Raquel Ferrari da Veiga - Sonia Afonso - UFSC

4.4. OSCAR NIEMEYER, O CONTEXTO MODERNO E A CASA DAS CANOAS.
Arquiteto: Oscar Niemeyer Soares Filho (15/12/1907 – Rio de Janeiro – RJ)
Formação: Academia de Belas Artes Rio de Janeiro, 1930
Após Warchavchik, precursor da Arquitetura Moderna no Brasil, surge Lúcio
Costa, francês educado na Inglaterra e na Suíça, o pai espiritual do modernismo
brasileiro e importante estudioso de Le Corbusier.
“Lúcio Costa adotou para todas as construções (...), o piloti louvado por Le
Corbusier, por constituir a solução mais lógica para o terreno acidentado: reduzia-se
os trabalhos de preparação do terreno, o que compensava o elevado custo local do
concreto armado; o emprego deste revelou-se até mesmo econômico, já que a criação
de um piso artificial isolado da unidade do solo natural permitiu retomar,
especialmente para as residências, o processo tradicional e econômico...”. (BRUAND,
1981. pg.75)
O arquiteto realizou importantes reformas no currículo da Academia de Belas-
Artes que proporcionavam aos alunos uma clara escolha entre o velho e o novo. Foi
nesse momento em que Niemeyer começou seus estudos.
Após se formar, em 1934, Niemeyer foi trabalhar como estagiário nãoremunerado
no escritório de Lúcio Costa, onde teve grandes possibilidades de
desenvolver sua arte. Colaborou com projetos de grandes arquitetos e em seguida
deslanchou em sua carreira marcante.
“No âmago das melhores obras de Niemeyer há uma série de revoltas
conscientes – primeiramente contra a arquitetura européia histórico-acadêmica e
depois contra a geometria retilínea do Estilo Internacional e a racionalidade ortodoxa e
estrutural, que bloqueavam o caminho da criação do que ele chamou de ‘espaço para
imaginação’”. (UNDERWOOD, David. Pg 22).
Outras fontes de inspiração do arquiteto provêem de sua infância, vivida nos
valores da família patriarcal e tradições coloniais, com conforto, privilégios e proteção
materna que acabaram por formar sua segurança. Porém, a natureza e o
relacionamento fecundo com as mulheres brasileiras são as peças-chave de sua
liberdade artística.
São essas forças que condicionam o projeto de muitas casas que fez para si, pois
refletem a busca por segurança doméstica num mundo em que as relações sociais
estão sendo retalhadas pela industrialização.
Há uma tentativa de fazer com que a natureza proporcione uma força
alimentadora, o que foi alcançado com esplendor em sua Casa das Canoas, pois esta
abriga o maior exemplo do objeto natural participante de sua arquitetura: uma enorme
pedra de granito que sai da área da piscina e penetra na sala até ao limite da escada
que dá acesso ao andar inferior.
Suas transparências e formas onduladas também colaboram na integração com a
vegetação do local.
A vista para o mar e a preocupação com o declive acentuado do terreno foram
pontos para o pensamento da composição arquitetônica da obra. “...foi essa casa que
permitiu uma simbiose entre a arquitetura e a paisagem (...), levada a um grau
raramente alcançado...” (BRUAND, 1981. pg.164)
Há alguns anos Niemeyer deixou de habitar a Casa das Canoas, devido à
insegurança que cresce no Rio de Janeiro, ainda por cima num local tão isolado.
Atualmente a casa pertence à Fundação Oscar Niemeyer e está aberta ao público
para visitas.
21