro<br />

29,9%<br />

36,4%<br />

20,0%<br />

Micro<br />

32,9%<br />

27,3%<br />

20,3%<br />

Grupo 1<br />

95,1%<br />

34,2%<br />

45,6%<br />

Grupo 1<br />

56,4%<br />

39,0%<br />

FONTE: dados da pesquisa.<br />

Pequena<br />

31,1%<br />

45,5%<br />

20,0%<br />

Pequena<br />

26,0%<br />

45,5%<br />

25,3%<br />

Automat.<br />

26,0%<br />

81,8%<br />

49,4%<br />

Tático<br />

33,7%<br />

27,3%<br />

38,7%<br />

Tático<br />

34,2%<br />

31,8%<br />

36,7%<br />

Grupo 2<br />

4,9%<br />

29,0%<br />

14,0%<br />

Grupo 2<br />

14,3%<br />

31,7%<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.<br />

Média<br />

23,4%<br />

13,6%<br />

28,0%<br />

Média<br />

26,0%<br />

22,7%<br />

22,8%<br />

Integrada<br />

26,0%<br />

13,6%<br />

45,3%<br />

Integrada<br />

23,3%<br />

9,1%<br />

48,1%<br />

Estratég.<br />

22,1%<br />

50,0%<br />

17,3%<br />

Estratég.<br />

24,7%<br />

31,8%<br />

20,3%<br />

Gran<strong>de</strong><br />

15,6%<br />

4,5%<br />

32,0%<br />

Gran<strong>de</strong><br />

15,1%<br />

4,5%<br />

31,6%<br />

Grupo 3<br />

0,0%<br />

36,8%<br />

40,4%<br />

Grupo 3<br />

29,3%<br />

29,3%


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

Dentre as oito hipóteses apresentadas, somente a H2b não apresenta<br />

diferenças <strong>de</strong> comportamento entre o nível hierárquico e as fontes<br />

<strong>de</strong> informações. Todas as outras apresentam comportamentos diferentes<br />

para situações diferentes, comprovando a influência <strong>de</strong> uma variável sobre<br />

a outra.<br />

Analisando a hipótese H1a, que propõe que quanto maior o nível<br />

<strong>de</strong> informatização menor o uso <strong>de</strong> informações advindas <strong>de</strong> planilhas nas<br />

<strong>de</strong>cisões tomadas na área funcional do <strong>de</strong>cisor, observa-se que há diferenças<br />

<strong>de</strong> uso <strong>de</strong> informações advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e outras<br />

fontes para os diferentes níveis <strong>de</strong> informatização. No entanto, essa diferença<br />

ocorre no sentido oposto ao especificado na hipótese. Pelos resultados,<br />

<strong>em</strong>presas <strong>em</strong> níveis mais avançados <strong>de</strong> informatização<br />

(automatizado e integrado) utilizam mais informações baseadas <strong>em</strong> fonte<br />

alternativa, como planilhas eletrônicas, do que as <strong>de</strong> nível menor <strong>de</strong><br />

informatização (manual).<br />

A hipótese H1b <strong>de</strong>ve ser rejeitada. Os resultados se apresentam<br />

<strong>de</strong> maneira idêntica aos da hipótese H1a, pois, para as situações envolvendo<br />

o fornecimento <strong>de</strong> informações para outras áreas, quanto maior o<br />

estágio <strong>de</strong> informatização maior o uso <strong>de</strong> informações provenientes <strong>de</strong><br />

planilhas eletrônicas e outras fontes.<br />

Esses resultados suger<strong>em</strong> que no estágio <strong>de</strong> informatização manual,<br />

as <strong>em</strong>presas obtêm informação predominant<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />

formais, que na verda<strong>de</strong> constitu<strong>em</strong> a única ou principal fonte <strong>de</strong> informação<br />

para gestão. Já nos casos <strong>em</strong> que o estágio <strong>de</strong> informatização foi<br />

i<strong>de</strong>ntificado como automatizado, a utilização <strong>de</strong> fonte alternativa, como<br />

planilhas eletrônicas, aumentou <strong>em</strong> relação à utilização <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

informação formais da organização. Isso po<strong>de</strong>ria ser explicado pela falta<br />

