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O Cavalo de Tróia

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— Fuga... labaredas... UM CAVALO!<br />

Agamenon observou o amigo, assustado; estaria enlouquecendo, também, a exemplo do que<br />

acontecera com o infeliz Ajax, que acabara morto pelas próprias mãos, num terrível acesso <strong>de</strong> loucura?<br />

— O que disseste? — falou Agamenon.<br />

— Um cavalo, Agamenon, eis a solução! — bradou Ulisses, pondo-se imediatamente em pé. Seus<br />

olhos luziam, mas não eram produto do reflexo das labaredas. — Chame Epeus, o mais rápido<br />

possível.<br />

Epeus era o mais hábil construtor que havia entre as hostes gregas, e apesar <strong>de</strong> já estar dormindo foi<br />

tirado às pressas <strong>de</strong> sua barraca por Agamenon e levado até o astuto Ulisses.<br />

— Epeus, caberá a você a maior glória <strong>de</strong> toda esta guerra, caso obtenha sucesso em sua arte: <strong>de</strong>rrubar<br />

as muralhas da invencível <strong>Tróia</strong>!<br />

Ulisses disse essas palavras ao construtor com um tal brilho <strong>de</strong> euforia nos olhos que Epeus ficou sem<br />

saber o que dizer.<br />

— Vamos, homem, temos muito trabalho pela frente! — disse o filho <strong>de</strong> Laertes, tomando-o pelo<br />

ombro. — Vai construir para nós, a partir <strong>de</strong>ste momento, um cavalo, um imenso cavalo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira!<br />

— e Ulisses abriu os braços como se preten<strong>de</strong>sse abarcar com eles o próprio mundo.<br />

Os três — Ulisses, Epeus e Agamenon — entraram num bosque que havia nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Tróia</strong>.<br />

Ali, como obscuros conjurados, sentaram-se sobre alguns troncos caídos e puseram-se a confabular.<br />

— Um cavalo oco — disse Ulisses, olhando fixamente nos olhos do construtor.<br />

— Oco? — disse Epeus.<br />

— Perfeitamente oco. Ali estarão guardados nossos homens, armados até os <strong>de</strong>ntes, para quando o<br />

cavalo for introduzido <strong>de</strong>ntro das muralhas da sagrada <strong>Tróia</strong>. Agamenon escutava a conversa, entre<br />

incrédulo e fascinado, sem saber ainda se estava diante da idéia luminosa <strong>de</strong> um gênio ou do <strong>de</strong>lírio<br />

absurdo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>mente. Durante a noite inteira estiveram discutindo o plano, até que o dia amanheceu<br />

e Agamenon convocou gran<strong>de</strong> parte da tropa para que fossem <strong>de</strong>rrubar toda árvore que encontrassem<br />

até haverem juntado a lenha necessária para a construção do gigantesco engenho.<br />

Epeus trabalhou ininterruptamente durante vários dias, até que no começo <strong>de</strong> certa noite chamou os<br />

comandantes para virem apreciar a obra concluída, que permanecia escondida <strong>de</strong>ntro da própria<br />

floresta. Agamenon, Ulisses e uma multidão <strong>de</strong> curiosos seguiram atrás: no interior <strong>de</strong> uma clareira<br />

avistaram, à luz dos archotes, a assombrosa figura do cavalo — imenso e terrível, do tamanho dos<br />

cedros e carvalhos que o cercavam.<br />

— Um presente digno dos <strong>de</strong>uses! — murmurou Menelau, irmão <strong>de</strong> Agamenon.<br />

Todos se aproximaram do cavalo, cuja ma<strong>de</strong>ira escura e polida resplan<strong>de</strong>cia; mãos assustadas tocavam<br />

as pernas do eqüino, que <strong>de</strong>scansavam na gran<strong>de</strong> base sobre rodas, enquanto os olhares da maioria<br />

estavam voltados para os olhos do animal — sim, porque a arte perfeita <strong>de</strong> Epeus o levara ao requinte<br />

<strong>de</strong> dotar o cavalo <strong>de</strong> dois olhos gigantescos, on<strong>de</strong> ardiam dois faróis iluminados por uma miría<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

velas, compondo um espetáculo ao mesmo tempo belo e aterrorizante.<br />

— Epeus, você fez aquela parte tal qual lhe or<strong>de</strong>nei? — disse Ulisses, baixinho, ao construtor.<br />

— Sim, não me esqueci <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>talhe, sagacíssimo filho <strong>de</strong> Laertes. Ulisses sorriu, <strong>de</strong>liciado: acabara<br />

<strong>de</strong> dar o último arremate, que impediria o fracasso daquele golpe tão engenhosamente arquitetado.<br />

Mais um dia amanhecia na <strong>Tróia</strong> sitiada. A gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Príamo jamais tivera um amanhecer<br />

calmo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que aquela guerra implacável começara. Mas naquela manhã algo diferente pairava no<br />

ar, a começar pelas fogueiras dos acampamentos dos sitiantes: estavam todas apagadas e não havia<br />

movimento algum entre os gregos do lado <strong>de</strong> fora das muralhas. Na verda<strong>de</strong>, não havia grego algum<br />

do lado <strong>de</strong> fora das muralhas.<br />

Foi esta notícia, verda<strong>de</strong>iramente espantosa, que uma das sentinelas foi correndo levar até o palácio<br />

on<strong>de</strong> o rei troiano ainda estava <strong>de</strong>scansando.<br />

— Gran<strong>de</strong> Príamo, nutrido pelos <strong>de</strong>uses, algo <strong>de</strong> muito estranho acontece no acampamento dos aqueus<br />

soberbos!

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