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Diário do Legislativo de 16/10/1999 - A Assembleia

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comercialização, que permitam o acesso <strong>do</strong>s pequenos agricultores assenta<strong>do</strong>s aos diversos merca<strong>do</strong>s?".<br />

O Sr. João Pedro Stédile - Sobre a situação <strong>de</strong> Minas, peço <strong>de</strong>sculpas, mas não estou informa<strong>do</strong> sobre as iniciativas que o nosso movimento certamente <strong>de</strong>ve ter toma<strong>do</strong>. A realida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sse assunto que você citou, Rogério, é, mais ou menos, parecida em to<strong>do</strong> o País. Então, estamos preocupa<strong>do</strong>s, em to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s, em encontrar uma fórmula para flexibilizar<br />

esses procedimentos, que acabam impossibilitan<strong>do</strong> que o pequeno agricultor produza mais.<br />

Sobre a unificação da agricultura familiar com a reforma agrária, todas no MIRAD, em princípio, acho a idéia interessante, porque fazem parte <strong>do</strong> mesmo universo: os pobres <strong>do</strong><br />

campo. Só que, com esse Governo agrícola que expliquei antes, o tal mo<strong>de</strong>lo norte-americano, isso não teria senti<strong>do</strong> nenhum. De que adiantaria juntarmos <strong>do</strong>is pobres, e não termos<br />

solução para nenhum <strong>de</strong>les? E a realida<strong>de</strong> <strong>do</strong> PRONAF está aí. O Governo fez a propaganda <strong>de</strong> que iria transferir R$600.000.000,00 para o PRONAF, que aten<strong>de</strong>ria aos assenta<strong>do</strong>s e<br />

aos pequenos produtores. No entanto, o que temos <strong>de</strong> concreto é que o Banco <strong>do</strong> Brasil não tem um centavo. Isso está causan<strong>do</strong> o maior problema em todas as regiões, porque o ciclo<br />

agrícola está se aceleran<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong> no Sul. Precisamos plantar, e não existe dinheiro. E não tem dinheiro, por quê? Se formos reclamar com o Jungmann, ele é um papagaio que<br />

não representa ninguém. O Ministério da Fazenda não tem dinheiro. Por quê? Porque o Governo colocou como priorida<strong>de</strong> número zero pagar os juros da dívida interna. Então, não<br />

tem PRONAF, não tem dinheiro para a educação, não tem dinheiro para a saú<strong>de</strong>, o SUS não está quebra<strong>do</strong> e assim por diante.<br />

Então, discutirmos se é boa ou não a unificação é uma falsa questão. O que precisa ser discuti<strong>do</strong> é o futuro da nossa agricultura. E estou convenci<strong>do</strong> <strong>de</strong> que o Governo que aí está não<br />

quer saber nada <strong>de</strong> agricultura nem <strong>de</strong> indústria. Só quer saber <strong>de</strong> Banco e <strong>de</strong> capital financeiro internacional.<br />

O Sr. Robson Ramos - Bom-dia a to<strong>do</strong>s. SINTECL significa Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Correios <strong>de</strong> Uberaba e região. Gostaria <strong>de</strong> me solidarizar, em primeiro lugar, com o<br />

Heguiberto. Nós estamos em campanha salarial. Gostaria <strong>de</strong> saber se ainda há tempo <strong>de</strong> fazermos a reforma agrária brasileira pela via institucional, já que a luta armada, a violência,<br />

encontra-se instalada, informalmente, no campo e na periferia das cida<strong>de</strong>s brasileiras. Haja vista que gostaria <strong>de</strong> enfocar isso <strong>de</strong> certa forma, privilegian<strong>do</strong> o seguinte: estamos no<br />

meio <strong>de</strong> uma tempesta<strong>de</strong>. E a sensibilida<strong>de</strong> social é muito pequena, em relação aos povos <strong>do</strong> Terceiro Mun<strong>do</strong>. No Primeiro Mun<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> está funcionan<strong>do</strong> muito bem. Mas sabemos<br />

que o capitalismo é exclu<strong>de</strong>nte por natureza e é feito para poucos. Então, não dá para socializar para to<strong>do</strong>s. Estamos in<strong>do</strong> a pique. Foi <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> ontem que estamos gastan<strong>do</strong><br />