<strong>de</strong> integração entre os diversos sist<strong>em</strong>as formais que estão presentes<br />

isoladamente nas áreas funcionais da organização. Para que a informação<br />

possa ser útil na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, os indivíduos recorr<strong>em</strong> ao uso<br />

<strong>de</strong> fontes paralelas <strong>de</strong> informação.<br />

Já nos casos <strong>em</strong> que as <strong>em</strong>presas se encontram no último estágio<br />

<strong>de</strong> informatização (integrado), o probl<strong>em</strong>a entre os sist<strong>em</strong>as está tecnicamente<br />

superado, porém, nesse nível, verificou-se ainda um alto índice<br />

<strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> planilhas e outras fontes paralelas <strong>de</strong> informação. A orig<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>ssa constatação po<strong>de</strong>ria estar atrelada ao <strong>de</strong>sconhecimento, por<br />

parte <strong>de</strong> seus usuários, da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong> informações<br />

pelos sist<strong>em</strong>as formais da <strong>em</strong>presa. Nessa condição, o aperfeiçoamento<br />

dos processos <strong>de</strong> treinamento para capacitação no uso dos sist<strong>em</strong>as<br />

123<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


124<br />

Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

formais po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminante. Outras possíveis explicações para o uso<br />

<strong>de</strong> fonte alternativa <strong>de</strong> informação no nível integrado po<strong>de</strong>m ser levantadas.<br />

Uma <strong>de</strong>stas explicações compreen<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> uma customização<br />

completa do sist<strong>em</strong>a utilizada nas rotinas e nos procedimentos diários da<br />

<strong>em</strong>presa, ou seja, a estruturação do sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong> sua concepção po<strong>de</strong> ter<br />

<strong>de</strong>scon-si<strong>de</strong>rado aspectos relevantes <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong> informação que<br />

levam seus usuários a suprí-las por meio <strong>de</strong> fontes alternativas ao sist<strong>em</strong>a<br />

formal, como a adoção <strong>de</strong> planilhas eletrônicas. Do mesmo modo,<br />

exist<strong>em</strong> algumas informações que são mantidas e manipuladas com exclusivida<strong>de</strong><br />

pelos <strong>de</strong>cisores <strong>em</strong> suas planilhas eletrônicas pessoais, o<br />

que reflete aspectos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na organização, quanto ao uso da informação.<br />

A hipótese H2a sugere que existe diferença no uso <strong>de</strong> informações<br />

advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas nas <strong>de</strong>cisões tomadas na área<br />

funcional do <strong>de</strong>cisor, <strong>de</strong> acordo com o nível hierárquico. No entanto, quanto<br />

maior o nível hierárquico maior o uso <strong>de</strong> informações oriundas <strong>de</strong> fontes<br />

informais e planilhas eletrônicas, <strong>de</strong>monstrando comportamento oposto<br />

ao proposto pela respectiva hipótese. A comprovação <strong>de</strong>sse resultado<br />

corrobora as afirmações <strong>de</strong> O´Brien (2002), que consi<strong>de</strong>ra que gestores<br />

<strong>de</strong> níveis mais estratégicos obtêm informações para sua tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

das mais variadas fontes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> planilhas e relatórios avulsos e até<br />

mesmo com orig<strong>em</strong> nas relações sociais. Outra possível explicação para<br />

esse fato é a preocupação do usuário com o sigilo e segurança das informações.<br />

O uso <strong>de</strong> fonte alternativa, como planilhas eletrônicas, pelos níveis<br />

hierárquicos mais altos po<strong>de</strong> ocorrer para evitar que informações<br />

consi<strong>de</strong>radas estratégicas pelos gestores sejam compartilhadas com outros<br />

indivíduos da organização, ameaçando assim interesses próprios dos<br />

usuários <strong>de</strong> informação dos níveis hierárquicos mais altos.<br />

