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Diário do Legislativo de 16/10/1999 - A Assembleia

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aumentan<strong>do</strong> o nível <strong>de</strong> emprego. Já realizamos diversos estu<strong>do</strong>s e concluímos que em 15 setores <strong>de</strong> regiões analisadas com maior possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem implementadas essas<br />

ativida<strong>de</strong>s já existe um potencial <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> 92 mil empregos em cinco anos, o que elevaria o crescimento <strong>do</strong> PIB mineiro em <strong>10</strong>% a 12%, ou seja, mais <strong>de</strong> US$8.000.000.000,00.<br />

Concluin<strong>do</strong> esse tema, gostaríamos <strong>de</strong> fazer algumas reflexões. Não é segre<strong>do</strong> para ninguém que o responsável pelo crescimento <strong>de</strong> uma empresa não é seus diretores nem os<br />

acionistas nem mesmo seus trabalha<strong>do</strong>res, mas é o cliente. Quem compra o produto é que faz a empresa crescer. O diploma não garante emprego. A escola não é o único meio <strong>de</strong><br />

informação eficaz. É preciso, além <strong>do</strong> conhecimento, a competência para aten<strong>de</strong>r ao cliente. Não basta ter um diploma <strong>de</strong> qualquer coisa que seja. Nenhuma formação, por mais<br />

completa que seja, terá condição <strong>de</strong> garantir a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um aten<strong>de</strong>r permanentemente às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> sistema produtivo. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reciclagem continuará<br />

durante a nossa vida inteira. Formação é investimento, não é <strong>de</strong>spesa. Acho que o trabalha<strong>do</strong>r e o emprega<strong>do</strong>r já estão conscientes disso.<br />

Está comprova<strong>do</strong> que também não se criam empregos por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>cretos ou impedin<strong>do</strong> <strong>de</strong>missões e que o sistema legal <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> conflitos no Brasil é incapaz <strong>de</strong> proteger o<br />

trabalha<strong>do</strong>r e, cada vez mais, estimula a informalida<strong>de</strong>. No Brasil são 8 ou 80. Ou compro tu<strong>do</strong>, ou não compro nada. Por isso temos 55% fora da legalida<strong>de</strong>. Isso também não é<br />

segre<strong>do</strong> para ninguém. O <strong>de</strong>semprego é moralmente inaceitável e, economicamente, é irracional, porque sabemos que, se temos produto para ven<strong>de</strong>r, precisamos <strong>de</strong> quem os compre.<br />

Para concluir, quero <strong>de</strong>ixar algo que lemos na coluna <strong>do</strong> Joelmir Betting: "Culpar a tecnologia mo<strong>de</strong>rna por to<strong>do</strong>s os males <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> é o mesmo que exigir a prisão <strong>do</strong> fabricante <strong>de</strong><br />

talheres em cada assassinato à faca." A tecnologia veio, e temos que apren<strong>de</strong>r a conviver com ela. Muito obriga<strong>do</strong>. (- Palmas.)<br />

Palavras <strong>do</strong> Sr. João Pedro Stédile<br />

Bom dia, companheiros e membros da Mesa, quero cumprimentar esta Casa pela oportuna idéia <strong>de</strong> promover este seminário, que vai tratar <strong>de</strong> um tema que, mais <strong>do</strong> que um<br />

problema regional <strong>de</strong> Minas, mais <strong>do</strong> que um problema da agricultura e da indústria, reflete o que hoje os nossos historia<strong>do</strong>res e pensa<strong>do</strong>res têm dito tratar-se <strong>do</strong> problema mais grave<br />

