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Diário do Legislativo de 16/10/1999 - A Assembleia

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Brasília, com o novo Ministro. Pediu-me, então, que a substituísse.<br />

Quan<strong>do</strong> olhei o tema <strong>do</strong> seminário e vi as matérias que estariam sen<strong>do</strong> colocadas para a discussão <strong>do</strong>s grupos na parte da tar<strong>de</strong>, resolvi apresentar um programa, uma ação efetiva que<br />

o Banco vem <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> na área social, com o crédito popular, o microcrédito, ou seja, crédito para aquele que está efetivamente fora <strong>do</strong> sistema financeiro tradicional. Acho<br />

essa experiência muito interessante. Começamos a discutir esse assunto há 3 anos, quan<strong>do</strong> foi criada a área social <strong>do</strong> Banco. Na verda<strong>de</strong>, essa temática ainda era <strong>de</strong>sconhecida no<br />

Brasil, apesar <strong>de</strong> já estar bastante evoluída aqui, se a compararmos com a experiência internacional. Foi a partir <strong>de</strong>ssa experiência que pensamos e formulamos o programa <strong>de</strong> crédito<br />

produtivo popular.<br />

Há <strong>do</strong>is anos e meio, lançamos esse programa. Como o BNDES é um Banco <strong>de</strong> segunda linha, porque não possui agências, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> fundamentalmente <strong>de</strong> um canal <strong>de</strong> distribuição<br />

para levar seu produto principal, que é o crédito, aos empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>res. Por isso, precisávamos <strong>de</strong>finir que canal <strong>de</strong> distribuição seria esse, para um produto com essas características.<br />

Naquele momento, ele não existia no Brasil. Sabemos das dificulda<strong>de</strong>s que o micro e o pequeno empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r encontram no sistema financeiro tradicional. Hoje, o Banco tenta<br />

<strong>de</strong>senvolver vários mecanismos para cumprir o seu papel junto à pequena e média empresa. Imaginem o pequeno empresário, o <strong>do</strong>ceiro ou o pipoqueiro, que precisam <strong>de</strong> R$500,00,<br />

R$1.000,00 ou R$2.000,00 para <strong>de</strong>senvolver o seu negócio. A idéia, então, com um Banco <strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong> nacional, era montar uma re<strong>de</strong> que se esten<strong>de</strong>sse a to<strong>do</strong> o País e propiciasse<br />

aos micro empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>res o acesso ao crédito e - acho que esta questão está colocada não como solução, mas como instrumento importante - fortalecesse a discussão <strong>de</strong> ocupação e<br />

<strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda.<br />

Lembro-me <strong>de</strong> que, nas primeiras palestras que fazia sobre o programa, tínhamos algumas transparências iniciais para <strong>de</strong>monstrar a importância <strong>do</strong> microcrédito. Tínhamos<br />

dificulda<strong>de</strong> para nos fazer enten<strong>de</strong>r, até em termos <strong>de</strong> formulação <strong>de</strong> política pública, para que se inteirassem <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> microcrédito e <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> pequeno empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r,<br />

enquanto dinamiza<strong>do</strong>r <strong>de</strong> economias locais e <strong>de</strong> qualificação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra para aqueles que estão envolvi<strong>do</strong>s, enfim, para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> quem está<br />

<strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> um pequeno negócio.<br />

Já falei um pouco sobre os <strong>de</strong>safios que tínhamos naquele momento. O Brasil tinha muita experiência nessa área. Já havia algumas iniciativas <strong>do</strong> próprio Governo Fe<strong>de</strong>ral, mas<br />

tinham dificulda<strong>de</strong>s em sua execução. Havia poucas iniciativas <strong>de</strong> algumas organizações não governamentais que vinham <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> esse trabalho, mas <strong>de</strong> forma ainda muito<br />

incipiente e, conforme já comentei, buscan<strong>do</strong> esse canal <strong>de</strong> distribuição e, fundamentalmente, buscan<strong>do</strong> uma parceria para trabalhar naquele momento. E mais, quan<strong>do</strong> analisamos as<br />

características <strong>de</strong>sse empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r, as peculiarida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> pequeno negócio e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um serviço <strong>de</strong> crédito diferencia<strong>do</strong>, concluímos que ele nunca seria atendi<strong>do</strong> com<br />

aquela tecnologia que os Bancos <strong>de</strong>senvolveram para trabalhar <strong>de</strong> forma mais produtiva e a<strong>de</strong>quada, não se a<strong>de</strong>quaria a esse tipo <strong>de</strong> cliente. Em função disso, pensamos em uma<br />

forma para capacitar os profissionais que estariam envolvi<strong>do</strong>s com isso.<br />

