Obra Completa - Universidade de Coimbra
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CARTA DE LISBOA<br />
24-1-909<br />
Escreve hoje a Lucta:<br />
«Ontem, segundo se diz, esteve<br />
no Paço o sr. Teixeira <strong>de</strong> Sousa, que<br />
ali foi chamado ás 6 horas da tar<strong>de</strong>.<br />
«Se a noticia é verda<strong>de</strong>ira, em breve<br />
saberemos alguma coisa nova na<br />
politica. Pelo que alguns jornais disserem<br />
ou <strong>de</strong>ixarem <strong>de</strong> dizer».<br />
O sublinhado não é do alludido<br />
jornal, mas vem muito a proposito.<br />
O que a Lucta ouviu dizer é pura<br />
verda<strong>de</strong>, não 'he reste a menor duvida.<br />
O sr. Teixeira <strong>de</strong> Sousa que (diga—se<br />
<strong>de</strong> passagem) é mais querido<br />
lá no Paço do que o chefe... symbolico<br />
do partido regenerador, foi effectivamente<br />
chamado ontem á noite<br />
a conferenciar... com o rei.<br />
De que se trataria?<br />
Não será difficil <strong>de</strong>svendá-lo, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> se ter lido o hymno <strong>de</strong> paz e<br />
concordia entoado ontem pelo orgão<br />
officioso do governo.<br />
Tratou-se <strong>de</strong> politica e eis tudo.<br />
O sr. Teixeira <strong>de</strong> Sousa, terminada<br />
a intervista, foi bater á porta do sr.<br />
Julio <strong>de</strong> Vilhena, para lne pedir sobre<br />
o assumpto a sua auctorisada<br />
opinião, que por certo não <strong>de</strong>ixaria<br />
<strong>de</strong> coincidir com a do sr- Teixeira <strong>de</strong><br />
Sousa...<br />
Eu não sei se os leitores já atinaram<br />
com o X, mas o caso não é tão<br />
escuro como po<strong>de</strong>rá parecer á primeira<br />
vista. Pois não é verda<strong>de</strong> que<br />
os vilhenistas têm feito uma guerra<br />
assaz violenta ao governo e ameaça -<br />
vam redobrar <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> apenas<br />
se abrisse o parlamento? Não é verda<strong>de</strong>,<br />
também, que, tanto as Novida<strong>de</strong>s<br />
(Teixeira <strong>de</strong> Sousa) como o<br />
Diário Popular (Julio <strong>de</strong> Vilhena) têm<br />
sido inexoráveis em agredir o presi<br />
<strong>de</strong>nte do conselho, pondo-o mais raso<br />
que a lama?<br />
Tudo, pois, levava a crer que, a<br />
manter-se essa attitu<strong>de</strong>, o governo<br />
succumbiria nas camaras aos primeiros<br />
embates das opposições. Ora<br />
é isso precisamente que não convém<br />
ao Paço, que lá tem as suas razões<br />
para assim pensar. Enten<strong>de</strong>... o rei<br />
que seria um <strong>de</strong>sastre para as instituições<br />
abrir-se em breve uma nova<br />
crise, que arrastaria consigo sérias<br />
difficulda<strong>de</strong>s.<br />
Acha, por isso, <strong>de</strong> toda a conveniência<br />
que o partido regenerador<br />
tenha um pouco <strong>de</strong> con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ncia<br />
para com o governo, hostilisando-o<br />
o menos possível, mo<strong>de</strong>rando os seus<br />
ataques, limitando-se, emfim, a uma<br />
opposição pro forma; porque atraz<br />
ae tempos, tempos vêm, e não tardaria<br />
a occasião em que todos seriam<br />
consolados...<br />
Não sei o que pensam a esta hora<br />
os dois chefes do partido regenerador,<br />
<strong>de</strong>pois da intervenção do monarcha,<br />
mas é <strong>de</strong> crer que a noite<br />
<strong>de</strong> hontem tenha influído gran<strong>de</strong>mente<br />
na vida do ministério, que, segundo<br />
já s.e diz por aqui, não será tão<br />
curta, como ha dois dias apregoavam<br />
os orgãos dos srs. Vilhena e Teixeira<br />
<strong>de</strong> Sousa...<br />
Porque as palavrinhas dos reis<br />