<strong>do</strong> final <strong>do</strong> século, ou seja, a questão <strong>do</strong> trabalho. Em outras épocas da humanida<strong>de</strong>, tivemos problemas gravíssimos, como a febre amarela, as guerras étnicas e outros problemas<br />

sociais, o que levou a um genocídio <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> seres humanos. Neste final <strong>de</strong> século, o problema mais grave que a humanida<strong>de</strong> enfrenta é o problema <strong>do</strong> trabalho, que é mais que<br />

o problema <strong>de</strong> ter emprego ou não. A maneira como o capitalismo vem organizan<strong>do</strong> a socieda<strong>de</strong> nos diversos países está impedin<strong>do</strong> que o cidadão tenha garanti<strong>do</strong> o direito<br />

fundamental <strong>do</strong> trabalho. Uma socieda<strong>de</strong> que não consegue garantir aos seus membros o direito ao trabalho é uma socieda<strong>de</strong> fadada ao fracasso. Esse problema remete-nos a uma<br />

reflexão filosófica. O que, na essência, diferencia-nos <strong>do</strong>s animais, como bem nos explicaram os biólogos e cientistas, é a capacida<strong>de</strong> que temos <strong>de</strong> utilizar nossa inteligência para a<br />

produção <strong>de</strong> bens, serviços e melhoria das condições <strong>de</strong> vida. Isso é o que nos diferencia <strong>do</strong>s animais. Quan<strong>do</strong> uma socieda<strong>de</strong> não consegue garantir o trabalho aos seus pares,<br />

automaticamente vai caminhan<strong>do</strong> para a involução, porque <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser cidadãos. Por isso, cumprimento esta Casa por essa iniciativa, pois várias entida<strong>de</strong>s, e soube que são<br />

muitas, estão participan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste evento. Isso é bom, porque po<strong>de</strong>m levar às suas bases esse <strong>de</strong>bate sobre a gravida<strong>de</strong> que temos <strong>de</strong> enfrentar, ou seja, sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

encontrar um outro mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> organizar a socieda<strong>de</strong>.<br />

Feita essa introdução, o tema que me cabe é a agricultura. Gostaria <strong>de</strong> fazer com vocês duas gran<strong>de</strong>s reflexões. A primeira é falar mal <strong>do</strong> Governo, que é minha especialida<strong>de</strong>. A<br />

segunda é dizer qual é a saída. Vivemos uma gran<strong>de</strong> crise na agricultura brasileira. É impressionante falarmos em crise agrícola, no país <strong>de</strong> maior dimensão <strong>de</strong> terras agricultáveis <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>, no país que tem a maior oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> variações <strong>de</strong> climas e solos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, no país que tem <strong>16</strong>0 milhões <strong>de</strong> habitantes, enfim, num país que tem um potencial enorme, o<br />

que nos permitiria ser uma gran<strong>de</strong> potência produtora <strong>de</strong> alimentos. Infelizmente, estamos embrenha<strong>do</strong>s numa grave crise também na agricultura.<br />

E essa crise tem a sua origem no mo<strong>de</strong>lo agrícola que as elites brasileiras vêm implementan<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 90, nos Governos Collor e Fernan<strong>do</strong> Henrique. Esses Governos<br />

passaram a implementar um mo<strong>de</strong>lo para a agricultura o qual tiveram a petulância <strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo norte-americano. Eles copiaram todas as características <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

agrícola norte-americano como se elas fossem úteis para nós. Isso está em <strong>do</strong>cumentos internos, no segun<strong>do</strong> escalão, nas discussões que fizemos, nos embates e nas reivindicações<br />

que apresentamos em Brasília.<br />

Quais são as principais características <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo norte-americano que está sen<strong>do</strong> implanta<strong>do</strong> no Brasil? Primeiro, estão "oligopolizan<strong>do</strong>" o controle agrícola, ou seja, o merca<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s produtos agrícolas está sen<strong>do</strong> cada vez mais controla<strong>do</strong> por algumas poucas empresas, seja nos grãos, seja nos laticínios, seja nos bens <strong>de</strong> consumo em geral. Esse processo <strong>de</strong><br />

"oligopolização" é induzi<strong>do</strong> pelo Governo, que usa os créditos <strong>do</strong> BNDES e <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil para que as multinacionais controlem, cada vez mais, esse merca<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong>, o<br />

