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01 - Café de Ontem

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Marcelo Galvão | Sonho Ruim<br />

1000 Universos<br />

criança.<br />

Um ruído <strong>de</strong>spertou o médico.<br />

Levantou-se, o coração acelerado. Na cama <strong>de</strong> metal branco,<br />

A<strong>de</strong>le ressonava, o soro preso ao braço fino e <strong>de</strong>licado.<br />

Consultou o relógio: já era madrugada. Marcos virou a cabeça<br />

<strong>de</strong> um lado para o outro, procurando por algo diferente.<br />

Um cheiro estranho invadiu suas narinas.<br />

Ele o reconheceu <strong>de</strong> imediato: era igual ao das loções<br />

empregadas pelos sacerdotes voduístas. Franzindo o nariz,<br />

percebeu que o fedor vinha da cozinha. Lá, o odor não só era mais<br />

forte como também sufocante, uma mistura <strong>de</strong> suor azedo e esgoto<br />

a céu aberto. Avançou pelo cômodo e verificou que sua origem era<br />

a velha gela<strong>de</strong>ira, usada para proteger vacinas do clima tórrido.<br />

Marcos abriu a porta do eletrodoméstico. Uma nuvem branca<br />

e refrescante o recepcionou, junto com o odor estranho.<br />

Estreitando os olhos, viu uma jarra <strong>de</strong> vidro fosco e tampada por um<br />

pano; com cuidado, afastou os medicamentos e trouxe o recipiente<br />

para perto.<br />

A jarra não possuía qualquer i<strong>de</strong>ntificação. Marcos a colocou<br />

na mesa, notando como era pesada. Pren<strong>de</strong>ndo a respiração para<br />

evitar o fedor, ele a <strong>de</strong>stampou.<br />

A<strong>de</strong>le gritou no quarto.<br />

Marcos largou a jarra e disparou para o cômodo.<br />

Algo se virou na direção do rapaz. A iluminação precária do<br />

quarto mostrava a silhueta <strong>de</strong> uma mulher - quadris largos, cintura<br />

fina, mamas <strong>de</strong>senvolvidas. Não havia sinal <strong>de</strong> cabelos, já que<br />

também não possuía pele: músculos vermelhos e viscosos cobriam a<br />

sua estrutura óssea, lembrando ao médico os mo<strong>de</strong>los plásticos <strong>de</strong><br />

anatomia que estudara na faculda<strong>de</strong>.<br />

A semelhança com uma figura humana acabava aí. As mãos<br />

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