encerram uma tal magia, que, francamente,<br />
é preciso ter-se muito co-<br />
ragem para se lhes resistir! s. F.<br />
Triohlnose<br />
O sr. Lobo da Costa enviou á camara<br />
o seguinte ofificio que dispensa<br />
encomios:<br />
Ill. mo e Ex. mo Sr.—Tendo-me participado<br />
o sr. Inten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Pecuaria<br />
<strong>de</strong>ste districto que a Direcção Geral<br />
<strong>de</strong> Agricultura lhe communicara que<br />
ultimamente teem apparecido com<br />
frequencia casos <strong>de</strong> trichinose em<br />
suínos abatidos no matadouro municipal<br />
<strong>de</strong> Lisboa, e por Í3so lhe recommendava<br />
o maior rigor na fiscalisaçãosanitariados<br />
matadouros <strong>de</strong>sate<br />
districto; e sendo esta noticia <strong>de</strong>veras<br />
alarmante, por isso que o homem<br />
contrae esta terrível doença<br />
que é quasi sempre incurável, ingerindo<br />
carnes provenientes <strong>de</strong> aDÍmaes<br />
<strong>de</strong>lia atacados, a qual encerra parasitas<br />
<strong>de</strong>nominados trichinas que teem<br />
uma resistencía extraordinaria á<br />
cocção, ao frio, á sâlga, emfim a todos<br />
os meios empregados para tornar<br />
ias carnes inoffensivas.<br />
Nestas circumstancia só a prophi-<br />
Jaxia exercida por «m rigoroso exa-<br />
KKII8TEWCIJ — Sexta-felra, 2g êe .lameiro <strong>de</strong> 1909<br />
me microscópico, abriga o consumidor<br />
da carne do porco do perigo da<br />
acquisição <strong>de</strong>ste morbo.<br />
Ainda não verifiquei neste matadouro<br />
caso algum <strong>de</strong> trichinose, todavia<br />
redobrei o rigor na inspecção,<br />
e cumprindo um <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> consciência<br />
e humanida<strong>de</strong>, tenho a subida<br />
honra <strong>de</strong> communicar a V. Ex. a que<br />
resolvi promptificar-me a proce<strong>de</strong>r<br />
gratuitamente ao exame trichinoscopico<br />
<strong>de</strong> suinos pertencentes a indivíduos<br />
resi<strong>de</strong>ntes neste concelho, e<br />
que foram abatidos fóra do matadouro,<br />
quer sejam <strong>de</strong>stinados ao consumo<br />
publico ou particular.<br />
Para isso <strong>de</strong>verão remetter-me<br />
as pessoas que se quizerem utilisar<br />
d'esses meus serviços, dous pequenos<br />
fragmentos <strong>de</strong> musculo <strong>de</strong> cada<br />
porco, sobre os quaes incidirá a respectiva<br />
analyse.<br />
Deus guar<strong>de</strong>, etc. — <strong>Coimbra</strong>, 24<br />
<strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1909. — Ill. mo e Ex. mo<br />
Sr. Presi<strong>de</strong>nte da Camara Municipal<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>. — O medico veterinário<br />
inspector do matadouro, (a)<br />
Antonio J. Lobo da Costa.<br />
MOVIMENTO REPUBLICANO<br />
Centro Mocida<strong>de</strong> Republicana Dr. Malva do Valle<br />
E' no proximo domingo, 31 <strong>de</strong> Janeiro,<br />
a inauguração do Centro Mocida<strong>de</strong><br />
Republicana, que escolheu para<br />
seu patrono o sr. dr. Malva do<br />
Valle.<br />
A inauguração realiza-se ás duas<br />
horas da tar<strong>de</strong> no Centro Eleitoral<br />
Republicano dr. José Falcão, usando<br />
da palavra os nossos correligionários<br />
srs dr. Malva do Valle, dr. Fernan<strong>de</strong>s<br />
Costa, Ramada Curto, José Gomes,<br />
Pestana Júnior.<br />
A sala está sendo elegantemente<br />
<strong>de</strong>corada.<br />
Centro Republicano Dr. Fernan<strong>de</strong>s Costa<br />
Parece não po<strong>de</strong>r realizar-se no<br />
proximo dia 31 <strong>de</strong> Janeiro a inauguração<br />
do centro republicano <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz que estava marcada para este<br />