US$91.000.000,00 só no pagamento da dívida. Estamos em Minas Gerais, terra <strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes. Já vimos uma <strong>de</strong>rrama e estamos assistin<strong>do</strong> a outra. Queremos saber se vamos fazer<br />

isso com uma certa dignida<strong>de</strong>, se vamos ter condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar moratória, ou se vamos ser engoli<strong>do</strong>s. Pelo que estamos sentin<strong>do</strong>, estamos sen<strong>do</strong> encurrala<strong>do</strong>s para uma guerra civil.<br />

A OTAN está na Colômbia, estamos ven<strong>do</strong> o fogaréu na Venezuela e a quebra <strong>do</strong> MERCOSUL. É o que queria colocar.<br />

O Sr. João Pedro Stédile - Penso que, quanto à reforma agrária e às mudanças econômicas <strong>de</strong> que o nosso País precisa, é falsa a questão <strong>de</strong> colocar se é por via institucional ou por<br />

via <strong>de</strong> luta armada.<br />

O que temos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar é que o único caminho possível <strong>de</strong> mudança é através da organização <strong>do</strong> povo. Então, quem quer mudança tem como tarefa principal organizar o povo nas<br />

mais diferentes formas: no bairro, na igreja, na associação, no parti<strong>do</strong> político, no sindicato, na fábrica, para que esse povo, organiza<strong>do</strong>, consiga fazer gran<strong>de</strong>s mobilizações<br />

populares, que alterem a correlação <strong>de</strong> forças que existe na socieda<strong>de</strong>. Esse é o caminho que consi<strong>de</strong>ramos viável e que não é nem um, nem outro.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, penso que, neste ano, apesar <strong>de</strong> termos vin<strong>do</strong> <strong>de</strong> um movimento <strong>de</strong> massa <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos, logramos construir um calendário comum <strong>de</strong> lutas populares que está<br />

pressionan<strong>do</strong> o Governo e po<strong>de</strong> levar a outras transformações, como foi o movimento das Diretas Já, em 1984. Temos as marchas que chegaram a Brasília. Dia 6 chega a marcha <strong>do</strong>s<br />

educa<strong>do</strong>res e dia 7 chega a marcha popular. Depois temos outras manifestações populares, como a <strong>do</strong> dia 12, que é o grito <strong>do</strong>s excluí<strong>do</strong>s latino-americanos, e, agora, as centrais<br />

sindicais chaman<strong>do</strong> para a paralisação nacional dia <strong>10</strong> <strong>de</strong> novembro. Se alguém quer serviço, temos <strong>de</strong> arregaçar as mangas agora, para <strong>de</strong>rrotar esse mo<strong>de</strong>lo econômico. E não basta<br />

<strong>de</strong>rrotar FHC; é preciso <strong>de</strong>rrotar seu mo<strong>de</strong>lo econômico. Temos <strong>de</strong> arregaçar as mangas e paralisar o País dia <strong>10</strong> <strong>de</strong> novembro, para que o povo <strong>de</strong> todas as cida<strong>de</strong>s, pequenas e<br />

gran<strong>de</strong>s, diga basta. E, para isso, é preciso colocar o povo nas ruas.<br />

O Sr. Presi<strong>de</strong>nte - Pergunta <strong>de</strong> Eduar<strong>do</strong> Aleixo, <strong>do</strong> Conselho Municipal <strong>de</strong> Belo Horizonte, dirigida ao Sr. Osmani: " As empresas se oneram dan<strong>do</strong> assistência médica aos<br />

emprega<strong>do</strong>s. Qual é a efetiva participação das empresas nos conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>? Por que não apóiam a Proposta <strong>de</strong> Emenda à Constituição nº <strong>16</strong>9, que <strong>de</strong>stina recursos para a saú<strong>de</strong>?<br />