A hipótese H2b passa a ser rejeitada, por não ter sido i<strong>de</strong>ntificada<br />

diferença entre o nível hierárquico e a utilização <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> fontes<br />

diversas nas <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> outros setores.<br />

Na hipóteses H3a e H3b, a proposta é a <strong>de</strong> que quanto maior o<br />

tamanho da organização (pelo critério número <strong>de</strong> funcionários – classificação<br />

do Sebrae, 2004) menor a predominância do uso <strong>de</strong> informações<br />

advindas <strong>de</strong> planilhas eletrônicas e outras fontes, tanto nas <strong>de</strong>cisões tomadas<br />

na área funcional do <strong>de</strong>cisor (H3a) como no fornecimento <strong>de</strong> informações<br />

para outros ou como m<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> um comitê (H3b). Os resultados<br />

analisados apresentam comportamento oposto às afirmações propostas<br />

por essas hipóteses. Nas micro<strong>em</strong>presas, a fonte predominante das in-<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

formações é formal. Nas pequenas <strong>em</strong>presas, há a predominância <strong>de</strong><br />

uso da fonte formal, apesar <strong>de</strong> ser <strong>em</strong> grau proporcionalmente menor ao<br />

uso nas micro<strong>em</strong>presas. À medida que as organizações vão crescendo,<br />

o sist<strong>em</strong>a formal vai ce<strong>de</strong>ndo espaço para fonte alternativa, utilizada com<br />

o sist<strong>em</strong>a formal, consolidando-se por planilhas eletrônicas e outras fontes.<br />

As micro<strong>em</strong>presas geralmente se encontram no nível manual <strong>de</strong><br />

informatização, enquanto as pequenas e algumas médias, no nível <strong>de</strong><br />

automação, e as médias restantes e gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas no nível <strong>de</strong><br />

integração. Essas duas últimas observações corroboram as duas primeiras<br />

hipóteses (H1a e H1b). Na maioria das vezes, os sist<strong>em</strong>as integrados<br />

são adquiridos por meio <strong>de</strong> pacotes <strong>em</strong> que po<strong>de</strong>m ser parcialmente<br />

parametrizados e customizados.<br />

Algumas <strong>em</strong>presas adotam sist<strong>em</strong>as que não estão totalmente<br />

adaptados às suas realida<strong>de</strong>s, forçando seus usuários a buscar<strong>em</strong> uma<br />

compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> nas manipulações realizadas nas planilhas eletrônicas.<br />

Outras causas po<strong>de</strong>m estar associadas a questões relativas ao <strong>de</strong>sconhecimento<br />

das capacida<strong>de</strong>s do sist<strong>em</strong>a por seus usuários e também<br />

à resistência dos usuários <strong>em</strong> inserir no sist<strong>em</strong>a informações relevantes,<br />

as quais permanec<strong>em</strong> isoladas <strong>em</strong> planilhas e relatórios <strong>de</strong> uso exclusivo<br />

dos <strong>de</strong>cisores.<br />

A hipótese H4, segundo os dados analisados, sugere que existe<br />

diferença entre o nível <strong>de</strong> informatização da <strong>em</strong>presa e os três padrões<br />

<strong>de</strong> respostas associados à variável “f” (baseada nos fatores que influenciam<br />

a adoção <strong>de</strong> informações não provenientes <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as formais). De<br />

acordo com a hipótese H4, quanto maior o nível <strong>de</strong> informatização menor<br />

o impacto dos fatores que dificultam a adoção dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong><br />

informação. O que se verificou foi que, nos níveis mais altos <strong>de</strong><br />

informatização, <strong>em</strong> que a <strong>em</strong>presa se encontra no estágio integrado <strong>de</strong><br />

informatização, o padrão <strong>de</strong> respostas revela maior intensida<strong>de</strong> sobre os<br />

fatores que dificultam a adoção dos sist<strong>em</strong>as formais.<br />

No grupo <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> que o estágio <strong>de</strong> informatização foi<br />

caracterizado pelo nível automatizado, o grupo <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>ntes compreen<strong>de</strong>u<br />

que existe alto impacto dos fatores que dificultam a adoção dos<br />

sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação, com maior intensida<strong>de</strong> sobre fatores<br />

associados ao conhecimento acerca da utilização do sist<strong>em</strong>a: informações<br />

incorretas, relatórios confusos e treinamento insuficiente. Entre os<br />

respon<strong>de</strong>ntes do grupo associado às <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> informatização<br />

integrada, os fatores <strong>de</strong> maior impacto associados à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> adoção<br />

dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação compreen<strong>de</strong>ram aqueles asso-<br />