dia por impedimento do nosso amigo<br />
dr. Antonio José <strong>de</strong> Almeida, que estava<br />
convidado para esta festa, que<br />
tem <strong>de</strong> fazer no mesmo dia uma confere.ncia<br />
em Lisboa.<br />
Além <strong>de</strong> Antonio José <strong>de</strong> Almeida<br />
uzarão da palavra os srs. Alves Sequeira,<br />
Carneiro Franco, Pestana<br />
Júnior, Ramada Curto e dr. Fernan<strong>de</strong>s<br />
Costa que é o patrono do centro.<br />
Esta festa republicana que os<br />
nossos correligionários <strong>de</strong> Santa Cruz<br />
andam preparando com o seu conhecido<br />
enthusiasmo, ficou transferida<br />
para o dia 2 do proximo mez<br />
<strong>de</strong> fevereiro.<br />
I. Thlago<br />
Está em <strong>Coimbra</strong>, o sr. José Alexandre<br />
Soares, encarregado da restauração<br />
<strong>de</strong> S. Thiago e que veio<br />
propositadamente para mandar tirar<br />
as photographias que <strong>de</strong>vem acompanhar<br />
o projecto <strong>de</strong> que foi encarregado<br />
e o respectivo orçamento.<br />
Ontem á noite foi visitar a Escola<br />
Livre das Artes <strong>de</strong> Desenho, maravilhando-se<br />
por ver a trabalhar até<br />
á meia noite, operarjos que <strong>de</strong>pois<br />
do trabalho diário das suas oíficinas,<br />
haviam passado já parte da noite nos<br />
cursos da Escola Brotero d'on<strong>de</strong> tinham<br />
vindo <strong>de</strong>pois trabalhar ainda<br />
para a Escola Livre.<br />
É, na verda<strong>de</strong>, para admirar e<br />
applaudir esta vonta<strong>de</strong> dos artistas<br />
<strong>de</strong><strong>Coimbra</strong> para estudar e paraapren<strong>de</strong>r,<br />
que os faz alegremente frequentar<br />
a escola <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um dia <strong>de</strong> trabalho.<br />
O sr. Soares que visitou também<br />
as obras do theatro académico, <strong>de</strong>morou-se,<br />
hoje, fazendo os últimos<br />
estudos sobre a egreja <strong>de</strong> S. Thiago<br />
e <strong>de</strong>ve recolher hoje mesmo a Lis-<br />
boa.<br />
Na egreja <strong>de</strong> S. Thiago começou<br />
já a limpeza do portico lateral emplastrado<br />
<strong>de</strong> cal, e está sendo apparelhada<br />
a pedra necessaria para a<br />
restauração das mutiladas pare<strong>de</strong>s.<br />
O sr. bispo-con<strong>de</strong> manda celebrar<br />
na próxima segunda-feira, 1 <strong>de</strong><br />
fevereiro, na Sé Cathedral, pelas 11<br />
horas e meia da manhã uma missa<br />
<strong>de</strong> requiem e libera me suffragando<br />
o passamento <strong>de</strong> el-rei D. Carlos e<br />
do príncipe her<strong>de</strong>iro D. Luiz Filippe.<br />
Carta ao sr. dr. Manuel José<br />
Cíomes Braga<br />
Ante-ontem o sr. Antonio Francisco<br />
do Valle, negociante em Coim<br />
bra e pessoa absolutamente respeitável<br />
e respeitada, alludindo aos teus<br />
artigos, attribuiu-me, levado por elles<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que. ao começarem as<br />
obras <strong>de</strong> restauração da igreja <strong>de</strong> S.<br />
Thiago, se esperava encontrar nas<br />
obras <strong>de</strong>molidas restos preciosos <strong>de</strong><br />
architectura, e que a minha esperança<br />
fôra illudida por não terem<br />
apparecido até hoje senão coisas <strong>de</strong><br />
somenos valor.<br />
Um dia antes o sr André Miranda<br />
estudante da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicina<br />
me perguntára a mesma coisa, como<br />
anteriormente,me tinham feito egual<br />
pergunta professores, artistas e outros<br />
estudantes.<br />
E nada mais natural <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o<br />