Qual instrumento permite ao emprega<strong>do</strong> participar <strong>do</strong>s conselhos tripartites?<br />

A outra pergunta é <strong>de</strong> João Alfre<strong>do</strong> Baleeiro, <strong>do</strong> Instituto Estadual <strong>de</strong> Florestas: "Por que as indústrias, em vez <strong>de</strong> criar escolas especializadas nos gran<strong>de</strong>s centros industriais, não<br />

a<strong>do</strong>tam escolas públicas nas áreas mais carentes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>? Não será uma das soluções para uma educação mais igualitária no nosso Esta<strong>do</strong>?".<br />

O Sr. Osmani Teixeira <strong>de</strong> Abreu - Tenho a dizer que as indústrias criam as escolas porque o Governo não cria. Elas fazem isso para sobreviver. E eu já disse que o gran<strong>de</strong> problema é<br />

que to<strong>do</strong>s nós pagamos impostos para que isso seja feito. O Governo é que tem essa função. Está na Constituição que o ensino fundamental é função <strong>do</strong> Governo. Mas nós já criamos<br />

escolas on<strong>de</strong> estão as indústrias. Não adianta fazer uma escola para treinar alguém para uma indústria a longa distância. Temos é que <strong>de</strong>scentralizar. Não temos que trazer to<strong>do</strong>s para<br />

Belo Horizonte ou para São Paulo. E, quan<strong>do</strong> falamos nos "clusters", que é um projeto <strong>de</strong> fazer uma série <strong>de</strong> pólos industriais, é para <strong>de</strong>scentralizar. E eu disse também que nesses<br />

pólos o Governo e as universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>veriam estar presentes, porque é uma forma <strong>de</strong> levar o ensino para o interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

O Sr. Presi<strong>de</strong>nte - Pergunta <strong>de</strong> Cássio Torres, <strong>do</strong> SINDÁGUA, dirigida ao João Pedro. Ele pe<strong>de</strong> para o senhor fazer um raio X <strong>do</strong> BNDES.<br />

Pergunta <strong>de</strong> Júnior, <strong>do</strong> Fórum Político e Religioso: "O Presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Conselho Deliberativo <strong>do</strong> SEBRAE afirmou que, sem patrão, não há emprego. E esse é o objetivo <strong>do</strong> SEBRAE.<br />

Você falou em trabalho, emprego, distribuição <strong>de</strong> renda, mas não falou em patrão. Quem está equivoca<strong>do</strong>? Qual o equívoco?".<br />

O Sr. João Pedro Stédile - Eu não gosto <strong>de</strong> patrão. Quem gostar que procure. Estamos tentan<strong>do</strong> organizar uma economia agrícola baseada no trabalho familiar e cooperativa<strong>do</strong>.<br />

Portanto, não queremos ter emprega<strong>do</strong>s nem patrões. Queremos ser <strong>do</strong>nos <strong>do</strong> nosso próprio trabalho e <strong>do</strong> nosso próprio nariz. Essa é a nossa <strong>do</strong>utrina.<br />

Com relação à pergunta <strong>do</strong> BNDES, que extrapola a questão agrícola, não tenho da<strong>do</strong>s para fazer um raio X, mas, pelo que tenho li<strong>do</strong>, na verda<strong>de</strong>, o BNDES foi utiliza<strong>do</strong> pelo<br />

Governo Fernan<strong>do</strong> Henrique como a verda<strong>de</strong>ira tesouraria <strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong> Planalto. Lá, no Tesouro Nacional, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vêm os impostos, eles pagam os juros e aplicam aquela política<br />