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Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

ciados ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos sist<strong>em</strong>as formais: dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> obtenção,<br />

<strong>de</strong>mora na obtenção e atualização das informações e o não-atendimento<br />

das expectativas pelo sist<strong>em</strong>a. Esses resultados levam a uma possível<br />

conclusão a respeito dos usuários <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as formais.<br />

No contexto <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> estágio <strong>de</strong> informatização integrado,<br />

seus usuários po<strong>de</strong>m apresentar um conhecimento maior sobre os sist<strong>em</strong>as<br />

utilizados do que os usuários <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> estágio <strong>de</strong><br />

informatização automatizado. Isso po<strong>de</strong> ocorrer <strong>em</strong> função <strong>de</strong> que os fatores<br />

<strong>de</strong> maior impacto para as <strong>em</strong>presas do estágio integrado <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

mais do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos sist<strong>em</strong>as formais do que <strong>de</strong> fatores relativos ao<br />

<strong>de</strong>sconhecimento da utilização <strong>de</strong>sses sist<strong>em</strong>as.<br />

Finalmente, os dados analisados <strong>em</strong> H5 mostram comportamento<br />

contrário à afirmação da hipótese. Entre os três níveis hierárquicos i<strong>de</strong>ntificados,<br />

verificou-se a existência do impacto dos fatores que dificultam a<br />

adoção dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação. No entanto, quanto maior o<br />

nível hierárquico do respon<strong>de</strong>nte maior o impacto <strong>de</strong> fatores: informações<br />

incompletas, informações incorretas e treinamento insuficiente. Os fatores<br />

<strong>de</strong> maior impacto revelados e associados ao nível hierárquico estratégico<br />

po<strong>de</strong>m projetar a falta <strong>de</strong> domínio, por parte dos executivos, do uso<br />

dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> informação.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a falta <strong>de</strong> treinamento como uma das possíveis causas<br />

da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> adoção dos sist<strong>em</strong>as formais, isso po<strong>de</strong> significar,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, uma falta <strong>de</strong> planejamento nos processos <strong>de</strong> treinamento e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tais ferramentas junto ao corpo <strong>de</strong> executivos das<br />

<strong>em</strong>presas. Outros indícios po<strong>de</strong>m ser levantados e associados aos fatores,<br />

como dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter informações corretas, aten<strong>de</strong>ndo totalmente<br />

às suas necessida<strong>de</strong>s. Tais fatores po<strong>de</strong>m estar relacionados com a falta<br />

<strong>de</strong> um planejamento dos sist<strong>em</strong>as formais <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada à necessida<strong>de</strong><br />

real <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> seus usuários <strong>em</strong> nível estratégico.<br />

9 CONCLUSÃO<br />

No contexto do setor metal-mecânico brasileiro, este artigo apresentou<br />

uma pesquisa <strong>de</strong> levantamento, buscando i<strong>de</strong>ntificar a relação<br />

das informações formais e informais no processo <strong>de</strong>cisório por parte dos<br />

indivíduos que atuam nessas <strong>em</strong>presas. A pesquisa teve como principal<br />

motivação a carência <strong>de</strong> estudos sob esse enfoque no referido setor, apesar<br />

da crescente valorização da informação pelas organizações.<br />

Adm. <strong>de</strong> Emp. <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>, Curitiba, n. 4, p. 103-131, 2005.