affirmavas tu, qulí toda a gente sabe<br />
seres da minha amisa<strong>de</strong> e convivência<br />
habitual, que toda agente viu,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo, na empreza da restauração<br />
trabalhando comigo entusiasticamente.<br />
Teriam assim para todos os factos<br />
a explicação seguinte: nós trabalha-<br />
diculo, tipo das ruas com a mania<br />
inoffensiva da arte.<br />
Era esta a consi<strong>de</strong>ração com que<br />
me tratavas em publico, a mim, que<br />
<strong>de</strong> coração aberto te dissera sempre<br />
a minha paixão pelas coisas <strong>de</strong> arte,<br />
o amor que tenho por esta <strong>Coimbra</strong>,<br />
apezar <strong>de</strong> todos os contratempos da<br />
vida, que aqui tenho passado.<br />
Maguou-me o facto por vir <strong>de</strong> ti,<br />
occultei-t'o como costumo fazer todas<br />
as vezes que um amigo me <strong>de</strong>sgosta.<br />
e, com appar encia <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r-te,<br />
aproveitei a occasião para te<br />
dar mais uma prova da minha amisa<strong>de</strong>.<br />
Já antes eu soubera occultar-te o<br />
pezar com que eu vira que tu, meu<br />
amigo, trabalhavas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo<br />
pela <strong>de</strong>molição absoluta <strong>de</strong> S Thiago<br />
e pu<strong>de</strong>ras andar comigo, conversando<br />
ao meu lado, ouvindo-me apaixonadamente,<br />
sem yma palavra que,<br />
da<strong>de</strong>, da justiça, da <strong>de</strong>mocracia e d a<br />
pátria, pela consi<strong>de</strong>ração que da ad"<br />
miração, que por elle mostram pessoas<br />
<strong>de</strong> todas as classes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
aprendiz do ofiicio humil<strong>de</strong> até ao<br />
mais alto funccionario do estado,<br />
tem irradiado sobre <strong>Coimbra</strong>, a<br />
sua terra, fazendo dar por todos como<br />
próprias a toda a população as aspirações,<br />
ten<strong>de</strong>ncias, qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
trabalho, sentir e pensar que são exclusivamente<br />
do seu espirito, que em<br />
<strong>Coimbra</strong> é uma excepção, como o é<br />
em todo o paiz. .<br />
Julgaria <strong>de</strong>scer na tua consi<strong>de</strong>ração,<br />
e na minha, se não aproveitasse<br />
esta occasião <strong>de</strong> o affkmar.<br />
v. c.<br />
Escola 31 <strong>de</strong> Janeiro<br />
No domingo celebra mais um an-<br />
com franqueza, me dissesse que o niversario a escola <strong>de</strong>mocratica que,<br />
que te trazia a meu lado era a i<strong>de</strong>ia com este nome, tanto se tem distin-<br />
opposta, á que tanta alegria me cauguido pela difusão do ensino.<br />
sava.<br />
E* sempre uma festa republicana,<br />
esperada com alvoroço pelo povo da<br />
Tenho amigos em muitos os cam-<br />
capital, e em que periodicamente vão<br />
pos políticos, tenho-os, até, entre os<br />
fazer protesto <strong>de</strong> fé republicana os<br />
mais ferrenhos reaccionários mais eminentes vultos do nosso par-<br />
Tenho trabalhado com todos em tido.ramos<br />
juntos na esperança <strong>de</strong> en- emprezas generosas, mas nunca ne- „,„„ f . ,<br />
contrar uma obra <strong>de</strong> maravilhoso<br />
nhum <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> me dizer, <strong>de</strong> prin-- n , J "<br />
effeito <strong>de</strong>corativo que a todos se impozesse<br />
pela sua belleza, o resultado<br />
da exploração não <strong>de</strong>ra o que esperávamos;<br />
tu tinhas-te posto a combater<br />
pela <strong>de</strong>molição, eu <strong>de</strong>sinteressára-me,<br />
e callára-me.<br />
Nada d'isto porém, é verda<strong>de</strong>, ,e<br />
