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O Cavalo de Tróia

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Outra voz, no entanto, surgiu em Apolo às palavras do adivinho.<br />

— Basta <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>rações! Não po<strong>de</strong>mos nos arriscar <strong>de</strong> modo tão infantil. Queimemos <strong>de</strong> uma vez este<br />

presente nefando, pois ele será nossa ruína!<br />

Enquanto isso, no interior do cavalo, a situação chegara ao limite crítico. Um dos soldados, que se<br />

ferira com o bronze afiado da lança arremessada por Laocoonte — pois sua ponta atravessara a<br />

ma<strong>de</strong>ira, indo enterrar-se em seu flanco — queria, por todos os meios, escapar dali e começar logo o<br />

ataque. Ulisses, arremessando o braço, tentava impedir, por sua vez, que o louco <strong>de</strong>nunciasse com seus<br />

gritos a presença <strong>de</strong> todos. Neste instante, porém, lembrou-se do seu último artifício, aquele que<br />

segredara a Epeus construtor, antes que o cavalo estivesse concluído.<br />

— De nada adiantará tentar sair, insano, pois somente Epeus, sábio engenheiro, conhece o segredo que<br />

abre as portas <strong>de</strong>ste cavalo — disse Ulisses, com a boca colada à orelha do soldado ferido.<br />

Um calafrio <strong>de</strong> pânico alastrou-se por entre os homens, tão logo essa informação percorreu as<br />

entranhas do cavalo. Alguém neste instante arremessara uma tocha ar<strong>de</strong>nte que explodira <strong>de</strong> um dos<br />

lados do cavalo. Uma chuva <strong>de</strong> faíscas entrou pelas frestas, aclarando os rostos apavorados dos<br />

homens no interior daquela soberba armadilha — armadilha que ameaçava, agora, voltar-se contra os<br />

seus próprios urdidores. O sangue do soldado grego empapava o piso on<strong>de</strong> se aglomeravam outros<br />

companheiros, esvaindo-se junto com a sua vida.<br />

Lá fora as tochas já estavam sendo dispostas embaixo do cavalo. Um odor forte <strong>de</strong> alcatrão subia,<br />

metendo-se pelas frinchas e sufocando os homens <strong>de</strong> Ulisses.<br />

De repente, porém, escutou-se uma voz que bradava:<br />

— Laocoonte, corra, pois seus filhos estão sendo atacados por terríveis serpentes junto ao altar<br />

sagrado!<br />

Todos silenciaram. Em nome dos <strong>de</strong>uses, o que significava aquilo?<br />

O adivinho correu até on<strong>de</strong> estavam seus filhos e ficou estarrecido quando enxergou aquela que era a<br />

cena mais terrível que seus olhos <strong>de</strong> pai já haviam presenciado: os dois jovens, cada qual enrodilhado<br />

pelo corpo escamoso e gelado, contorciam-se em pavorosa agonia.<br />

— Pai, socorro! — dizia um <strong>de</strong>les, enquanto o outro, já morto, era feito em pedaços pelos <strong>de</strong>ntes<br />

afiados <strong>de</strong> uma das serpentes.<br />

Laocoonte lançou-se aos monstros com as mãos limpas, mas também foi imediatamente envolvido<br />

pelos anéis do corpo das duas serpentes. Aos poucos sua resistência foi diminuindo, até que,<br />

totalmente enrodilhado pelas sanguinárias pítons, o sacerdote troiano exalou, também, o seu último<br />

suspiro.<br />

A notícia causou estupor em todos. Príamo, rei troiano, or<strong>de</strong>nou que cessassem imediatamente <strong>de</strong><br />

vilipendiar a estátua.<br />

— Realmente, esta estátua é sagrada... — bradou o velho <strong>de</strong> longas barbas, ao examinar a lança que o<br />

<strong>de</strong>sgraçado Laocoonte arremessara, toda tinta <strong>de</strong> sangue. — Que ninguém ouse tocá-la novamente, sob<br />

pena <strong>de</strong> morte imediata.<br />

No mesmo momento foram suspensas as fogueiras e os fachos recolhidos. Príamo or<strong>de</strong>nou que<br />

pusessem abaixo um pedaço da muralha, para que o portentoso cavalo pu<strong>de</strong>sse franquear o interior da<br />

cida<strong>de</strong>la <strong>de</strong> <strong>Tróia</strong>.<br />

Gritos <strong>de</strong> euforia e alívio percorreram as fileiras do povo ajuntado quando o imenso cavalo começou a<br />

ser empurrado. Porém, se o tivessem feito com reverente silêncio, po<strong>de</strong>riam ter escutado o retinir das<br />

armas no interior do estômago do fingido animal quando ele trombou por quatro vezes contra a<br />

muralha arrebentada, arrancando gran<strong>de</strong>s pedaços <strong>de</strong> pedra que <strong>de</strong>spencaram sobre as pessoas,<br />

provocando uma correria e uma balbúrdia ainda maiores.<br />

Assim a<strong>de</strong>ntrou as muralhas troianas o soberbo presente grego. Dentro <strong>de</strong>le iam algumas centenas <strong>de</strong><br />

soldados inimigos e um homem morto — a vítima sacrificial que sem querer o fingido Sínon<br />

apregoara como necessária.<br />

Uma gran<strong>de</strong> festa se estabeleceu por todos os recantos da cida<strong>de</strong>. Música e bebida estavam presentes<br />

<strong>de</strong>ntro e fora das casas.

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