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01 - Café de Ontem

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Miguel Carqueija | Aquela Garota <strong>de</strong> Olhos Brilhantes<br />

1000 Universos<br />

A moça estava preparada para a objeção:<br />

— Papai não pô<strong>de</strong> pagar advogado. Deram-lhe uma<br />

<strong>de</strong>fensora pública incompetente ou <strong>de</strong>sinteressada. O que o senhor<br />

esperava? A Justiça já tinha um bo<strong>de</strong> expiatório i<strong>de</strong>al. Para que bulir<br />

com um militar <strong>de</strong> alta patente?<br />

— Isto é uma calúnia, uma invencionice!<br />

— Não é, e o senhor sabe disso.<br />

Surpreen<strong>de</strong>ntemente já não era Marina quem falava. Era<br />

Naira. Ela se adiantou e se dirigiu ao coronel, e naquele momento o<br />

Detetive Parmenas, julgando <strong>de</strong>lirar, teve a nítida impressão <strong>de</strong><br />

avistar uma emanação luminosa naqueles olhos azuis:<br />

— Coronel Ivan Ismirnoff, há uma velha história abafada. Sua<br />

filha Nena, que foi seduzida por Barjavel, envolveu-se com ele e por<br />

causa <strong>de</strong>le pôs fim à vida. Naquele dia o senhor se vingou. E embora<br />

julgasse nobre a sua vingança, o senhor per<strong>de</strong>u toda a nobreza<br />

quando permitiu que um inocente e sua família pagassem pelo<br />

crime. O senhor já é um homem velho, coronel. Vai levar isso para a<br />

sepultura? Em cada noite <strong>de</strong> insônia, Deus o está cobrando pelo seu<br />

crime.<br />

A cena era tão solene que todos estacaram, como<br />

paralisados. Parmenas, perplexo, esperava até que Ivan estapeasse<br />

a atrevida pequena; ao invés ele se pôs a tremer convulsivamente, a<br />

fisionomia <strong>de</strong>rreada, e com voz profundamente aflita exclamou em<br />

voz bem alta, como se precisasse <strong>de</strong>sabafar:<br />

— Como você sabe? Como sabe das minhas noites <strong>de</strong> insônia,<br />

relembrando aquele fato terrível? O que diz é verda<strong>de</strong>. Eu matei<br />

Barjavel naquele dia. Foi como esmagar um verme...<br />

— Talvez, coronel. Não discuto que Barjavel não prestava.<br />

Mas e o homem inocente que está apodrecendo na prisão? E a sua<br />

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