Governo está estimulan<strong>do</strong> a implantação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s fazendas <strong>de</strong> grãos para exportação, especialmente no Centro-Oeste, no Sul <strong>do</strong> Piauí e <strong>do</strong> Maranhão e na Chapada <strong>do</strong>s Parecis.<br />

Portanto, o Governo estimula a ampliação da lavoura <strong>de</strong> grãos para exportação, basicamente <strong>de</strong> milho e soja. E, suplementarmente, está estimulan<strong>do</strong> a implantação da tecnologia <strong>do</strong>s<br />

transgênicos como uma forma além <strong>do</strong> <strong>de</strong>bate sobre a biotecnologia, se é correto ou não seguirmos essa linha <strong>de</strong> pesquisa. A gravida<strong>de</strong> da introdução <strong>do</strong>s grãos transgênicos é que<br />

eles representam o monopólio das sementes por algumas poucas empresas multinacionais, que, em curto prazo, irão <strong>de</strong>ter o monopólio das sementes <strong>de</strong> grãos no Brasil, casadas com<br />

o uso intensivo <strong>de</strong> agrotóxicos. Esse é o problema principal da política <strong>do</strong> Governo relacionada aos transgênicos. Devemos ser visceralmente contra ela, porque transfere a soberania<br />

<strong>do</strong> controle das sementes para algumas empresas. E nenhuma socieda<strong>de</strong> agrícola <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> prospera se não controlar as suas sementes. Se nós nos <strong>de</strong>scuidarmos, essas sementes <strong>de</strong><br />

grãos, <strong>de</strong> milho, <strong>de</strong> soja, <strong>de</strong> arroz serão o monopólio <strong>de</strong> duas, três empresas norte-americanas, às quais <strong>de</strong>veremos pagar "royalties" e ficar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes para o resto da vida.<br />

O terceiro processo é a integração seletiva na agroindústria. Já fizeram o processo <strong>de</strong> integrar o máximo <strong>de</strong> agricultores possível em agroindústrias multinacionais e, agora, estão<br />

selecionan<strong>do</strong>. Já há uma política oficial <strong>do</strong> Governo para reduzir, eles já não querem o pequeno agricultor, que fornece 30 litros <strong>de</strong> leite, porque é inviável. Então, estão aplican<strong>do</strong><br />

créditos, induzin<strong>do</strong> tecnologia, para que só fique integra<strong>do</strong> nos laticínios quem produz mais <strong>de</strong> 300 litros <strong>de</strong> leite. É claro que, <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista econômico, é mais barato produzir<br />

300 litros <strong>de</strong> leite por dia <strong>do</strong> que 30 litros. Mas há a questão social e o <strong>de</strong>senvolvimento regional por trás disso, que não po<strong>de</strong>m ser escondi<strong>do</strong>s. Nesse mo<strong>de</strong>lo, milhares <strong>de</strong> pequenos<br />

agricultores, hoje integra<strong>do</strong>s em agroindústria, serão enxota<strong>do</strong>s e elimina<strong>do</strong>s <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, seja no leite, seja nas frutas, seja no fumo, seja em outros produtos em que há processo <strong>de</strong><br />

integração.<br />

Há aban<strong>do</strong>no das políticas públicas agrícolas, porque, na visão <strong>do</strong> neoliberalismo, o Esta<strong>do</strong> não po<strong>de</strong> mais prestar serviços gratuitos à agricultura, como se, por si só, a agricultura<br />

pu<strong>de</strong>sse se <strong>de</strong>senvolver. Por isso, o Governo sucateou a EMBRAPA, as EMATERs e o sistema <strong>de</strong> armazenagem.<br />