eu não posso <strong>de</strong>ixar attribuir-me<br />
opiniões que são verda<strong>de</strong>iras heresias<br />
artísticas e que equivaleriam<br />
pelo menos a um attestado <strong>de</strong> ignorância<br />
das coisas mais elementares.<br />
Não pô<strong>de</strong> na verda<strong>de</strong> affirmar-se<br />
que ao começar as obras se esperavam<br />
<strong>de</strong>talhes maravilhosos <strong>de</strong> architectura,<br />
sem se ser no assumpto<br />
ignorante, incapaz ou velhaco e não<br />
me agrada nenhuma das qualificações,<br />
com quanto confesse que te cabem<br />
duas, e o escreva sem i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
raa festa nao P o<strong>de</strong> es "<br />
cipio. que conhece as i<strong>de</strong>ias que eu ^Hn? JatS."?? T<br />
tenho, como eu conheço as Telles j ÍL ÍlL * * pe '° ent K hus,asto0<br />
Quando chega o embate, quando ha '<br />
publ,C0 Vi^jf 11 , mos "<br />
conflicto <strong>de</strong> opiniões, eu ponho-me do tra a ,nte " a communhão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e<br />
lado das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>mocráticas, elles<br />
do opposte .;em quebra <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração<br />
ou <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> própria<br />
Tu, meu amigo e meu correligionário,<br />
anciarte ao meu lado combatendo<br />
coni -a o que eu mais apaixonadamente<br />
<strong>de</strong>fendia, utilisando o meu<br />
esforço, sem uma palavra, sem que<br />
eu <strong>de</strong>sconfiasse sequer do fim para<br />
que marchavas.<br />
Não escreveria isto, se não tivesses<br />
dito já, apanhado <strong>de</strong> improviso,<br />
num impulso <strong>de</strong> momento, e se,<br />
na minha amiza<strong>de</strong> não tivesse en- :<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos que liga o povo republicano<br />
da capital com os dirigentes do<br />
nosso partido.<br />
De longe, com magua <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>rmos<br />
este anno assistir a festa <strong>de</strong><br />
tanto civismo e solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratica,<br />
o director da Resistencia em<br />
seu nome e no da redacção d'este<br />
jornal saúda a Escola 31 <strong>de</strong> Janeiro<br />
e os mo<strong>de</strong>stos <strong>de</strong>mocratas que tem<br />
sabido dirigi-la e engran<strong>de</strong>ce-la.<br />
Incêndio<br />
contrado explicação e <strong>de</strong>sculpa para A proposito do <strong>de</strong>sastre que ia<br />
o facto.<br />
reduzindo a cinzas a casa do nosso<br />
Não sahi a respon<strong>de</strong>r-te por isso correligionário sr. dr. Albano Cou-<br />
e por <strong>de</strong>sejar também evitar, a ti oca tinho conta o Diário <strong>de</strong> Noticias:<br />
que te falto á consi<strong>de</strong>ração com um <strong>de</strong> insultos provável sempreem disínoilltn<br />
ftll A NNRT NNRLAMN U/\»V> AW.-,II _ 1 1 . . ^<br />
insulto que não po<strong>de</strong>ria bem expli- cussões <strong>de</strong> latinos.<br />
Hontem, ás 7 horas da noite, foi<br />
car quem conheça a nossa amiza<strong>de</strong> Eu <strong>de</strong>testo discutir com alguém<br />
esta povoação alarmada pelo toque<br />
antiga e a consi<strong>de</strong>ração a que nunca que não sabe e é incapaz <strong>de</strong> saber dos sinos, annurteiando incêndio que<br />
4 a fn 1 Al A A 11 n I A n rv»l rt/ti/v (Mil n nnn A i .<br />
te faltei em qualquer acto que fosse Ora tu <strong>de</strong> arte não sabes, nem és<br />
se manifestars no palacete do sr.<br />
da tua vida publica ou particular. capaz <strong>de</strong> saber.<br />
Albano Coutinho, com tal intensida-<br />
Bem sei que não és tu que affir- Escrevo-o agora, sem insulto, co<strong>de</strong><br />