Premissas <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo - começamos, então, a pensar em um mo<strong>de</strong>lo. Antes <strong>de</strong> mais nada, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o BNDES como órgão <strong>do</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral e reconhecen<strong>do</strong> o seu papel no<br />

próprio <strong>de</strong>senvolvimento da indústria e no <strong>de</strong>senvolvimento econômico brasileiro, queríamos um programa que não sofresse <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>. Sabemos e reconhecemos que, quan<strong>do</strong><br />

formulamos um programa vincula<strong>do</strong> a alguma ação <strong>de</strong> Governo, em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento, po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa ação. Isso é fundamental, se queremos trabalhar com<br />

um pequeno empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse crédito para crescer e <strong>de</strong>senvolver.<br />

Então, discutimos <strong>de</strong> que forma po<strong>de</strong>ríamos pensar num programa em que a socieda<strong>de</strong>, efetivamente, tivesse o controle <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo. E, por trás disso tu<strong>do</strong>, a questão <strong>de</strong> instituições<br />

que fossem sustentáveis, que propiciassem, através <strong>de</strong>ssa sua operação, crescimento e continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> negócio. Tenho dito e vou mostrar o pouco que já fizemos. Penso que já<br />

avançamos bastante. Se amanhã existir uma <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> BNDES <strong>de</strong> não operar mais com micro-créditos, as instituições que o usam terão condições <strong>de</strong> continuar a <strong>de</strong>senvolver o<br />

trabalho. E isso, para nós, era fundamental na formulação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo.<br />

Na hora em que o mo<strong>de</strong>lo está centra<strong>do</strong> nas associações comunitárias <strong>de</strong> crédito no primeiro momento, e isso foi em função <strong>do</strong> que apren<strong>de</strong>mos lá fora, era pensar em associações <strong>de</strong><br />

crédito, em organizações não governamentais, que surgissem no contexto <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> município e que <strong>de</strong>veria ter, então, na hora em que se fala em<br />

controle da socieda<strong>de</strong>, um conselho <strong>de</strong> administração, em que uma parcela significativa, representante daquela comunida<strong>de</strong>, estivesse presente, formulan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> diretrizes e<br />

acompanhan<strong>do</strong> o melhor <strong>de</strong>senvolvimento da instituição.<br />

Por trás disso, gestão profissional - e aqui começamos a mudar os paradigmas <strong>de</strong> trabalho das ONGs -; o Banco, enquanto negócio, passou a exigir um trabalho profissional, eficiente<br />

e que <strong>de</strong>sse resulta<strong>do</strong>, uma estrutura <strong>de</strong> capital mínimo. Na verda<strong>de</strong>, estamos falan<strong>do</strong> <strong>de</strong> um pequeno Banco, que tem <strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r crédito e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, efetivamente, <strong>de</strong> uma estrutura<br />

<strong>de</strong> capital a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>.<br />

Lançamos o programa. Vou antecipar um pouquinho, mas é importante. A idéia <strong>do</strong> Banco era apoiar as associações <strong>de</strong> crédito. E o Brasil apresentou uma singularida<strong>de</strong>. To<strong>do</strong> o<br />

movimento que fizemos para divulgar o programa aconteceu <strong>de</strong> forma diferenciada da experiência internacional. O po<strong>de</strong>r público municipal se envolveu com essas questões e tomou<br />

a iniciativa <strong>de</strong> participar <strong>de</strong>ssas associações. Isso é uma singularida<strong>de</strong> e, num primeiro momento, é vista com certa dificulda<strong>de</strong> pelas instituições multilaterais, BID e BIRD, que<br />

sempre foram gran<strong>de</strong>s <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res <strong>de</strong> recursos para esse tipo <strong>de</strong> produto, porque a fronteira para a pior utilização <strong>de</strong> um produto com essas características é muito tênue, quan<strong>do</strong><br />

atrelada a uma política <strong>de</strong> Governo. Imagine um Governo conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> crédito. Se não tiver uma socieda<strong>de</strong> bastante presente, esse produto po<strong>de</strong> ser mal trabalha<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista<br />

da resposta. E o que nós <strong>de</strong>senvolvemos? Antes <strong>de</strong> mais nada, precisávamos <strong>de</strong> uma meto<strong>do</strong>logia a<strong>de</strong>quada, e o Banco reconheceu que, no Brasil, não tínhamos isso. Outra<br />

instituição que foi criada no Brasil tinha custo muito caro. Falávamos em U$300.000,00 para se criar e estruturar uma instituição <strong>de</strong>sse tipo. E, se tínhamos como ambição uma<br />

ampla re<strong>de</strong>, precisávamos pensar na forma <strong>de</strong> baratear o acesso a essa estruturação e a essa capacitação.<br />

O Banco contratou uma consultoria já bastante experiente, que <strong>de</strong>senvolveu uma meto<strong>do</strong>logia para a formação <strong>de</strong> agentes <strong>de</strong> crédito. E aí está a diferença que eu comentava. É<br />

aquele agente que vai ao cliente, enten<strong>de</strong> suas dificulda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>fine com ele o projeto, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> pelo crédito, acompanha e cobra. O Banco criou e <strong>de</strong>senvolveu essa meto<strong>do</strong>logia, que já<br />

foi disponibilizada para to<strong>do</strong> o merca<strong>do</strong>. Recentemente, fizemos um evento para divulgá-la a quem possa interessar e para estimular a constituição <strong>de</strong>ssas instituições comunitárias <strong>de</strong><br />

crédito. Já treinamos quase 300 agentes nessa meto<strong>do</strong>logia. As oficinas aconteceram pelo País inteiro, e <strong>de</strong>las participaram mais <strong>de</strong> 70 instituições, já no contexto <strong>do</strong> programa <strong>do</strong><br />