Hoje, o Brasil já não tem nenhum controle <strong>de</strong> seus estoques <strong>de</strong> alimentos. Tu<strong>do</strong> está nas mãos <strong>de</strong> empresas privadas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> termos construí<strong>do</strong> uma re<strong>de</strong> enorme <strong>de</strong> armazéns,<br />

através da CIBRAZEM.<br />

Privatizaram tu<strong>do</strong>. No ano passa<strong>do</strong>, houve uma especulação enorme <strong>do</strong> feijão, simplesmente porque duas ou três empresas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> atacadista <strong>de</strong> feijão em São Paulo retiveram o<br />

produto para especular no merca<strong>do</strong>. E o Governo sequer sabia quantas sacas <strong>de</strong> feijão tinha o Brasil. E não sabe até hoje, porque quem controla os estoques são as empresas privadas.<br />

Por quê? Porque o Governo retirou o serviço público agrícola. A EMPRABA está sucateada; dá pena ver os funcionários fazerem acor<strong>do</strong> com multinacionais para complementarem<br />

seus salários. As EMATERs já não existem.<br />

O Governo aplica o mo<strong>de</strong>lo norte-americano - uma política clara <strong>de</strong> buscar até o próximo final <strong>do</strong> mandato - para que fique com emprego agrícola apenas 5% da população. Estamos<br />

discutin<strong>do</strong> como criar emprego, e o Governo discute como tirar pessoas da agricultura, como bem disse quem me antece<strong>de</strong>u. É o Governo mais estúpi<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Tem coragem <strong>de</strong><br />

fazer políticas públicas para criar <strong>de</strong>semprego e assume isso com a fachada <strong>de</strong> que é mo<strong>de</strong>rno tirar a população <strong>do</strong> campo. Ora, os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e a Europa levaram 250 anos no<br />

seu processo <strong>de</strong> urbanização, para chegarem aon<strong>de</strong> estão. Nós, em <strong>10</strong>, 15 anos, queremos chegar no mesmo nível, estilo macaco - tu<strong>do</strong> que vê, quer imitar. Esse Governo, aqui, na<br />

agricultura é um macaco das burguesias européia e norte-americana, só que quem paga a conta somos nós.<br />

Quais as conseqüências <strong>de</strong>ssa política <strong>de</strong>sastrosa? Nos últimos <strong>de</strong>z anos, segun<strong>do</strong> o censo agropecuário 942 mil proprieda<strong>de</strong>s foram à falência na agricultura. Novecentas e duas com<br />

menos <strong>de</strong> <strong>10</strong>0ha, portanto 90%. Dois milhões <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> assalaria<strong>do</strong>s agrícolas foram <strong>de</strong>struí<strong>do</strong>s pelo processo <strong>de</strong> importação <strong>de</strong> produtos agrícolas, seja <strong>do</strong> algodão, <strong>do</strong><br />

arroz, da carne, <strong>do</strong> peixe, <strong>do</strong> alpiste, <strong>do</strong> feijão, porque neste País já se importa até água mineral. E eles se orgulham, dizen<strong>do</strong> na hora <strong>do</strong> jantar, no seu discurso chique, chique para<br />

eles: "é da Espanha". Deveriam ter uma congestão toda hora que bebessem água da Espanha! Espero que esta que estamos beben<strong>do</strong>, seja mineira...<br />

O crédito rural, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo. À época <strong>do</strong> Delfim Neto - o mo<strong>de</strong>lo agrícola <strong>de</strong>le também não é nenhuma flor que se cheira -, aplicava-se em crédito rural US$20.000.000,00<br />

pelo sistema <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil. Agora, além daquela briga <strong>de</strong> a cada semana ter que ir ao Banco, o volume disposto é <strong>de</strong> R$8.000.000.000,00, que correspon<strong>de</strong>m a<br />

US$4.000.000.000,00. Ou seja, em <strong>10</strong>, 15 anos retroce<strong>de</strong>mos para 1/4 <strong>do</strong> volume <strong>de</strong> recursos. A área agrícola nesses <strong>de</strong>z anos diminuiu em oito milhões <strong>de</strong> hectares, ora, quem é<br />

agricultor sabe que, quan<strong>do</strong> se está per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> dinheiro, não se aumenta área, a primeira coisa que se faz é reduzir a área - ninguém é bobo para plantar e ter prejuízo.

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