Gustavo Abib, Carlos Gabriel Eggert Boehs e<br />

Pedro José Steiner Neto<br />

O estudo apresentou uma série <strong>de</strong> resultados que conduz<strong>em</strong> à<br />

revisão <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> preconceitos que po<strong>de</strong>m estar permeando as<br />

opiniões dos gestores brasileiros quanto à utilização <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />

computacionais <strong>de</strong> gestão da informação e apoio à <strong>de</strong>cisão. Tamanho<br />

das <strong>em</strong>presas, nível hierárquico e nível <strong>de</strong> informatização constitu<strong>em</strong><br />

alguns dos fatores associados à caracterização do uso <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />

computacionais <strong>de</strong> gestão da informação nas <strong>em</strong>presas, os quais, não<br />

necessariamente, apresentam uma relação diretamente proporcional <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> adoção e eficiência. Como ex<strong>em</strong>plo, apesar do movimento<br />

<strong>em</strong> direção à total integração nas <strong>em</strong>presas, tanto <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>partamentos<br />

internos como <strong>de</strong> seus parceiros externos, verificou-se que as informações<br />

utilizadas para tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão na <strong>em</strong>presa são provenientes<br />

tanto <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as formais como <strong>de</strong> fontes alternativas. Constatou-se<br />

também que somente o uso <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as formais não aten<strong>de</strong> totalmente<br />

à necessida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>cisores no que se refere ao fornecimento<br />

<strong>de</strong> informações.<br />

A pesquisa <strong>de</strong>monstrou ainda que, com o aumento do nível hierárquico<br />

ou mesmo o tamanho da <strong>em</strong>presa, alguns resultados se tornam<br />

mais evi<strong>de</strong>nte. Os dados permit<strong>em</strong> verificar que os processos <strong>de</strong><br />

estruturação da informação nas <strong>em</strong>presas, cuja priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria incluir<br />

a substituição total <strong>de</strong> controles paralelos e pessoais, não têm sido eficazes,<br />

recomendando-se a busca <strong>de</strong> razões para essa situação.<br />

Quanto aos fatores consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>terminantes como dificultadores<br />

na adoção <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as formais, os resultados da pesquisa <strong>de</strong>monstram<br />

ainda que po<strong>de</strong>m ocorrer variações nos motivos que conduz<strong>em</strong> à adoção<br />

<strong>de</strong> fonte alternativa <strong>de</strong> informação, sejam esses fatores associados ao<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho como à falta <strong>de</strong> treinamento e planejamento a<strong>de</strong>quado no<br />

manuseio dos sist<strong>em</strong>as formais.<br />

É imprescindível que as organizações gerenci<strong>em</strong> a informação,<br />

pois ela constitui um recurso importante como vários outros existentes na<br />

<strong>em</strong>presa. A informação auxilia, esclarece, facilita a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e,<br />

se <strong>de</strong>senvolvida <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada, po<strong>de</strong> tornar-se uma vantag<strong>em</strong> competitiva<br />

para a organização.<br />

Enfim, a pesquisa permite a constatação <strong>de</strong> que a gestão da informação<br />

não se satisfaz apenas com a aquisição <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as integrados,<br />

já que se exige a compreensão dos diferentes processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão relacionados<br />

com o sist<strong>em</strong>a adotado e das informações utilizadas.<br />

Para que se possa ampliar esse campo, novas pesquisas que trat<strong>em</strong><br />

especificamente do relacionamento entre os tipos <strong>de</strong> informação com a<br />

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Orig<strong>em</strong> e Utilização <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Decisões Organizacionais ...<br />

tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e seu impacto na organização po<strong>de</strong>riam vir a enriquecer<br />

tal área, contribuindo para que a informação possa ser vista com maior<br />

importância <strong>de</strong>ntro do sist<strong>em</strong>a.<br />

Novos estudos <strong>em</strong> outros setores, além do setor metal-mecânico,<br />