que se julgou que o gran<strong>de</strong> prédio<br />
mas o que se me attribue, são os mo to tenho dito muitas vezes.<br />
seria todo pasto das chammas.<br />
que te lêem. Não te julgo capaz <strong>de</strong> A arte não é para todos, sem que<br />
O fogo pegou numa trepa<strong>de</strong>ira,<br />
faltar, em serenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espirito, isso seja por forma alguma attestado<br />
que guarnecia parte da pare<strong>de</strong> pos-<br />
conscientemente a verda<strong>de</strong>. <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> intelligencia. Ha até o<br />
terior do edificio para on<strong>de</strong> <strong>de</strong>itava<br />
Mas nem por isso <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> me prejuízo <strong>de</strong> que as aptidões artísticas<br />
uma chaminé d'um fogão que todos<br />
attribuir a heresia, e eu tenho por isso são oppostas a um grau regular <strong>de</strong><br />
os dias se accendia na casa <strong>de</strong> jan-<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-me.<br />
intelligencia.<br />
tar; e se não fossem tão rápidos os<br />
Des<strong>de</strong> o começo, mesmo antes <strong>de</strong><br />
soccorros prestados pelos habitantes<br />
Posso dize-lo e escreve-lo por is-<br />
começarem as obras, eu te disse a ti,<br />
<strong>de</strong> Mogofores e logares visinhos, que<br />
so, sem intuito <strong>de</strong> te offen<strong>de</strong>r.<br />
como a outras pessoas, cujo teste-<br />
po<strong>de</strong>ram impedir que o fogo se com-<br />
E não estranhes tantos melindres,<br />
munho não quero indicar porque me<br />
municasse ao telhado e d'ahi ao ma-<br />
que são pelo menos ridículos entre<br />
basta o to LI , que a igreja <strong>de</strong> S. Thia<strong>de</strong>iramento,<br />
a casa seria hoje um<br />
amigos, mas eu conheco bem este<br />
go não era o que imaginavam vossas<br />
montão <strong>de</strong> ruinas.<br />
meio pequenino que corre ao escan-<br />
phantasias, apezar <strong>de</strong> ser um monudalo e que tudo envenena para ar-<br />
Não se <strong>de</strong>screve o ardor com que<br />
mento precioso e que seria criminoranjar pasto para seus vis instinctos.<br />
trabalharam homens e mulheres,<br />
so, quer pelo seu caracter historico, Nas nossas conversas sobre S.<br />
ninguém se esquivando aincommo-<br />
quér pelo seu valor artistico, <strong>de</strong>ixar Thiago eu vi que a arte te <strong>de</strong>ixa abdos<br />
e até a perigos para dominar o<br />
per<strong>de</strong>r.<br />
solutamente indifferente.<br />
incêndio. Empregados do caminho<br />
Des<strong>de</strong> o começo que eu <strong>de</strong>senho,<br />
<strong>de</strong> ferro, jornaleiros, artistas, foram<br />
Seria por isso ridículo que, co-<br />
na redacção, em casa, na rua ou no<br />
todos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>dicação a toda a pronhecendo-te,<br />
fazendo tu <strong>de</strong>mais con-<br />
café, a pretendida restauração, que<br />
va, recebendo o sr Albano Coutinho,<br />
fissão publica da tua ignorancia, eu<br />
aliás os restos architectonicos reco-<br />
<strong>de</strong> todos os seus visinhos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />
fosse acceitar o âesafio que me atiralhidos<br />
teem comprovado completa-<br />
mais qualificados até ao mais movas<br />
<strong>de</strong> um modo tão burlesco.<br />
mente.<strong>de</strong>sto<br />
trabalhador, inequívocas pro-<br />
Mas não me recusei nunca a disvas <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação pessoal.<br />
A todos tenho explicado a belleza cutir com quem soubesse, nem tão<br />
daquellas graves linhas, a originali- pouco o fez o Gonçalves<br />
Os prejuízos resultantes do inda<strong>de</strong><br />