Banco. Acabamos disponibilizan<strong>do</strong> também para as instituições que tinham interesse em conhecer a meto<strong>do</strong>logia para <strong>de</strong>senvolver outro tipo <strong>de</strong> trabalho. Essas exposições<br />

aconteceram nesses Esta<strong>do</strong>s. Em Minas também.<br />

Vou falar, agora, das instituições. Hoje temos 22 instituições apoiadas e 20 instituições que já operam com recursos <strong>do</strong> Banco. O importante é que temos um contrato <strong>de</strong> mandatário<br />

com elas. Não fazemos um financiamento. Elas operam em nome <strong>do</strong> BNDES. Daí a importância da eficiência e efetivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> tratamento <strong>do</strong> trabalho.<br />

Então, estamos espalha<strong>do</strong>s hoje pelo Brasil. Acho que ainda é pouco, mas tenho dito que é um trabalho estruturante e que, para crescer, precisamos da iniciativa da socieda<strong>de</strong> civil<br />

organizada e <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público.<br />

Quais foram os gran<strong>de</strong>s parceiros <strong>de</strong>sse projeto? O Ministério <strong>do</strong> Trabalho, que disponibilizou recursos para o treinamento <strong>de</strong>sses agentes <strong>de</strong> crédito, e as prefeituras municipais, que<br />

se envolveram, efetivamente, na iniciativa para a criação <strong>de</strong>ssas instituições. Vou me <strong>de</strong>ter um pouco nisso, porque cada caso tem si<strong>do</strong> diferente, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da comunida<strong>de</strong>. Temos<br />

comunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> a iniciativa privada resolveu criar e estruturar uma instituição <strong>de</strong>ssas; temos municípios on<strong>de</strong> a prefeitura entrou sozinha, disponibilizan<strong>do</strong> recursos para isso;<br />

temos regiões on<strong>de</strong> houve um efetivo <strong>de</strong>senvolvimento da comunida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público, das gran<strong>de</strong>s e pequenas empresas. O SEBRAE esteve presente em várias <strong>de</strong>ssas<br />

instituições; também a Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral, que disponibilizou espaço para que, num primeiro momento, pudéssemos baratear o custo <strong>de</strong>ssas operações.<br />

Estamos conversan<strong>do</strong> com diversos Governos Estaduais para vermos <strong>de</strong> que forma po<strong>de</strong>remos agilizar o surgimento <strong>de</strong>ssas instituições. O BID, hoje, já reconheceu que o mo<strong>de</strong>lo<br />

po<strong>de</strong> dar certo. Estamos mudan<strong>do</strong> o paradigma <strong>de</strong> que, se vem <strong>do</strong> Governo, não vai dar certo. O BID já disponibilizou para o BNDES US$5.000.000,00 para trabalharmos no<br />

fortalecimento institucional <strong>de</strong>ssas associações <strong>de</strong> crédito. E o UNICEF tem si<strong>do</strong> parceiro em regiões on<strong>de</strong> temos maiores dificulda<strong>de</strong>s. Para que uma instituição <strong>de</strong>ssas seja<br />

sustentável, ela terá que ter um tamanho <strong>de</strong> carteira <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> porte para, com a geração <strong>do</strong> seu negócio, que é emprestar dinheiro, conseguir se custear. Temos um caso, que<br />

queremos multiplicar, que são <strong>de</strong>z pequenos municípios <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Ceará que conseguiram trabalhar na constituição <strong>de</strong> uma instituição <strong>de</strong>ssas. Quer dizer, é uma coisa <strong>de</strong> aspecto<br />

suprapartidário, mas cujo crédito já estamos <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> por intermédio <strong>de</strong>ssa instituição que recebeu aporte <strong>de</strong> recurso <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>z municípios. O UNICEF acabou apoian<strong>do</strong> isso.<br />

E o melhor é que, hoje, eles discutem outras ações conjuntas além <strong>do</strong> crédito. Esse é um outro mo<strong>de</strong>lo que temos que pensar para o Brasil. Eles hoje discutem ações na área da saú<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> infra-estrutura, a partir <strong>de</strong> uma primeira iniciativa, que foi a concessão <strong>de</strong> crédito para essa microrregião.<br />

Um outro fato importante é que, trabalhan<strong>do</strong> com as associações <strong>de</strong> crédito, estávamos sujeitos a diversos questionamentos, inclusive legais. Acabamos trabalhan<strong>do</strong> com uma taxa<br />

maior <strong>do</strong> que 12% ao ano, e algumas missões começaram a receber questionamento legal com relação à lei da usura, e isso passou a ser uma dificulda<strong>de</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>

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