<strong>de</strong>verão compl<strong>em</strong>entar este estudo. Uma agenda <strong>de</strong> pesquisa futura po<strong>de</strong><br />

estar relacionada com a análise da eficiência dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação<br />

formais das organizações.<br />

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Normas Editoriais


Conselho Editorial<br />

NORMAS EDITORIAIS<br />

1 <strong>Administração</strong> <strong>de</strong> <strong>Empresas</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong> só veicula artigos inéditos,<br />

os quais <strong>de</strong>verão estar <strong>de</strong> acordo com a t<strong>em</strong>ática anunciada para<br />

cada número <strong>em</strong> edital próprio e ser enviados à Editoria da <strong>Revista</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Administração</strong>, <strong>em</strong> meio eletrônico (arquivos para os seguintes en<strong>de</strong>reços:<br />

marlus.forigo@aena.br; npesquisa.fic@aena.br), conforme datas a<br />

ser<strong>em</strong> estipuladas anualmente nas chamadas <strong>de</strong> artigos para a <strong>Revista</strong>.<br />

2 Todos os artigos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> apresentar a seguinte estrutura:<br />

a) como el<strong>em</strong>entos pré-textuais – título (<strong>em</strong> fonte tamanho 14, <strong>em</strong><br />

negrito e centralizado, com versões <strong>em</strong> inglês e <strong>em</strong> algum outro<br />

idioma <strong>de</strong> caráter internacional) seguido, à direita, da i<strong>de</strong>ntificação<br />

da autoria e das cre<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong>sta (nomes completos <strong>de</strong> autores<br />

e co-autores, titulações, vínculos institucionais e ativida<strong>de</strong>s<br />

profissionais atuais), menção às subvenções recebidas, apoios e<br />

financiamentos, sumário (contendo os tópicos <strong>em</strong> que se divi<strong>de</strong> o<br />

artigo, logo abaixo do título e dos nomes dos articulistas), resumo<br />

e palavras-chave <strong>em</strong> língua vernácula, resumo e palavras-chave<br />

<strong>em</strong> inglês;<br />

b) como el<strong>em</strong>entos textuais – introdução, <strong>de</strong>senvolvimento e conclusão;<br />

c) como el<strong>em</strong>entos pós-textuais – lista <strong>de</strong> referências (somente as obras<br />

efetivamente citadas no texto <strong>de</strong>verão constar nas referências).<br />

3 Os trabalhos para a seção “Artigos Científicos” <strong>de</strong>verão ter entre<br />

10 e 25 páginas e ser digitados <strong>em</strong> Word 7.0 ou versão mais atualizada,<br />

formato do papel A4, fonte arial tamanho 12 e com espacejamento 1,5<br />

entre as linhas, para o texto normal, e, para as citações diretas <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />

três linhas, notas <strong>de</strong> rodapé, paginação e legendas <strong>de</strong> ilustrações e tabelas,<br />

o tamanho da fonte passa a ser o 10, e o espacejamento, simples.<br />

4 As páginas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> apresentar marg<strong>em</strong> esquerda e superior <strong>de</strong><br />

3 cm, direita e inferior <strong>de</strong> 2 cm, e as citações diretas <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> três<br />

linhas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>stacadas <strong>em</strong> parágrafo próprio com recuo <strong>de</strong> 4 cm da<br />

marg<strong>em</strong> esquerda e s<strong>em</strong> aspas.<br />

5 No texto, as citações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser indicadas pelo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> chamada<br />

autor-data (ex<strong>em</strong>plo: WARAT, 1985, p. 30), o qual admite somente notas<br />

<strong>de</strong> rodapé explicativas.<br />

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Normas Editoriais<br />

6 As referências bibliográficas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> vir <strong>em</strong> lista única ao final do<br />

trabalho, or<strong>de</strong>nadas pelo sist<strong>em</strong>a alfabético, digitadas <strong>em</strong> espaço simples,<br />

separadas entre si por espaço duplo.<br />

7 As locuções <strong>em</strong> língua estrangeira e os <strong>de</strong>staques <strong>de</strong>verão ser<br />

redigidos <strong>em</strong> itálico.<br />

8 Todos os textos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> seguir as <strong>de</strong>mais normas da Associação<br />