da traça como obra nacional, Ambos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o principio, gritácêndio<br />
são cobertos pela companhia<br />
reflexo <strong>de</strong> influxo da arte franceza mos que queríamos ser ouvidos, e<br />
Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>.<br />
que tão po<strong>de</strong>rosamente se assignala que queríamos discutir, mas não no<br />
na Sé Velha, documento raro da arte ar, combatendo moinhos <strong>de</strong> vento,<br />
local; porque eu nunca me recusei a com o architecto que podia e <strong>de</strong>via Audienoias geraes<br />
dizer a ninguém, e muito menos a ti, vir a publico dar conta do seu pro-<br />
o que penso e o que sei.<br />
jecto.<br />
Respon<strong>de</strong>u antfe-hontem em audiência<br />
geral Vugusto Carlos da Fon-<br />
Nesta obra tudo te. tenho dito, Eu nunca me recusei a discutir seca Rarata. solteiro, trabalhador e<br />
mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> te conhecer como com quem soubesse, nem a ensinar natural <strong>de</strong> Lisboa, accusado <strong>de</strong> ha-<br />
adversado, sem te occultar nada, o pouco quíi $ei, a quem tenha vonver furtado 150#000 réis ao sr An-<br />
com plena certeza <strong>de</strong> que não atraita<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber.<br />
tonio Fernan<strong>de</strong>s, negociante nesta ciçoarias<br />
nunca a minha confiança. Contigo porém não.<br />
da<strong>de</strong>.<br />
Se não caí em discutir comtigo, é Dessa d s"Ussão não podia vir se- Foi con<strong>de</strong>mnado em 2 annos <strong>de</strong><br />
porque tu puzeste <strong>de</strong> começo a ques • não um <strong>de</strong> gosto mais, e bastavam- prisão correcional, 9 mezes <strong>de</strong> mul-<br />
tão com um ar <strong>de</strong> troça que me não me os que <strong>de</strong> ti tinha recebido. ta a 100 réis por dia, custas e sellos,<br />
agradava, porque não ando habituado Nem tudo porém foi <strong>de</strong>sagradavel, sendo-lhe levados em conta os 14<br />
a que <strong>de</strong> mim se riam os meus ami- pois que esta polemica me dá ensejo mezes <strong>de</strong> prisão soffrida, pois o jury<br />
gos, ou que estes me faltem á con- <strong>de</strong> ami-mar mais uma vez o mais reduziu a 100$000 réis. como a lei<br />
si<strong>de</strong>ração que me <strong>de</strong>vem, pelo me- absoluto respeito e a mais alta admi- lhe faculta, a importancia da roupa<br />
nos, pela consi<strong>de</strong>ração a que nunca ração por Antonio Augusto Gonçal- Hoje respon<strong>de</strong>u em audiência gelhes<br />
falto.<br />
ves, pela superiorida<strong>de</strong> da sua intelral João Augusto, do Cor ticeiro, ac-<br />
Para ti, pela letra dos teus escriligencia, pela generosida<strong>de</strong> nunca cusado <strong>de</strong> roubo, com arrombamenptos,<br />
eu era um impertinente, a res- <strong>de</strong>smentida dos seus intuitos, pela to, em S. João do Campo, em iulho<br />
tauração <strong>de</strong> S. Thiago um petisco, <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong> toda a hora e <strong>de</strong> todo o <strong>de</strong> 1908.<br />
coisa <strong>de</strong> que se conversava <strong>de</strong>pois do momento pelos artistas <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
jantar, para rir, entre amigos. que soube levantar e fazer estimar e<br />
Convidavas-me com ar <strong>de</strong> troça, respeitar, pelo seu patriotismo, pelo<br />
para me mostrar como ma doido ri- seu sfcrificio pela causa da liber»<br />
J<br />
Foi con<strong>de</strong>mnado em dois annos<br />
<strong>de</strong> prisão cellular ou n«, alternativa<br />
<strong>de</strong> trez <strong>de</strong> <strong>de</strong>gredos, sellos e custas<br />
do procedo,