<strong>de</strong> miséria para os serviços públicos. Mas o dinheiro que o Palácio <strong>do</strong> Planalto administra, sem nenhum controle legislativo, é <strong>do</strong> BNDES. São bilhões <strong>de</strong> reais. Não tenho os da<strong>do</strong>s<br />

concretos <strong>do</strong> orçamento, mas, certamente, <strong>de</strong> R$<strong>10</strong>.000.000.000,00 a R$15.000.000.000,00 o Governo, a seu bel-prazer, tem utiliza<strong>do</strong>. E, infelizmente, ao contrário <strong>de</strong> suas origens,<br />

no tempo <strong>de</strong> Getúlio Vargas, o BNDES, que foi cria<strong>do</strong> para <strong>de</strong>senvolver a indústria nacional, está sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>, nesse último Governo, unicamente para financiar as privatizações e<br />

as próprias empresas multinacionais.<br />

Dessa maneira, fugiu completamente a sua origem <strong>de</strong> ser. É por isso que microempresa não tem dinheiro, e, quan<strong>do</strong> ele vem <strong>do</strong> BNDES para a agricultura, através <strong>do</strong> FINAME, é<br />

com juros <strong>de</strong> tal monta, e são capitaliza<strong>do</strong>s a cada mês, que inviabilizam qualquer investimento. Há agricultores que compraram tratores por US$50.000,00 há cinco anos, através <strong>de</strong><br />

repasse <strong>do</strong> BNDES. Pagaram a dívida durante cinco anos, os tratores estão velhos e ainda <strong>de</strong>vem R$92.000,00 ao Banco <strong>do</strong> Brasil. Eles pagam, pagam, e não vêem a dívida quitada.<br />

Essa é a ajuda que o BNDES está dan<strong>do</strong> aos agricultores. Acreditamos que, em outro mo<strong>de</strong>lo econômico, o BNDES e o Banco <strong>do</strong> Brasil, como to<strong>do</strong>s os Bancos públicos, teriam o<br />

papel fundamental <strong>de</strong> utilizar esses recursos, que, a rigor, são públicos, para realmente financiar indústrias que gerem emprego, agroindústrias, agricultura, condicionan<strong>do</strong>-os a um<br />

processo real <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> empregos e <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> renda.<br />

O Sr. Ivê Martins Ferreira - Gostaria, em primeiro lugar, <strong>de</strong> fazer alguns esclarecimentos. O Balcão <strong>de</strong> Emprego <strong>do</strong> CEC e <strong>do</strong> FAT empregam hoje, em Uberlândia, cerca <strong>de</strong> 20, 25<br />

pessoas por mês; o Grupo Martins e Jerônimo Martins, <strong>de</strong> Portugal, fizeram uma parceria que, talvez, possibilite ao Triângulo Mineiro mais trabalho, e a ARCOM e Peixoto estão<br />

dispostos a se transferir para Goiás <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos encargos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. A minha pergunta é a seguinte: por que pessoas que possuem bens e até comércio na área urbana estão nas<br />

invasões <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s? Não há meios <strong>de</strong> se fazer a reforma agrária sem invasões? Invasões e saques não estão na lei <strong>de</strong> apropriação indébita? Quero esclarecer que não pertenço a<br />

nenhum parti<strong>do</strong> político.<br />

O Sr. João Pedro Stédile - Em primeiro lugar, não é verda<strong>de</strong> que há pessoas da cida<strong>de</strong> em ocupações <strong>de</strong> terra. Isso é uma fantasia criada pela televisão. Para o sujeito ficar <strong>do</strong>is, três<br />

meses <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> uma lona, é um sacrifício enorme. É um inferno. Só ficam porque não têm outro lugar. É ilusão pensar que há gente explora<strong>do</strong>ra no movimento. Po<strong>de</strong> haver um ou<br />

outro caso. Nos nossos acampamentos, somos os primeiros a expulsá-los.

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