Brasileira <strong>de</strong> Normas Técnicas (ABNT) sobre citações e notas <strong>de</strong> rodapé,<br />

referências <strong>em</strong> documentos e outras especificida<strong>de</strong>s (ver, notadamente a<br />

NBR 14724, a NBR 10520 e a NBR 6023, <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2002).<br />

9 Os artigos <strong>de</strong> ambas as seções <strong>de</strong>verão ter suas introduções antecedidas<br />

por resumos <strong>em</strong> português e correspon<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> inglês<br />

(abstract) <strong>de</strong> até 10 linhas, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> 3 a 6 palavras-chave também<br />

com as correspon<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> inglês (keywords), para fins <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada<br />

in<strong>de</strong>xação.<br />

10 As colaborações para a seção “Resenha” <strong>de</strong>verão conter <strong>de</strong> 2 a<br />

5 páginas, enquadrar-se na t<strong>em</strong>ática da <strong>Revista</strong> e versar sobre obra clássica,<br />

ainda não publicada no Brasil ou muito recente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tenha<br />

impacto na respectiva t<strong>em</strong>ática, nada obstando que a obra reúna mais <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>ssas características.<br />

11 Artigos científicos e resenhas não po<strong>de</strong>rão ser assinados por meio<br />

<strong>de</strong> pseudônimos. A i<strong>de</strong>ntificação da autoria das resenhas segue os mesmos<br />

requisitos da dos artigos.<br />

12 Os artigos assinados serão <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> exclusiva <strong>de</strong> seus<br />

autores, não refletindo, necessariamente, a opinião das Faculda<strong>de</strong>s Integradas<br />

Curitiba (FIC).<br />

13 Tanto no caso <strong>de</strong> artigos quanto no <strong>de</strong> resenhas, os autores ou<br />

co-autores <strong>de</strong>verão encaminhar seus trabalhos com ofício datado, contendo<br />

a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> ineditismo do texto, além dos seguintes dados:<br />

título do trabalho, nomes completos, en<strong>de</strong>reços completos (inclusive os<br />

eletrônicos) e telefones. Deverão ainda veicular a autorização para a publicação<br />

e a cedência formal dos direitos <strong>de</strong> publicação, pelo preenchimento<br />

e anexação da Ficha <strong>de</strong> Autorização para Publicação <strong>de</strong> Obra Intelectual,<br />

disponível <strong>em</strong> www.faculda<strong>de</strong>scuritiba.br, link Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa > Publicações<br />

> <strong>Administração</strong> <strong>de</strong> <strong>Empresas</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>.


Conselho Editorial<br />

14 A permissão para o uso <strong>de</strong> ilustrações, imagens, tabelas etc.,<br />

extraídas <strong>de</strong> outras publicações, b<strong>em</strong> como quaisquer outras licenças ou<br />

aprovações perante entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> direitos autorais, é <strong>de</strong> plena<br />

responsabilida<strong>de</strong> dos autores dos artigos e das resenhas.<br />

15 Os artigos ou resenhas internacionais redigidos <strong>em</strong> espanhol<br />

<strong>de</strong>verão ser encaminhados e serão publicados <strong>em</strong> seu idioma original,<br />

caso <strong>em</strong> que, além dos resúmenes e palabras clave traduzidos <strong>em</strong> inglês,<br />

po<strong>de</strong>rão também ter esses correspon<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> língua portuguesa.<br />

15.1 Artigos ou resenhas internacionais redigidos <strong>em</strong> outros idiomas,<br />

que não o espanhol, <strong>de</strong>verão ser encaminhados nos idiomas originais<br />

e terão tradução para o vernáculo (publicação bilíngüe).<br />

16 Artigos ou resenhas escritos por acadêmicos somente serão recebidos<br />

para análise se apresentados <strong>em</strong> co-autoria com professores<br />

orientadores <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong> extensão, <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> conclusão<br />

<strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> graduação ou <strong>de</strong> pós-graduação (especializações,<br />

mestrados, doutorados e pós-doutorados).<br />

17 A publicação das colaborações recebidas estará condicionada à<br />

avaliação do Conselho Científico da <strong>Revista</strong> e <strong>de</strong> eventuais avaliadores<br />

ad hoc, que po<strong>de</strong>rão aprová-las na íntegra, sugerir alterações ou recusálas<br />

<strong>de</strong>finitivamente.<br />

18 A Editoria da <strong>Revista</strong> enviará correspondência eletrônica confirmando<br />

o recebimento dos trabalhos, b<strong>em</strong> como a lista daqueles que for<strong>em</strong><br />

selecionados para a respectiva publicação.<br />

19 A Editoria da <strong>Revista</strong> po<strong>de</strong>rá executar, com ou s<strong>em</strong> recomendação<br />

do Conselho Científico e dos avaliadores ad hoc, pequenas alterações<br />

<strong>de</strong> caráter meramente formal nos textos recebidos, <strong>de</strong> modo a a<strong>de</strong>quálos<br />

aos padrões da ABNT, não sendo admitidas modificações <strong>de</strong> estrutura,<br />

conteúdo ou estilo, s<strong>em</strong> o prévio consentimento dos autores.<br />

20 Os autores <strong>de</strong> artigos e resenhas aprovados para publicação<br />

com sugestões <strong>de</strong> alterações (correções <strong>de</strong> português, a<strong>de</strong>quações à ABNT<br />

etc.) por parte dos avaliadores ou da Editoria da <strong>Revista</strong> serão contatados<br />

pela Instituição para realizá-las e, a partir disso, <strong>em</strong>itir nova autorização<br />

<strong>de</strong> publicação. A Editoria po<strong>de</strong> recusar a publicação dos artigos ou das<br />

resenhas <strong>em</strong> relação aos quais foram feitas ressalvas pelos avaliadores,<br />

caso essas não tenham sido consi<strong>de</strong>radas pelos respectivos autores.<br />

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Normas Editoriais<br />

21 O Conselho Editorial, integrado por m<strong>em</strong>bros dotados <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong><br />

científica e seniorida<strong>de</strong> <strong>em</strong> pesquisa, representantes <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um<br />

Estado da Fe<strong>de</strong>ração brasileira, e <strong>de</strong> alguns países – auxilia a Editoria na<br />

<strong>de</strong>finição do projeto editorial (t<strong>em</strong>ática) <strong>de</strong> cada número da <strong>Revista</strong> e na<br />

resolução <strong>de</strong> dúvidas a ele pertinentes.<br />

22 O Conselho Científico – composto <strong>de</strong> professores das FIC e <strong>de</strong><br />

alguns convidados externos – auxilia a Editoria da <strong>Revista</strong> na revisão dos<br />

artigos recebidos (a partir da Ficha <strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong> Artigos), na indicação<br />

<strong>de</strong> avaliadores ad hoc (internos ou externos à Instituição), quando necessário,<br />

e na captação <strong>de</strong> artigos conforme as t<strong>em</strong>áticas da <strong>Revista</strong>. Na<br />

avaliação dos artigos serão mantidas <strong>em</strong> sigilo suas autorias.<br />

23 A <strong>Revista</strong> adota uma política <strong>de</strong> combate à endogenia, seguindo<br />

as diretrizes da CAPES no sentido <strong>de</strong> que seja o menor possível o número<br />

<strong>de</strong> artigos publicados <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> professores da própria Instituição.<br />

24 A publicação não implica nenhuma espécie <strong>de</strong> r<strong>em</strong>uneração, somente<br />

cabendo aos autores <strong>de</strong> artigos e resenhas o encaminhamento,<br />

gratuito, <strong>de</strong> 3 (três) ex<strong>em</strong>plares do número da <strong>Revista</strong> <strong>em</strong> que tiver sido<br />

veiculada sua colaboração, havendo também o encaminhamento <strong>de</strong> 1 (um)<br />

ex<strong>em</strong>plar para cada m<strong>em</strong>bro dos conselhos e aos revisores ad hoc.

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